SÉRGIO VIEIRA MANIPULA FACTOS SOBRE MORTE DE MONDLANE
As recentes declarações dos históricos da Frelimo sobre as circunstâncias da morte do antropólogo Eduardo Mondlane a 3 de Fevereiro de 1969 em Dar-es-Salam, longe de trazerem novos dados susceptíveis de conduzir a ajuizamentos dos factos tal e qual se passaram, adensam ainda mais a já per si confusa história da Frente de Libertação de Moçambique. Mesmo que se tenha em conta que a capacidade de sustentar mentiras históricas num País repousa sempre no poder que os protagonistas dessas mentiras possuem de deter o “poder supremo” de mentir oficialmente, existe hoje em Moçambique uma crescente tendência da história ser reescrita dada a aversão ao rigor histórico das mentiras que nos foram inculcados. E a ter que existir um culpado no desmoronar da supremacia da mentira oficial, esse culpado chamar-se-à sempre Frelimo e não outra coisa, pois, muito convencida, no seu materialismo dialéctico, a Frelimo achou que evolução das espécies na perspectiva darwiniana havia parado, a partir da altura em que ela própria se assumiu como poder em Moçambique. Existe um facto pouco explorado pelos pesquisadores da história recente de Moçambique, facto esse que repousa na natureza sociológica do movimento de libertação moçambicano.
Embora saibamos que um minucioso estudo nessa direcção ajudaria muitos a perceberem tanto as diversas crises que grassaram na Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) como a encontrarem uma luz de pistas susceptíveis de conduzir aos verdadeiros assassinos de Mondlane, o propósito do artigo de hoje é outro. Queremos pôr no lavatório público algumas sujeiras que Sérgio Vieira atira inadvertidamente na praça pública sempre que lhe dá na gana. Não nos ocuparemos de pessoas que aparentam ser um mal menor, como os senhores Jorge Rebelo e outros que, quando muito, “sujam as fraldas em público” uma vez em dez anos. Durante longos anos, porque era preciso transformar as mentiras em verdades absolutas, Sérgio Vieira e seus comparsas venderam aos moçambicanos a imagem duma FRELIMO com características de um governo dentro de um outro governo enquanto movimento de libertação no interior do território tanzaniano. Esta visão simplista induziu à maioria das pessoas (inclusivamente até à “grandes historiadores do País) a imaginar uma FRELIMO muito bem organizada e com muitas semelhanças a um governo de um Estado, onde ao Presidente da República só chega o que passa por um crivo de vigilância da sua guarda. Na verdade, os dados ilustram o contrário, e para descortinar isso, basta recorrer-se ao comportamento e conduta do próprio presidente Eduardo Mondlane, que o resto esclarece-se por si próprio. Tal como a rebeldia de certos jovens contra a disciplina imposta pelos seus progenitores nos tempos modernos, Mondlane era um homem pouco dado a vigilantes à sua volta, apesar de saber que dirigia um movimento de massas contra um regime do tamanho do de Salazar. Gostava de viver como um pássaro livre, e muitas vezes assim se comportava em convívios, passeios e viagens pelo mundo. Tal é assim que foi ao encontro da morte na casa da Betty King naquela manhã do fatídico dia 3 de Fevereiro completamente sozinho, conduzindo, pessoalmente, o seu carro, e sem batedores e nem sirenes a anunciar a passagem pela estrada de um grande “Presidente da República de Moçambique”. Sempre que o podia, Mondlane, ia, ele próprio, buscar os filhos na escola, aproveitando todo o momento que lhe sobrava para com eles brincar, tanto na praia como em casa e outros locais de diversão infantil. Como qualquer pai, Mondlane amava os seus filhos, e não gostava que a sua vida de politico interferisse na sua vida privada. Entre 1965-66, por diversas vezes, pessoas como Silvério Nungu e Simão Serapião (este último está vivo, e entre nós aqui em Moçambique), em reuniões do Comité Central, debalde, não se cansaram de propôr ao Presidente que toda a correspondência dirigida a si fosse aberta pelos responsáveis da administração do Movimento, então encabeçada pelo próprio Nungu. A proposta, levantada em plenárias do Comité Central e testemunhada por muitos, longe de surgir pensando-se na segurança de Eduardo Mondlane, visava, simplesmente, evitar demoras na tramitação de algum expediente, pois, uma vez que a maioria de cartas e