quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

ARMANDO EMÍLIO GUEBUZA - Setenta anos de uma figura profetizada em Murrupula

 

Guebuzanovo1913QUANDO Armando Emílio Guebuza nasceu, no longínquo ano de 1943, em Murrupula, sua terra natal, a comunidade local já vaticinava uma figura importante na sociedade.
 
Maputo, Sábado, 19 de Janeiro de 2013:: Notícias
 
Este vaticínio, não era afinal, somente da sociedade. Ao nível familiar, em particular, também se advinhava uma figura que anos mais tarde viria ocupar as altas funções de Chefe do Estado, cargo que aliás, desempenha com todo o rigor, segundo depoimentos de familiares muito próximos, em declarações à Imprensa por ocasião do 70º aniversario do Presidente da República que amanha se assinala.

Teresa Guebuza, irmã mais velha com uma diferença de 12 anos de idade, revela que quando do nascimento de Armando Guebuza, a casa dos pais em Murrupula foi alvo de muitas visitas e havia a ideia unânime de que a criança que acabava de nascer tinha algo muito especial mas que na altura ninguém conseguia descortinar.
“(…) anos mais tarde quando começa a engajar-se no movimento juvenil da época compreendemos que de facto ele era especial”, explicou Teresa Guebuza no momento que relembrava alguns episódios de infância de Armando Guebuza, ainda em Murrupula.
Um desses episódios é que já aos três anos de vida, exigia à irmã mais velha que lhe tratasse de “papá”, imitando a ginga de adultos. “Foi um dos momentos mais marcantes da nossa infância. Aliás, eu me considero mãe pois, fui eu quem cuidou dele nos primeiros anos de vida. Quando ele nasceu o nosso pai disse: Teresa está aqui o teu irmão e a partir de agora vais aprender a cuidar dos teus filhos”.
Hoje essa mítica figura de “papá” transcende a família Guebuza e, para interlocutora faz sentido o que se dizia em Murrupula quando do nascimento do actual Presidente da República.
“Ele tem um carinho muito especial e um grau de responsabilidade muito arrojado, qualidades que vem demonstrando desde a infância”, disse a nossa interlocutora, apontado como uma das qualidades o compromisso com o saber, daí que cedo preocupou-se pela actividade de ensino no Centro Associativo dos Negros de Moçambique.
O papel educador e quiçá de pai de Armando Guebuza, é corroborado pela irmã mais nova Clara Guebuza que considera que apesar dos constrangimentos de tempo, o Chefe de Estado consegue conciliar a sua função de Presidente da República e o seu papel social como o homem mais velho da família.
Segundo ela, de principio a família achava que por ser Presidente da República seria uma pessoa muito ausente, mas a experiência mostra o contrário. Cria sempre uma oportunidade para estar com a família.
Maria da Luz Guebuza
Maria da Luz Guebuza

Metódico e muito didacta

Maputo, Sábado, 19 de Janeiro de 2013:: Notícias
A esposa Maria da Luz Guebuza no contacto com a imprensa revelou que Armando Guebuza é muito didacta que gosta de ensinar e está sempre disponível para transmitir o seu conhecimento e a sua experiência, qualidades que fazem dele uma pessoa muito especial no seio da família, como esposo, pai, filho, irmão, tio e avô.
Segundo contou, apesar dos imperativos das suas funções, procura sempre estar com a família.
“Tem sido um esposo, um pai muito exemplar, presente. Na pequena oportunidade faz questão de estar com a família, de estar alguns momentos com a mãe, de estar alguns momentos com os netos, em particular, de facto é um pai, esposo, avô, filho muito exemplar”, disse frisando que a família também procura compensar esse esforço, criando-lhe ambiente para cumprir com zelo e dedicação o seu papel de Chefe de Estado. “(…) não deve ser a família a perturba-lo, pelo contrário a família deve permitir e facilitar a sua função”.
“(…) por mais que ele quisesse dedicar mais tempo à família, aos filhos, aos netos, é difícil devido ao seu papel, e nós também não podemos o crucifica-lo. Nós como família somos os primeiros a compreender esta situação e criamos momentos agradáveis para ele possa desempenhar o seu papel”.
Grande apreciador de matapa e feijão nhemba, Armando Guebuza, segundo revelações da esposa, apesar dos condicionalismos impostos pela sua função de Chefe de Estado, faz um esforço de passar pelo menos uma refeição com a família, momento que é aproveitado para relaxar e trocar ideias, inclusive para apresentar preocupações.
“De facto é realmente muito interessante como ele faz esta partilha dos momentos, não é fácil, mas ele faz esse esforço de dedicar se a família. Não é fácil mas ele faz”.
Entretanto, sobre a celebração dos 70 anos de vida do seu esposo e Chefe de Estado, Maria da Luz Guebuza, considera que é um grande marco, tendo, sobretudo, em conta a esperança de vida dos moçambicanos.
“Não é todos os dias que se completa 70 anos, tendo em conta a esperança de vida dos moçambicanos, por isso nós saudamos o nosso pai, marido, tio, avô, irmão, tio, por completar 70 anos muito activo e a trabalhar com todo vigor. Estamos muitos felizes por ele e vai continuar a receber todo o nosso apoio para continuar a dar a sua contribuição para o crescimento e desenvolvimento deste grande Moçambique”.
Amós Mahanjane
Amós Mahanjane

