sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Furacão no CC
O sobe
O empresário Celso Correia, o jovem vice-ministro Alberto Nkutumula e os ministros Oldemiro Baloi e
Manuel Chang são as caras mais mediáticas nas novas entradas para o Comité Central (CC) da Frelimo
que, por força do seu ordenamento interno, vê partir a cada congresso, 40% dos seus membros.
Também chegaram ao CC os administradores Teodato Hunguana, Rosário Mualeia e Tomo Psico, os
ministros Filipe Nyusy, Mateus Kida e Iolanda Cintura, a apresentadora de TV Catarina Dimande (nora de
Alberto Chipande), os candidatos da juventude António Niquice e Osvaldo Petersburgo e a “antiga
combatente” Valentina Guebuza, a jovem empresária , filha do presidente do partido e executiva nas
empresas da família. Na lista dos combatentes verdadeiros foram eleitos João Pelembe, com livro de
memórias publicado recentemente, Américo Fumo, hojedado a lides empresariais e Morais Mabyeka, um
incansável e invisível “aparatchik” partidário. Joana Mangueira, a responsável pelo combate à pandemia do
Sida, depois de falhar em Quelimane, conseguiu chegar à meta em Pemba, o mesmo sucedendo às
antigas ministras Adelaide Amurane e Aida Libombo.
Nas listas da “continuidade”, o que quer dizer que transitam do antigo para o novo CC, nada de novo, a
não ser os registos das notáveis votações para o Secretário Geral Filipe Paúnde , Verónica Macamo e
Edson Macuácua e os aplausos calorosos para Graça Machel, Samora Machel Jr., Nyelety Mondlane, o
mesmo sucedendo a Celso Correia, o “boss” do grupo Insitec(eleito com 1100 votos).
Elementos com potencial de ascensão e ambição para subir como Cadmiel Muthemba, Pascoal
Mocumbi, Tomás Salomão, Sérgio Pantie asseguraram a sua reeleição.
Filipe Paúnde, o braço direito de Guebuza, correu sem oposição para a reeleição de SG, registando 10
votos em branco e José Pacheco, o ministro da Agricultura e ainda potencial presidenciável chegou
directamente à Comissão Política(CP) como candidato único a secretário do Comité de Verificação, o órgão
de disciplina do partido.
Na CP conseguiram a reeleição Margarida Talapa,Verónica Macamo, Alberto Chipande, Eneias
Comiche, Raimundo Pachinuapa, Conceita Surtane e,com alguma surpresa, Eduardo Mulembwé e Alcinda
Abreu, ambos com vaticínios de cartão de saída antes das votações.
À hora de fecho da edição faltavam eleger seis membros (do sexo masculino e feminino em igualdade
de assentos) para a CP e o elementos do secretariado que devem ser propostos pelo SG. Entre os
potenciais candidatos, os nomes mais ventilados são os de Pascoal Mocumbi, Cadmiel Muthemba, Edson
Macuácua, Oldemiro Balói, Sérgio Pantie, Samora Machel Jr. e Nyeleti Mondlane, devendo claramente ser
reforçada a posição de líder incontestado de Guebuza.
Em Pemba foram eleitos 64 membros do CC, mas asConferências Provinciais já tinham eleito 116
candidatos. Foi por essa via que chegaram ao CC a deputada Ana Rita Shitole, o antigo ministro Castigo
Langa, Cara Alegre Tembe, Casimiro Huate, Arnaldo Bimbe. Eugénio Simão é suplente, o mesmo
sucedendo a Virgínia Matabele, uma antiga estrela dagovernação Chissano. No CC estão igualmente os
11 secretários provinciais do país.
F.L.
E o desce
Um verdadeiro furacão varreu as hostes das estruturas dirigentes do partido capitaneado por Armando
Guebuza, tantas são as cabeças que rolaram no cadafalso de Pemba.
A Comissão Política (CP) viu partir Teodoro Waty (que não conseguiu segurar um lugar efectivo no Comité
Central), Paulina Mateus, Luísa Diogo, Aiuba Cuareneia e Aires Ali, os três últimos, todos mencionados como
presidenciáveis para 2014. Manuel Tomé optou por não ir a votos ao pressentir que se preparava para “ser
abatido” na votação do Comité Central(CC). Diogo já tinha tido um mau “performance” na votação para o CC,
depois de ter tido a “ousadia“ de ter posto a circular uma potencial corrida à cadeira de Secretário-Geral, uma
plataforma de visibilidade para a candidatura às presidenciais de 2014.
No Comité Central ficou de fora Xarzada Orá, a secretária das relações exteriores do partido, mas também
figuras conhecidas como Jorge Rebelo, um dos grandes protagonistas do Congresso, Jacinto Veloso, Ivo Garrido,
Hama Thai, Isáu Meneses, Roberto Chitsondzo, António Fernando, Galiza Matos Jr., uma das estrelas do
Congresso de Quelimane, Ildefonso Muanhantata, o governador das cotoveladas, António Sumbana, um dos
confidentes do líder, Alcídio Nguenha, Lázaro Mathe, Alfredo e Manuel Gamito, Lourenço Djalma, Izadora
Faztudo, a “boss” das cervejas em conflito com a cadeira de deputada, Laurinda Kanji, Isabel Nkavadeka,
Esperança Machavela. Mário Machungo e Óscar Monteiro, “pesos pesados” da “velha guarda”, optaram por não ir
a votos.