encomendas destinadas à Frelimo vinha em nome pessoal do próprio Presidente do Movimento, era preciso encontrar mecanismos para que a “máquina” não parasse sempre que este estivesse ausente de Dar-es-Salaam. Em todos os momentos, apoiado por alguns no interior do Movimento, Eduardo Mondlane opôs-se energicamente à esta proposta. E a recusa, longe de circunscrever-se apenas numa estratégia de má-fé por parte do próprio Mondlane – segundo se pode perceber – repousava fundamentalmente na sensibilidade da informação que alguma correspondência continha. A abertura de tal correspondência e sua leitura, implicava, para quem fosse incumbido dessa missão, conhecer, “na essência”, as linhas com que se cosia não só a vida do Movimento em si, mas também do próprio Presidente e dos seus contactos no exterior. Dado que desde a fundação do Movimento desenvolveu-se no seu interior um curioso fenómeno que se caracterizava por conflitos e fingimento absoluto (com todos a serem amigos de todos, e todos inimigos de todos), alguns amigos dos amigos de uns na época, acharam, que aquela atitude de Mondlane era razoavel, pois, não ia então um Silvério Nungu, ou qualquer “fofoqueiro”, conhecer dados susceptíveis de “perigar” a chefia do “grande herói”. Porém, a verdade, demonstraria que Mondlane havia se esquecido duma coisa fundamental: a sua “liberdade pessoal” havia deixado de existir a partir da altura em que aceitou dirigir os destinos de milhares de moçambicanos, então em rixa contra Salazar e seu regime. Por ironia do destino, aquando da sua morte à 3 de Fevereiro, em conversa telefónica com Serapião então a estudar fora do território tanzaniano, uma funcionária afecta no escritório da FRELIMO em Dar-es-Salaam, não só lamentaria a morte do Presidente como acabaria afirmando: “Se o Presidente tivesse aceite aquela tua proposta e de Nungu, de abrir-se aqui tudo o que vinha em seu nome, quem morreria era eu. A bomba passou pelas minhas mãos!…”. A ilustração de que em todo o momento a correspondência vinda do exterior para o Movimento era dirigida directamente ao cuidado dos dirigentes do próprio Movimento pode, nos dias de hoje, ser vista via Internet no blog Aluka. Entre cartas que dão conta de valores monetários colectados por simpatizantes da FRELIMO no exterior e enviadas ao Instituto Moçambicano, existem arquivados nesse blog documentos que provam que alguma correspendência continha informações susceptiveis de atiçar conflitos, se fossem de domínio público. Mas há uma questão que não é de somenos importância: se Mondlane instruisse seus amigos no exterior para usarem um endereço que não fosse o da Sede da FRELIMO em Dar-es-Salaam, para assuntos que diziam respeito a vida da Organização na Tanzania, corria um sério risco de ser desconfiado, de desencaminho dos apoios ao Movimento, pois nada garantia aos doadores que tudo chegava intacto ao destino. Por outro lado, jamais, os doadores, podiam imaginar que a FRELIMO fosse um poço de problemas, e que só Mondlane é que abria pessoalmente a correspondência dirigida à FRELIMO em seu nome. Que alguém no interior da FRELIMO tenha-se aproveitado desta situação para eliminar Mondlane, até pode. Todavia, até aos nossos dias, essa teoria, não passa de matéria de especulação, e de dificil comprovação, pois embora Nungu tenha sido alvo de desconfiança por parte de alguns que se julgavam “mais amigos” de Mondlane, em nenhum momento a polícia tanzaniana provou o envolvimento de Nungu no enredo. Tanto é assim que Nungu continuou livre na Tanzania até que a FRELIMO lhe alicia a ir para Cabo-Delgado a fim de ajudar na organização da administração nas “zonas libertadas”, acabando matando-o selvaticamente. O que fica claro é que a pré-concepção de ideias de maldade, por parte de Mondlane em relação a alguns dos seus camaradas, desde o início do Movimento, acabou-lhe levando à uma morte trágica, pois confundiu as circunstâncias duma pessoa qualquer e dum líder de um movimento rebelde. Sérgio Vieira e a trajectoria de livro-bomba Na sua abitual “carta a muitos amigos” (DOMINGO n°1412, de 8/2/2009) Vieira traça uma suposta trajectória da bomba que deu fim a vida de Eduardo Mondlane. Fâ-lo com mestria , desde a sua origem (Beira, naturalmente, a terra dos reaccionários) até ao território tanzaniano. Cita nomes de muita gente, dentre os