Por Machado da Graça
Creio que a maior parte da população do nosso país já não viveu debaixo do regime fascista português. Ou era criança, quando ele terminou, poucas ou nenhumas recordações tendo desse período sombrio.
Pelo contrário, os “jovens” da minha idade recordam-se, sem dúvida, de como aquilo era e de como funcionava a máquina de repressão fascista.
E, infelizmente, não posso deixar de me recordar desse tempo ao assistir a cada vez mais episódios do nosso dia-a-dia.
Tornou-se comum o impedimento das normais actividades dos partidos da oposição, nomeadamente a proibição de identificarem as suas sedes através de uma bandeira partidária, a proibição de se reunirem ou de se manifestarem. Proibições acompanhadas do uso da força para confiscar as bandeiras ou para reprimirem, violentamente, encontros e desfiles.
Chegou-se mesmo, recentemente, à invasão e incêndio de uma sede do MDM e à invasão de sedes da Renamo, o que levou o país à beira da guerra civil.
A repressão violenta das manifestações dos desmobilizados de guerra é outra imagem clara de uma intransigência de tipo autoritário.
Tenham, ou não, razão nas suas reivindicações, os desmobilizados têm, constitucionalmente, direito a manifestarem-se publicamente.
E, para terminar, vou falar de um aspecto fundamental de um estado democrático, a ser atacado, de diferentes formas, pelo actual Poder.
Estou-me a referir ao direito à liberdade de expressão e de imprensa.
Depois de todos os atropelos a esses direitos, por parte do anterior secretário da Frelimo para a Informação e Propaganda, assistimos, agora, a outro tipo de manobras.
Mais musculadas, mais intimidatórias.
A título de exemplos temos os dois casos que ocorreram, num prazo de uma semana, com Erik Charas, director do jornal @Verdade, e o caso de um jornalista do Canal de Moçambique.
No primeiro caso do colega Charas, polícias dispararam armas para o ar quando ele lhes exigiu a identificação numa operação stop. No segundo, também numa operação do mesmo tipo, depois de apresentar os documentos requeridos, o polícias chamaram agentes da PIC que o levaram para a sede dessa organização policial, onde passou várias horas, sendo depois levado, em carro de polícia aberto, à esquadra do Bairro Triunfo, sempre sem nenhuma clara acusação. Como um dos agentes da PIC afirmou, era só para o “moer”.
Tudo isto porque o jornal do Erik tem sido muito crítico da actual governação do país, denunciando, sem papas na língua, os abusos e malfeitorias dos sicários do Poder.
Em relação ao colega do Canal de Moçambique, uma foto tirada por ele perto de uma esquadra de polícia deu direito a perseguição policial, com sirenes a tocar, captura e interrogatórios absurdos e acusações de que seria um espião da Renamo a preparar o assassinato dos polícias.
Tendo sido preso e torturado pelo fascismo português, lutarei, com as armas que me forem possíveis legalmente, para que o mesmo não ganhe espaço no Moçambique de hoje.
A Luta Continua !
SAVANA – 19.04.2013
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