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quarta-feira, 20 de maio de 2020
Já tentou nadar contra a corrente?
terça-feira, 19 de maio de 2020
Qual é o problema?
Terça-feira, 19 de maio de 2020
Olá,
Você lembra da nossa reportagem de março que mostrava a hipocrisia da Ambev? A empresa fez uma grande ação de marketing para promover sua “doação” de garrafinhas de álcool gel. Só que, mesmo com quase R$ 12 bilhões em lucro no ano passado, tentou vender propagandas nas garrafas para repassar os custos para outras empresas.
Logo que publicamos essa história recebemos dezenas de respostas no Twitter questionando a pauta. "Qual é o problema?", disseram algumas pessoas. "O importante é que o álcool gel vai chegar nos hospitais", afirmaram outros leitores.
Você pode nos chamar de loucos, mas não acreditamos que tirar proveito de uma crise para comprar mídia positiva e vender anúncios seja uma "ação humanitária". Essa crise não deve ser transformada em ação de marketing. (Agora, imagina como isso foi tratado na imprensa corporativa que depende do patrocínio deles.)
Hoje nos demos conta de que nem todo o mundo pensa como aquela minoria. A nossa reportagem gerou pressão pública e o Estadão noticiou que a Ambev teve que modificar a estratégia. Segundo o jornal, a empresa "decidiu acionar sozinha sua capacidade de produção e dobrou a entrega de álcool em gel para 1 milhão de unidades".
Achei que você iria gostar de saber disso, já que o pessoal na redação (em casa, claro) vibrou quando soube. Nossa missão é responsabilizar ricos, poderosos, governos e empresas por truques, erros e jogadas como essa, e, durante a pandemia, estamos em cima de quem busca lucrar ou tirar vantagem da crise humanitária que vivemos.
Nós só podemos fazer isso porque enfrentamos essa realidade com o amplo apoio dos nossos leitores. Se você ainda não ajuda o Intercept, peço que considere vir fazer esse jornalismo corajoso e que busca a justiça conosco. Agora é mais importante do que nunca. Não vamos te decepcionar, ajude-nos hoje clicando aqui!
Um abraço,
Alexandre de Santi
Deputy Editor
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Mudou d
O impacto continua
Segunda-feira, 18 de maio de 2020
O impacto continua
Olá,
Você já deve ter lido algo sobre o escândalo dos respiradores de R$ 33 milhões em Santa Catarina que revelamos em abril, por isso não vou me alongar muito. Vou deixar aqui embaixo os links das duas matérias que publicamos sobre isso.
Agora, aconteceram novos desdobramentos importantes.
Depois da queda dos Secretários de Saúde e Casa Civil e da sugestão de censura à imprensa por parte do governador Carlos Moisés, PSL, a CPI da Assembleia Legislativa iniciou seus trabalhos na última terça com depoimentos de pessoas envolvidas. A CPI deve durar 60 dias e nós vamos acompanhar. Amanhã tem nova sessão.
Além disso, Pedro Nascimento Araújo, diretor da empresa que vendeu os respiradores e não entregou, confirmou em depoimento na sexta para o Ministério Público que Fábio Guasti participou da negociação. Guasti é o empresário que denunciamos na segunda matéria sobre o assunto. Ele tem contratos suspeitos em outros estados e já utilizou o ex-jogador André Santos, de quem é amigo, para fazer negócios.
Essa história ainda não acabou e nós precisamos de seu apoio para mais investigações com impacto dessa grandeza.
Nós também sofremos as consequências econômicas da pandemia e queremos garantir que vamos ter condições de investir em boas apurações mesmo em tempos difíceis. Se você puder dar uma mão, peço sua ajuda para isso hoje. É importante.
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Rafael Moro Martins
Editor Contribuinte Sênior
SC aceita propostas forjadas e gasta R$ 33 milhões na compra de respiradores
Fábio Bispo, Hyury Potter
Governo aceitou orçamentos fraudados e com dados falsos. Após o pagamento, a empresa trocou o produto por um modelo inferior e sem aprovação técnica.
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Escândalo dos respiradores em SC: suspeitos têm contratos em mais dois estados e usaram ex-jogador da seleção para fazer negócios
Fábio Bispo, Hyury Potter
Empresa do responsável por intermediar venda fraudulenta tem contrato de R$ 21,5 milhões no Pará e negócios em Goiás e Santa Catarina.
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NOS BASTIDORES DA AMAZON
sábado, 16 de maio de 2020
A boçalidade infectou o Itamaraty
"Temos hoje o prazer de contar com três ilustríssimos convidados", anunciou o mediador do debate via internet. "José Carlos Sepúlveda é discípulo do eminente líder católico Plínio Correia de Oliveira, de quem recebeu formação, e um analista político brilhante no canal Terça Livre."