quais o sacerdote belga, Padre Pollet, Pombeiro de Sousa, Jorge Jardim, Orlando Cristina, Samuel Dhlakama, Silverio Nungu e Uria Simango. Todas estas pessoas estão mortas e, portanto, incapazes de virem em socorro de seus nomes. Vieira induz os seus leitores a concluirem que entre essas pessoas havia umas que sabiam do conteúdo da encomenda que vitimou Mondlane, e outras não. Seus alvos são bem definidos na carta que escreve aos “seus amigos”: Uria Simango e Silvério Nungu. Dispensando o “deslize” dos manuais da história oficial sobre o local da morte do Presidende – que nem sequer foi despoletado por jornais como muitos imaginam – o esforço de montar uma trajectória do livro-bomba que vitimou Mondlane não deixa de ser uma tentativa de procura de consolidação duma mentira no desespero da causa, na sequência dos ventos de mudança que o País atravessa; ventos muito fortes – parece-nos – susceptiveis até de demolir as mentiras oficiais dos então garantes das amordaças de ontem. Vieira mente em tudo quanto diz. É um homem extremamente perigoso, pouco dado a convivência com quem com ele não comunga ideias. Na verdade, jamais esteve em frente de alguma “Comissão de Inquérito” no território tanzaniano desde o fatidico dia 3 de Fevereiro de 1969. A ter existido tal comissão por si chefiada, esta terá apenas sido montada as pressas a partir de 1975 no âmbito do travesti julgamento ensaiado por ele e Samora Machel em Nachingwea, contra o Rev.Uria Simango e outras pessoas que tiveram a pouca sorte de cairem nas suas garras. Se a memória não nos engana, Vieira havia sido expulso do território tanzaniano nos meados de 1968. Metido num avião em Nachingwea onde estava em treinos militares, por “suspeita” de colaboração com o regime colonial português na Frelimo, foi, por ordens das autoridades tanzanianas, enviado a Dar-Es-salam. De seguida, chegado àque la capital tanzaniana, Vieira foi imediatamente expulso do território tanzaniano, acabando por exilar-se no Cairo. Não sabemos com que carga de problemas saiu Vieira de Cairo. Todavia, tempos depois, acabaria se juntando à outros expulsos da Tanzania então acoitados em Argel, e aí permaneceria até aos inícios da década de 70. Facto interessante é que se Vieira manteve-se ao serviço da FRELIMO no forçado exílio no Cairo e Argel por vontade não só de Eduardo Mondlane, como também de de Uria Simango e de outros no CC, a sua longa permanencia nesse exilio teria fim apenas depois da morte do Presidente. Coronel de balas nunca disparadas, Vieira regressaria definitivamente à Tanzania (se a memória não nos engana de novo), exactamente em 1971 e se restabelece no interior da Frelimo apenas quando a chamada “carga impura” no interior daquele movimento havia sido expurgada, com Marcelino dos Santos e seus títeres então como senhores absolutos da situação no terreno. Tal como muitos, tudo o que Vieira sabe da morte de Mondlane é por fontes orais e alguns escritos selecionados a dedo entre o que se enquadrava na visão do materialismo dialéctico expurgante que caracterizou o seu mestre-mor, Dos Santos, nos momentos da luta pela sobrevivência após a morte de Eduardo Mondlane. Cái nos mesmos erros que muitos de nós. Um dia, no nosso inglês desenrascado, tendo confundido a palavra stamp (carimbo) com postage stamps (selos), escrevemos, em livro, que o embrulho da encomenda-bomba que matou Mondlane vinha com selos da União Soviética. Quarenta anos depois, o bom do Sérgio Vieira, que se supunha inveterado conhecedor do dossier “assassinato de Mondlane”, tropeça no mesmo erro que nós, e escreve: “Tratava-se de um volume, com a forma de um livro, embrulhado sob a forma de um livro, com selos soviéticos e tanzanianos, e endereçado ao Presidente”. Afinal, a Comissão de Inquérito chefiada pelo coronel Vieira teve ou não acesso a própria encomenda, reconstituida? pois a CID tanzaniana, chefiada por Geoffrey Sawaya, reconstituiu os destroços, e só foi dessa maneira que percebeu que a encomenda não tinha selos nenhuns, mas apenas carimbos de Moscovo. No seu regresso do segundo exílio forçado, Vieira encontrou Samuel Dhlakama em plena função das suas responsabilidades no movimento de libertação. Em nenhum momento Dhlakama foi interrogado por Vieira sobre a morte de Mondlane. Por inerências da sua função de Secretário para a então