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Mesmo assim, especialista ouvido pela DW diz que Coreia do Norte não ficará só na retórica e vai, de alguma forma, atacar a Coreia do Sul. A China tem papel fundamental na aplicação de sanções contra os norte-coreanos.
Depois de várias ameaças, a Coreia do Norte deverá colocar em prática, de alguma forma, as suas intimidações contra a Coreia do Sul. Isso poderia ser em forma de disparos de artilharia ao longo da zona desmilitarizada entre os dois países, por exemplo.
Isso é o que afirma Christoph Pohlmann, diretor do escritório da Fundação Friedrich Ebert na capital sul-coreana, Seul. Em entrevista exclusiva à DW, ele disse ainda que, caso a Coreia do Norte realize um ataque nuclear, certamente haverá retaliação por parte dos Estados Unidos – o que seria, na opinião dele, "basicamente um suicídio".
Ao mesmo tempo, Pohlmann frisou que a China tem um papel fundamental na aplicação de sanções contra a Coreia do Norte, já que os norte-coreanos realizam 70% de seu comércio com o gigante chinês. Ao mesmo tempo, a China estaria "muito irritada com o comportamento da Coreia do Norte".
Leia a entrevista completa:
Deutsche Welle – Há várias semanas, de forma incansável, a Coreia do Norte vem fazendo ameaças. Primeiro, anunciou que vai realizar mais testes nucleares neste ano e, depois, ameaçou uma guerra nuclear contra os Estados Unidos. Agora, anulou o acordo de não agressão com a Coreia do Sul. Em que medida, com esses acontecimentos recentes, o conflito escalou para um nível novo e mais perigoso?
Christoph Pohlmann – Poderíamos dizer que o conflito chegou a um novo nível, que também pode ser verificado em termos de incidentes militares. Isso porque a Coreia do Norte não pode continuar ameaçando sem que essas ameaças sejam seguidas de atos. Isto é, nós realmente podemos supor que a Coreia do Norte vai agir militarmente de alguma forma.
Como isso poderia acontecer?
Pode ser o que já sabemos e vimos apenas nas últimas semanas e meses: mais testes de mísseis, possivelmente também com outros tipos de foguetes, ou mais testes nucleares. Podem-se incluir aí provocações militares sobre terra ou mar, por exemplo, na forma de disparos de artilharia contra uma ilha sul-coreana ou ao longo da zona desmilitarizada entre o Norte e o Sul.
A agência de notícias norte-coreana KCNA anunciou, em sua retórica de guerra, que as relações entre o Norte e o Sul teriam cruzado a linha de perigo de tal forma que a situação não poderia ser mais consertada, e que a situação na península coreana é agora tão perigosa que poderia acontecer uma guerra nuclear. Como você avalia isso?
Isto é, naturalmente, uma retórica inaceitável e causa grande incompreensão e também preocupação à Coreia do Sul. Ao mesmo tempo, a Coreia do Norte tem que saber que, no caso de um ataque nuclear, haverá retaliação nuclear pelo lado dos Estados Unidos. O governo sul-coreano enfatizou isso mais de uma vez. Isso é algo que realmente se deve levar em conta. Isso significa, basicamente, um suicídio – do que todos os observadores estão convencidos. E isso não seria do interesse do regime norte-coreano.
Então quer dizer que o "fundo do poço" ainda não foi atingido?
Não. Mesmo que não haja mais diálogo entre os dois lados, é mais provável que a tensa situação ainda seja agravada, por exemplo, devido a grandes manobras militares por ambos os lados na semana que vem. Mas eu não vejo isso. Não acho provável que a Coreia do Norte vá praticamente acabar a Coreia do Sul com um ataque nuclear, ou pelo menos atingir um ponto muito sensível, por exemplo, bombardeando Seul com armas nucleares.
O significado simbólico, por si só, já faz com que essas sanções sejam significativas. É um pacote de sanções que consiste em limitações financeiras, mas também o monitoramento das rotas de transporte. E isso também afeta diretamente os empresários que realizam negócios para a Coreia do Norte. Por um lado, estas sanções são importantes. Caso contrário, a Coreia do Norte não responderia de forma tão agressiva a elas. Por outro lado, a sua implementação depende crucialmente da China.
A China apoiou essas sanções – da mesma forma como as outras, contra testes de mísseis – para desgosto da Coreia do Norte. Até agora, porém, Pequim tem sido – formulando de forma diplomática – um pouco relutante na aplicação dessas sanções. Como vizinho da Coreia do Norte e como um país que realiza mais de 70% do comércio exterior da Coreia do Norte, a China tem, claro, um papel fundamental.
Este recente endurecimento de sanções apoiado pela China seria um indício para uma mudança de atitude por parte de Pequim?
