Reflexão de: Adelino Buque
Camaradas membros da Comissão Política do partido Frelimo, aceitem os meus sinceros cumprimentos e desejos sinceros de boa saúde a todos, especialmente para o camarada presidente que, soube através do camarada secretário-geral, Eliseu Machava, não está bem de saúde.
Aliás, informação pública dita nas exéquias fúnebres do herói nacional José Phahlane Moiane, Tenente-General na Reserva falecido a 19 de Fevereiro de 2015, aos 79 anos de idade, a quem dedicarei uma reflexão específica.
Voltando aos camaradas chefes do nosso glorioso e cinquentenário partido, eu, como cidadão, escrevo pela segunda vez a este órgão do nosso partido. A primeira foi para manifestar a minha indignação pelo silêncio deste aquando das renúncias dos edis de Quelimane, Pemba e Cuamba.
A minha preocupação hoje, camaradas, pretende-se com a falta de estabilidade no nosso país, resultante de constantes ameaças do partido Renamo que contesta os resultados das eleições gerais de 15 de Outubro de 2014.
Sobre isso a minha opinião é pública. A preocupação prende-se com a percepção pública de que parece que a Frelimo puxa para um lado, enquanto o Governo trabalha para o lado oposto às conversações com este partido.
Esta percepção resulta dos pronunciamentos dos chefes das brigadas centrais do partido às províncias sobre o anteprojecto de lei de autonomia das províncias a ser submetido pelo partido Renamo à Assembleia da República.
Recordem-se que a ideia de submissão deste instrumento resultou do encontro entre o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Macacho Marceta Dhlakama, de onde o Presidente Filipe Jacinto Nyusi conseguiu igualmente que os eleitos da Renamo para a Assembleia da República e para as assembleias provinciais tomassem posse e, consequentemente, refrear o clima de tensão instalado.
Como dizia acima, a percepção pública é de que a Frelimo não está satisfeita com os esforços do Governo tendentes à normalização da vida no nosso país. Curiosamente, este Governo é suportado pelo partido Frelimo em consequência da vitória nas eleições de 15 de Outubro passado.
Caros camaradas, não seria mais prudente deixar os quadros da Renamo trabalharem tranquilamente sobre o documento em referência e, na Assembleia da República, debaterem e até pedirem que o mesmo seja amplamente divulgado e aí desdobrarem-se em comissões de trabalho sobre o mesmo?
É que, se quisermos ser honestos, ninguém conhece ainda o teor do documento da Renamo. Acredito que o próprio partido Renamo ainda não possui esse documento como tal. Sendo assim, de que estão falando?!
Camaradas, existe aqui um atraso relativo ao envio das brigadas às províncias relativamente a esta matéria, configurando, desta forma, extemporaneidade. Se as brigadas tivessem trabalhado nas províncias enquanto decorria a digressão da Renamo e seu líder nada estaria em causa, mas tudo muda quando Afonso Dhlakama aceita o encontro com o Chefe do Estado, Filipe Nyusi, e interrompe a sua digressão pelo país e, sobretudo, quando os resultados desse encontro foram frutíferos.
Podemos considerar que esse encontro “salvou” Afonso Dhlakama de uma hipotética rebeldia dos seus deputados que já manifestavam vontade de tomar posse. Tudo bem, podemos considerar que Afonso Dhlakama “coloca” palavras na boca do Presidente da República sobre um hipotético “acordo”. Tudo bem mas, como as conversas entre ambos não foram públicas, o melhor é esperar a hora certa para agir. Infelizmente, essa paciência parece não ter havido no seio da Comissão Política do nosso partido.
Acreditem, camaradas, a acção das brigadas centrais nas diferentes províncias é muito mal vista hoje, não somente porque existe a percepção de que alguns membros da Frelimo ao mais alto nível não estão satisfeitos com a dinâmica imprimida pelo Presidente da República, no quadro do diálogo com os partidos políticos e na sociedade em geral, como existe o temor de que a atitude da Frelimo poderá conduzir-nos a uma nova guerra ou desestabilização no nosso país. A Renamo continua armada, camaradas! Este é um factor que não deve ser menosprezado quando o assunto é debater Renamo e suas propostas.
Este debate sobre as diferenças internas em relação à proposta da Renamo reacendeu um outro debate que estava, na minha opinião, adormecido, que é a propalada “bicefalia” do poder, onde pontifica a liderança do partido de onde o Presidente da República não é membro de pleno direito mas por inerência de funções.
A este propósito escrevi um artigo em 2011, antes do Congresso de Pemba, cujo título é “O meu Contributo ao X Congresso do Partido Frelimo”, tendo em conta que na altura não se levou em consideração, hoje, é difícil debater este assunto em presença de pessoas envolvidas. Na altura era fácil porque não existia a figura de Presidente da República eleito, hoje existe e é quase inegociável a passagem de pastas para o sossego dos de “dentro e de fora do partido Frelimo”, parafraseando Margarida Talapa, chefe da bancada parlamentar do partido Frelimo.
Acredito que os membros da Comissão Política do nosso glorioso e cinquentenário partido vão levar em consideração esta carta de um dos seus membros. Deixem o debate sobre o anteprojecto da Renamo para o pronunciamento da Assembleia da Repblica e, quando for publico o referido documento, poderão levar a debate interno e depois para o público em geral.
Recordem-se que a Frelimo tem responsabilidades acrescidas nos seus actos na nossa sociedade. Não é mais um partido, é o partido que libertou o país e governa desde essa altura a esta parte. Isso é muito e representa maturidade. A Frelimo é um partido sénior, e os seniores sabem a hora de se pronunciar e de contemplar …
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