sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Lição de Democracia - Virgilio Samakuva .



Luanda - Ontem e hoje dia 21 de Fevereiro, dei-me ao trabalho de passar parte do meu tempo, a seguir em directo atravez de um dos canais da televisão pública espanhola, as intervenções dos eleitos do povo no Parlamento desse país. Foram dois dias de debate sobre o Estado da Nação. Que lindo exercicio de democracia! Muitas coisas chamaram a minha atenção e cito algumas delas:
Fonte: Club-k.net
1º A relação entre o Presidente do Governo, senhor Rajoy e o resto dos deputados. Dei-me conta que o Presidente deles, não é nenhum deus. Está estatuido que deve comparecer e apresentar o Estado da Nação e comparece. Chega ao local à hora determinada como os demais deputados. Cumprimenta os colegas que apesar disso sabem deixar a sua margem de respeito e o trabalho começa.
2º A exposição do Presidente é clara, franca e abre de facto um debate constructivo.
3º As intervenções dos lideres dos outros partidos levam a mesma carga de abertura e frontalidade. Sabem separar o respeito devido ao Presidente, do seu dever de criticar, de denunciar abertamente os erros do chefe do Executivo e do partido maioritário; sem dó nem paliativos. Não há assuntos tabú. Quando o Presidente tem que ser encostado à parede porque agiu mal em algum aspecto, não se lhe poupa em nenhum momento. E tem que aguentar as consequências dos seus erros. Afinal, ele só é um servo mais, do único e legítimo titular da soberania que é o povo que o colocou alí. Tem mesmo que prestar contas. É uma das regras do jogo. Ele não está acima da lei e presta as contas sem nunca sentir-se ofendido nem humilhado.
4º A corrupção é um problema de actualidade também nesse país. Mas alí, é considerada de facto como um Problema Sério, com maiúscula; Esta é pois, a diferença e toda a gente consegue ver que sim, que isso é uma enfermidade grave e o esforço para sua erradicação é firme e unânime. E não ha grupos intocáveis. Se meteu o pé na argola da corrupção tem de enfrentar-se aos Tribunais. A opinião pública é severa e a própria familia real está nos holofotes, talvez até inocentemente, por erros de um dos genros. Até que se apure toda a verdade, é actualidade. Mas nenhum culpado escapa. A Justiça está em marcha. Há separação de poderes. Funciona. Quem meter a pata assume as consequências e se merece ser vaiado, vai mesmo ser vaiado.
Qué lindo exercicio de democracia! E para o meu país? Quando?
Quando veremos no meu país, encarar-se a corrupção como um CRIME que merece toda atenção e ser combatida por todos os meios, em vez de ser acarinhada e estimulada pela impunidade como se faz hoje?
Quando se vai estancar neste meu país, o roubo desenfreado e escandaloso do dinheiro do povo para o enriquecimento de umas familias consideradas especiais, enquanto a maioría padece da falta de tudo?
Quando veremos no meu pais, essa bonita imagem do “primeiro eleito do povo” andando livremente no meio dos demais deputados no recinto da nossa Assembleia Nacional, saudando e conversando tranquilamente com os demais deputados?
Quando veremos no meu país, o “primeiro eleito do povo” encher-se de coragem e submeter-se à Assembleia, apresentar o resumo das suas actividades ou colocar-se à disposição das perguntas dos representantes de outras sensibilidades do seu povo? Quando?
Quanto tempo mais, teremos que esperar pelas verbas com que pagar a retransmissão directa do nosso Estado da Nação e dos demais debates dos nossos eleitos sobre problemas que nos dizem respeito? Até quando esse debate continuará a ser-nos escondido com falsas desculpas? Que medo é esse que nos leva a ter o nosso Parlamento convertido em um castelo escuro, donde os verdadeiros titulares da soberania nada podem sacar, que nâo sejam pratos já cozinhados com ingrendientes vindos não se sabe donde?
Alguém me pedirá que não confunda as duas realidades pois a democracia espanhola é europeia e foi implantada depois da morte do ditador Franco e portanto já é velha de cerca de 35 anos, enquanto a nossa foi teóricamente instaurada em 1992 e que por isso ha que dar-lhe tempo. A quem assim opine, direi que sou dos que acham que aqueles que como nós, estão trilhando caminhos que já foram desvendados por outros povos, não precisam ser tão estúpidos para levar o mesmo tempo a percorrer um caminho que já está traçado por outros. Não há que descobrir nada novo. Afinal, mesmo quando nos nossos processos eleitorais estamos a falar de variantes d’Hondt, de Sainte-Laguë ou de Hare, não estamos a inventar nada novo. Já estamos a imitar dos outros! Então porquê não imitar o resto dos exemplos de coisas que sabemos serem boas para o nosso povo?
Só mesmo por uma falta de vontade politica.
Que não nos falte a esperança, mas cresçamos todos os dias em coragem e maturidade para que reivindiquemos direitos que só mesmo a nós pertencem.
Avante, Angola nossa!.
21 de Fevereiro de 2013
Virgilio Samakuva

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