Monday, March 9, 2015

Carta à Comissão Política do partido Frelimo


Reflexão 
de: Adelino Buque

Camaradas membros da Comissão Política do partido Frelimo, aceitem os meus sinceros cumprimentos e desejos sinceros de boa saúde a todos, especialmente para o camarada presidente que, soube através do camarada secretário-geral, Eliseu Machava, não está bem de saúde.
Aliás, informação pública dita nas exéquias fúnebres do herói nacional José Phahlane Moiane, Tenente-General na Reserva falecido a 19 de Fevereiro de 2015, aos 79 anos de idade, a quem dedicarei uma reflexão específica.
Voltando aos camaradas chefes do nosso glorioso e cinquentenário partido, eu, como cidadão, escrevo pela se­gunda vez a este órgão do nosso partido. A primeira foi para manifestar a minha indignação pelo silêncio deste aquando das renúncias dos edis de Quelimane, Pemba e Cuamba.
A minha preocupação hoje, camaradas, pretende-se com a falta de estabilidade no nosso país, resultante de constantes ameaças do partido Renamo que contesta os resultados das eleições gerais de 15 de Outubro de 2014.
Sobre isso a minha opinião é pública. A preocupação prende-se com a percepção pública de que parece que a Frelimo puxa para um lado, enquanto o Governo trabalha para o lado oposto às conversações com este partido.
Esta percepção resulta dos pronunciamentos dos che­fes das brigadas centrais do partido às províncias sobre o anteprojecto de lei de autonomia das províncias a ser submetido pelo partido Renamo à Assembleia da República.

Recordem-se que a ideia de submissão deste instrumento resultou do encontro entre o Presidente da República, Filipe Ja­cinto Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Macacho Marceta Dhlakama, de onde o Presidente Filipe Jacinto Nyusi conseguiu igualmente que os eleitos da Renamo para a Assembleia da República e para as assembleias provinciais tomassem posse e, consequentemente, refrear o clima de tensão instalado.
Como dizia acima, a percepção pública é de que a Freli­mo não está satisfeita com os esforços do Governo tenden­tes à normalização da vida no nosso país. Curiosamente, este Governo é suportado pelo partido Frelimo em conse­quência da vitória nas eleições de 15 de Outubro passado.
Caros camaradas, não seria mais prudente deixar os quadros da Renamo trabalharem tranquilamente sobre o documento em referência e, na Assembleia da República, debaterem e até pedirem que o mesmo seja amplamente divulgado e aí desdobrarem-se em comissões de trabalho sobre o mesmo?
É que, se quisermos ser honestos, ninguém conhece ainda o teor do documento da Renamo. Acredito que o próprio partido Renamo ainda não possui esse documento como tal. Sendo assim, de que estão falando?!
Camaradas, existe aqui um atraso relativo ao envio das brigadas às províncias relativamente a esta matéria, confi­gurando, desta forma, extemporaneidade. Se as brigadas tivessem trabalhado nas províncias enquanto decorria a digressão da Renamo e seu líder nada estaria em causa, mas tudo muda quando Afonso Dhlakama aceita o encontro com o Chefe do Estado, Filipe Nyusi, e interrompe a sua digressão pelo país e, sobretudo, quando os resultados desse encontro foram frutíferos.
