sábado, 1 de dezembro de 2012

O “novembro negro” da justiça mundial: Voz da Rússia

Timur Blokhin
1.12.2012, 10:30, hora de Moscou
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ramush haradinaj
EPA

O tribunal de Haia absolveu um terrorista do Kosovo. O ex-premiê do Kosovo Ramush Haradinaj saíu em liberdade e não teve vergonha de escrever em seu livro sobre si e seus subordinados o seguinte: “Todos os dias matávamos polícias sérvios”.

Isso aconteceu duas semanas depois da absolvição dos generais croatas Ante Gotovina e Mladen Markac que, alegadamente, não são responsáveis pelos crimes de guerra contra a população sérvia na Croácia em 1995. E é por isso que o mês de novembro de 2012 entrará na história como um mês negro para a justiça mundial.
Na repetição do processo, a Procuradoria do Tribumal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia (TPII) exigia para o antigo responsável militar terrorista do Exército de Libertação do Kosovo (ELK) Ramush Haradinaj e seus cúmplices 20 anos de prisão pelos assassinatos, torturas e tratamentos de crueldade, assim como pela violação das leis da guerra no campo de prisioneiros de Jablanica durante o conflito do Kosovo no fim dos anos 90. O juíz, no entanto, considerou que não haviam provas de que Haradinaj tivesse conhecimento desses crimes.
Pristina está em festa e se prepara para receber o seu herói. Com o veredito de absolvição de Haradinaj, a sentença de condenação acaba por recair sobre a Sérvia como o único responsável pelos acontecimentos no Kosovo. Na opinião de Krstimir Pantic, presidente da comunidade do norte de Kosovska Mitrovica, o veredito de Haradinaj demonstrou que a comunidade internacional não quer que o Kosovo e Metohija seja uma região multinacional. Com isso ela pretende criar mais um estado para os albaneses e realizar o sonho multisecular de uma “Grande Albânia”.
O líder da comunidade de Strpce (no sul do Kosovo) Zvonko Mihajlovic afirma:
“Considerando que a Haradinaj foi prometido o lugar de premiê do Kosovo, isso será uma mensagem aos sérvios que já não têm lugar no Kosovo. Quanto aos acusados que ficaram em Haia, é certo que os sérvios general Ratko Mladic e o ex-presidente Karadzic da República Sérvia serão condenados a penas muito pesadas.”
Quanto a Haradinaj já estava tudo claro ainda na véspera, quando em Haia começaram a refutar as declarações da Procuradoria sérvia sobre os crimes de guerra. Assim como acerca da incapacidade do TPII para proteger as testemunhas, o que resultou na morte de 19 pessoas que poderiam saber a verdade sobre Haradinaj. Os orgãos de investigação sérvios tinham uma lista de perguntas a Haradinaj muito mais extensa do que Haia. De acordo com dados da Procuradoria sérvia, só em 1998, Haradinaj foi responsável por 56 assassinatos executados às suas ordens por membros do ELK.
De resto, as razões para a libertação de Haradinaj são bastante evidentes: a proteção de funcionários internacionais. Um deles, Soren Jessen-Petersen, que a seu tempo chefiou o UNMIK (Missão de Administração Interina das Nações Unidas no Kosovo), chamava a Haradinaj de “garantia da paz e segurança” na região. Mais os milhões investidos na defesa de Haradinaj, a qual esteve a cargo do escritório de advogados britânico em que, por uma estranha coincidência, trabalha a esposa do ex-primeiro ministro do Reino Unido Tony Blair, um dos partidários principais da resolução pela força do conflito do Kosovo. E, no fim das contas, Haradinaj era um parceiro de confiança! A mídia ocidental referiu por diversas vezes que foi ele mesmo quem ajudava a OTAN a coordenar os ataques aéreos durante o bombardeio da Iugoslávia em 1999.
O que pode resultar da libertação de Haradinaj? Além das possíveis ameaças à segurança da população sérvia do Kosovo, como por exemplo de uma nova vaga de pogroms “para comemorar” ou de uma pressão ainda mais séria sobre os sérvios que arriscaram regressar à região, o veredito de absolvição terá também consequências políticas. Ele irá reforçar a imagem do Kosovo como um estado que surgiu como resultado de uma guerra santa de libertação contra as reinvidicações da “Grande Sérvia”. Isso poderá levar as atuais conversações de Belgrado com Pristina a um beco sem saída, ou melhor, torná-las inúteis.

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