Armando Emílio Guebuza
Antes
que diga algo de importância sobre a história de Samuel Filipe Magaia,
tenho que deplorar o facto de que um acto, como a investidura dum
Presidente da República, acto augusto algures em países democráticos,
tivesse sido aproveitado para insultar Uria Simango, primeiro
vice-presidente da Frelimo, que foi morto pela própria Frelimo. Este
acontecimento demonstrou dois aspectos deploráveis: o baixo nível das
pessoas envolvidas e o baixo nível da inteligência do próprio Armando
Emílio Guebuza que admitiu que tal coisa acontecesse. Se Guebuza tivesse
a capacidade como deve ser, teria desencorajado que tal uma coisa
acontecesse, visto que é sinal de mau gosto e de diabolismo bater numa
pessoa morta, que não se pode defender como os ingleses dizem: "dead
people tell no stories." Por esta mesma lógica das pessoas mortas não
poderem falar, nenhuma pessoa no seu uso de razão e com miolos que
funcionam pode julgar num tribunal uma pessoa morta, perder o seu tempo
insultando um morto ou alegrando-se sobre uma pessoa morta. Regressando
ao assunto que interessa aqui, achei meu dever como uma pessoa de origem
moçambicana agora em diáspora, informar aos moçambicanos, que tem o
direito de ouvir uma história que lhes foi sempre ocultada ou que a
Frelimo do historiador super mentiroso, Sérgio Vieira, nunca contou.
Coronel Sérgio Vieira
Esta
é a história do Felipe Magaia, o primeiro comandante das operações da
guerrilha da Frelimo. A razão do silêncio sobre ele deve-se ao facto que
depois da sua morte traiçoeira, os dirigentes da Frelimo decidiram que
não se falasse mais de Magaia. E ai de indivíduos que foram ouvidos
falar do Magaia. Um, ou aliás o único, dos sobreviventes dum grupo de 10
guerrilheiros que foram ouvidos a falar do Magaia numa tenda no campo
de treinos de Nachingwea, contou-me, com lágrimas nos olhos, como é que
os seus nove colegas foram executados com facas nos pescoços, o
primitivismo mais rudimentar da Frelimo. Um deles refutava a versão da
Frelimo de que Magia tivesse sido abatido em combate com as tropas
portuguesas. Pela tarde do mesmo dia, o grupo foi informado por Samora
Machel que tinha uma missão especial a cumprir aquela tarde.
Transportados em Land-Rovers para o Rovuma, foram feitos atravessar o
rio de noite depois de serem amarrados com cordas. Na mata, a meros
metros do Rovuma no lado de Moçambique, começou a chacina física. A
historia é pois muito longa e limitei me aqui meramente em dar os poucos
detalhes contados pelo excapulidor, um individuo do sul que não queria
nada ouvir do Mondlane e os lideres da Frelimo. Regressando para traz,
eu, o autor, tomei conhecimento da morte de Felipe Magaia em Outubro de
1966 do jornal português, "Noticias da Beira", cujas cópias recebíamos
no Seminário de Zobue, Tete, tendo também recebido o jornal quando se
chamava "O Diário de Moçambique." E eu lia todas as edições quando
chegavam e muito poucos o faziam com a mesma religiosidade como eu. Uma
das edições do jornal dizia, que "Felipe Magaia, comandante dos
terroristas da Frelimo, foi abatido em Tanzânia num tiroteio entre
grupos rivais dos terroristas." Viajando no Malawi para a Tanzânia em
Dezembro de 1967, li num boletim da Frelimo, o seguinte e cito a
frase,"o camarada Samuel Filipe Magaia tombou num encontro com as tropas
portuguesas." Mais tarde um estudante de nome Valentim Elambire
disse-me em Dar Es Salaam em 1968 que Magaia não tinha morrido em
combate, mas sim tinha sido abatido por um guerrilheiro da Frelimo. O
indivíduo falou mais do assunto, sublinhando que Magaia e Machel nunca
se davam visto que Magaia considerava Machel como cobarde e medroso.