Nos que faziam o tirocínio para o CC, não chegaram ao pódio Ernesto Augusto (antigo vice dos transportes e
Comunicações), Carlos Siliyia, o vice das pescas Gabriel Muthisse, Augusto Jone, Joaquim Mataruca, o lobbista
do Igepe Hélio Simbine, o antigo bastonário Carlos Cauio e o “polícia” Flávio Menete. Felismino Tocoli,
governador em Nampula e com o nome nos jornais devido a um “escândalo sexual”, é o único governador
provincial que não chegou ao CC.
Prémio de consolação, tiveram aqueles que foram colocados como suplentes do CC, uma ante-câmara de
espera, logo que haja vagas: Filomena Maiópué, do Incaju, Arlindo Chilundo, a antigo director da Escola do
Partido envolvido nas negociatas com dinheiros da Aeroportos de Moçambique, Safura da Conceição, a “boss”
da telefonia móvel da “holding” do partido, Paulo Muxanga, o poderoso PCA da HCB, Carlos Mussanhane, outro
lobbista do gabinete da primeira dama, Amélia Sumbane, embaixadora em Washington, Sérgio Vieira e Teodoro
Waty, a verdadeira hecatombe do congresso. Waty, para além de ter passado a imagem antipática de se querer
agarrar a vários “tachos” no debate sobre a lei dos conflitos de interesse, sendo um membro da CP, tentou sem
sucesso fazer-se eleger pela cidade de Maputo, uma jogada que caiu muito mal nas hostes partidárias.
F.L.
Um alfaiate de nome Guebuza
Por Fernando Lima*
Se alguma coisa pode ser dita a quente sobre os resultados do X Congresso do partido no poder em
Moçambique desde a independência em 1975, é que ele foi feito à medida exacta do alfaiate Armando Emílio
Guebuza, agora verdadeiramente entronizado na cadeira do poder e com os seus acólitos bem pertinho.
Guebuza chegou a Pemba com a máquina partidária totalmente na sua mão. Pelo trabalho que começou ainda
secretário-geral do partido, pelo trabalho de campo e fidelidade canina de colaboradores chave como Filipe
Paúnde, Margarida Talapa e Edson Macuácua. Estes serão também os “homens fortes” para o partido - pese o
facto de Talapa ser mulher - nos próximos cinco anos.
Numa lógica maquiavélica de poder - e já Samora dizia que “com o poder não se brinca”- Guebuza desbaratou
a “oposição” e deitou pela borda fora as vozes mais críticas. É sintomático Manuel Tomé ter resignado da
reeleição à Comissão Política na 25ª. hora e Luísa Diogo ter sido preterida por menoridades intelectuais.
O resto do congresso foi sobretudo coreografia, não obstante as grandes encruzilhadas em que o país se
encontra: altas taxas de desemprego, sobretudo entre a camada jovem, crise na qualidade de ensino, falta de
habitação urbana, estratégias claras na agricultura e grandes projectos de exploração de recursos naturais, crime
em alta e equidade na distribuição e redistribuição de riqueza e oportunidades. Escalpelizar as questões do país
em três minutos era claramente impraticável.
Mesmo assim, a tentativa de colocar problemas, problemas sérios, continuou a cargo de militantes veteranos e
combatentes da luta de libertação, como se os desafios do país não fossem também da responsabilidade dos
jovens e dos quadros que trabalham na máquina governamental. A tal juventude que clama pelo seu próprio
espaço, mostrou muito pouco do seu IQ, parecendo muito mais preocupada com os “lobbies” das listas de acesso
ao poder, a qualquer poder, elogio permanente ao chefe e a exibição de adornos da marca Frelimo, como as
controversas boinas “à Julius Malema”.
Embora Guebuza se tenha demarcado da censura e da coerção contra a comunicação social, os sinais que
dão os seus colaboradores próximos, que são a prática corrente de administradores distritais e primeiros
secretários dos escalões mais baixos, deixam inquietação, receio e, certamente, mais uns furos para baixo nos
índices internacionais de que já fomos um orgulho em África em tempos recentes.
Uma última questão, a questão que correu em paralelo com o próprio congresso, a sucessão de Guebuza
enquanto Presidente da República ficou mais em aberto, uma vez que vários delfins caíram em Pemba. Pela
lógica, e em política a lógica é algo muito difuso, Luísa Diogo comprometeu irremediavelmente a sua candidatura
e arrisca-se a entrar na galeria aberta pelo zambeziano Hélder Muteia. O afastamento de Aires Ali da CP coloca-o
na mesma situação, beliscando claramente a sua reputação política enquanto Primeiro-Ministro.
Se há muito se deixou de ler Marx e Engels no partido que continua a convidar os seus irmãos de armas da
China, da Coreia do Norte e de Cuba para os congressos, George Orwell, um velho autor do século passado, não
escapa certamente à avidez literária do “dream team” (equipa de sonho) de Guebuza.
O que é um mau presságio para os moçambicanos.
*convidado ao X Congresso do Partido Frelimo
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