Neste fim de semana se realizam eleições parlamentares parciais na Catalunha, a região mais rica da Espanha. Dependendo do resultado, poderá haver, no futuro, um plebiscito sobre a sua independência em relação à Espanha. Essa é a promessa dá coalizão hoje dominante no Parlamento Catalão, o Convergencia i Unió, que tem 62 das 135 cadeiras disponíveis. O presidente (governador) da Catalunha, Artur Mas, pertence ao partido mais forte na coalizão, a Convergência Democrática da Catalunha.
Tanto a esquerda do Partido Socialista (28 cadeiras) como a direita do PP de Mariano Rajoy (18 cadeiras) se opõem ao movimento separatista. Caso o plebiscito se realize, e caso a separação vença, isto poderia significar o fim da Espanha como conhecemos hoje, porque é claro que outras regiões, como o País Basco e a Andaluzia poderão imitar o movimento. E certamente ele animaria outros separatismos pela Europa, como na Bélgica, Holanda, Itália e até na vizinha França.
É claro que o nome “Catalunha” desperta acordes e hinos favoritos das esquerdas. Afinal, a Catalunha foi das províncias espanholas uma das mais encarniçadas contra os falangistas de Franco. (Ver, por exemplo, o romance Saga, de Erico Veríssimo e o livro de memórias Um brasileiro na Guerra Civil Espanhola, de José Gay da Cunha. O também famoso Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway, se passa em outra região). A Batalha do Ebro, rio catalão, foi das mais longas, sangrentas e famosas do confronto.
Mas o movimento separatista de hoje não tem muito a ver com esse passado glorioso. Tem mais a ver com a onda de direita que varre a Europa, dinamitando as pontes de solidariedade entre países e regiões. O argumento principal do separatismo de hoje é o de que a Catalunha, região mais rica da Espanha, está financiando, através dos impostos, regiões mais pobres e não tão produtivas ou produtivistas.
O argumento repete o preconceito de que, por exemplo, os países laboriosos do Norte europeu financiam os países indisciplinados do Sul, que se afundaram em dívidas devido aos privilégios concendidos a seus trabalhadores e aposentados. É também hoje um dos principais argumentos levantados contra o governo “vermelho” do agora “perigoso” François Hollande que, com seu “populismo” seria, nessa ótica, a verdadeira “ameaça” contra o euro e a necessária “modernização” da Europa.
Mas, ele mesmo, nunca foi um entusiasta da separação. Há fortes razões para isso, porque a Catalunha correria o risco de perder parte do mercado hoje interno da Espanha. Já há boicotes a produtos catalães em outras regiões devido à “arrogância” do separatismo. Haveria complicadas negociações a empreender em todos os setores, além de, pelo menos num primeiro momento, a Catalunha ter de enfrentar uma forte oposição por parte dos demais governos europeus e a batalha pelo reconhecimento internacional. Não se sabe, portanto, o que ele vai de fato pretender com esse movimento, se de fato levar adiante o plebiscito (que teria uma oposição judiciária por parte do governo de Rajoy), ou se negociar vantagens com Madri.
Há uma parte dos trabalhadores catalães que se sentem seduzidos pela idéia da separação, uma vez que o governo de Rajoy vem atacando direitos e reduzindo salários. Mas seria uma ilusão pensar que um governo catalão conservador fosse seguir uma outra política que não a da cartilha ortodoxa hegemônica na União Européi a e na Zonda do Euro.
Domingo estarei em Barcelona, presenciando in loco os acontecimentos.
Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.
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