Como aconteceu com o facto do dito Segundo Congresso ter sido dispersado
por aviões militares portugueses de que toda a gente falava na Tanzânia
dado que alguns dos guerrilheiros que lá estiveram revelaram o segredo,
o caso da morte de Magaia era do conhecimento publico no seio dos
moçambicanos na Tanzânia, embora um comunicado da Frelimo que o autor
leu tivesse falado do tal congresso como tendo sido um grande sucesso
pelas eleições que tiveram lugar e que confirmaram o Mondlane no seu
cardo, Uria Simango no seu e todos os outros nos seus lugares e pelas
resoluções tomadas. O que é historicamente verdade é que a Frelimo nunca
diz a verdade quando esta não serve os seus interesses. Sim, Filipe
Magaia foi abatido na madrugada do dia 16 de Outubro de 1966 no Niassa
quando depois de ter atravessado um riacho com um grupo que comandava
para atacar uma posição portuguesa. Magia erguia uma lâmpada na mão para
permitir que os seus companheiros atravessassem o riacho quando tiros
tilintaram. Por volta de três tiros. Os guerrilheiros aplacaram pensando
que tivessem caído numa emboscada portuguesa. O atirador deitou a sua
arma depois dos tiros que disparou. Vendo Magaia no chão, os seus
colegas acorreram a ele e tentaram ajuda-lo e o homem começou a sangrar
copiosamente, visto que uma das balas ou as balas o tinham atingido na
barriga. Uma inspecção descobriu que todos tinham as suas armas, excepto
Lourenço Matola. Depois de apanhada a arma cujo cano ainda estava
quente, os guerrilheiros amarram o Matola e uma decisão de executá-lo no
lugar foi tomada, mas uns sugeriram que o Matola devia ser entregue ao
governo tanzaniano para que este averiguasse o caso. Depois de entregue o
Matola aos Tanzanianos, morre Magaia em Songea onde foi enterrado e
durante o enterro Mondlane nomeou Samora Machel para substituir Magaia
em vez de nomear Casal Ribeiro que era o vice-comandante da guerrilha.
Daí começou a sulisação da liderança da Frelimo. Machel atingiu dois
objectivos com um único tiro: suceder Magaia e também tomar a Josina
Mutemba, a namorada do Magaia como sua amante que veio a casar por
força.
Samora Machel | Josina Muthemba Machel |
Nas
mãos dos tanzanianos, Lourenço Matola é colocado na prisão subterrânea
de máxima segurança de Mnazi Moja (significando um coqueiro em Suwahili,
embora o lugar que o autor conhece esteja cheio de coqueiros). Os
Tanzanianos mantiveram Matola na prisão por cinco anos sem julgamento e
as investigações que eles fizeram sobre o caso Magaia nunca foram
publicadas. Depois de 5 anos, o Matola é liberto e a Frelimo que lhe
tinha prometido uma bolsa de estudos em Moscovo depois de matar Magaia
não precisou mais dele, como sempre acontece com as pessoas que são
utilizadas para cometer assassínios políticos ou a Frelimo já não
precisava dele visto que a sua presença na Frelimo podia causar
problemas a Samora Machel. Repentinamente, Matola aparece em Nairobi,
Quénia, para se tornar refugiado da Frelimo como tantos outros
moçambicanos, incluindo o autor, que se tinham refugiado para lá. Em
Nairobi, Matola admitiu que matou Magaia a pedido de Eduardo Mondlane,
Samora Machel, Joaquim Chissano e outros na Frelimo. Mas talvez por
causa do crime ou em virtude das torturas na prisão tanzaniana, Matola
já não regulava bem. Na prisão adquiriu uma careca artificial que se
tornou permanente. Em 1989, o infeliz Matola morre em Nairobi depois de
ser atropelado por um carro que não parou depois de atropela-lo. Assim
morreu, enlouquecido, um dos ícones de traição e da criminalidade,
abandonado e não amado por ninguém.
Francisco Nota Moisés
(Artigo publicado com a permissão de "Moçambique para Todos" Macua.blogs.com)
Ovar, 21 de Janeiro 2010
Álvaro Teixeira (GE)
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