quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A REVOLTA CONTRA A LIDERANÇA DE MONDLANE

NA FRELIMO E A INVASÃO DO INSTITUTO MOÇAMBICANO POR UMA QUADRILHA DE TERRORISTAS QUE ENQUADRAVA SAMORA MACHEL, JOAQUIM CHISSANO, AURELIO MANAVE, ARRANCATUDO E OUTROS

 
A história da Frelimo está repleta de traições, terrorismo não só contra os portugueses, mas, também, contra os seus próprios seguidores e as próprias populações. É uma história repleta de tragédias, pelo que não resisto a publicar o comentário de Francisco Nota Moisés, publicado em Macua.blogs.com a propósito do artigo “FRELIMO – Mais revelações do Inferno (4)."
 
 
“ Confirmo, em grande parte, a historia de Álvaro Teixeira. Não conhecia, porém, a história do furriel Pedro Câmara. Mas Boaventura Pomba das Dividas e o seu companheiro Daniel, cujo nome completo não vou dar aqui por este ainda parecer estar vivo ou estar a viver algures em Moçambique. Eles desertaram do exército português, não se renderam. Recebi Boaventura e Daniel na minha casa em Nairobi. Ajudei-os com comida, outras despesas e financeiramente para irem a Etiópia. Boaventura e Daniel, que não tinham respeito pela maneira de combater dos guerrilheiros da Frelimo, disseram-me que tinham desertado do exército português. Em Nachingwea, Samora Machel acusou-os de terem sido enviados pelos portugueses para matá-lo. Daniel e o seu radiotransmissor do Exército Português apareceram num jornal tanzaniano, acusados que quererem matar Machel. Mas como verdadeiros militares, conseguiram sair da Tanzânia e chegaram em Nairobi.

