Frelimo, MDM e Renamo preparam eleições autárquicas na Beira

 

Ambiente político começa a ferver

Dom Jaime Gonçalves, indignado com as especulações em torno do seu nome, desmente categoricamente informações que o indicam como provável candidato pelo MDM a presidente do Município da Beira.

Beira (Canalmoz) – É Janeiro. O calendário eleitoral referente às eleições autárquicas do corrente ainda não foi divulgado pela Comissão Nacional das Eleições (CNE), mas na Beira já se notam algumas movimentações políticas dos partidos Frelimo, MDM e Renamo tendo em vista afinar as máquinas para aquilo que será a maratona política deste ano nesta urbe.

Os acontecimentos dos últimos dias, que se centraram na busca de candidatos quer nas hostes do “batuque e a maçaroca” (Frelimo), quer nas da “perdiz” (Renamo), colocam o ambiente político ao rubro. De permeio há rumores de que o MDM pretende candidatar Dom Jaime Pedro Gonçalves para o lugar do engenheiro Daviz Simango, mas o próprio arcebispo já desmentiu que esteja envolvido nisso.

No último fim-de-semana o MDM realizou uma reunião da Comissão Política do Conselho da Cidade da Beira, cujo principal objectivo assentava em afinar as máquinas para as próximas eleições autárquicas. Ficou assente que o MDM pretende consolidar a sua base eleitoral, no caso da Beira. Paulo Sitole, que é presidente da referida comissão do MDM, afirmou que esta reunião visou “consolidar e manter o município como sua base eleitoral”.

Naquele encontro do MDM, esteve presente Daviz Simango, os responsáveis do MDM ao nível da Beira, encabeçados pela delegada Flora Impula. Foi apresentado um relatório de actividades, no qual consta que “o desempenho foi bom, porque angariaram mais de vinte mil membros, só no ano passado”.

Desde o ano transacto, este encontro foi o terceiro da comissão política ao nível da Beira. Flora Impula disse à nossa Reportagem que tudo está a postos para que o MDM vença folgadamente as eleições naquele município. Acrescentou que “o MDM terá a maioria absoluta/qualificada na assembleia municipal”, onde presentemente nem se quer tem representação porque ainda não existia nas últimas autárquicas na Beira. Daviz Simango concorreu como independente depois da Renamo o ter afastado.

Flora Impula disse também ao Canalmoz e Canal de Moçambique que “a mesma situação irá acontecer nas eleições presidenciais e legislativas, na Beira”.

Ainda no sábado, à margem daquele evento, depois de uma conferência de imprensa, certos jornalistas trouxeram a público rumores em que se dá conta da probabilidade do Arcebispo da Beira jubilado, Dom Jaime Gonçalves vir a ser o candidato do MDM ao cargo de Presidente do Município.

Albano Carrige, porta-voz do encontro do MDM, quando lhe foi colocada essa especulação na conferência de imprensa, disse que o MDM fará a auscultação ao povo sobre o candidato ideal. Não desmentiu nem confirmou os referidos rumores. Ficou assim, pelo menos subjacente que na Beira Dom Jaime é considerado uma figura próxima do MDM. Mas o prelado reformado, protesta e desmente que seja candidato a alguma coisa.

Dom Jaime não foi ouvido sobre a especulação em redor do seu nome empreendida por um diário do país. Mas a Reportagem do Canalmoz e do Canal de Moçambique falou com ele terça-feira por forma a entender melhor o que se está a passar realmente. Vejamos abaixo o que nos disse.

Candidatura de Dom Jaime é invencionice

Em contacto com a nossa Reportagem, Dom Jaime manifestou-se perplexo e indignado com a especulação que o envolve, tendo deplorado que o estejam a relacionar com candidaturas, nesta fase em que é jubilado. Dom Jaime foi breve nas palavras.

Esta é a primeira vez que conectam Dom Jaime com o MDM. No passado o conectavam com a Renamo, tendo nessa situação sofrido perseguições ao extremo de elementos da SISE (serviços de segurança do Estado) escutarem os seus sermões, por alegadamente favorecerem a Renamo.

Dom Jaime, antigo arcebispo da arquidiocese da Beira foi jubilado por ter 75 anos, completados a 26 de Novembro de 2012. Apesar de ser aparentemente saudável, tem-se sujeitado a controlos médicos periódicos.