Próvincia de Manica e Sofala, Dhlakama viajava regularmente para o Malawi, coordenando a evacuação dos refugiados provenientes do Centro do País que regularmente utilizavam aquele País como porta de saída para se juntarem à luta naTanzania. Não negamos que Dhlakama possa ter conhecido o anti-fascista Padre Pollet. De resto, Vieira também o conhecia. Negamos apenas que Vieira faça dos moçambicanos uns parvos, porque nem todos temos mentes doentias e maquiavélicas como a sua. A PIDE não era amadora para entregar a um inimigo do regime (o Padre Pollet) uma encomenda-bomba que seguir ia um percurso tão sinuoso e perigoso (Blantyre-Songea-Dar-es-Salaam), capaz de pôr a cabala à descoberto. A acontecer isso, Caetano não hesitaria em mandar fuzilar, por manifesta incompetência, António Vaz, então chefe da Delegação da PIDE em Moçambique. Mas, competente que é o então secretário do Departamento de Segurança da Frelimo, não é estranho que a “Comissão de Inquérito” por si dirigida tenha concluido que a bomba que matou Mondlane tenha passeado pelas mãos do Padre Pollet (que ía à Songea), Samuel Dhlakama, Silverio Nungu e Uria Simango. O que é estranho é Geoffrey Sawaya, então director da CID, não tenha chegado à mesma conclusão. Na verdade, vindo de Malawi – onde regularmente se deslocava em missão da FRELIMO – em nenhum momento Dhlakama entrou ou saiu do territorio tanzaniano por via Niassa para atingir Songea. Só o faria se fosse louco, atravessando um grande lago como o Niassa com dezenas de pessoas sob sua guarda, susceptiveis de serem capturados antes de atingirem o rio Rovuma. Sempre que o fazia, era pela fronteira de Tunduma que está na ponta norte do Malawi, separando este país da Tanzania e Zâmbia. Atingido o território tanzaniano, Dhlakama, habitualmente, dirigia-se imediatamente a Mbeya onde permanentemente residia a sua esposa e filhos. Em Fevereiro de 1969, Samuel Rodrigues Dhlakama atravessou a fronteira de Tunduma, vindo do Malawi para Tanzania, exactamente no dia 1. Contava seguir para Dar-es-Salaam no dia 2 de Fevereiro para conferênciar com Eduardo Mondlane e pôr-lhe a par da situação dos refugiados que vinham por aquela via juntar-se à luta e do trabalho da clandestinidade então sob controle de Dique Chipare e outros no Malawi. Infelizmente, Dhlakama não o faria simplesmente porque no dia 2, a sua esposa, Sra. Francisca Dhlakama, teve uma queda que lhe entorceu a coluna vertebral ao sair da casa das meninas grávidas (vindas do Instituto Moçambicano e outros locais) então sob sua protecção em Mbeya. Samuel Dhlakama tomaria conhecimento do assassinato de Mondlane pelo noticiario da Rádio na noite de 3 de Feveriro e seguiria para Dar-es-Salaam no dia 4 de Fevereiro, na companhia de Manuel Bernardo Mumba, outro combatente que o Departamento de Segurança da Frelimo dirigida por Vieira mandou matar fora das barras dum tribunal. Sérgio Vieira pode dizer tudo o que lhe passa pela cabeça hoje, porque as pessoas que visa não podem responder. Pode até forjar documentos à posterior, tanto no País como fora, e fazé-los passar por autênticos, pois tem ainda o privilégio de mentir oficialmente. Porém, compulsados os arquivos existentes em torno das circunstâncias da morte de Mondlane, conclui-se que a própria polícia tanzaniana ocultou a verdade ou nadou em águas turvas por falta de provas bastantes contra seja quem for. Embora se tenha especulado que a bomba havia sido fabridada no exterior do território tanzaniano por ostentar baterias não disponiveis no mercado local, a policia tanzaniana não descartou a possibilidade dos explosivos e o detonador provirem dos stocks de armamentos sob controle da própria FRELIMO, e da bomba ter sido montada no próprio território tanzaniano. Em relatório ao então Se cretário de Estado norte americano, datado de Abril de 1969, entre várias coisas que relata sobre os problemas na FRELIMO e a morte de Mondlane, Thomas L. Hughes afirma: ”Parece bastante certo agora que a livro-bomba que matou Mondlane foi feito localmente e, provavelmente, introduzido localmente no sistema do correio tanzaniano”. Na verdade, embora a hipótese de ter havido cérebros da PIDE naquele crime nunca tenha sido posta de lado, nunca as autoridades tanzanianas chegaram a traçar uma trajectória da bomba semelhante à de Vieira, senão que a encomenda