sábado, 4 de agosto de 2018

Ex-padre detido por violação durante sessão de exorcismo em Fátima


Segundo a PJ, a atividade de exorcista do arguido era amplamente divulgada.
Um homem de 79 anos é suspeito de se ter aproveitado de um suposto exorcismo para violar uma mulher em Fátima. O ex-padre foi detido pela Polícia Judiciária e é também investigado pela eventual prática do crime de burla qualificada. Segundo fonte da polícia, o homem é conhecido como padre Gama.
Em comunicado, a PJ revela que o crime de violação terá ocorrido na quarta-feira. "O arguido, aproveitando a sua atividade de exorcista e explorando a fragilidade da vítima, especialmente vulnerável, constrangeu-a à prática de atos sexuais de relevo, após a ter colocado na impossibilidade de resistir." A vítima foi levada para o hospital, onde foi assistida.

O ex-padre que foi candidato autárquico

Não é a primeira nem a segunda vez que o "padre" Gama é acusado de abusos sexuais a mulheres durante sessões de supostos exorcismos, tendo sempre negado qualquer agressão - as primeiras queixas conhecidas remontam a 2004. Ao longo destes 14 anos o famoso ex-padre, afastado pela Igreja católica, continuou sempre a dar consultas em vários pontos do país, começando por Fátima.
Marcelino Humberto Gama, que segundo a PJ faz-se "ainda passar por padre", chegou mesmo a ser ordenado sacerdote em 1965, tendo pertencido à Congregação Marianos da Imaculada Conceição. Sete anos depois foi afastado, "por motivos graves", segundo a Igreja, quando se encontrava em Inglaterra, ao serviço daquela instituição. Continuou, no entanto, a usar as vestes sacerdotais - a vestir o cabeção (o colarinho branco) à volta do pescoço - e praticar ritos religiosos, algo que em 2011 a diocese de Leiria-Fátima considerou abusivo. Costumava também exibir uma foto com o Papa João Paulo II, para mostrar a sua legitimidade.
Mas a história deste antigo padre, também conhecido por Doutor Gama, começa no final da década de 30 do século passado em Trás-os-Montes. Tem direito a uma entrada no Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses, onde se pode ler que nasceu em Mascarenhas, concelho de Mirandela, "de um lar com grandes dificuldades".
Estudou no seminário, tal como o irmão mais novo José Gama, e chegou a ser ordenado. Depois do afastamento foi para os Estados Unidos, onde diz ter sido professor, e quando voltou ainda tentou uma carreira na política: foi candidato à Câmara de Mirandela no início dos anos 90, na altura como candidato independente do PS, tendo perdido para o irmão. Voltou a concorrer à presidência de uma câmara anos depois, mas desta vez em Murça e pelo CDS, duas vezes.
A certa altura começou a receber pessoas para fazer exorcismos, tendo estas histórias dado a origem a pelo menos um livro e algumas reportagens, que lhe deram notoriedade.
Em 2004 o seu nome é ensombrado por queixas de abusos, de duas mulheres e outra novamente em 2006. O Público escrevia na altura que as queixas pareciam tiradas a papel químico: depois de uma série de "consultas" iniciais para diagnosticar o problema, o tratamento teria culminado com uma sucessão de "beijos na boca", "apalpões" e a introdução "de dedos na vagina", além de outros avanços. Humberto Gama nunca se revelou incomodado, quando confrontado com estas denúncias, considerando que as queixas vinham de pessoas "malucas" e que lhe mereciam "risadas".
Segundo a PJ, o detido irá ser presente a tribunal para interrogatório judicial, com vista à aplicação das medidas de coação.

