sábado, 16 de março de 2013

Europa não aprendeu as lições da história: Voz da Rússia

16.03.2013, 16:44, hora de Moscou
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Jean-Claude Juncker, Luxemburgo, primeiro-ministro
Jean-Claude Juncker
EPA

Os demônios da guerra na Europa podem voltar a acordar. Essa advertência extravagante, mas com algum fundamento, pertence a Jean-Claude Juncker, antigo presidente do Eurogrupo e atual primeiro-ministro do Luxemburgo.

Na opinião dele, a situação existente hoje no Velho Mundo aparenta, de uma maneira surpreendente, a do início do século passado. Era o período anterior à Primeira Guerra Mundial, a qual causou uma reordenação radical de todo o mundo. Radical, mas não para melhor.
Os políticos europeus vêm fazendo, com crescente frequência, declarações bastante alarmantes, para não dizer apocalípticas. É pouco provável que Jean-Claude Juncker, um dos intelectuais reconhecidos e políticos mais experimentados do Velho Mundo, pronunciasse semelhantes palavras sem ter razão para tal. É que ele conhece muito bem a política e a vida. Apesar da respeitabilidade e o bem-estar aparentes, a Europa está sendo dilacerada por contradições, as quais – isto é o mais perigoso – são sistêmicas. Poderá voltar a acontecer um drama semelhante a uma das guerras mais cruéis da história da humanidade? Uma resposta inequívoca a essa pergunta não existe. No entanto, as premissas de um cenário negativo são bastantes.
Para Claude Juncker, as ameaças fundamentais consistem na confrontação dos interesses nacionais e a rivalidade entre as principais potências europeias, na enorme desigualdade do desenvolvimento econômico e sociopolítico dos países da UE e, igualmente, na estratificação social. Um quadro similar faz com que os olhares se dirijam periodicamente para cenários de desmoronamento possível da União Europeia, que teria consequências imprevisíveis. Se o principal megaprojeto da segunda metade do século XX falhar, tal levará a uma redistribuição cardinal das forças mundiais. Todavia, ainda é cedo para entrar em pânico, acredita a analista do Centro de Conjunturas Políticas, Evguenia Voiko, visto que a situação atual difere em certa medida da que se verificava há cem anos.
"O agressor potencial, isto é, o país que poderia intervir contra outros Estados europeus, era bem claro naquela altura. A Alemanha se militarizava a ritmos vertiginosos. Portanto, o foco de tensão se perfilava com nitidez. Hoje, os países da UE, com toda a certeza, não estão em vias de militarização. Ao contrário, existe uma tendência para eliminar o componente militar da estrutura interna da UE."
Não obstante, nas aspirações dos atuais políticos europeus Claude Juncker vê uma advocacia perigosa de determinados interesses especificamente nacionais. O nacionalismo vulgar também está ganhando força. Estas tendências centrífugas provocam as maiores preocupações de Claude Juncker. Atitudes separatistas em relação à UE se manifestaram expressamente nas recentes campanhas eleitorais da Grécia e Itália, onde o discurso antigermânico passou a ser um “hit da temporada”. Tendo em conta o fato reconhecido de a Alemanha ser a locomotiva econômica da UE, o primeiro-ministro luxemburguês qualifica os ataques contra ela como antieuropeus. Ele lembra também os conflitos na Bósnia e no Kosovo, nos quais Berlim, como é do conhecimento geral, jogou um papel que é difícil chamar de passivo. Leviandade, é essa a acusação fundamental que Claude Juncker imputa aos habitantes do continente. Foi precisamente ela que provocou a Primeira Guerra Mundial. Agora, tal como naquela altura, os europeus permanecem demasiadamente relaxados e convictos da relação estreita entre os países do Velho Mundo. Porém, pode chegar um momento em que isto se converta em erro imperdoável.
As épocas de bonança sempre encerram ameaças ocultas, acredita o docente da Universidade das Relações Exteriores de Moscou, Alexander Tevdoi-Burmuli.
"Em termos de perspectiva de médio prazo, é difícil encontrar razões para falar numa guerra. Contudo, as tendências de crise têm vindo a crescer tacitamente ao longo de últimos decênios, sob a cobertura de abundância e bem-estar aparentes. Agora acabam de aflorar. Os ritmos de integração, dentro do grupo estão afrouxando e se delineia uma divisória entre diferentes abordagens da convergência posterior. Mas é pouco provável que o antagonismo latente conduza a uma guerra no quadro da UE."
É de salientar que Claude Juncker fala na guerra não só no sentido direto, como conflito armado entre Estados, mas também, e em primeiro lugar, como luta pelo controle dos recursos. Explosões sociais também terão consequências igualmente dramáticas, e a renúncia à política de austeridade fiscal pode acarretar precisamente explosões sociais. A reprodução incessante de novas dívidas e crescimento do desemprego encerram o risco de, cedo ou tarde, se tornarem causa de revoluções na Europa, resume Juncker. As desordens de imigrantes em vários países europeus já têm demonstrado que tal inquietação tem razões de ser. O político propõe uma receita como o evitar: não viver acima das posses e continuar aplicando reformas, mesmo que estas sejam impopulares. Mas esse modelo tem um defeito essencial: os políticos atuais não estão interessados nele. Pois o método provado de ganhar votos dos eleitores consiste em prometer prosperidade e florescimento, mesmo que seja à conta alheia.

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