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Os deputados da Assembleia Nacional francesa aprovaram, depois de dez dias de discussões, um projeto de lei que legaliza na França os casamentos entre pessoas do mesmo sexo e permite a essas famílias adotarem crianças, criando dessa forma, na opinião dos peritos, uma séria divisão na sociedade francesa relativamente a essa questão.
Apresentamos a opinião do perito Vladimir Bruter do Instituto Internacional de Estudos Políticos e Humanitários.
"A esquerda francesa disse, durante a campanha eleitoral, que iria aprovar essa lei. O país votou neles, e por isso não se pode dizer que a sociedade francesa se tenha demarcado. A questão é outra. A sociedade francesa é bastante tradicionalista em muitas das suas manifestações. Nela ainda se sente um papel importante de uma Igreja Católica que não partilha dos valores liberais. Aqueles que a apoiam expressam a sua discordância. Esse setor está em minoria, enquanto as leis são aprovadas pelo poder em nome da maioria. Não existe uma crise na França provocada pela aprovação da lei dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, existe apenas uma cisão. Ela já existia antes, continua a existir agora e continuará a existir depois. Esse tipo de cisões é ultrapassado de uma forma democrática".
Na sua essência, o casamento homossexual é uma questão de princípio, uma questão de fronteiras do espaço individual do homem moderno. Outra questão é a esquerda francesa (e não só) atentar contra o sistema de reprodução. Se em vez das palavras "mãe" e "pai" as leis passarem a se referir ao "progenitor A" e ao "progenitor B", e se em vez das palavras "marido" e "mulher" se tenha de escrever a palavra assexuada "esposos", então o mundo construído pela maioria começará a se desfazer a favor de uma minoria.
É impossível alterar a natureza humana. Na opinião de uma série de psiquiatras, a criança tem que imaginar que o seu nascimento é o resultado das relações sexuais entre duas pessoas. Isso é natural. Mesmo uma criança adotada pode se imaginar como tendo nascido dos seus pais adotivos, mas uma criança nunca poderá se imaginar como tendo nascido de dois homens ou de duas mulheres. É verdade, existem crianças que são educadas pela mãe e pela sua companheira, ou pelo pai e pelo seu companheiro. Mas essas crianças sabem que nasceram de uma ligação entre um homem e uma mulher. Isso altera tudo.
A igreja não esconde a sua preocupação com a alteração da instituição do casamento. Na opinião dos tradicionalistas, no casamento o homem e a mulher consumam o seu projeto conjunto que é a aspiração a ter filhos e garantir a continuidade das gerações. A procriação e a substituição das gerações são impossíveis nas famílias homossexuais. A história e a antropologia indicam inequivocamente que o casamento é um direito exclusivo de um casal formado por um homem e uma mulher e que ele não pode ser usado para a "normalização" da homossexualidade, é a conclusão tirada pelos adeptos dos valores tradicionais.
Temos de reconhecer que o mundo está à beira de mudanças globais. A sua força e a sua escala são tão elevadas que se torna impossível deixar de reagir. Por vezes é simplesmente impossível saber como. Só nos resta tentar adivinhar como será a sociedade humana em resultado desse tipo de transformações.
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