Eu ainda não vejo uma mudança de atitude em que a China estaria disposta, eventualmente, a abandonar a Coreia do Norte. Mas, tanto a paciência da liderança chinesa como também dos especialistas científicos, bem como a do público em geral, está lentamente se esgotando. Embora existam diferentes facções – incluindo os que não desejam ameaçar a estabilidade do regime norte-coreano e que querem, por exemplo, manter definitivamente a Coreia do Norte engajada como um amortecedor contra os Estados Unidos –, a China está muito irritada com o comportamento da Coreia do Norte.
Enquanto isso, há preocupações de que o comportamento da Coreia do Norte já não seja mais previsível e parece estar se tornando mais extremo, de modo de a China quer sinalizar ao jovem líder norte-coreano Kim Jong Un que este comportamento agora simplesmente foi longe demais. E, ao mesmo tempo, a China quer apresentar-se mais forte do que no passado recente como um membro responsável da comunidade internacional.
No meu ponto de vista há possibilidades. O problema é que nenhum dos lados parece estar disposto a dar esse passo até agora. Atualmente, a lógica político-militar que prevalece parece sinalizar uma maior escalada e nenhum dos lados quer ceder, pois isso poderia ser avaliado como um sinal de fraqueza. Assim, por exemplo, os Estados Unidos estão conduzindo seus grandes exercícios militares esta semana e na próxima. E a Coreia do Norte deverá responder com outras manobras.
Uma possibilidade seria a de que os Estados Unidos, se possível junto com a China, pudessem apresentar uma espécie de proposta de negociação para sair desta espiral: uma proposta que também ofereça incentivos à Coreia do Norte, o que seria difícil na atual situação de provocação incessante da Coreia do Norte.
Mas, ao mesmo tempo, na minha opinião, não há outra maneira, porque o perigo de que possam haver erros de cálculo de ambos os lados é muito grande, resultando em uma escalada incontrolável da situação. Isso significa que é imperativo que um dos lados – e no momento preferencialmente os lados mais fortes, ou seja, Estados Unidos e China – de preferência juntos, se aproximem dos norte-coreanos e tentem dissuadi-los deste curso. seja de forma aberta ou através de canais informais.
Autora: Esther Felden (fc)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Isso é o que afirma Christoph Pohlmann, diretor do escritório da Fundação Friedrich Ebert na capital sul-coreana, Seul. Em entrevista exclusiva à DW, ele disse ainda que, caso a Coreia do Norte realize um ataque nuclear, certamente haverá retaliação por parte dos Estados Unidos – o que seria, na opinião dele, "basicamente um suicídio".
Ao mesmo tempo, Pohlmann frisou que a China tem um papel fundamental na aplicação de sanções contra a Coreia do Norte, já que os norte-coreanos realizam 70% de seu comércio com o gigante chinês. Ao mesmo tempo, a China estaria "muito irritada com o comportamento da Coreia do Norte".
Leia a entrevista completa:
Deutsche Welle – Há várias semanas, de forma incansável, a Coreia do Norte vem fazendo ameaças. Primeiro, anunciou que vai realizar mais testes nucleares neste ano e, depois, ameaçou uma guerra nuclear contra os Estados Unidos. Agora, anulou o acordo de não agressão com a Coreia do Sul. Em que medida, com esses acontecimentos recentes, o conflito escalou para um nível novo e mais perigoso?
Christoph Pohlmann – Poderíamos dizer que o conflito chegou a um novo nível, que também pode ser verificado em termos de incidentes militares. Isso porque a Coreia do Norte não pode continuar ameaçando sem que essas ameaças sejam seguidas de atos. Isto é, nós realmente podemos supor que a Coreia do Norte vai agir militarmente de alguma forma.
Como isso poderia acontecer?
Pode ser o que já sabemos e vimos apenas nas últimas semanas e meses: mais testes de mísseis, possivelmente também com outros tipos de foguetes, ou mais testes nucleares. Podem-se incluir aí provocações militares sobre terra ou mar, por exemplo, na forma de disparos de artilharia contra uma ilha sul-coreana ou ao longo da zona desmilitarizada entre o Norte e o Sul.
A agência de notícias norte-coreana KCNA anunciou, em sua retórica de guerra, que as relações entre o Norte e o Sul teriam cruzado a linha de perigo de tal forma que a situação não poderia ser mais consertada, e que a situação na península coreana é agora tão perigosa que poderia acontecer uma guerra nuclear. Como você avalia isso?
Isto é, naturalmente, uma retórica inaceitável e causa grande incompreensão e também preocupação à Coreia do Sul. Ao mesmo tempo, a Coreia do Norte tem que saber que, no caso de um ataque nuclear, haverá retaliação nuclear pelo lado dos Estados Unidos. O governo sul-coreano enfatizou isso mais de uma vez. Isso é algo que realmente se deve levar em conta. Isso significa, basicamente, um suicídio – do que todos os observadores estão convencidos. E isso não seria do interesse do regime norte-coreano.
