Thursday, November 22, 2018

Subornos, assassinatos, “bazucas” para treinar tiro ao alvo. As revelações do julgamento de “El Chapo”


“El Chapo”, em 2014, quando foi capturado no México após uma das fugas da prisão
RONALDO SCHEMIDT/GETTY

Começou apenas na segunda-feira o julgamento do famoso narcotraficante El Chapo, mas já há revelações importantes. A principal diz respeito a alegados pagamentos feitos a altos funcionários do Governo mexicano para garantir que nada iria interferir com o negócio do tráfico de droga

O julgamento de Joaquim “El Chapo” Guzman começou apenas na segunda-feira mas foram já feitas revelações consideradas importantes no tribunal de Nova Iorque, onde o narcotraficante mexicano, acusado de liderar o poderoso cartel de Sinaloa, que enviou mais de 150 toneladas de cocaína para os EUA, está a ser ouvido.
Uma das principais revelações, feita na terça-feira, tem que ver com alegados pagamentos a altos funcionários do Governo mexicano feitos pelo cartel com o objetivo de garantir que nada iria interferir com o negócio do tráfico de droga.
Segundo Jesús “El Rey” Zambada, irmão de um dos principais sócios de El Chapo que está a ser ouvido em tribunal como principal testemunha, o cartel criou um “fundo de segurança” para fazer pagamentos ao ex-secretário de Segurança Pública Genaro García Luna, para que este, por sua vez, nomeasse oficiais escolhidos a dedo pelo cartel para chefiar as operações policiais, durante o mandato de Felipe Calderón. Zambada disse ter entregue várias malas cheias de dinheiro a García Luna mas este negou tê-las recebido. Também Gabriel Reino, antigo presidente da Câmara da Cidade do México, terá sido subornado pelo cartel quando estava prestes a tornar-se secretário de segurança, afirmou Zambada, que viu o seu testemunho ser refutado pelo próprio Gabriel Reino.

CONDENADO A 21 ANOS DE PRISÃO, 13 ANOS EM FUGA

Além de estar a ser acusado de ter dirigido o poderoso cartel, El Chapo, de 61 anos, é também suspeito de protagonizar uma campanha de assassínios e sequestros, e de lavagem de milhares de milhões de euros. Preso pela primeira vez em 1993, na Guatemala, e condenado a 21 anos de prisão, o famoso narcotraficante acabaria por escapar ao radar das autoridades de uma penitenciária de alta segurança em Puente Grande, no estado de Jalisco, em 2001. Esteve em fuga durante 13 anos, em 2014 foi capturado, mas acabaria novamente por escapar da prisão de Altiplano, perto da Cidade do México, onde se encontrava detido, através de um túnel com 1,5 quilómetros. Em 2016, e depois de inúmeras tentativas fracassadas, o Presidente Enrique Peña Nieto anunciava finalmente a captura de El Chapo, que um ano mais tarde haveria de ser extraditado para os EUA.
É lá que está agora a ser ouvido, assim como os seus advogados de defesa, que já fizeram questão de deixar claro que o líder de facto do cartel de Sinaloa não é El Chapo mas sim o seu irmão mais velho. O testemunho mais relevante até agora terá sido, no entanto, o de Jesús Zambada, que acusou o narcotraficante de ter assassinado o irmão do líder de um cartel inimigo, Rodolfo Fuentes, só porque este o deixou de mão pendurada no fim de um encontro entre os dois onde se procurou alcançar uma espécie de acordo de paz informal. “Quando Rodolfo se estava a despedir, El Chapo entendeu-lhe a mão e disse-lhe ‘vejo-te mais logo, amigo’, mas Rodolfo deixou-o de mão estendida e virou costas”. Dias depois, o membro do cartel inimigo foi assassinado a tiro, assim como a sua mulher, à entrada de um cinema.
Zambada também garantiu em tribunal que, em 1994, El Chapo deu-lhe ordens para afundar um navio que continha 20 toneladas de cocaína, de modo a despistar as autoridades, e que em 2005 o narcotraficante levou consigo um lança-foguetes antimísseis durante uma viagem com familiares. A informação foi confirmada por várias testemunhas ouvidas em tribunal, segundo as quais El Chapo terá querido “testar” o equipamento depois de o grupo que o acompanhava ter terminado um exercício de com outras armas.

UMA “BAZUCA” PARA TREINAR TIRO AO ALVO

Em tribunal, foi também dito que o narcotraficante chegou a usar uma “bazuca” (nome por que são popularmente conhecidas as armas portáteis antitanque em forma de tubo) para treinar o tiro ao alvo durante outras férias com a sua família e que tem uma coleção enorme de armas, incluindo uma pistola com um diamantes incrustados e uma AK-47, ou Kalashnikov banhada a ouro.
Quem também prestou um depoimento considerado relevante foi Adams Fels, procurador-adjunto dos EUA, que acusou El Chapo de ter enviado “mais de uma linha de cocaína para cada pessoas na América em apenas quatro remessas”, o que equivale, fez questão de referir o próprio procurador, a “mais de 328 milhões de linhas de cocaína”.
Enquanto tudo isto era dito no tribunal de Nova Iorque, era encontrada uma estátua de um santo local numa sala de conferências que costumava ser usada pelos advogados de defesa de El Chapo. “Santo do narcotráfico”, assim é conhecido Jesús Malverde, o santo aparecido.

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