A crise de água em Maputo, Matola e arredores destapa outra vez a sujeira do improviso que campeia nos luxuosos gabinetes que lidam com o sector. Na sua aparição nos Media, ontem, a Águas da Região de Maputo, a ARA-Sul e o FIPAG revelaram essa tendência para soluções esfarrapadas e uma grande dose de descoordenação. O improviso decorre da falta de planeamento e da crença em milagre divinos.
ARA SUL ignorou o alarme do El Ninho. Na África do Sul e na Suazilândia, a gestão de crise similar na bacia hidrográfica comum do Umbeluzi e noutras regiões em Gauteng começou em Maio do ano passado. Do nosso lado, foi se rezando para chover e não choveu;
A rede de distribuição em Maputo e Matola está cheia de cortes, donde se perdem enormes quantidades de água. Mas, como se notou nas aparições do Administrador Gildo Timóteo, a Águas da Região de Maputo não tem um inventário cabal da localização das fugas na tubagem;
Pior é que só agora, quando a ARA SUL decreta restrições, é que a AdM pretende apurar um inventário sólido dos pontos de fuga para fazer as devidas intervenções;
Como se viu, parece não haver um Plano de Contingência; até podem chamar de Continência ao "plano de restrição" mas este problema não se resume apenas a Distribuição Comercial de água, tal como é o enfoque da AdM;
Este é um problema com dimensões múltiplas; quem fala de água fala em Saneamento e, falando disso, acabamos falando em Saúde Pública. Ora, na gestão da crise estamos vendo apenas o envolvimento de entidades que se situam a montante do problema, esquecendo-se de toda a sua cadeia de valor.
A Saúde não está envolvida (para se preparar para a catadupa de doenças ligadas à higiene que podem ocorrer em grande escala) … assim como os Municípios (que deviam contribuir para minimizar o impacto da crise). O serviço de Água não está sob alçada directa dos Municípios mas com tudo o que pago de impostos autárquicos, eles deviam dar uma mão no fornecimento nas zonas onde a rede é deficiente e onde a água não chega.
Maputo, por exemplo, é uma cidade de relevo particular, onde alguns bairros têm sempre água e outros nem tanto. E quando há um corte de água, sua reposição demora entre 2 a 3 dias (o enchimento da tubagem) devido às características da rede, do relevo e da localização dos centros de distribuição. Em face disto, é difícil pensar que este modelo de restrição “um dia sim um dia não" possa ser eficiente;
Uma fonte da AdM diz-me que isso será garantido através de um “equilíbrio hidráulico”, ou seja, a tubagem não vai ficar totalmente vazia nos dias “não”. Espero para ver;
Não sei se hoje foi dia “sim” ou “não” mas meu tanquezito de 200 litros não encheu como em dias normais. Ontem também foi assim. Se amanha a tendência se mantiver, então esse equilíbrio hidráulico é um bluff!!!
Somos um povo de improviso, com dirigentes e gestores de serviços públicos que cimentam essa cultura dentro de seus mundos de mordomias e regalias. Não planificamos e improvisamos soluções mal paridas e que não abarcam todas as dimensões de problema. Basta aparecermos na TV e debitarmos um palavreado chique entre meia dúzia de termos técnicos e pensamos que convencemos o espectador. Não…senhores. Vamos lá arregaçar as mangas e fazer as coisas correctas.
(O Ministro Carlos Bonett tem a obrigação de vir explicar o que é que fez ao longo desdes dois anos para evitar que esta crise chegasse até aqui, com remendos de última hora, revelando que o sector parece não estar a ser devidamente Governado)
Sem comentários:
Enviar um comentário