Sérgio Vieira foi quem planeou
assassinato de Evo Fernandes - segundo livro de Paulo Oliveira
O actual director do «GPZ-Gabinete
do Plano do Zambeze», coronel na reserva Sérgio Vieira, foi quem planeou a
operação destinada a eliminar o Secretáriogeral da Renamo, Evo Fernandes. A revelação
foi feita por Paulo Oliveira, ex-representante da Renamo para a Europa
ocidental, num livro de memórias recentemente lançado em Portugal com o título
“Renamo, uma descida ao coração das trevas”.
Oliveira, que se assume como agente
do «SNASP – Serviço Nacional de Segurança Popular» desde 1979, fundamenta a
revelação em conversas tidas em Maputo com oficiais de altapatente
Afectos à «D-13», a divisão
da polícia política que tinha a seu cargo as “operações externas”. De acordo
com o autor, a operação “há muito fora delineada, mas mantida no «congelador», desde
os tempos de Sérgio Vieira como ministro da segurança”.
Na altura do assassinato de
Evo, o SNASP era dirigido por Mariano de Araújo Matsinhe. Sérgio Vieira foi designado
ministro da segurança em 1984, tendo sido substituído por Matsinhe no cargo
pouco após a morte de Samora Machel. No entanto, era responsável pelo
Departamento de Segurança da Frelimo desde a independência de Moçambique, nomeadamente
na fase em que ocorreram outros assassinatos políticos em território nacional.
O antigo secretário-geral da Renamo
foi encontrado morto em Cascais, arredores de Lisboa, em Abril de 1987. O autor
material do crime, o cidadão português Alexandre Xavier Chagas, viria a ser
detido em Marrocos e posteriormente levado para Portugal.
A polícia portuguesa
conseguiu localizar o paradeiro de Chagas dado que este não regressou de
imediato a Moçambique conforme o inicialmente planeado. O contratempo, segundo Oliveira,
foi devido a atrasos no envio de uma verba pelos seus “controladores” em Maputo.
Efectivamente, Oliveira cita Betinho Wate, um dos responsáveis da «D-13», como
lhe tendo dito em Maputo que “as verbas não haviam chegado a horas certas”, o
que resultou naquilo que
o oficial da secreta da
Frelimo descreve como “a merdice de Marrocos”.
SNASP também assassinou ex-embaixador moçambicano
No seu livro de memórias,
Oliveira volta a citar Wate, assim como o responsável pelas finanças da «D-13»,
António Mula, como tendo referido que a morte de João Ataíde, ex-embaixador moçambicano
em Paris, fora da responsabilidade de agentes do SNASP propositadamente enviados
ao Malawi. Na altura do crime, Ataíde regressava do quartel-general da Renamo
na região de Gorongosa.
Tratou-se de uma “vingança” do regime da Frelimo pelo facto de Ataíde ter
aderido à Renamo uma vez abandonado o cargo de embaixador, lê-se no livro de
Paulo Oliveira. Já em relação a Mateus Lopes, morto na companhia de João
Ataíde, Oliveira volta a citar os referidos oficiais da «D-13» como tendo dito
que a vítima era um agente ao serviço do SNASP e que a polícia política da
Frelimo decidira liquidá-lo por ser “um agente gasto, mais que descoberto e
denunciado ...um agente “queimado”.
Recorde-se que João Ataíde e Mateus
Lopes, cujo nome verdadeiro era José Alfredo da Costa, apareceram mortos numa
estrada no Malawi, junto à fronteira com Moçambique, naquilo que
foi então visto como uma
simulação de “acidente rodoviário”. Na altura, como parte de uma campanha de
desinformação orquestrada a partir de Maputo, o regime da Frelimo atribuiu a
morte de Ataíde e Mateus Lopes aos serviços secretos sulafricanos os quais
teriam alegadamente agido em conivência com as autoridades malawianas. Idêntica
campanha de
desinformação foi montada a
respeito do assassinato de Evo Fernandes.
Paulo Oliveira, que tinha o
nome de código “Alcino” enquanto ao serviço do SNASP, foi enviado de Maputo com
a missão de infiltrar a delegação da Renamo em Lisboa. O agente secreto
“Alcino” conseguiu atingir esse objectivo em Agosto de 1981.
Em Janeiro de 1983 foi
destacado para dirigir a emissora da Renamo na África do Sul. Oliveira
regressou a Portugal logo a seguir à assinatura do Acordo de Nkomati em Março de
1984. Três anos mais tarde desligou-se da Renamo devido a desentendimentos com
Evo Fernandes, para em 1988 surgir de novo em Moçambique. Analistas políticos
interpretaram o regresso de Oliveira a Maputo como uma tentativa do regime da
Frelimo em dar corpo à sua política de “amnistia” concedida aos “bandos
armados” já que na prática ninguém havia passado para as hostes do regime. Para
além de Oliveira, o regime da Frelimo “amnistiou” igualmente Chanjunje Chivaca
João, um outro agente do SNASP que havia infiltrado a delegação da Renamo em Lisboa.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 13.07.2006
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