Falso padre detido por crime de violação em exorcismo em Fátima. Igreja conhecia denúncia desde 2011

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Um homem de 79 anos, antigo padre expulso em 1972 da congregação religiosa a que pertencia, foi detido por suspeitas de violar uma pessoa durante uma sessão de exorcismo. A vítima foi hospitalizada.
O crime de violação terá acontecido no passado dia 1 de agosto, em Fátima
ALBERTO PIZZOLI/AFP/Getty Images
Um homem de 79 anos foi identificado e detido esta sexta-feira por suspeitas de um crime de violação durante uma sessão de exorcismo que terá ocorrido na quarta-feira, em Fátima, informou a Polícia Judiciária, através do Departamento de Investigação Criminal de Leiria. Igreja conhecia as queixas sobre as práticas do falso padre desde 2011, altura em que fez um comunicado a sublinhar que o homem tinha sido expulso da congregação — e a expulsão foi confirmada pelo Vaticano — e suspenso das funções de padre em 1972.
O suspeito, que se fez passar por padre e exorcista, terá violado uma pessoa “especialmente vulnerável”. A vítima — cujo sexo e idade não foram revelados — não terá conseguido fugir, uma vez que terá sido colocada na “impossibilidade de resistir”.
O arguido, aproveitando a sua atividade de exorcista e explorando a fragilidade da vítima, especialmente vulnerável, constrangeu-a à prática de atos sexuais de relevo, após a ter colocado na impossibilidade de resistir”, pode ler-se no comunicado das autoridades.
Não se sabe se existem mais vítimas, mas sabe-se que o falso padre desenvolvia uma atividade de exorcista “amplamente divulgada, levandoinúmeras pessoas em dificuldades várias a consultá-lo e auspiciando uma eventual ajuda da sua parte, cobrando honorários“. O homem está, por isso, a ser investigado por uma eventual prática do crime de burla qualificada.

Homem foi expulso da congregação em 1972 “por motivos graves”

O detido é, de acordo com o Correio da Manhã, Humberto Gama, um antigo padre da congregação religiosa dos Marianos da Imaculada Conceição que foi afastado das suas funções, mas continua a intitular-se como tal e a realizar práticas de exorcismo.
Já em 2011 a diocese de Leiria-Fátima tinha publicado um comunicado, assinado pelo vigário-geral, padre Jorge Guarda, a dar conhecimento de “queixas e pedidos de informação” sobre o antigo sacerdote Marcelino Humberto Gama, mais conhecido por “padre Humberto Gama”, que chegaram ao Santuário de Fátima e à diocese “na sequência de um programa televisivo e de notícias aparecidas nos meios de comunicação social sobre as atividades de exorcismo” praticadas por ele na zona de Fátima.
Humberto Gama, que havia sido ordenado padre em 1965 num convento em Macedo de Cavaleiros, ainda foi enviado para Inglaterra, onde esteve integrado numa comunidade religiosa pertencente àquela congregação. “Mas, em 1972, por motivos graves, o governo geral da mesma Congregação demitiu-o. Esta decisão de expulsão da congregação religiosa de que era membro foi confirmada pelo Vaticano, através da Congregação dos Religiosos e Institutos Seculares”, lê-se no mesmo documento de 2011.

Título de “padre” e uso de vestes religiosas são “abusivos”

“Desde então, na Igreja Católica, não se reconhece ao senhor Humberto Gama qualquer legitimidade para as atividades religiosas ou de exorcismo que realiza, sendo abusivos o título de ‘padre’ com que se apresenta, o uso de vestes sacerdotais e a prática de ritos religiosos. É igualmente abusiva a divulgação de uma sua fotografia com o Papa João Paulo II, para tentar legitimar e provar a sua condição de padre e para servir de cartão de visita para ser contactado nos arredores de Fátima”, acrescentava na altura o vigário-geral de Leiria-Fátima.
Apesar de terem conhecimento da situação há vários anos, quer o Santuário de Fátima quer a diocese de Leiria-Fátima não podem tomar medidas relativamente ao assunto uma vez que Humberto Gama já se encontra suspenso canonicamente.
O detido irá ser presente às Autoridades Judiciárias competentes para ser interrogado. Posteriormente, ser-lhe-ão aplicadas as medidas de coação adequadas. A vítima foi hospitalizada.
Artigo atualizado às 9h58 de 4/8/2018

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