Tuesday, July 8, 2025

A OJM entre a herança e a irrelevância: é tempo de refundar a juventude política

 

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A OJM entre a herança e a irrelevância: é tempo de refundar a juventude política
Ao fim de cinquenta anos de independência nacional, a juventude moçambicana permanece no centro da equação política. É maioria populacional, força de trabalho, massa crítica e, por vezes, instrumento manipulável. A Organização da Juventude Moçambicana (OJM), fundada como reserva estratégica da FRELIMO, enfrenta hoje uma encruzilhada: ou se reinventa como força de intervenção nacional, ou arrisca tornar-se um satélite institucional sem relevância para os jovens reais do país.
A FRELIMO não pode manter-se no poder por mais cinquenta anos sem compreender e responder à juventude real: urbana, exigente, digital, descrente de slogans. A juventude rural, por seu turno, já não se contenta com camisetes e megafones. Exige água, energia, terra, escola e justiça. Neste contexto, a OJM precisa deixar de ser apenas uma estrutura de enquadramento político e tornar-se um actor com pensamento, propostas e capacidade de pressão legítima dentro do Partido.
A morte do “camarada orientações superiores” deve ser mais do que um gesto simbólico. Deve significar o fim da juventude obediente, decorativa, usada para aplaudir e para a guerra de cartazes. A nova OJM deve apresentar teses, posicionamentos públicos e diagnósticos próprios. Não se trata de disputar o Partido, mas de evitar a irrelevância. A juventude organizada deve dizer, com clareza, o que pensa sobre habitação, emprego, inclusão digital, cultura urbana, educação prática e combate à radicalização política.
Nos últimos anos, o país vive uma polarização crescente. Muitos jovens sentem-se órfãos da política. A extrema-esquerda seduz com discursos inflamados. A direita informal cresce com promessas fáceis nas redes sociais. Onde está a OJM? Onde estão os seus estudos? As suas plataformas? Os seus interlocutores nos bairros, nas universidades, nos mercados? Não basta cantar "Ti tumeni". É preciso dizer ao Partido o que se pretende fazer com o poder que se deseja conquistar.
A geração actual precisa de ferramentas, não só de tarefas. Precisa de orientação ideológica, mas também de liberdade crítica. A OJM deve formar jovens para o pensamento político, a investigação, o serviço público e o empreendedorismo. Precisa de voltar às escolas, mas com conteúdo. Precisa de estar nos conselhos municipais, mas com ideias. Precisa de reaprender a recrutar. A maioria dos jovens moçambicanos não pertence a nenhuma organização política. Isso é um fracasso de mobilização.
A actual campanha interna para a sucessão de Silva Livone revelou pouco conteúdo. Pouca ambição nacional. Muita repetição. O debate resume-se a lealdades internas e jogos de influência provinciais. Fala-se da “coesão interna”, mas não se fala da juventude das zonas costeiras que abandona a escola. Fala-se de “solidariedade”, mas não se apresenta uma ideia concreta sobre saúde mental, toxicodependência ou violência doméstica. Tudo isso afecta directamente a juventude.
A OJM precisa de passar a uma nova fase: a fase da responsabilidade real. Se quer poder, deve mostrar maturidade. Se quer liderança, deve mostrar ideias. Não pode ser apenas um reflexo do Comité Central. Deve ser um gerador de propostas. Um espaço de formação política exigente. Um laboratório de políticas públicas. Um escudo contra a exclusão e o radicalismo. E um motor de renovação da FRELIMO, não o seu espelho desbotado.
Poder sem controlo é ruína. Juventude sem agenda é ruído. A FRELIMO, se quiser continuar a ser o partido do povo, deve contar com uma OJM renovada. Não na aparência, mas na substância. Não basta eleger um novo Secretário-Geral. É preciso refundar a ideia de juventude organizada. Torná-la útil, activa e desafiante. Só assim será possível garantir a continuidade com qualidade.
A juventude não pode ser tratada como problema. Nem como apêndice. É parte da solução. Se a OJM souber pensar assim, ainda pode tornar-se uma força real na história política do país. Se não, será apenas mais uma peça num tabuleiro que já não representa ninguém.
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Tsinhane L. Tembe, Guilherme Manuel Chauque e a 371 outras pessoas
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Cristóvão Cumbane
Sometimes a tua lucidez volta.
Boa abordagem 👍🏼
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Paulino Raimundo Vilanculo
Esperava que primeiro escrevesse sobre a violação dos direitos dos idosos que estão sendo violados pelo governo ao nomea-los para ocuparem lugares que deviam ser de jovens.
O exemplo é de velhos que compõem o Conselho do Estado.
Quando é que irão cuidar ou brincar com os seus netos?
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Tsikenny Chiziane respondeu
 