foi postado em Dar-es-Salaam e chegou ao escritorio da Frelimo no dia 1 de Fevereiro. A ter interrogado o Padre Polet sobre esta matéria, Vieira fê-lo apenas em 1971 ou nos anos subsequentes, antes da morte daquele padre, pois, expulsos os padres brancos de Moçambique (em 1971), Pollet viveu alguns anos na Tanzania. Embora Chissano, Raimundo Simango, Panela, Marcelino e Betty King tenham sido detidos, uns por algumas horas, e outros mais alguns dias, o que lhes impossibilitou de assistirem às exéquias fúnebres de Mondlane à 6 de Fevereiro (encabeçados por Simango, sublinhe-se, e não por Samora Machel ou Marcelino dos Santos), a policia tanzaniana demorou a perceber que a bomba vinha armadilhada num livro. Segundo declarações de um funcionário da Embaixada dos Estados Unidos expedidos por telegrama no fatídico dia 3 a partir de Dar-es-Salaam, suspeitou-se que a morte de Mondlane fora causada por uma bomba colocada na casa de Betty King. A despeito da imprensa local afirmar que a casa havia sofrido danos avultados com a explosão, a própria dona da casa (Betty King) afirmaria ao embaixador americano em Dar-es-Salaam que a casa não-se estragou tanto como se propalava pela imprensa. “A bomba destruiu o corpo de Mondlane, m as somente deixou um buraco na cadeira onde se supõe que Mondlane sentou antes da explosão – disse King. Esta situação deu azo a especulações diversas, mormente a da bomba ter sido colocado debaixo da cadeira. Betty King seria preso não só porque o crime ocorreu na sua casa, mas também porque de início se suspeitou que mais do que ninguém, somente ela sabia em que lugar da casa e cadeira sentava habitualmente Mondlane. A descoberta final de que a bomba “vinha armadilhado num livro” constituiu um alibi bastante para ilibar King, pois tendo Mondlane trazido a encomenda de fora daquela casa, só um “profeta de Deus” poderia adivinhar que Mondlane não a abriria antes de chegar ao seu destino. E é estupidez aqui confundir namorados e amantes com maridos, como o faz Sérgio Vieira. Todo o mundo sabe que antes da morte de Mondlane Betty King vivia sozinha e não tinha marido nenhum que se chamasse Willy Sunderland, como o afirma Vieira. Contrariamente ao Director da CID, que investigou o caso, Vieira nem sequer viu o estado em que ficou o corpo de Eduardo Mondlane após a explosão, para hoje afirmar que “ao abrir o pacote a armadilha funcionou, matando Mondlane instantaneamente, a bomba dilacerou-lhe o torax”. Muito menos teve, o coronel, acesso aos destroços do próprio engenho. Pouco depois da explosão, Sawaya deslocou-se na companhia de Aly Mafude e outros quadros ligados as forças de defesa e segurança ao local para a primeira peritagem. De seguida, mandou deter algumas pessoas que estão hoje vivas e em convivência connosco nesta sociedade. Em nenhum momento fê-lo em relação a Samuel Dhlakama, Silvério Nungu ou Uria Simango. Contrariamente à Nungu e Simango que tiveram que prestar algumas declarações de rotina, Dhlakama nem sequer foi interrogado pela polícia tanzaniana. Viria apenas a ser interrogado 10 anos depois da morte de Mondlane em Maputo por uma suposta Comissão de Inquérito que tinha à testa Sérgio Vieira. E isso já é outra história. Dhlakama foi preso pelo SNASP – certamente a mando de Vieira – no dia 1 ou 2 de Fevereiro de 1979, numa tentativa de forjar um dossier sobre a morte de Mondlane, passados 10 anos depois do seu assassinato. Permaneceu 12 dias numa casa do SNASP algures por aqui, e 18 dias nas masmorras da Cadeia Central da Machava, depois de ter feito parte da Comissão encarregue da construção da Cripta dos heróis e da preparação da transladação dos seus restos mortais para Maputo. Chegado a hora do grande dia, tudo fez Vieira e sua camarilha para evitar que Samuel Dhlakama estivesse presente na cripta que ajudou a erguer, pois, 3 de Fevereiro de 1979, era o dia estabelecido para que os chamados “herois”, entrassem, definitivamente, na praça a eles destinado em Maputo. No seu regresso do exilio forçado em Cairo e Argel, Vieira encontrou Samuel Dhlakama na Tanzania desempenhando a função de Secretário de Manica e Sofala, coadjuvando cumulativamente a chefia do Departamento de Organização Interna do movimento, então sob chefia de Mariano Matsinhe. Aquando do governo de transição, em 1974-75, Dhlakama viria a ser