Testemunho de companheiros

Maputo, Sábado, 19 de Janeiro de 2013:: Notícias
Amós Mahanjane e Eduardo Nihia são dois combatentes da luta de libertação nacional, companheiros de Armando Emílio Guebuza testemunhas de factos vividos e protagonizados pelo aniversariante.
Mahanjane desejou ao Presidente da República muita saúde, felicidades, longa vida e que continue a transmitir a sua experiência aos moçambicanos, sobretudo aos mais novos, a formar mais quadros e que seja um bom dirigente como sempre o foi.
“São 70 anos cheios de experiência. Ele já formou muitos quadros. É uma pessoa com muita iniciativa. Gosta de implementar aquilo que acha que é positivo e construtivo. O camarada Armando Emílio Guebuza é uma pessoa cheia de princípios. Bebeu bem a doutrina da Frelimo”, disse.
Amós Mahanjane revelou ter conhecido Armando Guebuza na Igreja Presbiteriana do Bairro do Chamanculo, na cidade de Maputo, mas nao travou, nessa altura, nenhum diálogo com ele. Só em 1964 é que o conheceu bem na antiga Rodésia, hoje Zimbábwè.
“No dia 11 de Março de 1964, eu, Simione Chivite e Samuel Macucule empreendemos uma viagem. A nossa motivação era lutar para conquistar a independência total e completa de Moçambique. Tínhamos consciência de que Moçambique devia ser libertado, porque havíamos participado em vários encontros. Já tínhamos contactos de alguns camaradas que vinham da Tanzânia. Empreendemos essa viagem e fomo-nos encontrar, no dia 16 de Março, com o grupo do camarada Armando Guebuza em Hlabane, dentro da Rodésia”, afirmou.
Contou que durante a caminhada para a Rodésia, e depois de terem percorrido longas e penosas distâncias, Samuel Macucule decidiu regressar. Os dois, ele e Simione Chivite, conseguiram juntar-se ao grupo de que fazia parte o jovem Armando Guebuza, que também tinha a intenção de se juntar à Frelimo na Tanzânia. Tratou-se duma surpresa, conforme explicou, pois nem uns nem outros julgavam poder encontrar-se.
O grupo de que fazia parte o actual Presidente da República era composto por seis pessoas. Corporizavam o grupo duas meninas, nomeadamente Cristina Tembe, que está casada com o também antigo combatente Guideon Ndobe, e Mariana da Saraiva Fumo. A idade dos rapazes situava-se entre 22 e 23 anos, mas só um, Ângelo Azarias Chichava, é que tinha mais ou menos 25 anos.
De Hlabane, os oito jovens moçambicanos partiram para Salisbúria (Harare). Chegados àquele ponto, dirigiram-se a um mercado onde decidiram ficar, até que se conseguisse localizar os escritórios da ZANU, cujo presidente, na altura, era Ndabaningui Sithole e secretário-geral, Gabriel Robert Mugabe. Armando Guebuza, que já falava o inglês, foi destacado para localizar os escritórios da ZANU.
“Ele e o Ângelo Chichava falavam bem o inglês. O camarada Armando Guebuza já tinha feito o Quinto Ano. Pedimos a ele para procurar pelos escritórios da ZANU, enquanto nós ficávamos sentados no mercado, para evitarmos que fossemos detectados pela polícia. Ele conseguiu localizar os escritórios e voltou ao nosso encontro. Foi daí que nos dirigimos aos escritórios da ZANU. Fomos recebidos, deram-nos comida e fomos à casa de Ndabaningui Sithole, onde ficamos. Aconselharam-nos para que não saíssemos, porque aquela semana era perigosa, pois era uma semana santa e a polícia estava a fazer um controlo cerrado”, disse.
Em casa do presidente da ZANU, o grupo permaneceu dois a três dias. Depois de a situação abrandar, rumaram em direcção à fronteira com a Zâmbia, onde, em Vitória Falls.
“Quando chegamos à casa de Ndabaningui Sithole, houve a ideia de nos dividirmos em dois grupos. Um grupo iria com o camarada Armando Emílio Guebuza, via rodoviária, e o outro iria de comboio, para evitar que fôssemos presos. Na discussão entre nós, ficou decidido que todos devíamos ir juntos e assim fomos. Infelizmente, fomos presos e deportados para Moçambique. Exigiram-nos passaportes e nós não os tínhamos. Confessamos que éramos moçambicanos. Fomos presos em Vitória Falls, na fronteira entre a Rodésia do Sul (Zimbábwè) e a Rodésia do Norte (Zâmbia). Fomos presos no dia 29 de Março de 1964. Já em Moçambique, ficamos na cadeia da Somerschield, porque a da Machava ainda estava em construção.”, afirmou.
Nesse processo, Amós Mahanjane disse ter notado a coragem e a habilidade de Armando Guebuza mas, segundo revelou, o actual Presidente da República não manifestava qualquer intenção de querer ser líder. Aliás, sobre as qualidades de Armando Guebuza, afirmou que todos viam que, de facto, era uma pessoa cheia de virtudes. Uma dessas virtudes era a capacidade de liderança, altruísmo e espírito de conselheiro a quem estivesse menos informado.
Armando Guebuza havia sido, antes de partir para a Tanzânia, o presidente do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM), onde Amós Mahanjane acredita ter conseguido cultivar o seu espírito de líder.
“O camarada Armando Emílio Guebuza é daqueles que quando não concorda com uma coisa, não está a ver a lógica, nem sequer razão, não aceita. Quando ele não concorda, nunca diz sim para agradar a um e a outro. A Frelimo nos ensinou que quando não concordamos com uma coisa, não exercemos qualquer tipo de arrogância. Se o camarada Armando Emílio Guebuza vê a lógica numa coisa, ele aceita. Penso que isso é correcto. Nós todos devemos ser assim”, afiançou.
Eduardo Nihia
Eduardo Nihia