Podemos considerar que esse encontro “salvou” Afon­so Dhlakama de uma hipotética rebeldia dos seus deputa­dos que já manifestavam vontade de tomar posse. Tudo bem, podemos considerar que Afonso Dhlakama “coloca” palavras na boca do Presidente da República sobre um hipotético “acordo”. Tudo bem mas, como as conversas entre ambos não foram públicas, o melhor é esperar a hora certa para agir. Infelizmente, essa paciência parece não ter havido no seio da Comissão Política do nosso partido.
Acreditem, camaradas, a acção das brigadas centrais nas diferentes províncias é muito mal vista hoje, não so­mente porque existe a percepção de que alguns membros da Frelimo ao mais alto nível não estão satisfeitos com a dinâmica imprimida pelo Presidente da República, no quadro do diálogo com os partidos políticos e na sociedade em geral, como existe o temor de que a atitude da Frelimo poderá conduzir-nos a uma nova guerra ou desestabiliza­ção no nosso país. A Renamo continua armada, camaradas! Este é um factor que não deve ser menosprezado quando o assunto é debater Renamo e suas propostas.
Este debate sobre as diferenças internas em relação à proposta da Renamo reacendeu um outro debate que estava, na minha opinião, adormecido, que é a propalada “bicefalia” do poder, onde pontifica a liderança do partido de onde o Presidente da República não é membro de pleno direito mas por inerência de funções.
A este propósito escrevi um artigo em 2011, antes do Congresso de Pemba, cujo título é “O meu Contributo ao X Congresso do Partido Frelimo”, tendo em conta que na altura não se levou em consideração, hoje, é difícil debater este assunto em presença de pessoas envolvidas. Na altura era fácil porque não existia a figura de Presiden­te da República eleito, hoje existe e é quase inegociável a passagem de pastas para o sossego dos de “dentro e de fora do partido Frelimo”, parafraseando Margarida Talapa, chefe da bancada parlamentar do partido Frelimo.
Acredito que os membros da Comissão Política do nosso glorioso e cinquentenário partido vão levar em consideração esta carta de um dos seus membros. Deixem o debate sobre o anteprojecto da Renamo para o pronunciamento da Assembleia da Repblica e, quando for publico o referido documento, po­derão levar a debate interno e depois para o público em geral.
Recordem-se que a Frelimo tem responsabilidades acrescidas nos seus actos na nossa sociedade. Não é mais um partido, é o partido que libertou o país e governa desde essa altura a esta parte. Isso é muito e representa maturidade. A Frelimo é um partido sénior, e os seniores sabem a hora de se pronunciar e de contemplar …
CORREIO DA MANHÃ – 09.03.2015
Interessante carta de Adelino Buque a Comissao Politica da Frelimo. Esta carta mostra que a Frelimo tem membros de qualidade, embora haja a abundancia de avulsos. Os membros de qualidade sao aqueles que tem opinioes de qualidade e os avulsos sao aqueles que nao tem opinioes, caixas de ressonancias ou mesmo o que se chama, na minha lingua materna (changana), de gogogo (lata vazia). Leiam a carta de Buque