nomeado Secretário de Estado de Saúde. Findo esse período, desempenhou diversos cargos, entre os quais, o de Director do Hospital de Mavalane. E contrariamente à obras-feitas que se caracterizam por crimes contra a humanidade, como as protagonizadas por Vieira e seus comparsas, Dhlakama deixou como legado um grande pomar de mangueiras que circundam hoje aquele hospital, que pode ser vistas por todos os que pela estrada passam ou vão aquele hospital. Segundo relataria o próprio Dhlakama, a primeira vez que ouviu o seu nome associado à morte de Mondlane foi pela boca do coronel Sérgio Vieira que, torturando-o psicologicamente, queria que confessasse que transportou a bomba que matou Mondlane de Blantyre à Dar-es-Salaam, aquando da sua detenção. Vieira afirma no seu artigo que imediatamente após a sua chegada à Dar-es-Salaam “Samuel Rodrigues Dhlakama telefonou a Nhungu, que lhe marcou um encontro num quarto de hotel que ficava junto à representação do MPLA em Dar-es-Sallaam”. E que “Dhlakama entregou o embrulho a Nhungu, que estava acompanhado por Simango”. Ora, esta afirmação, cheia de suposições de dificil negação pelos visados, porque mortos, ilustra não só a falta de ética e “educação de berço” por parte do seu autor, como, também, procura chamar os moçambicanos de “invertebrados mentais”, capazes de acreditar em qualquer porcaria desde que essa sáia de quem se assume como dirigente, pois, amigos que eram e “exímíos conspiradores” contra o grande líder da linha correcta como a Frelimo propala, nada impedia a Nungu, Simango e Dhlakama de se encontrarem na casa de um deles para conspirarem à vontade como era apanágio dum certo grupo numa famosa casa em Oyster Bay. E a história de encontro num quarto de hotel da autoria de Sérgio Vieira, não soa menos ridícula do que aquela que um certo juiz nos nossos tempos mandou passear, acabando por ilibar pessoas dum crime que, em tudo , aparenta provir de mentes férteis como à do nosso Coronel. É preciso não ter vergonha na cara para acusar pessoas que não se podem defender. Vieira fâ-lo para justificar a sanha assassina que ele próprio e seus camaradas montaram. Não pode ser verdade que Simango tenha telefonado à Lázaro Kavandame no dia 1 de Fevereiro. Kavandame havia sido expulso da Frelimo a 10 de Janeiro e vivia praticamente em parte incerta pois receava ser preso na sequência do assassinato de Paulo Samuel Kankhomba. Não sabemos se na época, na mentalidade tacanha de Vieira já existiam telefones celulares, mas conhecida que era a dificuldade de conversasão telefónica na época, a palavra de Sérgio Vieira será sempre contra a nossa, e vice-versa, pois nem Simango, nem Kavandame e nem as testemunhas arroladas pela suposta Comissão de Inquerito vivem para se defenderem da fúria deste caudilho da maldição. Vieira mente quando afirma que a bomba dilacerou o torax de Mondlane. Na verdade, os ferimentos mais demolidores que vitimaram Mondlane foram da região abdominal para baixo e não para cima como o Coronel diz. A hipótese da policia tanzaniana é de que Mondlane estaria sentado à mesa e com o embrulho sobre o colo. Ia abrindo a encomenda quando se dá a explosão. Podemos até apostar que à nenhuma Rosária a “Comissão de Inquerito” dirigida por Vieira alguma vez ouviu. Segundo informações existentes, essa senhora vive e pode ser arrolada como testemunha em qualquer tribunal, se Vieira assim o desejar. E nem precisamos de consultá-la para perceber que Vieira cita o seu nome apenas por saber que ela e o marido são simpatizantes da Frelimo e membros da primeira hora que escaparam da purga, portanto, pessoas capazes de virem em socorro da sua teoria. Não é a primeira vez que Vieira sái à rua com suas babozeiras. Gorada a hipótese de conter a inquirição em torno de seus crimes, Sérgio Vieira esforça-se agora por tornar perenes as suas mentiras históricas, justificando assim os crimes que, mesmo cometidos num determinado contexto histórico do país, jamais deixaram de ser repugnantes. Africanamente falando, a estar já no auge de tormentos com os espíritos das suas vítimas, pensamos que é altura de Vieira resolver seus problema com os sobrevivos de Nungu, Casal Ribeiro, Simango e outros, pois de contrário, corre o risco de legar seus problemas aos seus filhos e netos. Que consulte nhamussoros e n’hangas lá em Moatize