terça-feira, 27 de novembro de 2012

Angola um país a beira da explosão - William Tonet & Arlindo Santana



Luanda - Angola como toda a gente sabe ou devia saber é um país de contrastes, opulência e pobreza coabitam entre as bolhas de champanhe de festa no seio da elite cortesã de José Eduardo dos Santos e restos de comida, arrancada dos contentores e sorvidos com avidez por esfomeados que ainda não morreram. As bolhas de champanhe para umas centenas de mil pessoas, os restos de comidas para mais, muito mais de 10 milhões de angolanos.

Fonte: Folha8
Em Angola, dizem por aqui as vozes do poder, as desigualdades sociais são uma cabala montada contra o regime JES/MPLA. O magnífico presidente JES já se pronunciou a esse respeito e asseverou que a culpa não é dele, nem do seu partido, o MPLA, a culpa só pode ser do colono ou de…Deus.
No entanto, urge reflectir sobre o mais recente investimento da FESA (Fundação Eduardo dos Santos), avaliados em mais de 500 milhões de dólares e, ao que se diz e, se pode constatar pelos dados fornecidos ao F8, por fonte afecta a instituição, toda bufunda da engenharia é saidinha da SONANGOL, o que é o mesmo que dizer dos cofres públicos.
O montante está atolado, caricatamente, não num empreendimento ligado ao saber, a educação, a ciência ou outra especialidade relevante, para a formação da juventude ou do homem “angolanis”,como fazem os outros bilionários, mundo afora, mas ao jogo do azar. Ao jogo do vício, ao ópio monetário, que perverte a mente de muitos pobres, pois a de muitos ricos já está formatada, para esta diversão.
“Nunca esperei que o grande projecto desta fundação, pode-se ser o da construção do primeiro casino internacional, em Angola. Isto mostra claramente o que pensam os actuais dirigentes, logo, não espanta, o facto das casas de jogos, estarem ligadas a eles”, disse ao F8, Osvalino Vieira Dias.
O primeiro Casino Internacional está em fase adiantada de conclusão, no eixo viário, caricatamente num terreno que era público, por força da lei do confisco e nacionalizações e, segundo a nossa fonte, afecto sem concurso e a custo zero a FESA.
É a apetência e ganância pelo dinheiro elevada ao rubro. Quer dizer, a primeira grande obra desta que é apelidada de maior fundação angolana, está ligada, precisamente, ao jogo do vício ou do azar, especialidade refinada de retirar ao pobre os poucos porventos, na ilusão de poder ficar rico, num estalar de dedos. Tudo publicidade enganosa.
Querem vender uma imagem de modernidade, sem se preocupar nas condições da maioria dos autóctones pobres, que não estão carentes de casinos, mas de escolas, hospitais, emprego e condições de habitabilidade condignas.
Mas ao que parece, agora, tudo é FESA e em matéria de saúde, temos mais um “político-confisco” da única empresa pública de produção e comercialização de medicamentos a Angomédica, a custo ZERO, abocanhada ao Ministério da Saúde.
A realidade actual é a quase paralização, pese, a direcção da FESA, ter feito uma pareceria comercial com uma empresa brasileira, também com fundos públicos, assegura a fonte do F8, mas pouco conseguiram materializar, face a fragilidade do projecto dos novos donos.
Assim, temos mais um ex-bem público, a não cumprir o objecto a que foi concebido.
O problema é que as riquezas que existem em Angola, primeiro, deveriam ser distribuídas segundo os preceitos caducos do marxismo-leninismo, só que já estão todas, mas mesmo todas, postas de lado de seja que distribuição for, nos sacos (alguns deles de cor azul-celeste) do ex-marxista e actual capitalista ultra liberal MPLA e Cia Ld.ª; segundo, porque para as mais-valias que serão geradas de futuro, da fila monumental de abutres que se perfilam para as açambarcar já nem se vê o fim
INJUSTIÇA DA DNIC CONTRA OS POBRES
Quanto ao que toca à justiça, o problema é que as injustiças em Angola deixaram de ser injustiças. Factos absurdos como, gente que fica encarcerada durante dois anos por roubar limões, por atropelar um suicida ou estacionar a sua viatura diante de uma fachada de um general do regime, tornaram-se banais “faits-divers” sem pertinência alguma.