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  • Pierre Manguene Falou, exacto... mas não se tocou nenhuma "ferida"! 
    Haja mais coragem para os "de dentro"!
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  • José de Matos Muito oportuna, obrigado pela partilha!
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  • William Antonio Mulhovo Bastante lúcido! É sempre interessante quando alguém expõe a sua opinião e de forma bem inteligível como Buque o fez. Não se trata de concordar ou discordar com ele (isso poderei fazer em outro momento) mas sim de elogiar a claraze dos seu argumentos e, por não ter se furtado em trazer a sua opinião e sujeita-la a crivo do debate público ( acto que devia ser visto como normalissimo num país que se diz demicrático). O que "nhenhentsa" é que algumas pessoas que, eventualmente, não concordem com a posicção dele, ao inves de formular suas contra-teses/ contra-argumentos e exporem os seus pontos de vista para mostrar eventuais falhas no argumento de Buque, estes optarão por atacar a pessoa (e não a mensagem) e matar o debate. Já agora, ligando a uma questão que Buque aborda, tenho andando a me matar a tentar encontrar a resposta satisfatória para esta questão: -Porque razão a "bicefalia de poder" é tida como problemática no contexto politico Moçambicano? A libertação de um dirigente do poder partidário para exercer a presidencia nacional (em exclusivo) não é boa para que presidente seja de facto e se ocupe pelos problemas de todo povo sem distição partidári?
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  • Lazaro Mabunda O merito desta carta e a forma como ele expoe a sua opiniao. A discussao sobre o conteudo e outra coisa. Mostra afinal as pessoas podem dizer o que pensam dentro do partido sem nenhum receio.
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  • Gildo Mugabe Mugabe Viva a liberdade de expressao...... que venham mais "Adelinos Buques"
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  • Armando Nenane Eh uma opiniao que nao pode ser vista fora de toda uma conjuntura politica, cuja crise revela a decadencia de um regime. Uma opiniao que nos lembra que existem individuos com consciencia propria no meio do G 40, salvo embora a infamia que lhes criou o seu alistamento...
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  • Desidério EC Chambo Já haviamos perguntado, nós cidadãos atentos, afinal A FRELIMO correu para as províncias falar sobre oquê, se o projecto ainda não é público?
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  • Pierre Manguene O (dirigentes) africanos "personalizam" o poder. De tantas hozanas dadas a GUEBUZA no seu reinado, os sequazes não se vêem preparados para, findo o trono, ter k "hozanar" um outro (sinceramente nem sei que "raízes" teve Guebuza para conseguir isso)... ainda mais o rei em vida! Assim se explica a necessidade de continuar rei no Partidao!
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  • Pierre Manguene Buque não falou, só escreveu o que já era uma opinião pública!
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  • David Abilio Mais uma prova da maturidade e do espírito democrático do Partido Frelimo. O único partido onde os seus membros exprimem suas opiniões de uma forma livre, onde se exerce critica e auto-crítica como modo de exercício da democracia interna. Os outros, aqueles que a democracia e apenas uma palavra, a experiência da Frelimo que se manifesta em todas as suas práticas, e visto como fissuras, divisão ou alas no seio do Partido, temendo que esta prática atinja os seus partidos. Quem conhece outro Partido com práticas democráticas que nós indique e cite-nos os exemplos, pois na Frelimo são vários. Parabéns Buque, Parabéns, Teodacto, parabéns Sergio, parabéns todos os outros que sem virem para o público tem sido exemplares no debate interno donde resultam as estratégias que fazem da Frelimo um Partido Unido, coeso e vitorioso.
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  • Lucilionglucuiane Timana São muitos que não estam a favor mas ficam calados e pior aceitam andar pelas províncias a dizer coisas sem nexo...!
    Haja paciência!!!
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  • Muhamad Yassine Que sirva de compendio para os outros reflectirem
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  • Fernando Mazanga Hummmmmm...
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  • Julio Lilito Boene Ha liberdade de expressao, o problema e a consequencia que pode advir do seu uso.
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  • Luciano Mapanga Magnífico. Explodido. Explendido. Único.
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  • Paulo Sérgio Catarino Chimene Esperamos que mais ninguém seja castigado por ter um pensamento diferente da "maioria"
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  • Donaldo Chongo O que mordeu Adelino Buque para confrontar o seu preferido partido? O tempo dirá...
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  • Remane Abudo O país precisa de liberdade de pensamento e de expressão.
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  • Pilale Isequiel Muito prudente
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  • Álvaro Xerinda Tiro e queda esta carta aos camaradas
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  • Emerson Eduardo Nhampossa O meu país precisa de homens de tamanha coragem. Este é o partido que muitos amam e admiram mas a vergonha na liderança criou apatia a muitos.
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  • Arao Rocha Convenhamos que a comissão política não está realmente de acordo com o trabalho que vem sendo imprimido pelo actual presidente da república. E isso complica e compromete o desempenho do Governo. É um facto que merece também uma reflexão específica e muito bem aprofundada.
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  • Micas Ernesto Sitoe To muito sastifeito com essa carta escrito por uns dos camaradas da frelimo, apesar de que a liberdade de expressao em mocambique ainda constitui um defice tao grande, mas somos nos que podemos combater esse mau habito que ipede o desenvolvimento do pais. Esta escrito na carta que o partido frelimo libertou o pais, posso eu n ACREDITAR, porq o unico responsavel pela liberdade, democrancia e paz em mocambique a RENAMO, nao a frelimo. Sempre a frelimo usou truques pra star na diatera. Dizia onte o presidente dlhakama que os nossos bisnetos ira julgar a frelimo um dia pelos actos d injustica. E n so.
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  • Naine Mondlane Viva a democracia e a liberdade de expressão!
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  • Brazao Catopola A FRELIMO sempre teve quadros capazes e competentes, sempre o terá e os congratulo por isso, espero que este ato seja louvado e discernido como um pensamento livre

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