O pensamento de: João Craveirinha
Imprecação do Poeta JOSÉ CRAVEIRINHA
… Mas põe nas mãos de África o pão que te sobeja / e da fome de Moçambique dar-te-ei os restos da tua gula / e verás como também te enche o nada que te restituo / dos meus banquetes de sobras./
Que para mim /todo o pão que me dás é tudo / o que tu rejeitas, Europa! / ( in Xigubo)
Para tudo há limites (boundaries) incluindo em PUBLICIDADE. A Ética é que nos regula os comportamentos e o desrespeito é que desregula a sociedade.
A minha indignação que não é somente minha (pelas inúmeras “reclamações” recebidas), advém do facto de algumas empresas estrangeiras, aproveitando-se da “ingenuidade” de Moçambique e de alguns Moçambicanos tal qual o falecido ditador português, Antº de Oliveira Salazar, pensando que, ficar “orgulhosamente sós”, é mérito “Nacionalista”.
Todavia o Capital (muzuruco) não tem Nação e pior num País como Moçambique em que a tecnologia de ponta (e não só), é totalmente importada. Neste caso referimo-nos aos Telefones CELULARES da era dos Satélites.
Sem mais rodeios trata-se do facto de abusivamente se utilizar em Publicidade os nomes e imagens de figuras como SAMORA MACHEL e José CRAVEIRINHA, “residentes” no Panteão dos Heróis Moçambicanos. Existem parâmetros de utilização de imagens e símbolos em TÉCNICAS DE PERSUASÃO. As técnicas para a Promoção de um produto em Marketing para venda e lucro são as mesmas para a Política com a diferença que o produto é a mensagem e imagem do Partido e do líder y ou x a serem “vendidas” ao potencial eleitorado. Na essência tudo tem a ver com uma Acção Psicológica sobre a população alvo para o produto ser comprado por fútil que seja. Daí, mais vulneráveis as crianças e os jovens, levados facilmente “nas ondas” da moda para se estar numa “cena” de grupo maningue “naice”, influenciados pelo “spot“ publicitário.
O 1º Presidente de Moçambique, Samora Machel, nunca utilizou um celular e muito menos José Craveirinha (que abominava o celular) e pior Fany Mpfumo que morreu de fome na Machava. Que os vivos como a Atleta Lurdes Mutola “vendam” a sua imagem a troco de contratos comerciais e benefícios monetários e mesmo o Pintor Malangatana, o problema é deles desde que o façam com alguma dignidade. Contraditoriamente, não é o caso de figuras falecidas e imortalizadas em Heróis que em vida se pautaram pela Dignidade com que se assumiam exemplarmente contra a alienação cultural e contra… “à manipulação por novos métodos e processos ocultos”…como bem o enfatizou James A. C. Brown, especialista em Psiquiatria pela Universidade de Edimburgo e pioneiro no estudo das técnicas e consequências da Publicidade Comercial à Propaganda Política, Conversão Religiosa, Guerra Psicológica, à “Lavagem Cerebral” e outros tipos de indução dolosa na aceitação de um “produto”. Neste caso há uma banalização gritante de Figuras Nacionais que exigia uma intervenção do Conselho Superior da Comunicação Social, GABINFO ou do próprio Conselho de Ministros. Não se trataria de censura mas de exigência de RESPEITO retirando essas 3 imagens e slogans. Em todo o Mundo existem regras de conduta. Ao contrário do que disse o Vimaró (Tomás Vieira Mário), no seu, com justiça indignado, artigo no jornal Notícias de 09.02.05, reforçamos a ideia que há Figuras “Sagradas” e ao banalizá-las ao nível de um vulgar anúncio, tipo calcinha fio dental para as moças exibirem a figura “com muito orgulho” ou de celular na mão, será uma atitude ICONOCLASTA –, isto é; derrubadora de “ídolos” neste caso de valores da Nação Moçambicana cada vez mais sem símbolos patrióticos que sirvam de exemplo na sociedade. E os poucos que há são banalizados.
Apeados “coercivamente” do pedestal para apoio de campanhas publicitárias em “guerrinhas” de concorrência. E pouco importa que algum familiar tenha autorizado (o que duvido), mas acontece que os símbolos já não pertencem a um grupo ou família mas à Nação e é por isso que Samora Machel e José Craveirinha, cada um na sua dimensão, se encontram “em território sagrado” e por tal motivo guardados dia e noite por soldados do MD e só devidamente autorizado se pode lá ir prestar homenagem. Não brinquemos com coisas sérias. Pois é como escreveu o Poeta Nacional… “e verás como também te enche o nada que te restituo”… Me despeço, com um ramo perfumado de flores de açucenas, símbolos da ingenuidade. “HOYÊ”!
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 22.02.2005
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