O fundador da Tertúlia Crioula, o politólogo Suzano Costa, será o grande ausente da Conferência “Cabo Verde e o Futuro”, no âmbito do Ciclo de Tertúlias, que se realiza na Assembleia Nacional de Cabo Verde no dia 1º de Dezembro. Trata-se do primeiro debate do género no país, que não se realizou antes por “divergências insanáveis”.
A demissão de Suzano Costa do projecto por “divergências com a sua linha editorial e programática” aconteceu em Outubro e foi formalmente dirigida ao Conselho Tertuliano.
Bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia, Costa foi o melhor aluno de toda a sua faculdade (20 valores), a quem foi atribuído o “Prémio Mérito e Excelência”,e tornou-se numa figura carismática pelos temas pertinentes e a disciplina com que vinha coordenando a Tertúlia Crioula, que fundou há três anos.
Granjeou credibilidade e admiração junto das mais altas instâncias da sociedade de Portugal pelas suas qualidades de trabalho e acutilância das propostas, de que é exemplo a coordenação da conferência internacional sobre os 20 anos da Constituição Cabo-verdiana.
Na sua demissão, o politólogo de 28 anos, natural da Assomada, afirma-se coerente com as posturas assumidas, próprias de uma pessoa crítica e inconformista. Demitiu-se por considerar “insanáveis” as “divergências para com a linha editorial seguida”.
Suzano Costa declinou, em nome da coerência da sua postura, o convite para "integrar a comitiva que se desloca a Cabo Verde”, decidindo “não participar em qualquer comissão (organizadora, protocolar ou honorífica) por ocasião da comemoração do III Aniversário do CT”.
“Não tenho dúvidas que, pelo intenso e meritório trabalho que encetamos, todos os tertulianos sem excepção, ao longo destes últimos anos, estarão, indubitavelmente, garantidas todas as condições para um evento singular e único na história do movimento associativo juvenil em Cabo Verde”, expressou, aquando da sua demissão.
O autor reforça que não fará parte da comitiva que vai a Cabo Verde, pelas supracitadas “divergências” e, “por uma questão de coerência, rectidão e consciência”. Suzano Costa suspendeu também a sua participação em quaisquer actividades promovidas pelo Conselho Tertuliano “demarcando-se totalmente de toda a linha editorial e programática preconizada”.
A Tertúlia Crioula que se desloca pela primeira vez a Cabo Verde, nasceu há três anos e foi numa livraria do Largo do Rato, num espaço físico pequeno, que revelou as potencialidade de um auditório único e singular de debate dos assuntos de interesse público, não só de Cabo Verde, mas também interesse internacional.
Cresceu e saiu dos espaços tradicionais para se afirmar no tecido social em Portugal, dinamizando os mais diversos debates, genericamente mensais, e que levaram a Lisboa figuras de topo na hierarquia do Estado cabo-verdiano.
Numa conversa com o Postal de Lisboa, em 2011, Suzano Costa distinguia a diferença deste espaço em relação a outros: “Este fórum não presta fretes e vassalagem política aos poderes instituídos, aos interesses instalados e particularistas”.
“Tão pouco afinamos pelo diapasão da bajulação dos suspeitos do costume que orientam a agenda daqueles que pretendem alargar a sua estrutura de oportunidades profissionais. Não massageamos o ego de ninguém, e tão pouco seremos reprodutores de interesses instalados e lógicas de instrumentalização ou arregimentação política. Abundavam apoios, estímulos e apadrinhamentos se fossemos caixas de ressonância de interesses instalados e de lógicas particularistas de reprodução endogâmica do ideário da classe dirigente”.
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