Libertação do país era uma prioridade

Maputo, Sábado, 19 de Janeiro de 2013:: Notícias
Por seu turno, Eduardo da Silva Nihia disse ter conhecido a Armando Guebuza na cidade tanzaniana de Mbeia, em 1965, entre finais de Março e princípios de Junho.
“O conheci, porque eu tive orientações do camarada Magaia para substituir o representante da Frelimo naquela cidade. Tive a informação de que vinha um grupo, cujas pessoas também haviam sofrido muito em Moçambique. Recebi o grupo com muita curiosidade. Nesse grupo, a pessoas que veio também com muita curiosidade era o camarada Armando Guebuza, porque ele soube que eu acabava de sair da cadeia no Malawi. Então nos conhecemos ali”, afirmou.
Eduardo Nihia indicou que Armando Guebuza era curioso em saber como é que os guerrilheiros da FRELIMO haviam realizado combates.
“Eu, particularmente, já tinha feito combates no início da luta. Era preciso explicar os episódios do início da luta na minha frente. Ele tinha 22 anos e eu 23. A partir daí, marquei-o como uma pessoa não ambiciosa. A curiosidade dele era de querer participar também”, disse, acrescentando que naquela altura os jovens que haviam aderido aos ideais de libertação tinham grande sentido de responsabilidade. Não namoravam, não iam à bebedeira nem às boites.
“Ver o camarada Guebuza como da mesma trincheira, isso me marcou bastante. Quando começámos a conversar, ele nunca parava. A nossa conversa era sobre como libertar o país. O nosso povo estava a sofrer. Foi conversando que eu soube que o camarada Guebuza nasceu na província de Nampula, no Distrito de Murrupula. Foi quando ele também soube que eu era de Nampula. Ele começou por chefiar o departamento de educação e cultura na Frelimo”, disse.
Nihia considerou Armando Guebuza uma pessoa exigente que quer ver a tarefa cumprida. É por isso mesmo, observou, que Moçambique hoje não é o que era dantes.
Denzel Guebuza
Denzel Guebuza

