


Mz – Polémica Celestial:
A LUA QUE COCHICHA
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------ >> Quando os líderes islâmicos não se entendem sobre a lua… mas partilham o mesmo prato
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Beira, Moçambique, 17 de Junho de 2025 (Hanif CRV -Media | “Verdade pela Verdade”) – Há imagens que valem mais do que mil sermões. Uma delas, captada no último Domingo durante a primeira edição em Maputo do evento “Eid dos Órfãos” — que já vai na sua 36.ª edição na Cidade da Beira —, organizado pela islâmica Associação Juvenil Al Hikmah, mostra algo que talvez só a astrofísica espiritual explique: Sheikh Aminuddin Muhammad e Salim Omar, sentados lado a lado, inclinados num claro cochicho. O momento, registado numa fotografia que desde então circula nas redes sociais, capturou não apenas uma conversa, mas — simbolicamente — um eclipse raro.
É raro — para não dizer astronómico — ver estes dois representantes de universos lunares opostos partilharem não só o mesmo ar, mas também a intimidade de um murmúrio. No Isslam moçambicano, onde as luas surgem em dias diferentes conforme o lado da mesquita (ou do partido), o simples acto de inclinar a cabeça pode ser lido como um sinal mais raro que o próprio "hilal".
De um lado, Sheikh Aminuddin Muhammad, presidente do Conselho Islâmico de Moçambique, figura central numa linha religiosa que segue fielmente a lua saudita — independentemente de fusos horários, observações locais ou outras realidades visíveis a olho nu. Para muitos, o seu calendário é a extensão do relógio de Riade — faltando apenas, quem sabe, sincronizar também o horário da oração do "Maghrib" local com o saudita.
Do outro lado da mesa — e da galáxia interpretativa — estava Salim Omar, advogado, professor universitário, altruísta, amplamente respeitado no seio da comunidade e carinhosamente tratado por “Chanya”. Na qualidade de presidente da Comunidade Mahometana de Moçambique, lidera uma corrente que insiste, com base em séculos de tradição, que a lua deve ser avistada localmente — pois o céu de Maputo não é o de Meca, nem os nossos olhos os de Riade.
QUANDO A LUA DIVIDE E O COCHICHO UNE
O encontro entre ambos decorreu num contexto especial: um almoço festivo com cerca de 500 crianças órfãs, num ambiente de solidariedade promovido por uma entidade ligada à ala arábica da comunidade. E é justamente aí que o retrato se torna eloquente: entre garfadas, câmaras e discursos, a imagem do cochicho parece dizer mais do que qualquer nota de imprensa.
Não é de hoje que o início do Ramadan e do Eid se transformaram num autêntico “Eid do desencontro”. Já há anos em que famílias vizinhas celebram em dias diferentes, com uns ainda a jejuar enquanto outros já partilham doces e gritam “Eid Mubarak”. O problema há muito deixou de ser apenas religioso — é quase uma tempestade lunar com ventos ideológicos.
A INTERROGAÇÃO FINAL
Então, o que cochichavam afinal os nossos dois “astrónomos de ocasião”? Teriam finalmente concordado que a lua não tem partido? Ou seria apenas mais um momento de cortesia, onde se trocam sorrisos e frases breves, enquanto o povo jejua na dúvida?
Talvez um dia a mesma lua ilumine todos — não só os céus, mas também os egos. Até lá, seguimos com duas luas, dois Ramadans, dois Eids… e uma fotografia para recordar que, apesar de tudo, há ainda momentos em que os opostos se aproximam — mesmo que apenas para cochichar à mesa.
"Se a fé move montanhas, por que não move as luas?” (© 2025 | Hanif CRV – jornalista freelancer / Hanif CRV – Media | Nome legal: Mahamad Hanif Mussa (MhM) | mhm.b.mz@gmail.com | +258 84/87 572 8092 | Revisão: ChatGPT - Foto: reprodução)