domingo, 8 de maio de 2016

Pilhagens culminam com detenções

Os ânimos estiveram exaltados entre os dias 30 de Abril e 3 de Maio corrente devido a distúrbios protagonizados por vendedores malawianos que saquearam um mercado agrícola  localizado no distrito de Tsangano, província de Tete, depois de terem atravessado ilegalmente a fronteira comum.
Os malawianos pilharam igualmente lojas e bancas dos comerciantes burundeses estabelecidos no local.
Os desacatos levaram a uma reunião de emergência entre as administrações de Tsangano, do lado moçambicano, e de Ntcheu, do lado malawiano, com vista a encontrar uma solução para pôr termo aos actos de pilhagem protagonizados pelos vendedores malawianos alegando que a abertura de um mercado do lado moçambicano está a prejudicar o seu negócio, traduzindo-se numa baixa significativa do volume de vendas do lado deles.
A reunião entre as duas autoridades não chegou ao desfecho, porque os malawianos apresentaram questões que não constavam da agenda inicial, o que obrigou a marcação de uma outra reunião com outros intervenientes nos próximos dias.
Contudo houve consenso sobre a necessidade das partes trabalharem com celeridade para repor a ordem e a tranquilidade.
Na sequência dos distúrbios, a Policia malawiana deteve oito suspeitos acusados de vandalizar o mercado de Tsangano do lado moçambicano. Os suspeitos com idades compreendidas entre os dezasseis e vinte e cinco anos serão levados a Justiça em Ntcheu nos próximos dias.
Apesar de existirem razões de âmbito comercial no que toca à vandalização do mercado de Tsangano, há também indicações segundo as quais os incidentes foram motivados em parte pela suspeita de sequestro de um menor malawiano pelos comerciantes burundeses que operam do lado moçambicano para fins obscurantistas.
O administrador de Tsangano propôs a reactivação da Comissão Conjunta de Defesa e Segurança, bem como sobre outras áreas, como Saúde, Economia, Migração, ao nível dos dois distritos fronteiriços.
Sobre o mercado, propôs a criação de Comissão Conjunta local para que eventuais problemas  fossem resolvidos pontualmente e  com apoio dos governos distritais, de modo a evitar a repetição de incidentes de género no futuro.
O mercado agrícola de Tsangano encontra-se implantado no local há mais de 20 anos e são comercializados produtos provenientes do distrito de Tsangano e que se destinam às províncias de Niassa, Zambézia e Nampula, com particular destaque, para a batata e verduras.
Do ponto de vista comercial, o mercado é mais movimentado do lado de Moçambique que do Malawi;
A maioria dos cidadãos de nacionalidade burundesa encontra-se no lado de Moçambique e consequentemente os vendedores malawianos não aguentam com a disputa.
A reafirmação da fronteira entre Moçambique e Malawi no povoado de Biri-biri localizado muito próximo do local dos incidentes não foi pacífica o que obrigou as unidades policiais de ambas partes a intervir para garantir a retirada da Comissão Mista.
A nova linha fronteiriça divide o povoado de Biri-biri e consequentemente há vendedores moçambicanos que se encontram no lado do Malawi e vice versa.
Por seu turno, o administrador de Ntcheu destacou que Moçambique e Malawi são vizinhos e é necessário que se entendam, mas levantou questões relacionadas com situação dos deslocados moçambicanos que se encontram em Mwanza.
O responsável malawiano abordou o registo de crianças que nascem no Malawi, tendo em conta que muitos moçambicanos nascem nos hospitais do Malawi, e sugeriu que o Governo moçambicano aconselhasse os seus cidadãos a não esconderem a sua identidade, pois, só em caso de morte é que se identificam como moçambicanos.
O Administrador de Ntcheu alegou ainda que os malawianos, quando procuram cuidados médicos nas unidades sanitárias moçambicanas, não são atendidos e falou também sobre o certificado de passagem nas fronteiras, que nos últimos dias os malawianos não têm tido a devida facilitação do lado de Moçambique.
Ele alegou ainda a prática de cobranças ilícitas nas fronteiras de Cuchamano e de Biri-biri, bem como a retenção de cerca de 240 passaportes malawianos  na fronteira de Cuchamano e outros não numerados em Biri-biri.
Avelino Mucavele,em Blintyre, Malawi
JORNAL DOMINGO – 08.05.2016

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