No domingo, 15 de Janeiro, o PR Filipe Nyusi faz dois anos no poder. Seu discurso inaugural foi genial em termos de expectativas. Mas o élan carburante nele impregnado se vai esfumando. Prova é esta falta de entusiasmo geral nas vésperas deste marco temporal. Até nas redes sociais, este 15 de Janeiro promete passar ao lado.
O discurso inaugural foi uma lufada de ar fresco, depois de um consulado controverso de Armando Guebuza. Dois anos depois, que balanço se pode fazer? Sobretudo depois de tanta expectativa criada? Aliás, seu discurso foi aplaudido em todos os quadrantes no contexto de um legítimo benefício da dúvida. Eu manifestei logo minhas reservas. Já partilho o que na altura escrevi, a quente.
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Filipe Nyusi: dúvidas e omissões do discurso inaugural
Todo o mundo gostou do discurso do novo Presidente da República, Filipe Nyusi. Eu também gostei mas...mas o meu papel não se resume em gostar. Para mim, Nyusi foi demasiado ambicioso, de fasquia elevada como é de praxe neste tipo de inaugurações (recordam-se do Yes We Can, do Barack Obama, e tudo o que ele prometeu?). Eu preferia um discurso mais comedido e modesto, com marcas de Estadista, sim, mas com menos pretensão messiânica.
Gostei sobretudo da sua ruptura com a cartilha de Armando Guebuza, nomeadamente aquela coisa enfadonha da “luta contra o deixa andar” e a clerical “autoestima”. Gostei porque ele não atirou dardos fumegantes contra o antecessor como fez Guebuza, se bem que isso decorre da forma como ele chegou ao poder.
Gostei, mas o discurso do novo PR tem muitas coisas pouco claras. E grandes promessas. Grande promessas são traiçoeiras. Prometer combater a corrupção sob tolerância zero (usando outras palavras, como “sem condescendência”) mas sem dizer que medidas de política vai tomar, é pregar num deserto de ideias.
Sobretudo no contexto de Moçambique. Obviamente que um discurso inaugural é uma carta de princípios e não um enunciado de políticas. Por isso, esperemos pela tomada de posse do seu Governo para percebemos como é que ele vai dar conteúdo concreto a esses princípios.
Por exemplo, uma das coisa que foi mais audível (e que é recorrente em Moçambique) é a ideia que ele vincou da necessidade de robustecimento das elites empresariais para participarem na exploração dos recursos naturais. Concordo!. Contudo, não ficou claro como é que isso será feito no quadro das suas reiteradas promessas de inclusão, sobretudo quando essa inclusão é política. Por outras palavras, como é que ele vai despartidarizar os negócios do Estado (mais importante que despartidarizar a função pública) para que, como ele frisou, “os moçambicanos sejam os donos e a razão de ser da economia”, uma coisa desejável mas, quanto a mim, inalcançável a breve trecho.
Registei com agrado a promessa de transparência na gestão da indústria extractiva e a ideia da incorporação do conteúdo local, ficando para ver como é que isso vai ser concretizado. Nyusi mencionou agricultura, infraestruturas, a Saúde e tudo o que é habitual ser mencionado, mas não deu um cheirinho sobre a política económica (Ok...há um programa de Governo, mas eu esperava que ele partilhasse algumas nuances sobra a gestão macroeconómica).
Gostei do discurso, mas, lendo o texto, fica-se com a ideia de que teremos um Governo mais intervencionista, que vai resolver todos problemas e onde o sector privado e o investimento estrangeiro têm pouco espaço. Por isso, um silêncio quase que absoluto em relação ao ambiente de negócios.
Mas o silêncio mais ensurdecedor foi sobre a principal riqueza dos moçambicano: a terra. Num contexto em que a maioria dos moçambicanos vive da terra, sua principal riqueza, friso, era fundamental que o Presidente reafirmasse na inauguração que ele vai proteger os moçambicanos contra a actual vaga de expropriação e que, onde tiver que haver reassentamento em face de exploração mineral ou de implantação de infraestruturas, isso será feito com justiça. Gostei do discurso, mas o meu papel não se resume em gostar. Nele, há bons princípios que precisam de conteúdo concreto para que sintamos que estamos de facto a dar passos em frente com maior solidez. Isso não ficou ainda demonstrado.
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