Por José Goulão|
A guerra na Síria é um espelho de comportamentos trágicos. Desde a incapacidade do regime da família Assad para compreender os movimentos populares de contestação até às ingerências internacionais que não só desencadearam como alimentam a guerra, à ineficácia da ONU, nada surge no horizonte que possa poupar seres humanos a esta catástrofe.
Os comportamentos desumanos, oportunistas e degradantes dominam a situação, mas existem excepções, quiçá uma única: a atitude do Líbano perante o conflito.
País pequeno, vulnerável, dividido, afectado por intolerâncias político-religiosas, o Líbano é um país com muitas razões de queixas dos vizinhos Israel e Síria. Queixas de Israel, porque as agressões criminosas são cíclicas, arrasadoras, e durante os últimos 40 anos vêm perturbando de maneira radical o desenvolvimento libanês. Queixas da Síria, porque os poderosos de Damasco têm muita dificuldade em aceitar a autonomia e a independência libanesas, sempre tentados a fazer do pequeno país vizinho uma extensão do seu.
Nem só de vizinhos se deve queixar o Líbano. Os poderosos interesses financeiros e estratégicos da maior ditadura sunita, a da Arábia Saudita, também se aproveitam sem rebuço e quase sempre com poucos escrúpulos, da pequena dimensão do Líbano para os seus negócios, claros ou escuros.
O exemplo mais flagrante é o da família Hariri, pai e filho, ambos com polémicas passagens pela chefia do governo, que beneficiando de uma “dupla nacionalidade” saudita e libanesa tratou de si própria fingindo que estava a cuidar de desenvolver o Líbano. O que fizeram, de facto, foi renovar Beirute de acordo com os interesses próprios, abandonando o resto do país o seu congénito subdesenvolvimento.
Apesar de tudo, o Líbano dá hoje uma lição ao mundo que o mundo, porém, não conhece porque os megafones da propaganda dominante, qualificada como informação, preferem os horrores da guerra aos feitos e sacrifícios desenvolvidos para minorar sofrimentos. Além de não se imiscuir na guerra da Síria, caso único entre os vizinhos deste país, o Líbano é o país que acolhe e trata dos refugiados da guerra, naturalmente em prejuízo de si mesmo uma vez que vive com dificuldades tremendas.
Todos conhecemos o Líbano como um país de divisões incuráveis e trágicas. Porém, talvez por conhecer bem a crueldade de uma guerra civil, as forças dominantes no Líbano conseguiram unir-se e fazer frente, com a disponibilidade possível e impossível, ao êxodo das vítimas do conflito sírio.
Para receber os fugitivos da guerra da Síria, o Líbano não seguiu a prática habitual, a construção de campos de refugiados entregues à ONU e a organizações não-governamentais. No Líbano são famílias de acolhimento que recebem os refugiados, a maior parte delas repartindo o pouco que têm com os recém-chegados. O comportamento do Líbano é um exemplo para o mundo inteiro, por isso mesmo não deve ser inocente o silêncio a que tal gesto é votado.
O maior problema é que o êxodo não pára porque os senhores da guerra não estão dispostos a resolvê-la. E o Líbano sabe que a sua disponibilidade interna tem limites, porque em lado algum do planeta se moveu uma palha para que o pequeno país não tenha de aguentar sozinho este fardo. Estamos perante um gigante a despejar as vítimas das suas sangrentas convulsões para um anão. Um rio caudaloso não pode desaguar num riacho, faz com que este transvase de forma caótica. Se o mundo não acordar para o problema, é o que acontecerá ao Líbano. Então, os senhores da guerra provocarão ainda muito mais vítimas.
Os comportamentos desumanos, oportunistas e degradantes dominam a situação, mas existem excepções, quiçá uma única: a atitude do Líbano perante o conflito.
País pequeno, vulnerável, dividido, afectado por intolerâncias político-religiosas, o Líbano é um país com muitas razões de queixas dos vizinhos Israel e Síria. Queixas de Israel, porque as agressões criminosas são cíclicas, arrasadoras, e durante os últimos 40 anos vêm perturbando de maneira radical o desenvolvimento libanês. Queixas da Síria, porque os poderosos de Damasco têm muita dificuldade em aceitar a autonomia e a independência libanesas, sempre tentados a fazer do pequeno país vizinho uma extensão do seu.
Nem só de vizinhos se deve queixar o Líbano. Os poderosos interesses financeiros e estratégicos da maior ditadura sunita, a da Arábia Saudita, também se aproveitam sem rebuço e quase sempre com poucos escrúpulos, da pequena dimensão do Líbano para os seus negócios, claros ou escuros.
O exemplo mais flagrante é o da família Hariri, pai e filho, ambos com polémicas passagens pela chefia do governo, que beneficiando de uma “dupla nacionalidade” saudita e libanesa tratou de si própria fingindo que estava a cuidar de desenvolver o Líbano. O que fizeram, de facto, foi renovar Beirute de acordo com os interesses próprios, abandonando o resto do país o seu congénito subdesenvolvimento.
Apesar de tudo, o Líbano dá hoje uma lição ao mundo que o mundo, porém, não conhece porque os megafones da propaganda dominante, qualificada como informação, preferem os horrores da guerra aos feitos e sacrifícios desenvolvidos para minorar sofrimentos. Além de não se imiscuir na guerra da Síria, caso único entre os vizinhos deste país, o Líbano é o país que acolhe e trata dos refugiados da guerra, naturalmente em prejuízo de si mesmo uma vez que vive com dificuldades tremendas.
Todos conhecemos o Líbano como um país de divisões incuráveis e trágicas. Porém, talvez por conhecer bem a crueldade de uma guerra civil, as forças dominantes no Líbano conseguiram unir-se e fazer frente, com a disponibilidade possível e impossível, ao êxodo das vítimas do conflito sírio.
Para receber os fugitivos da guerra da Síria, o Líbano não seguiu a prática habitual, a construção de campos de refugiados entregues à ONU e a organizações não-governamentais. No Líbano são famílias de acolhimento que recebem os refugiados, a maior parte delas repartindo o pouco que têm com os recém-chegados. O comportamento do Líbano é um exemplo para o mundo inteiro, por isso mesmo não deve ser inocente o silêncio a que tal gesto é votado.
O maior problema é que o êxodo não pára porque os senhores da guerra não estão dispostos a resolvê-la. E o Líbano sabe que a sua disponibilidade interna tem limites, porque em lado algum do planeta se moveu uma palha para que o pequeno país não tenha de aguentar sozinho este fardo. Estamos perante um gigante a despejar as vítimas das suas sangrentas convulsões para um anão. Um rio caudaloso não pode desaguar num riacho, faz com que este transvase de forma caótica. Se o mundo não acordar para o problema, é o que acontecerá ao Líbano. Então, os senhores da guerra provocarão ainda muito mais vítimas.
Fonte: Jorna de Angola
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