Então quer dizer que o "fundo do poço" ainda não foi atingido?
Não. Mesmo que não haja mais diálogo entre os dois lados, é mais provável que a tensa situação ainda seja agravada, por exemplo, devido a grandes manobras militares por ambos os lados na semana que vem. Mas eu não vejo isso. Não acho provável que a Coreia do Norte vá praticamente acabar a Coreia do Sul com um ataque nuclear, ou pelo menos atingir um ponto muito sensível, por exemplo, bombardeando Seul com armas nucleares.
A Coreia do Sul realizou manobras militares depois que a Coreia do Norte fez seu terceiro teste nuclear em fevereiro
Quanto ao "atingir um ponto sensível": essa é precisamente a intenção do endurecimento das sanções que o Conselho de Segurança impôs na quinta-feira (07/03) contra a Coreia do Norte. Essas foram as sanções mais duras na história recente do órgão mais poderoso da Organização das Nações Unidas (ONU). Qual é a eficácia deste pacote de sanções? Até que ponto essas medidas atingem o regime de Pyongyang?O significado simbólico, por si só, já faz com que essas sanções sejam significativas. É um pacote de sanções que consiste em limitações financeiras, mas também o monitoramento das rotas de transporte. E isso também afeta diretamente os empresários que realizam negócios para a Coreia do Norte. Por um lado, estas sanções são importantes. Caso contrário, a Coreia do Norte não responderia de forma tão agressiva a elas. Por outro lado, a sua implementação depende crucialmente da China.
A China apoiou essas sanções – da mesma forma como as outras, contra testes de mísseis – para desgosto da Coreia do Norte. Até agora, porém, Pequim tem sido – formulando de forma diplomática – um pouco relutante na aplicação dessas sanções. Como vizinho da Coreia do Norte e como um país que realiza mais de 70% do comércio exterior da Coreia do Norte, a China tem, claro, um papel fundamental.
Este recente endurecimento de sanções apoiado pela China seria um indício para uma mudança de atitude por parte de Pequim?
Eu ainda não vejo uma mudança de atitude em que a China estaria disposta, eventualmente, a abandonar a Coreia do Norte. Mas, tanto a paciência da liderança chinesa como também dos especialistas científicos, bem como a do público em geral, está lentamente se esgotando. Embora existam diferentes facções – incluindo os que não desejam ameaçar a estabilidade do regime norte-coreano e que querem, por exemplo, manter definitivamente a Coreia do Norte engajada como um amortecedor contra os Estados Unidos –, a China está muito irritada com o comportamento da Coreia do Norte.
Enquanto isso, há preocupações de que o comportamento da Coreia do Norte já não seja mais previsível e parece estar se tornando mais extremo, de modo de a China quer sinalizar ao jovem líder norte-coreano Kim Jong Un que este comportamento agora simplesmente foi longe demais. E, ao mesmo tempo, a China quer apresentar-se mais forte do que no passado recente como um membro responsável da comunidade internacional.
Com apoio de Rússia e China, EUA e aliados acirraram as restrições econômicas e políticas à Coreia do Norte
Você vê no momento maneiras de quebrar o ciclo cada vez mais agressivo de ação e reação – e, se sim, onde?No meu ponto de vista há possibilidades. O problema é que nenhum dos lados parece estar disposto a dar esse passo até agora. Atualmente, a lógica político-militar que prevalece parece sinalizar uma maior escalada e nenhum dos lados quer ceder, pois isso poderia ser avaliado como um sinal de fraqueza. Assim, por exemplo, os Estados Unidos estão conduzindo seus grandes exercícios militares esta semana e na próxima. E a Coreia do Norte deverá responder com outras manobras.
Uma possibilidade seria a de que os Estados Unidos, se possível junto com a China, pudessem apresentar uma espécie de proposta de negociação para sair desta espiral: uma proposta que também ofereça incentivos à Coreia do Norte, o que seria difícil na atual situação de provocação incessante da Coreia do Norte.
Mas, ao mesmo tempo, na minha opinião, não há outra maneira, porque o perigo de que possam haver erros de cálculo de ambos os lados é muito grande, resultando em uma escalada incontrolável da situação. Isso significa que é imperativo que um dos lados – e no momento preferencialmente os lados mais fortes, ou seja, Estados Unidos e China – de preferência juntos, se aproximem dos norte-coreanos e tentem dissuadi-los deste curso. seja de forma aberta ou através de canais informais.
Autora: Esther Felden (fc)
Revisão: Roselaine Wandscheer
DW.DE
- Data10.03.2013
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