terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mulher salvou-se de violador dizendo-lhe que o amava. Agora quer salvá-lo a ele

 

Luis M. Faria
15:40 Terça feira, 4 de dezembro de 2012
Dean Carter quando foi preso, em 1984
Dean Carter quando foi preso, em 1984
Um homem que há 28 anos violou e matou cinco mulheres está próximo de ser executado nos EUA. Entre os poucos que tentam evitar esse final conta-se uma pessoa improvável: a mulher que ele também violou na mesma altura, e que escapou à justa de ser morta.
Familiares das outras vítimas, revoltados, dizem que a mulher, Rose Steward, actualmente com 59 anos, é um exemplo do sindrome de culpa da vítima. Ela garante que se trata simplesmente de uma questão de princípio. Não quer ter sangue nas mãos.
Na verdade, a execução que aí vem é alheia ao que Dean Carter lhe fez a ela. Especificamente por isso, ele foi condenado a 56 anos de cadeia. As penas de morte tiveram a ver com as mulheres assassinadas. Talvez Steward sinta culpa por o seu testemunho ter ajudado - e muito -na condenação do assassino.

Pediu-lhe água e um beijo


Em 1984, a vida sorria a Steward. Tinha acabado de fazer 22 dois anos e começara a sua vida independente, em Ventura, na Califórnia. Quando uma vizinha (e amiga) acolheu um hóspede em sua casa, não objectou. Até o homem começar a ir a sua casa todos os dias meter conversa. Continuava a ir mesmo quando ela lhe dava sinais em contrário.
Steward sentia-se cada vez mais incomodada (o ar estranho do homem também não ajudava) e pediu à amiga que o mandasse embora. Ela concordou. Mas uma noite, quando Steward se encontrava sozinha no seu quarto, sentiu um enorme silêncio, e viu uma figura na sua frente. Um homem alto, com uma faca na mão. Reconheceu-o imediatamente.
As cinco horas seguintes foram as piores da sua vida. O homem agarrou-a pelo pescoço e arrastou-a pela casa. Agrediu-a, violou-a, tentou estrangulá-la. Steward desmaiou várias vezes e pensou que a sua vida tinha chegado ao fim. A certa altura, implorou água. Quando o homem trouxe, pediu-lhe que a beijasse. Surpreendido, ele concordou.

Um jogo perigoso


A partir daí começou um jogo delicado, cujo desenlace podia ter sido fatal. Steward fingiu-se apaixonada pelo violador. Disse que só o quisera mandar embora porque tivera medo que ele a rejeitasse. Fez tudo o que ele queria, e ele quis muitas coisas.
De vez em quando, o homem punha-lhe na mão um telefone e dizia: vá, chama a polícia. Ela não caiu na armadilha, mas também não acusava o toque. Respondia languidamente que não era preciso estar a meter a polícia no assunto.
No final, já de madrugada, conseguiu que o homem se fosse embora. Quando ele já estava a sair, virou-se para trás e disse que talvez fosse melhor matá-la, para ficar seguro. Ela agitou-lhe o dedo em frente ao nariz e disse: vá, agora não te esqueças de mim e telefona.
Então fechou a porta. Finalmente a salvo.

O maior feito da sua vida


Hoje Steward conta que, mal se viu em segurança, decidiu que não deixaria o homem tirar-lhe mais do que já tinha tirado. Apresentaria queixa, mas a vida seguia em frente. Semanas depois, recebeu uma notícia terrível: o homem tinha continuado a violar e matara cinco mulheres.
Dean Carter foi condenado à morte, e seguiram-se as décadas de espera que estes processos normalmente envolvem na Califórnia. Agora os recursos esgotaram-se. Mas Steward tentou salvá-lo, fazendo campanha a favor da chamada Proposta 34, que defendia o fim da pena capital no estado.
No mês passado, a proposta foi rejeitada pelos eleitores. Carter deverá mesmo ser executado. Steward não se conforma. Ao mesmo tempo, porém, diz que aquela noite, embora horrível, foi o maior feito da sua vida. O dia em que ela percebeu aquilo de que era capaz.
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