O próximo da lista, direto de Miami, era o tuiteiro Leandro Ruschel, "comentarista dos jornais Conexão Política e Brasil Sem Medo". “Precisamos de mais pessoas [como ele] que mesmo do exterior contribuem para instruir a opinião pública brasileira", adulou o mediador.
Por fim, Silvio Grimaldo, editor do Brasil Sem Medo, o jornal oficial de Olavo de Carvalho, nas palavras do mediador "uma mídia que oferece uma visão bastante diferente, muito voltada à realidade, à verdade". Recém lançado, o Brasil sem Medo engrossou as fileiras dos espalhadores de desinformação, mentindo ao afirmar, por exemplo, que o coronavírus não aumentou em nada o número de mortes por causa respiratória no Brasil.
Não era um evento privado com a nata do terraplanismo, mas o segundo seminário virtual sobre a conjuntura internacional no pós-coronavírus, promovido pela Fundação Alexandre de Gusmão. Conhecida no meio diplomático pela sigla Funag, é uma "fundação pública vinculada ao Ministério das Relações Exteriores", criada em 1971 para promover atividades, pesquisas e estudos sobre relações internacionais.
Nada disso deu as caras durante as duas horas e 45 minutos do debate que o ministro de segunda classe Roberto Goidanich, atual presidente da Funag, mediou na última terça-feira à noite e que tive o desprazer de assistir para contar a vocês na newsletter do TIB. Houve generosas doses do que se poderia esperar: mentiras, teorias da conspiração e pouco caso com os 12.400 mortos oficiais pela covid-19 que o Brasil contava àquela altura.
"O superdimensionamento da crise do coronavírus é baseado em modelos matemáticos futuros, semelhantes aos usados para espalhar o caos climático", bradou Sepúlveda, um português radicado no Brasil desde a década de 1970 que foi protegido do fundador da Tradição, Família e Propriedade, a TFP, braço ultra-reacionário do catolicismo. "[Diziam que] Veríamos mortos nas ruas", zombou.
" A ciência nunca vai poder decidir o que é melhor para nós mesmos. Pedem mil provas da eficácia da hidroxicloroquina mas nenhuma do isolamento social", concordou Ruschel, um dublê de economista que passa o dia defendendo Bolsonaro no Twitter.
Olavo não apareceu. Mas um único post dele no Twitter, minutos antes do debate, deu um resumo do que se ouviria. Natural: a Funag se tornou uma difusora do pensamento do guru ideológico do bolsonarismo.
O Itamaraty escancarou suas portas a Olavo de Carvalho com a nomeação de Ernesto Araújo. "Ele é mais um entre vários [do governo] que não tinha espaço entre os grandes em sua área, como Paulo Guedes, Abraham Weintraub. O que o garante no cargo é o fato de ser discípulo fiel de Olavo de Carvalho", me disse Guilherme Casarões, professor da FGV e pesquisador de política externa.
"Como depende do olavismo para existir como figura pública, Ernesto precisa dar palanque e amplificar a voz dele. A Funag é usada não só para legitimar ideias estapafúrdias mas também para cacifar pessoas que até ontem não tinham a menor relevância", prosseguiu Casarões. É, como já se falou, a vingança dos ressentidos.
Araújo foi uma escolha de Eduardo Bolsonaro e de Filipe Martins, o assessor de Jair para assuntos internacionais cujo maior predicado é ter sido aluno de Olavo de Carvalho. Martins foi o primeiro da turma a ser convidado para proferir um seminário na Funag – falou sobre o que chama de globalismo, em maio passado.
Desde então, um compilado de nomes desconhecidos até a ascensão da extrema-direita falou perante plateias de diplomatas e na internet – todos os seminários são transmitidos e ficam disponíveis num canal no YouTube.
Seguiram-se eventos parecidos com gente como os influenciadores Flávio Morgenstern (condenado a pagar R$ 120 mil a Caetano Veloso por promover um linchamento público no Twitter, acusando o cantor de pedofilia) e Alexandre Costa (autor de livros que batem George Soros e sociedades secretas no liquidificador para fazer panfletagem terra-planista), a juíza Ludmila Lins Grilo (que garante haver uma conspiração de colegas ativistas a favor do globalismo), o professor de direito Evandro Pontes (auto-denominado “tio careca”) e a deputada federal Chris Tonietto, do PSL fluminense, para quem “o meio ambiente também não pode ser tratado como se fosse Deus”.
