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O sequestro do orçamento do Pentágono pode conduzir a uma redução significativa da potência do exército regular dos Estados Unidos. De acordo com alguns especialistas, isso só incentivaria o desenvolvimento do negócio militar privado no mundo.
O Exército dos EUA já tem prevista uma redução de suas tropas em quase cem mil pessoas. No entanto, se o sequestro continuar, o exército terá que fazer cortes adicionais, inclusive na Guarda Nacional e na reserva do Exército. Neste caso, será posta em causa a capacidade do Exército de participar em combates de grande escala.
Entretanto, especialistas acreditam que o problema não está no sequestro do orçamento. Pessoas simplesmente não querem ir para o exército. Eis o que pensa o primeiro vice-presidente da Academia de Problemas Geopolíticos, Konstantin Sivkov:
“O fato de que esses problemas surgiram no Exército dos EUA há muito tempo era óbvio para especialistas militares. Primeiro de tudo, pela natureza da guerra no Iraque e no Afeganistão. O Exército dos EUA demonstrou uma evidente indisponibilidad e moral e psicológica do pessoal para a realização de operações contra gerrilha. E por consequente, para o objectivo fundamental de qualquer guerra – a retenção de território. O Exército dos EUA é um dos mais aptos para combate. Mas isso é em guerras contra tropas regulares. Quando o Exército dos EUA tem a possibilidade de usar armas remotamente, sem arriscar as vidas de seus soldados. Mas quando se trata de combate corpo a corpo (o que é característico para guerras de guerrilha), os soldados norte-americanos não querem morrer. Esta é uma doença de qualquer exército mercenário. Arriscar a vida só se pode por uma ideia.”
O problema de pessoal coloca o Pentágono à mercê de exércitos privados. Seu papel vai aumentar com o tempo, como mostram as guerras no Iraque e no Afeganistão. Na verdade, hoje em dia existem mais de 3.000 empresas que oferecem serviços semelhantes, operando em mais de 60 países ao redor do mundo. Elas são cada vez mais frequentemente consideradas estruturas que poderiam, em princípio, substituir os exércitos de contrato nacionais.
No entanto, o diretor do Centro de Conjuntura Estratégica, Ivan Konovalov, não está totalmente de acordo com esse ponto de vista:
“Durante algum tempo houve a tendência de realizar muitas operações militares usando empresas militares privadas. Porque elas agem com mais rapidez, e porque podem ser contratadas por prazos mais curtos, por exemplo, por um ano com uma subsequente terminação do contrato (um exército regular, no entanto, é um valor constante). Eventualmente perceberam que isso era impossível. E essa ideia foi abandonada. Mas elas continuam desempenhando suas funções. Porque nos mesmos Iraque ou Afeganistão o exército não guarda o oleoduto. Isso é feito por operadores privados, no interesse de uma ou outra empresa particular. E eles são pagos por isso. Comerciantes privados nunca irão substituir o Exército. Mas as corporações que operam em zonas de guerra – elas são principalmente de extração de petróleo e gás e mineração de diamantes – não serão capazes de funcionar sem corsários. Porque o exército não irá defender seus interesses.”
No entanto, são justamente os exércitos privados, segundo muitos especialistas, que são os mais eficazes para conduzir conflitos armados locais. E já que a época de guerras de grande escala, onde era necessário envolver tropas maciças, aparentemente, passou, os “mercenários” estão se tornando um instrumento popular de aplicação prática de doutrinas geopolíticas.
Hipoteticamente, Washington pode conduzir guerras no estrangeiro exclusivamente com forças de “mercenários”. Especialistas notam os benefícios de tal solução. A ausência de um exército regular estrangeiro não permite falar de ocupação. Mortes de “mercenários” não contam como baixas do Exército dos EUA. A ausência da necessidade de prestar contas às autoridades norte-americanas e o fato de não se encontrarem sob a jurisdição nos países de permanência dá-lhes a oportunidade de ampliar significativamen te o escopo do que lhes é permissível para alcançar seus objetivos.
Por outro lado, as desvantagens são a sequência das vantagens (e possivelmente, até mesmo são mais). Por isso, é pouco provável que “mercenários” substituam por completo os exércitos nacionais. Embora, de fato, eles estejam a fazer a mesma coisa, o exército regular protege os interesses políticos do estado, e os “mercenários” continuam sendo comerciais. Provavelmente, no futuro, iremos ver uma simbiose invulgar, que se enquadra na lógica das guerras modernas por recursos. A crise do exército nacional do jogador geopolítico mais ambicioso dos nossos tempos – os Estados Unidos – apenas contribui para dar a este fenômeno um estatuto internacional oficial.
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