e Chifunde onde parece que o Coronel gosta de passear à coberto dum suposto grande projecto de desenvolvimento do Vale de Zambeze. E que pergunte o preço a pagar pelas vidas roubadas, pois em Machanga, Mambon e e outros locais aqui em África, há “nvukos” que perseguem pessoas na “RDA”, China e américas. Que pergunte ao país real, em Machanga, Maonga ou Maropanhe, quem foi Mutchotchotwa, quem nem sequer o país de muitos de nós conheceram, mas que hoje, filhos, netos e bisnetos, são obrigados a “pagar tributo”, pelo simples facto de pertencerem a linhagem sanguínea de quem bebeu da água do poço onde, inadvertidamente, foi, Mutchotchotwa, atirado, depois que seus assassinos terminaram o ritual satânico. Entre “pseudo-patriotas” e “traidores”, Vieira é um caso de estudo Há coisas que evitamos dizer e parece que é preciso dizé-lo agora, porque o tempo, para muitos, escasseia, e é preciso que os homens saibam que estão de passagem pela terra e podem deixar a imagem de cobardes para todo o sempre. É estranho que a “disciplina partidária” na Frelimo obrigue que pessoas que conheceram outras e com elas traçaram estratégias de fuga para o exílio, e para a luta, permaneçam mudos perante escárnios em torno de pessoas que sabemos que respeitam e admiram às escondidas. Somos forçados a dizê-lo: repugna-nos a confortável cobardia desses senhores, muitos deles, então amigos de Nungu e Simango, que hoje assistem passivamente a loucura de homens como o Vieira. Gwengere, Nungu e Simango foram presos pela PIDE em Moçambique. Os pais dos dois últimos sofreram perseguições e represálias em Machanga aquando do motim que ditou a prisão de muitos naquele distrito e o desterro para São Tomé de alguns. Das mesmas perseguições não se pode lamentar Sérgio Vieira no Moçambique colonial da era salarazista. Vieira, ou Sérgio Maria Castelo Branco da Silva Vieira, era um produto da burguesia colonial. A família tinha posses para matriculá-lo no Colégio de Santo Tirso em Portugal, reservado à fina-flor da sociedade portuguesa. Sérgio Vieira saiu de Tete para Lisboa sem restrições e os país continuaram a pagar-lhe as mesadas, algumas das quais em moeda estrangeira, obtidas pessoalmente pela mãe, Nini Vieira da Silva, junto de Lucinda Serras Pires Feijão no consulado da Rodésia na Beira. Amiga da família Vieira desde os te mpos de Tete, Lucinda Serras Pires Feijão, enquanto ao serviço do consulado rodesiano, chegou a receber encomendas da mãe de Sérgio Vieira para que fossem entregues por portador quando ele já se encontrava exilado em París depois de ter saido, novamente sem restrições, de Portugal. É este “patriota” oportunista, forjado às pressas, que destruiu familias e lares em Moçambique, que somos obrigados a aceitar em nome da concóncordia democrática. Mas tudo tem limites. Assisti-lo passivamente a atirar torpedos cheirosos contra pessoas indefesas é cobardia. Tendo interiorizado a linha marxista ortodoxa, de “pequeno burguês” Vieira passou a assumir-se como vanguardista de tudo e de todos, secundarizando os que eram tidos por essa linha como “reaccionários”, designadamente as pessoas de origem camponesa que tiveram a ousadia de discordar com ele e sua linha politica. É assim que se compreende o seu ódio natural e o desprezo pelos valores sócio-culturais desta classe e dos que com ela se identificam. Por isso, vêmo-lo depois da independência de Moçambique, arrancada a fogo e ferro e à custa dos sacrifícios consentidos fundamentalmente por essa mesma classe, entre os mais fervorosos defensores do sistema totalitário preconizado pela auto-intitulada “vanguarda revolucionária das classes operário-camponesa”, embora nenhuma destas lhe tivesse passado procuração. É essa vanguarda que põe em prática o princípio estatutário da eliminação daquilo a que pejorativamente rotulam de “sequelas da sociedade tradicional feudal”. Daí ao abraçar da doutrina stalinista de combate aos valores da própria classe que o gerou – sem abdicar pessoalmente de nenhum deles, claro está – o “salto quantitativo” é rápido, enérgico e contundente, e sempre em nome do povo. Mas que não pense, Vieira, que nós, os moçambicanos de origem camponesa, não o cultivamos o suficiente, à medida do seu carácter. A história humana é uma bola de neve, cheia de surpresas, Sr. Vieira. Em que ficamos, Coronel