Em 2010 Dom Jaime passou por uma crise no seu estado de saúde, devido a subidas da sua Tensão Arterial, facto que o levou a estar hospitalizado por duas vezes. Chegou-se mesmo a anunciar que ele teria perdido a vida em resultado de subida de tensão arterial.

A despeito da anunciada candidatura de Dom Jaime alguns segmentos da sociedade, na Beira, afirmam unanimemente que tal ideia só pode ter partido de um “mentecapto”, uma vez que o prelado nunca poderia jubilar-se para depois voltar a trabalhar numa posição que exige muito e é susceptível de ataques públicos que não só não ajudariam a sua saúde, como afectariam o seu prestígio e credibilidade.

Entretanto, ontem o chefe da mobilização do MDM convocou uma conferência de imprensa na sede do partido para dizer que a suposta candidatura de Dom Jaime não passa de uma especulação. Adiantou que Dom Jaime não é membro do MDM.

Frelimo desmente que já se esteja a movimentar

A Frelimo, cuja divisa ultimamente se baseia em tudo fazer-se para “arrancar a Beira das mãos do MDM”, realizou uma sessão do Comité da cidade. Deste evento transpirou que há três candidatos para a Beira.

Não há nome do candidato da Frelimo, mas rumores dizem que entre António Cuela (actual representante do Estado na Beira, em substituição de Arnaldo Machoe) que foi secretário-permanente em Caia, e Henriques Bongesse, primeiro-secretário provincial, um deles poderá vir a ser o candidato.

O terceiro nome as fontes não precisaram.

Há no entanto há quem admita que o actual presidente da Assembleia Municipal da Beira, Mateus Saize, possa vir a ser apontado como candidato. Mas não passa de especulação, para já.

Há ainda uma ala que apoia uma nova candidatura de Lourenço Bulha que foi estrondosamente derrotado por Daviz Simango nas últimas autárquicas. Ele próprio tem revelado a familiares que não volta a candidatar-se. Desde que foi derrotado na Beira, Lourenço Bulha tem vindo a sofrer uma série de humilhações no seu próprio partido. Foi afastado de todos os cargos até do Comité Central.

Contactado, o secretário do comité da Frelimo ao nível da cidade da Beira, Lino Massunguine, afirmou não ser verdade que na sessão do Comité da Cidade da Beira se tivessem debruçado sobre propostas de candidaturas às autarquias. “Há-de chegar o tempo”, afirmou serenamente.

Massunguine acrescentou que na reunião referida “tratámos da prestação de contas, do desempenho dos órgãos no ano passado, da preparação do plano para 2013. Em momento nenhum falou-se de propostas de candidaturas. Esta coisa de candidato não é algo que se trata em Janeiro. Há-de chegar o momento próprio e aquele que apresentar melhor proposta será o candidato, segundo processos seguidos pelo partido”.

Delegado da Renamo em Sofala diz que seu partido não vai a eleições

Na semana anterior, a Renamo esteve reunida na delegação da Beira, tendo estado na agenda a busca de um candidato numa eventual situação pós-entendimento ou pós negociações com o Governo da Frelimo.

O provável candidato da Renamo é Noé Marimbique mas também se falou da hipótese de vir a ser Manuel Lole.

Lole, que foi até há pouco Delegado Provincial da Renamo em Sofala, já desmentiu e disse que não irá concorrer.

No mesmo diapasão afinou o delegado político da Renamo em Sofala, Albano Bulaunde José. Quando contactado pela nossa Reportagem disse que a única reunião que a Renamo realizou foi em Dezembro do ano passado e não tinha em vista “estas brincadeiras que está a dizer” (subentende-se eleições).

Acrescentou que está fora da Beira faz um mês, estando em Gorongosa, junto de Afonso Dhlakama, o presidente da Renamo, na preparação das estratégias que culminarão com a “revolução em Moçambique”.

“Toda gente sabe que o projecto da Renamo é de nível nacional e não estas brincadeiras de eleições. Alguma eventual reunião preparatória eleitoral só poderia ocorrer com a minha participação. Estou aqui no Quartel General da Renamo, com o presidente, e estou a trabalhar com o presidente, aprendendo muito com ele no projecto que estamos a traçar”.

“A Frelimo desprezou as negociações e nós não vamos entrar para eleições”, rematou Albano José. (Adelino Timóteo)