A Romênia deixará de temer a Rússia?: Voz da Rússia

Valentin Mandrasescu

12.12.2012, 18:57, hora de Moscou

© Colagem: Voz da Rússia

As relações entre Bucareste oficial e Moscou não podem ser chamadas de desanuviadas e é perfeitamente evidente que um grande papel na situação criada foi desempenhado pelo presidente da Romênia, Traian Basescu.

O líder romeno é conhecido por elogios aos criminosos nazistas e por declarações públicas de que, em 1941, ele teria dado ordem de atacar a URSS. Tal posição da direção romena não podia ficar sem consequências de caráter político e econômico.

Depois que a oposição parlamentar conseguiu formar maioria e criar o governo de coalizão, começaram a surgir sinais de saneamento das relações romeno-russas. O primeiro-ministro Victor Ponta, diferentemente de Traian Basescu, não revela sinais de russofobia patológica e até mesmo causa a impressão de ser um político racional.

Entretanto, alguns ministros do novo governo, mesmo assim, preferiram comunicar-se com Moscou usando uma retórica bastante inadequada. Destacou-se em especial o ministro do Exterior, Titus Corlaţean, que entrou em discussão dura e bastante prolongada à distância com o vice-premiê da Federação Russa, Dmitri Rogozin. O pomo da discórdia foi o desejo da Federação Russa de abrir um consulado no território da república não reconhecida de Pridnestrovie.

No contexto da complexidade histórica das relações entre Moscou e Bucareste, o próprio fato de a força política que venceu as eleições parlamentares com grande vantagem não demonstrar uma russofobia agressiva já pode ser considerado um grande passo em frente. Traian Basescu procurou por todos os meios atribuir à luta político-interna uma tonalidade geopolítica. As acusações aos líderes da oposição de que eles supostamente querem afastar a Romênia da orientação pró-europeia e pró-americana foram a pedra angular da campanha eleitoral do partido pró-presidencial.

É digno de nota que, pela primeira vez em toda a história da Romênia pós-socialista, os acusados não começaram a justificar-se e a provar sua lealdade aos ideais do euroatlantismo, mas passaram à contraofensiva na frente ideológica e propuseram à sociedade romena pensar seriamente na questão: será tão ruim assim ter relações normais com a Rússia e a China?

Em um programa ao vivo do canal de notícias mais popular, um dos líderes da União Social Liberal, presidente da câmara alta do Parlamento romeno, Crin Antonescu, declarou que não irá pela centésima vez citar argumentos para provar que ele é um político pró-europeu e sente a necessidade de acabar de uma vez por todas com insinuações relacionadas com a orientação geopolítica da Romênia: "A Rússia e a China – são países com os quais os EUA e a Alemanha têm relações econômicas e políticas sérias. E nós, enquanto isso, estamos chocados com alguém que salta de arbustos, e esse alguém é o presidente da Romênia, e escreve no Facebook: não votem neste e naquele porque eles nos conduzirão para a Rússia e a China. O mundo inteiro ri de nós! Tenho vergonha de me encontrar com diplomatas russos e chineses."

Outro líder da União Social Liberal, o ministro da Agricultura, Daniel Constantin, apoiou seu colega: "Eu quero citar o motivo econômico. Nossas exportações de carne e derivados para os mercados russos estão congeladas há cinco anos já e tudo isto tem um fundo político." O primeiro-ministro Victor Ponta resumiu, declarando que ele ficaria satisfeito com a intensificação da cooperação econômica com a China e também indicou que já ninguém mais acredita em Basescu e em suas "histórias de terror".

É possível que a crise econômica e a mudança de gerações na política romena contribuam para que haja mais pragmatismo e menos russofobia nas relações de Bucareste e Moscou. Há uma chance de que o exemplo dos países ocidentais, que encontraram modos de cooperação eficiente com a Rússia, estimule a nova geração de políticos romenos a encontrar o caminho do diálogo mutuamente vantajoso, deixando de lado a conduta inadequada de seus predecessores