sexta-feira, 13 de julho de 2018

A Sasol entre um flirt mal sucedido e uma tal lavagem de roupa suja


A Sasol entre um flirt mal sucedido e uma tal lavagem de roupa suja
De seus semblantes transpirava o sabor amargo da tensão. Na manha de ontem eles estiveram com o Ministro Max Tonela e terão dito de seus anseios, sacudindo o peso de uma percepção negativa do lado de cá sobre a Sasol, e lançando as sementes vitais para um renovado engajamento, uma nova ordem nas suas relações de negócio com Moçambique, onde sua ventura não pode ser, como tem sido, apenas um jogo de soma zero, com seu capital sugando ao tutano nosso gás, e deixando pouca riqueza.
Percorrendo os corredores do Governo local, apesar de o Presidente Filipe Nyusi ter saído de Maputo, Bongani Nqwababa e Stephen Cornell, os dois CEO da Sasol, tentaram salvar a cara. Terão conseguido? É provável. Em Maputo a dupla da Sasol fez vários lobbies para ser recebida pelo PR ou pelo Primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário. Esses contactos foram frustrados. A passagem de um certificado de menoridade para Tonela foi chumbada. No encontro com o jovem ministro, os executivos da Sasol tinham de salvar a cara. Terão pedido desculpas, de acordo com uma fonte.
Mas não se pode salvar a cara e o couro ao mesmo tempo. À tarde, ontem, os dois procuraram um engajamento com os “média”. Tentaram! Sua disponibilidade para uma conversa franca era limitada. O segredo é a alma do negócio?
Sim, mas. Envolta numa percepção altamente negativa na sociedade local era esperada uma maior abertura. Para tentar salvar o couro também. Mas não. Bongani e Cornell se barricaram no segredo do negócio, depois de uma mea culpa: a Sasol poderia ter feito mais nas áreas de “local content” e investimentos sociais.
No geral, eles consideram seu envolvimento em Moçambique positivo sob todos os prismas.
Cornell frisou que é preciso ter em conta que a Sasol investiu cá no contexto de maiores riscos políticos, e que esse factor pesou nos termos do seu contrato de exploração do gás de Pande e Temane. Mas, a Sasol aceitaria uma revisão desse contrato à luz da conjuntura actual? Esta era uma das questões que me roía as unhas. Não a pude colocar. Eles não tinham tempo para tanta conversa. A Sasol tentava um engajamento com os “media” local mas não se abria para um flertagem mais fluida. Minha predisposição para o namoro dependia de muitas respostas. De saber, por exemplo, se ela estaria disposta a aceitar uma auditoria independente para determinar as quantidades reais de gás que são bombeadas de Temane para Secunda, dada a percepção de que a Sasol não declara as verdadeiras quantidades.
Poupei minha bateria de questões para uma prometida entrevista individual com os dois executivos, depois que terminasse a reunião colectiva. Nessa colectiva, Bongani, acossado sobre o recentemente revogado concurso da Sasol, insistiu que sua postura, a da petroquímica, era a de não se envolver em debates com os seus parceiros na imprensa. “Não vamos nos demonizar”, disse ele. Eis a confirmação implícita de que o contexto das relações entre a multinacional sul-africana e o Governo o não é saudável.
Quando um colega insistiu na questão do preço do gas da Sasol à a Central Térmica projectada para Temane, numa joint venture com a EDM e a HCB mais um parceiro internacional, Bongani repisou que a Sasol não negoceia em público e que “as fugas de informação não são bem-vinda”. Para Bongani, o envolvimento da opinião pública não era o ideal. E por isso, da sua parte iria evitar a tentação de cair em “teorias de conspiração e de lavar roupa suja em público”. Sim…dirty laundry. Expressões que confirmam o actual ambiente de crispação. E também a contradição de quem procura um engajamento publico mas limita aos jornalistas o acesso pleno à informação.
Na ocasião do meu encontro individual, Bongani confirmou essa hesitação da Sasol em se abrir. Em dados recentes, a multinacional revelou que na última década havia investido em Moçambique 10 biliões de USD. E que tinha enviado para ca cerca de 1 bilião de USD, entre corporate tax, royalties, partilha de lucros e dividendos e também investimentos sociais. Ontem, quando perguntei-lhe qual tinha sido a receita bruta da Sasol relacionada com o gas moçambicano nesses dez anos, Bongani franziu o sobrolho. “Somos uma empresa privada. Não podemos partilhar essa informação”. Um colega seu ao lado retorquiu: “Podemos partilhar essa informação. Com base nela pagamos os impostos”. Nesta altura, o encontro tinha de terminar, havia pouco tempo. Mas uma pergunta só, sentenciaram as assessoras.
Duas questões tinham, para mim, de ter resposta. O preço final do gás para a central térmica e se a Sasol iria contribuir para a linha de transmissão, Temane-Maputo, associada aquela central. Bongani e Cornell foram claros: i) a Sasol detém 49% do projecto da central térmica e vai contribuir na medida da sua participação accionista; com as negociações ainda em curso, não se podia avançar ainda um custo final para o gás tanto mais que o projecto precisa de garantir que é bancável e assegurar um bom leque de off takers. ii) Definitivamente, a Sasol não vai contribuir para a linha Temane-Maputo; “Não nos envolvemos no negócio da transmissão”, frisou Cornell. Nesta matéria, as portas estão fechadas.
Estas duas posições foram transmitidas ao Minitro Tonela. Falta saber que cartas o Governo jogará neste baralho intricado, esperando que Filipe Nyusi não fique de braços cruzados, aceitando esse ponto final. Apesar das desculpas a Tonela, ficou no ar a ideia de uma tremenda falta de sintonia entre as duas partes. Estará assim tão suja a roupa?
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4 comentários
Comentários
Francey Zeúte Decisão mais do que acertada a do Gov em passar o certificado de MAIORIDADE ao ministro Tonela.
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Buene Boaventura Paulo Os compadres em guerra... ah que bom
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Jr Chauque Leio com gosto os teu post #MM e com muita calama "saboreando cada parágrafo e mastigando" com ALEGRIA, muito obrigado
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Hélio Mahanjane Isto de Pande e Temane Para ser sustentável deve se sair da caixa, o ministro iniciou a saída é Governo não deve nunca mais recuar.

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