Vamos a um caso actual e vergonhoso que, talvez, por desinformação, tem a chancela do director Nacional de Investigação Nacional, dr. Eugénio Pedro Alexandre, um jurista de referência, que emitiu dois mandados de captura, influenciado pelos seus homens das Buscas e Capturas, para capturar um cidadão inocente e pobre.
Os factos. João Guimarães Pedro, mais conhecido por Separa, foi, em 19.06.09, condenado a pena de prisão maior acusado da prática do crime de roubo qualificado e uso e porte de arma de fogo. Inconformado interpôs recurso e ao fim do cumprimento de 2 anos e 7 meses, o Tribunal Supremo, através do Acordão 10480/11, tomou a decisão de absolver o cidadão por insuficiência de provas, tendo emitido o competente mandado de soltura, aos 07 de Fevereitro de 2012, sendo o reú libertado aos 10.02.12.
Este tempo de carcere foi bastante para, no quadro da campanha governamental de reabilitação e abandono a práticas delitivas, decidir o abandono as más companhias e iniciar uma vida nova.
Mas com a DNIC, autóctone pobre e sem nome de família, isso não é possível, pois logo, em Abril os investigadores, começaram a criar factos falsos para o incriminar a assaltos e apercebendo-se disso, Guimarães Pedro Separa, dirige-se nos dias 24 e 28 de maio de 2012, a 3.ª Esquadra, para colocar-se a disposição das autoridades para todos os esclarecimentos.
Não satisfeitos, a DNIC continuou a forjar provas e, sem analisar o caso o director nacional emitiu novo mandado de captura, exibido ao cidadão, traiçoeiramente, quando antes o investigador criminal, Jorge Gonçalves, notificaram o seu advogado, para que fosse com ele a 2.ª Esquadra para esclarecimentos. Aí chegados às 13h15’, do dia 23 de Agosto de 2012, fora de flagrante delito, Separa foi preso, acusado de participar em novo assalto, quando o mesmo até se encontrava no exterior do país e não existem provas da sua participação. Foi incriminado por alguém espancado, para o denunciar, estando pois preso, para satisfazer o ego dos homens do dr. Eugénio Alexandre. Colocada a situação ao procurador da República, junto da DNIC, Dr. Deodato, que após analisar o processo, decidiu, em nome da legalidade e dos dispositivos instaurados pela própria PGR, por instrumento do Procurador Geral da República, Dr. João Maria, decidiu não manter preso um cidadão para se investigar, mas investigar para prender, emitindo em consequência o competente mandado de soltura, aos 22.11.12.
Mas é aqui que, uma vez mais, a porca torce o rabo, pois os homens do Dr. Eugénio Alexandre, contra todas as regras, pegaram no Mandado de Soltura, foram a cadeia da Comarca de Luanda, no final da hora de expediente, violando a lei, mandaram o arguido preparar as suas coisas, pois estava solto num processo, mas ia, de imediato para a cadeia, pois tinham descoberto a sua implicação num outro processo. É de bradar aos céus as violações ao direito, a justiça e as leis praticadas na DNIC, contra os pobres, não espanta pois estarem as cadeias repletas, com cidadãos acusados injustamente.
Mais, a DNIC, deveria publicar uma circular, onde informa os cidadãos, que não acredita na sua reabilitação, sendo um mero “fait diver” a campanha governamental, que aconselha os cidadãos a abandonarem o mundo do crime, para abraçarem uma nova vida. Na realidade a DNIC precisa de uma verdadeira faxina, pois muito bom cidadão é preso, sem o cometimento de qualquer crime.
Por outra, libertar autênticos assassinos, esquecer de levar à justiça casos gravíssimos de atropelamento de leis ou de burla declarada, disso nem vale a pena falar, a não ser para determinar a origem familiar do prevaricador, uma vez que a lei angolana é tão elástica que já nem é possível determinar quem pode ou não pode ser prevaricador. Se for da“banda”, do MPLA ou do Futungo, mesmo que mate friamente a olho nu diante de testemunhas, claro está, nunca poderá ser considerado culpado.