Quanto ao malogrado Inácio Chondzi, ele viveu comigo na mesma casa em Nairobi antes de ir a Etiópia e depois para Portugal, onde talvez se tenha tornado num agente da Frelimo, por razoes financeiras. Antes daquilo, ele era um pleno revoltado contra a liderança da Frelimo. Ele combateu em Tete e estava destacado para proteger o Segundo Congresso da Frelimo em 1968. Foi ele que, em Nairobi, me deu detalhes sobre a dispersão do congresso e os intensos ataques aéreos portugueses contra o local, embora já tivesse ouvido na Tanzânia muita e toda a coisa sobre a derrocada do congresso em virtude da intervenção aérea portuguesa na mesma semana em que o acontecimento tomou lugar.
UmBhalane tem razão ao dizer que há diferença entre a palavra rendição e deserção. Rendição é quando alguém está derrotado e levanta os braços ou vai ao seu inimigo com a bandeira branca e diz: sim estou derrotado e rendo-me. Deserção é quando alguém deixa o exército por razoes de insatisfação ou vai algures ou mesmo ao seu inimigo, como foi o caso do Arrancatudo, comandante destemido da Frelimo que, depois de desavenças com os seus colegas, foi ao lado dos portugueses a quem revelou segredos sobre as bases da Frelimo, no Niassa, o que permitiu a Forca aérea portuguesa levar a cabo ataques devastadores contra as bases da Frelimo, de acordo com Chico Almeida, comandante da Frelimo falando ao autor no campo de refugiados de Rutamba no sul da Tanzânia. De acordo com Almeida, Arrancatudo viria a morrer numa emboscada da Frelimo quando estava numa coluna militar portuguesa que regressava dum ataque a uma base da Frelimo, no Niassa. Almeida disse-me que Arrancatudo, natural da Zambézia, recebeu um tiro de bazuca no peito e foi o fim dele.
Um pouco sobre o Arrancatudo -- na noite do dia 3 de Março de 1968, Arrancatudo veio atacar-nos no Instituto Moçambicano em Dar Es Salaam. Enquadrado numa unidade de bandidos que incluía Samora Machel, Joaquim Chissano, Aurélio Manave e outros. Os terroristas forçaram-nos a sair dos dormitórios aos pontapés, porradas, socos e gritos impiedosos. Em menos de meia hora, nós, os estudantes passamos mal, humilhados e forçados a alinhar no pátio do Instituto.
Nesta meia hora, o mundo tinha parado para nós e eu não sabia se muitos de nós havíamos de viver ou sobreviver visto que os terroristas estavam armados até aos dentes com pistolas que levavam ate 12 balas cada uma.
A razão do assalto: a revolta dos estudantes contra a liderança do Mondlane e a razão imediata foi motivada porque o Daniel Chatama tinha batido a bem bater em Xadreque, um agente da Frelimo, no seio dos estudantes. Marcela, uma agente dos líderes que veio a ser a esposa do Chissano, telefonou ao seu amante quando Chatama disciplinava Xadreque contra o seu Pide-ismo. Xadreque, Chissano e Chatama tinham sido treinados em conjunto, pelo KGB na União Soviética. Quando o grupo dos terroristas se aproximava, um tal Pedro Kufa (nome da família não verdadeiro, visto que este homem vive na África) gritou em Sena para alertar o Chatama que era o objectivo numero 1 dos terroristas, dizendo: Chissano alikudza, Chissano alikudza (lá vem o Chissano, lá vem o Chissano)....
Como que possuído por espíritos, Chatama removeu a janela do seu quarto e saltou pelas traseiras e pôs-se a correr para a esquadra alertando a polícia que o Instituto estava sendo invadido por líderes da Frelimo. Num abrir e fechar de olhos, a polícia tanzaniana estava no local. Um oficial da polícia prendeu o terrorista Chissano que disse em inglês: "I am a Frelimo leader." O oficial larga-o e agarra o terrorista Machel pela barba. Machel, que não sabia inglês, mas podia entendê-lo porque tinha vivido, como mineiro, na África do Sul onde fora tsotsi (bandido) disse a Chissano: "diga-lhe também que sou dirigente da Frelimo." "He is a Frelimo leader too," disse o bandido Chissano. Então o oficial da policia largou-o, também.
Mal largados, os dois terroristas desapareceram da cena, como gazelas escapadas dum assalto de leões. Arrancatudo e os verdadeiros militares tinham desaparecido quando viram a polícia a chegar. Nos dias que se seguiram, os terroristas Chissano e Machel tiveram que ir comparecer na policia para explicarem os acontecimentos. Samora levou um homem de nome Issa, que no interrogatório de Samora Machel pela polícia, dizia o contrário em Swahili do que Machel dizia em “pretoguês”. Depois daquilo, Issa fugiu de Dar Es Salaam, sabendo que Machel havia de matá-lo por tê-lo mal interpretado e incriminado na policia.
O bandido e terrorista Aurelio Manave, comprido e maciço, que suava massivamente a toda a hora, não teve a mesma agilidade como os outros. Ao aparecimento da polícia, foi se esconder na palha por debaixo dum coqueiro, mas nós retirámo-lo daí e a policia deu aos estudantes plena liberdade de agir contra ele. Assim porradas, pontapés, cuspidelas choveram contra o terrorista que a polícia algemou. E alguém mesmo mijou no Manave. Foi assim marchando, enquanto os estudantes lhe batiam, até a esquadra da polícia, onde foi despido, deixado só em cuecas e “chamboqueado” até que grunhiu com ranho sair-lhe copiosamente das narinas. Um polícia mostrou ao grupo dos estudantes, que gritavam que a justiça fosse feita ao malfeitor, uma pistola que tinha retirado do Manave. Desarmada a pistola, o polícia removeu 9 balas, faltavam 3 balas, o que quer dizer que o terrorista tinha disparado três balas que não atingiram ninguém.
Março de 1968 foi o apogeu da revolta contra a liderança de Mondlane, Chissano, Machel e os demais dirigentes. Dentro de dias lerão aqui os leitores o relato sobre o assalto ao escritório da Frelimo por um grupo de homens e mulheres macondes, armados de catanas, varas, cornos, no dia 11 de Março de 1968. Uma das mulheres levava o seu bebé atrás da sua coluna.”
Francisco Nota Moisés
 
Ovar, 25 de Janeiro de 2010
Álvaro Teixeira (GE)

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