Monday, June 9, 2025

A punição imposta ao humorista Leo Lins

 Edição 272

Carta ao Leitor — Edição 272

A punição imposta ao humorista Leo Lins e as mais recentes declarações absurdas de Lula estão entre os destaques desta edição

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No Brasil destes tempos estranhos, quando uma única semana parece concentrar praticamente todas as barbaridades do universo político e econômico, é preciso calma. A probabilidade de os próximos sete dias serem ainda mais assustadores é alta.

A semana passada terminou com outra pérola de Lula. “Deus deixou o sertão sem água porque sabia que eu ia ser presidente da República e ia trazer água pra cá”, declarou o presidente durante uma discurseira em Cachoeira dos Índios, na Paraíba. Como mostra o artigo de Augusto Nunes, não é a primeira vez que Lula — depois de se comparar, entre outros, a Nelson Mandela, Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas — se coloca acima ou ao lado de Deus. É improvável que seja a última.

A segunda-feira, 2 de junho, começou com o primeiro debate público entre os candidatos à presidência do PT. A maioria dos presentes no palco e na plateia defendeu uma guinada radical à esquerda no governo Lula, elogiou o socialismo, condenou o capitalismo, louvou ditaduras companheiras, como as existentes em Cuba e na Venezuela, além de exumar um punhado de delírios ideológicos. “Não existe um único interesse objetivo da população de carne e osso, da proteção contra o crime à redução de impostos, que o PT e a esquerda defendam”, observa J.R. Guzzo no artigo de capa desta edição. 

Hoje, o PT está moribundo e Lula encontra-se entubado na UTI, tratando de sua própria sobrevivência, afirma Guzzo. Quem tem fornecido todo o ar que respiram é o STF. Na terça-feira, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski — até ontem ministro do Supremo —, mandou a Polícia Federal investigar o caso de uma mulher que gritou “Lula ladrão” nas imediações da casa do presidente. (Talvez porque a segurança pública no Brasil tenha a mesma qualidade da existente na Suíça, a PF age como se não houvesse nada mais urgente a investigar.)

Na mesma terça-feira, pela televisão, a população assistiu ao espetáculo inverossímil. Um funkeiro ligado ao crime organizado saiu da prisão depois de quatro dias na cela e foi ovacionado por uma multidão de admiradores. Para Rodrigo Constantino, é mais um sinal de que “o grau de deterioração moral da sociedade brasileira não tem precedentes”. Na recepção a MC Poze, estava o rapper Oruam, filho de Marcinho VP, um dos chefões do Comando Vermelho. Oruam faz sucesso entre jovens com músicas que esculacham as mulheres, glamourizam o crime e idolatram bandidos.

No mesmo dia, o humorista Leo Lins foi condenado a oito anos de prisão em regime fechado, multa de R$ 1,4 milhão e indenização de R$ 303 mil — por fazer piadas. Se fizessem hoje o que faziam há pouco tempo, grandes humoristas brasileiros, como Chico Anysio e Jô Soares, muito provavelmente seriam condenados pela Justiça, lembra Eliziário Goulart Rocha. Segundo a lei brasileira, a pena máxima para quem faz piada com “grupos minoritários” é maior do que a aplicada a ladrões, receptadores de mercadorias roubadas e sequestradores. Para Tiago Pavinatto, essa sentença é “sintomática da juristocracia fundamentalista instaurada no Brasil para intimidar, silenciar e aniquilar opositores políticos”.

Na quarta-feira, 4, o STF retomou o julgamento sobre censura na internet com o voto do ministro André Mendonça — uma explanação que exigiu dois dias de leitura. Para Alexandre Garcia, o voto foi “uma aula magna sobre liberdade, ordem institucional e democracia”. Apesar disso, o Supremo insiste em fantasiar-se de Legislativo, mudar a lei e oficializar a ressurreição da censura. Até o momento, ninguém sabe a quem será atribuída a impossível tarefa de fiscalizar bilhões de postagens diárias nas redes sociais e determinar o que pode e o que não pode estar ali.

Alexandre Garcia recorda uma sequência de inversões eternizadas no livro 1984, de George Orwell: “Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força”, determina o Grande Irmão. Hoje, insiste-se em implantar no Brasil novas verdades: “Manifestação popular é golpe; crítica é ato antidemocrático; opinião contrária é fake news; contrapor-se a uma esquerdista é misoginia, a um esquerdista é fascismo. E censura é liberdade”. 

Mais uma semana está chegando. Já passou da hora de voltarmos à normalidade democrática.

Boa leitura.

Branca Nunes,

Diretora de Redação

Capa da Revista Oeste, edição 272 | Foto: Revista Oeste

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