INDIFERENÇA FACE A FOME QUE MATA

Depois temos a fome que ameaça centenas de milhares de pessoas no nosso país. E aí, ai Jesus! Levanta-se altaneiro o porta-voz do regime JES/ MPLA a fazer lembrar que o combate à pobreza é um compromisso de honra do MPLA.

Mas o combate à fome e à pobreza, pelo que se tem passado com o predomínio da construção dos condomínios, com o fracasso total da negociata do Kilamba na maravilhosa aventura imobiliária em favor do povo de Angola (sic), imaginada pelo dueto JES/Falcone, com a destruição de milhares de casas pertencentes às camadas mais baixas da hierarquia social, sobretudo nas terras da Huíla, mas também em Benguela e em Luanda e com o esbanjamento de biliões de dólares em negociatas da set-jet angolana, (Isabel dos Santos na pole position e Zenu também Dos Santos propulsado a gestor de biliões), com os bancos a proliferar e a roubar (é o termo exacto) cada vez mais, dá como impressão que o combate à pobreza é um combate contra a pobreza

Ao mesmo tempo que esta dramática palhaçada capitalista liberal se desenvolve perante o olhar enternecido do Papá Zédu, seguem-se uns atrás dos outros o desaparecimento de gente renitente, adversária assumida do regime, que em idos muito recentes ia agindo nos limites da legalidade, mas que, só por contrapor argumentos reivindicativos, foi evacuada ou eliminada, em forma seja de desaparecimento, seja de assassinato.

Em Angola não há desemprego, só há desempregados. Estes últimos contam-se aos milhões, mas as estatísticas dizem que o desemprego está a diminuir.

Entretanto vão chegando a Angola milhares, dezenas de milhares de chineses, brasileiros, portugueses e outros europeus com uma mão à frente e outra atrás, esfomeados, virados ao contrário nem dinheiro para cerveja lhes cairia dos bolsos.

Toda essa gente vai ganhar mais ou menos dez vezes mais do que ganham os angolanos para executar as mesmas funções, num contributo exemplar do programa de combate não contra a pobreza, não à pobreza, mas a promover o desenvolvimento saudável da pobreza – com tal política cada vez haverá mais mecenas, mais fundos sem fundo, tipo Besa, Lwini, S. Esperança…a promover a ideia que a pobreza não é uma tara nem uma fatalidade da sociedade.

Enfim, chegamos à abordagem do que se passa na comunicação social.

É uma beleza! O programa do governo angolano está a ser cumprido à risca. Depois de os vampiros do regime terem sugado o Semanário Angolense, a “A Capital”, ed cetera e tal, o “Agora” acaba de ser deglutido em suave degustação por uma camarilha alegadamente ligada intimamente à franco-maçonaria. JES está por perto, Kopelipa e Manuel Vicente não estão longe, vemos os tremeliques de toda a gente a fazer de conta que tremelicam e, no fundo, resta um único semanário mais ou menos independente em Angola . Um só: o Folha8.

Mas tudo o que acabamos de escrever é brincadeira em comparação com o que queríamos transmitir como mensagem: Angola é um autêntico barril de pólvora e o drama é que ninguém se dá conta disso.

Esta gente que ainda tem o poder e sabe perfeitamente que vai perdê-lo e hesita entre ceder à força dos ventos da história e fazer, como fez Salazar, continuar a remar contra ventos e marés em defesa de valores caducos.
Estamos talvez em vésperas de mais um drama.

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