1 resposta
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Joao Alfandega
Egidio Vaz, pensar assim não pode ser visto como errado. Excelente abordagem.
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Sten Renad Renad
MERECEU O MEU RESPEITO HOJE.EGIDIO...
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Luis Boaventura
Não consegui ler tudo pelo tempo mas é dos posts mais lúcidos que já fizeste.
É tempo da juventude acordar e lutar pelo seu espaço. Não esperemos ser doados
Mauro Vila
Wau, parabens pela linda abordagem Egidio Vaz.
Chadreque Capece Jr.
Aplausos! Uma dica de ouro ao próximo secretário geral da OJM. Estão nesta exposição todas bases necessárias para a refundação deste órgão do partido FRELIMO.
Abel Vilanculos
Os jovens da Frelimo, devem ser ocupados.
Os jovens da Frelimo, devem aprender valores.
Os jovens da Frelimo, devem ter orientação IDEOLÓGICA.
POIS, SÃO ELES O FUTURO DO PARTIDO.
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Tv sorrir avontade respondeu
 
1 resposta
3 h
Tsikenny Chiziane
Se esta publicação chegasse aos membros da OJM recém eleitos Secretários Provinciais e Distritais, haveria cá uma esperança de mudança.
Gostei muito desta análise e sugestão.
Maior fã
Lucas A. J. Manniwa
Eu sempre soube que lucidez ainda vive em ti Mbuya 💪🏽 makolokoto, posicionamento que merece todo tipo de aplausos 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
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Tangai Davet Joaquim respondeu
 
1 resposta
1 h
Wananlila Da Cudz
Égidio Vaz no seu melhor 👏👏,este gajo é Lúcido só veste capa na Eleições pra agradar os big bosses,mas o problema da OJM é que os líderes são eleitos por fraudes na maioria apenas pela influência e não pela qualidade
Junior Rafael Rafael
Alguém escreveu para si? Ou a página foi raqueada?
Vasco Lebre Malate
Parece nos tempos antes da sua alienação.... parabéns!
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Yolanda Munguambe
O texto que o Cda partilhou, oferece uma análise pertinente sobre os desafios da OJM num momento crítico da história política de Moçambique. A juventude moçambicamog exige mais do que estruturas simbólicas; precisa de representação real, ideias claras e capacidade de influência. A OJM tem a oportunidade de se tornar um espaço de formação. Mas, para isso, precisa ir além da obediência partidária e abraçar um papel ativo na renovação do projecto nacional.
Vamos trabalhar!
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Roberto Lamba
Todos os jovens devem estar de mãos dadas com o Camarada Constantino André.
Piedoso Rachide Manuel respondeu
 
10 respostas
2 h
Shelio Chaia respondeu
 
5 respostas
1 h
Dionísio Madede
Alguém de má fé deve ter invadido a página do deputado #Egídio Vaz.
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Matoso Avijala respondeu
 
3 respostas
2 h
Jemusse Abel
Profunda reflexão !
Casimiro Andre Paulino
Foste muito profundo meu aplausos
Mário Macie
Não acredito que é meu amigo Vaz que publicou isso,👏👏
Pablo's Bernardo Cumbane
Aplausos bela reflexão!
Guilherme Manuel Chauque
Continência com as duas mãos
Manito Armando Chipire
Quem te viu e quem te vê. Até abriu o espaço de comentários pra todos. Isshhhh!!!

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