Vieira? Lemos a peça de Sérgio Vieira na edição do semanário Domingo de 8 do corrente (Sobre 40 Anos Depois de um Crime). Comparámo-la a uma entrevista que o mesmo Sérgio Vieira em tempos concedeu ao semanário Savana. Surgem algumas dúvidas: Afinal, a bomba que matou Mondlane foi entregue em Mbeya ou em Songea? Se Mbeya não faz fronteira com o Malawi, como é que o Padre Pollet poderia ter-se deslocado de Blantyre para essa localidade? Consultado o mapa da Tanzânia, verificámos que nem Mbeya nem Songea são postos fronteiriços tanzanianos. Afinal quem é que estava no consulado português em Blantyre – Jardim ou Pombeiro de Sousa? Se Jardim era cônsul do Malawi na Beira, como é que poderia ser simultaneamente cônsul português em Blantyre? Em que ficamos, Coronel? Para refrescar a memória de Sérgio Vieira, transcrevemos os seguintes excertos das suas declarações: “O livro-bomba é montado na Beira. É levado da Beira para o Consulado Geral de Portugal, no Malawi, em que estava Jorge Jardim e um outro funcionário que acompanhava sempre Jardim, que era o senhor Orlando Cristina.”– Sérgio Vieira, in Savana, 18 de Fevereiro de 1994. “No Malawi, no consulado português em Blantyre, dirigido por Jaime Pombeiro de Sousa, um associado de Jorge Jardim, Orlando Cristina entregou um pacote a um sacerdote belga, o Padre Pollet.” – Sérgio Vieira, in Domingo, 8 de Fevereiro de 2009. “O Padre Pollet recebe a bomba. […] A bomba é levada para Mbeya. Em Mbeya, o Padre Pollet entrega a bomba a uma pessoa, dizendo: “É para entregar em Dar-es-Salaam a fulano ou beltrano, mas tenha cuidado porque disseram que é uma coisa frágil.” – Sérgio Vieira, in Savana, 18 de Fevereiro de 1994. “Orlando Cristina pediu ao Padre Pollet, que ia para Songea, que levasse o embrulho para essa fronteira e aí buscasse alguém da FRELIMO, para que o remetesse a Silvério Nhungu ou a Urias Timóteo Simango em Dar-es-Salam. Assim fez o sacerdote e, encontrando na fronteira Samuel Rodrigues Dhlakama, que já conhecia, solicitou-lhe que entregasse o volume a Simango ou Nhungu.” – Sérgio Vieira, in Domingo 08 Fevereiro 2009. Mais uma questão, Coronel. Sendo o Padre Pollet um conhecido oponente do regime colonial, será que a PIDE/DGS poderia confiar nele para que levasse uma encomenda-bomba por um itinerário tão extenso, com o perigo de ser acidentalmente accionada, para já não falar da sua muito provável detecção pelas autoridades tanzanianas ou até mesmo malawianas? A afamada vigilância tanzaniana estava de folga nesse dia? E as encomendas-bomba endereçadas a Marcelino dos Santos e Uria Simango, detectadas pela polícia tanzaniana após a explosão que vitimou Mondlane, quem foi o portador ou portadores, já que ao Padre Pollet teria sido apenas entregue uma encomenda-bomba? As duas outras encomendas-bomba saíram também do Consulado português em Blantyre? E, já agora, estando Silvério Nungu implicado na morte de Mondlane, como se explica que a polícia tanzaniana não o tenha detido? Então a Frelimo era um Estado dentro de outro Estado, com poderes para desterrar uma testemunha-chave para Cabo Delgado sob o olhar sereno da CID tanzaniana? e de uma postura indiferente da Interpol? Mais um caso de ocultação de testemunhas, Coronel? como a outra, que o senhor despachou para Moscovo, bem longe de outras comissões de inquérito sobre uma outra história mal contada? Barnabé Lucas Ncomo ZAMBEZE – 19.02.2009 Comentário: É estranho que a história de Moçambique é DESCONHECIADA. Só a Frelimo é que conhece. Podem mentir a vontade! Afinal quantos Dhlakamas teve a Frelimo até à independência? Respeitando o trabalho do Historiador moçambicano, Dr Barnabé Ncomo, falta o esclarecimento dos Dhlakamas- *primeiro -director Geral de Saúde-pós independência, *segundo Coronel dos Blindados-Jossias Dhlakama-apresentado como "comandante da CIA"no estádio da Machava, juntamente com Capitão Alcido Marcos Chivite, familiar do Presidente da Renamo-tio Chibawawa. * terceiro-General Dhlakama-ex combatente da Frelimo ,e posteriormente Comandante das forças da Renamo, e Presidente da Renamo. Alguém poderá responder e esclarecer, QUEM ERA EFECTIVAMENTE O SECRETÁRIO PROVINCIAL DA FRELIMO de Manica e Sofala em 1969(Coronel Dhlakama dos Blindados ou o Dhlakama da Saúde?)
MUSSANDIPATA – 29.03.2010
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