Tido como funcionário correto no Itamaraty até ser guindado por Araújo ao comando da Funag, Goidanich se proclama um "soldado da atual política externa", me contou o embaixador Paulo Roberto de Almeida. "Ele é alguém que se prestou a ser um serviçal do chanceler acidental, que por sua vez é serviçal dos malucos que mandam na política externa", resumiu.
"Ele engajou a Funag numa guerra cultural contra o que veem como uma ameaça que é o que se chama de globalismo", me falou um embaixador que ocupa um cargo importante no Itamaraty, pedindo sigilo.
"Está em busca de promoção, por isso estará alinhado com qualquer coisa que o ministro solicitar da instituição", resumiu um outro diplomata que é próximo ao setor militar e também prefere não se identificar por medo de represálias.
No debate de terça passada, Grimaldo fez questão de agradecer "também ao ministro Ernesto Araújo pelo convite". Mas Goidanich pareceu à vontade no papel de bajulador de gente que usa o Itamaraty para ganhar a relevância que jamais teria por conta própria.
Quem não acredita tem uma nova chance de conferir nesta terça, dia 19, para quando está marcada uma nova rodada – a terceira – do seminário sobre a conjuntura pós-coronavírus. Os debatedores da vez são mais do mesmo: o condenado Morgenstern (seu sobrenome verdadeiro é Azambuja), a juíza Grilo e o youtuber Bernardo Küster, que costuma reproduzir mentiras como a que afirma categoricamente que "o parlamento francês legalizou a pedofilia".
Eu pedi comentários a respeito dos eventos olavistas ao Itamaraty. Não recebi nada até fechar este texto. Enquanto isso, as baboseiras e mentiras com o selo da Funag seguem à disposição no YouTube.
"Espero que o espectador não encare visão dos nossos convidados como as da Funag ou do Itamaraty", despistou Goianich, ao final do debate de terça passada, antes de mandar a real. "Mas os supostos especialistas defendem ideias globalistas e este tipo de ideia [olavista] não tem muito espaço. Agradeço canais que reproduzem nossos debates. O objetivo é disseminar o conhecimento."
Foi prontamente atendido. As teorias da conspiração, na versão 2020, vão com chancela do Itamaraty, emporcalham a imagem do Barão do Rio Branco e atiram na privada o bom trabalho de décadas que tornou a diplomacia brasileira respeitada e influente no mundo.
O Itamaraty está doente.
Rafael Moro Martins
Editor Contribuinte Sênior
Destaques
Quantas práticas ilegais, corruptas e injustas estariam ocultas sem o trabalho dos nossos jornalistas? Você tem a chance de nos ajudar hoje a expor ainda mais o que eles querem esconder.
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Por fim, Silvio Grimaldo, editor do Brasil Sem Medo, o jornal oficial de Olavo de Carvalho, nas palavras do mediador "uma mídia que oferece uma visão bastante diferente, muito voltada à realidade, à verdade". Recém lançado, o Brasil sem Medo engrossou as fileiras dos espalhadores de desinformação, mentindo ao afirmar, por exemplo, que o coronavírus não aumentou em nada o número de mortes por causa respiratória no Brasil.
Não era um evento privado com a nata do terraplanismo, mas o segundo seminário virtual sobre a conjuntura internacional no pós-coronavírus, promovido pela Fundação Alexandre de Gusmão. Conhecida no meio diplomático pela sigla Funag, é uma "fundação pública vinculada ao Ministério das Relações Exteriores", criada em 1971 para promover atividades, pesquisas e estudos sobre relações internacionais.
Nada disso deu as caras durante as duas horas e 45 minutos do debate que o ministro de segunda classe Roberto Goidanich, atual presidente da Funag, mediou na última terça-feira à noite e que tive o desprazer de assistir para contar a vocês na newsletter do TIB. Houve generosas doses do que se poderia esperar: mentiras, teorias da conspiração e pouco caso com os 12.400 mortos oficiais pela covid-19 que o Brasil contava àquela altura.
"O superdimensionamento da crise do coronavírus é baseado em modelos matemáticos futuros, semelhantes aos usados para espalhar o caos climático", bradou Sepúlveda, um português radicado no Brasil desde a década de 1970 que foi protegido do fundador da Tradição, Família e Propriedade, a TFP, braço ultra-reacionário do catolicismo. "[Diziam que] Veríamos mortos nas ruas", zombou.
" A ciência nunca vai poder decidir o que é melhor para nós mesmos. Pedem mil provas da eficácia da hidroxicloroquina mas nenhuma do isolamento social", concordou Ruschel, um dublê de economista que passa o dia defendendo Bolsonaro no Twitter.
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