Netos felicitam Guebuza

Maputo, Sábado, 19 de Janeiro de 2013:: Notícias
Denzel Guebuza (10 anos): Que continue a ser o avô de sempre que nos conta histórias Shanya Guebuza (8 anos) : Desejo muito sucesso e muitas felicidades Leonardo Mavhunga (13 anos): parabéns avô, desejo sucessos e muitos anos de vida Kenneth Mawoze (14 anos): Felicidades pelo septuagésimo aniversário. Agradecemos por todo os momentos que tem estado connosco e pelos ensinamentos.
Teresa Guebuza
Teresa Guebuza

Excertos da biografia

Maputo, Sábado, 19 de Janeiro de 2013:: Notícias
Armando Emílio Guebuza nasceu no dia 20 de Janeiro de 1943, em Murrupula na Província de Nampula. Muito jovem, juntou-se à luta pela independência, tornando-se membro do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM) fundado por Eduardo Chivambo Mondlane. Ingressou na Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em 1963. Dois anos depois é eleito membro do Comité Executivo. No decurso da luta armada de libertação nacional, foi nomeado Comissário Político, funções que exerceu até 1983.
Em 1974, após a assinatura dos Acordos de Lusaka, foi designado Ministro da Administração Interna durante o Governo de Transição.
Depois da proclamação da independência nacional, em 1975, foi nomeado Ministro do Interior, cargo que exerceu até 1977.
De 1978 a 1979 exerceu cumulativamente as funções de Governador de Cabo-Delgado. Em Maio de 1983 regressa ao Ministério do Interior com a patente de Tenente-General.
Foi designado, em 1990, Chefe da delegação governamental que, em Roma (Itália), durante dois anos participou nas conversações de Paz.
No primeiro Parlamento multi-partidário moçambicano, foi eleito Deputado pelo Círculo Eleitoral da Província de Maputo e, mais tarde, eleito Chefe da Bancada Parlamentar da FRELIMO.
Nas eleições gerais de 1999, foi, novamente, eleito Deputado da Assembleia da República pelo Círculo Eleitoral de Sofala mantendo-se como Chefe da Bancada Parlamentar do Partido FRELIMO.
Armando Emílio Guebuza é casado com a senhora Maria da Luz Guebuza e tem quatro filhos.
CRONOLOGIA:
1963 - Nomeado Presidente do Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM)
1964 – Devido às suas actividades no âmbito da luta pela independência, foi preso na Rodésia e deportado para Moçambique
1965 - Exilado na Suazilândia, na sequência das suas actividades de luta pela independência de Moçambique
1965/6 - Treino militar nos centros de Bagamoio e Nachingweia
1966 (Setembro) - Secretário do DEC
1968 - Inspector das escolas da FRELIMO
1970 - Comissário Político e Inspector das escolas da FRELIMO
1974 - Comissário Político e Ministro da Administração Interna no governo de transição
1975 - Ministro do Interior
1977 - Comissário Político das FPLM, Vice-Ministro da Defesa Nacional e substituto do Chefe do Estado-Maior General
1978 - Vice-Ministro da Defesa e substituto legal do Governador de Cabo-Delgado
1980 - Vice-Ministro da Defesa, substituto do Ministro da Defesa e Chefe da Logística Militar
1981 - Ministro residente em Sofala
1983 - Ministro do Interior
1985 - Responsável de cooperação com a China, Vietname e Coreia do Norte
1985 - Coordenador dos Ministérios da Agricultura, Comércio, Secretaria do Estado do Turismo, Secretaria do Estado da Hidráulica Agrícola e Secretaria do Estado da Indústria Ligeira e Alimentar
1987 - Ministro dos Transportes e Comunicações e Presidente da Comissão de Trabalho da SADCC
1990 - Chefe da Delegação do Governo às negociações de Paz para Moçambique, em Roma (Itália)
1992 - Chefe da Delegação do Governo na Comissão de Supervisão e Implementação do Acordo Geral de Paz em Moçambique
1995 - Chefe da Bancada Parlamentar da FRELIMO na Assembleia da República
1997 – Participou nas negociações para a paz no Burundi, tendo presidido à 1ª e 5ª Comissão de Negociação sobre Causas e Natureza do Conflito no Burundi
2000- 2002 - Chefe da Bancada Parlamentar da FRELIMO
2002 – Eleito Secretário-Geral do Partido FRELIMO e candidato às Eleições Presidenciais de 2004.
2004 – Eleito Presidente da República.
2005 – Eleito Presidente do Partido FRELIMO
2009 – Reeleito Presidente da República
2012 – Reeleito Presidente da FRELIMO

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