quinta-feira, 12 de julho de 2018

EM duas ocasiões distintas, a Renamo foi incapaz de entregar a relação nominal de seus oficiais a integrar na polícia e na secreta.

XÍCARA DE CAFÉ por Salvador Raimundo
EM duas ocasiões distintas, a Renamo foi incapaz de entregar a relação nominal de seus oficiais a integrar na polícia e na secreta. Isso aconteceu em 1992, imediatamente após a assinatura do Acordo Geral de Paz, a 04 de Outubro, e em 2014, no seguimento de um entendimento entre o governo e a Renamo. 
Entretanto, a lideração do partido não parou de exigir que os seus homens fizessem parte dos corpos da polícia e da secreta, medida definida no âmbito do entendimento de Roma, Itália. Quase na mesma altura, a liderança da Renamo dizia que os seus homens não estavam suficientemente preparados para integrar uma polícia corrupta, porque os seus não eram corruptos. 
O próprio uniforme cinzento da polícia foi declinado para que fosse envergado pelos seguranças dos dirigentes da Renamo. A farda era vista como ruim… Somente no exército único a Renamo submeteu os seus elementos que, diga-se, até se deram muito bem com os novos colegas saídos das Forças Armadas de Moçambique, versão anterior a Roma, do exército governamental. 
Pela primeira vez, a liderança da Renamo garante agora entregar a lista dos oficiais a integrar as forças de defesa e segurança. Uma notícia que alegra a todos os moçambicanos, porque sinal de esperança. Mas o cenário não termina com a simples entrega da lista ao governo. Nem tão pouco. Como dizia, ontem, Filipe Nyusi, estámos diante de um processo complexo e que vai exigir muita paciência entre a malta que está empenhada nas negociações.
Há quem garante que esta nova fase do processo se deve à posição ríspida assumida pela bancada da Frelimo na Assembleia da República. Pode ser, até porque para fazer omolete é preciso primeiro partir o ovo. De contrário, nem pensar…


Mas cá para os nossos botões, a Renamo acaba de ganhar esta fase da disputa, ao conseguir que se faça, primeiro, a integração dos seus oficiais nas fileiras da polícia e da secreta, e só depois, imediatamente de seguida, o braço armado procede à entrega das armas, à medida que os homens e as mulheres vão sendo desmobilizados. 
O governo, ao que tudo indica, queria que fosse o contrário. Ou seja, que a Renamo entregasse as armas e só depois os oficiais seriam integrados naqueles ramos. Isto tem o seu segredinho. Integrando primeiro os homens da Renamo, sobretudo nos comandos de decisão, é suposto que estes participem nas esferas decisórias. 
Estamos cépticos. Não imaginamos uma entrega livre das armas ao executivo. A Renamo, sem o seu belicismo, fica igual a zero. A liderança da Renamo sabe disso, que é por causa das armas que o governo tem aceite negociar tal e qual o tem feito, numa posição de equilíbrio. 
Esta casa receia a reedição da desmobilização e desmilitarização da Renamo na era-ONUMOZ. Na época, os peritos receberam armas obsoletas e homens famintos, deixando meio-mundo boquiaberto. 
EXPRESSO – 12.07.2018

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