terça-feira, 21 de março de 2017

O Inimigo como Factor de Reprodução Política e Social


( E agora, o que será de nós sem inimigos? )
Ler poemas de Konstantinos Kafavis é uma experiência inolvidável. Pena que não tenha acesso a traduções em português para poder partilhar com a maioria dos meus amigos virtuais. Kafavis, nascido em Alexandria, no Egipto, aos 29 de Abril de 1863, é geralmente considerado o maior nome da poesia no idioma grego, tal como o conhecemos agora.
Li de um fôlego um conjunto de poemas, acabando por me concentrar num que vou apresentar aqui. Em espanhol. Fui parar aos poemas de Kafavis depois de passar por alguns perfis de amigos virtuais, sobretudo os que discutem assuntos políticos. Uma característica comum de todos os debates por onde passei (inseri alguns comentários em duas postagens, ambas de Marcelo Mosse), uma característica comum, dizia, são os insultos, o tom inconveniente, a intolerância e a projecção de outro como "O inimigo", em vez de adversário e parceiro.
Armando Guebuza é a principal vítima da linguagem pouco digna ou imprópria, por parte de alguns sectores. Ele é apresentado em alguns fóruns como a causa de todos os males, sendo que todas as frustrações, todos os fracassos individuais são a ele achacados. Por tabela, todo aquele que é visto como a ele "ligado" é lhe negado o direito de opinar. Trata-se dos mesmos sectores que, há mais de 10 anos, se enfrascaram numa campanha contra Joaquim Chissano e sua família, os quais eram, também, apresentados como a causa de todos os males. Lembro-me inclusivamente de um conhecido Semanário que enviou para si próprio, numa canhestra manipulação informativa, uma kangara de galinhas (parodiando um tal "Filho do Galo") com o fito de, nesses anos longínquos, ridicularizar e demonizar a então Primeira Família. Aqui a visada era a então Primeira Dama.
Afonso Dlhakama e a sua Renamo têm, também, sido vítimas de comentários e postagens intolerantes e insultuosos, que os projectam como entes que não podem querer o bem de Moçambique. Neles também se projecta a problemática crença de que quem não pensa como nós é um inimigo. De resto, se eu pretendesse estabelecer a narrativa do debate político em Moçambique, sobretudo aquele que ocorre nas redes sociais e na imprensa escrita, radiofónica e televisiva, resumi-lo-ia como um jogo de exclusão e de intolerância mútuas entre os militantes das principais forças políticas.
Assim, o nosso país torna-se numa das nações do mundo com mais inimigos. E o mais paradoxal em tudo isso é o facto de esses inimigos serem quase todos moçambicanos!
Como dizia, esta realidade opressiva ressaltou-me mais quando lia os poemas de Kafavis. O título do poema que me chamou a atenção para este fenómeno é : "Esperando a los Barbaros". Em síntese, o poema descreve uma época em que os inimigos da Grécia eram os bárbaros, os quais a qualquer momento poderiam atacar a pátria Helénica.
Os bárbaros de tanto terem sido mistificados, justificavam todos os passos que os gregos davam, todas as frustrações sociais e todos os erros que eram cometidos. Importantes sectores da sociedade grega viviam suspensos da entrada dos bárbaros na sua cidade. Era assim com os filósofos, com os donos de escravos, com os cônsules, com os pretores, com as classes nobres, com os intelectuais, com os senadores e, até, com o imperador.
Muitos destes, num dado dia, foram postar-se junto aos muros da cidade, junto ao pórtico maior, o equivalente, quiçá, ao Facebook e às redacções dos jornais de hoje, à espera da anunciada invasão. Todos aguardam ansiosamente que os bárbaros , ou seja, os inimigos cheguem. E, estranhamente, há uma desilusão geral quando esse inimigo não invade o sagrado solo pátrio! A questão que se colocava era como todos esses nobres e intelectuais passariam, daí em diante, a viver sem bárbaros? Sem inimigos!?
Quando analiso os nossos debates concluo que estamos a ser como os gregos da antiguidade clássica. Estamos a estruturar as nossas vidas em função dos bárbaros. Em função dos inimigos. Quando os inimigos habituais no futuro nos faltarem ( como os bárbaros que não chegaram) ainda corremos o risco de proceder pior que os gregos. No poema que abaixo partilho, em espanhol, estes se perguntam angustiados: "E agora, o que será de nós sem os bárbaros? "
Temo que, quando os inimigos habituais nos faltarem, e tomando em conta o facto de já não conseguirmos viver sem eles, comecemos a inventar inimigos entre nós. Inclusivamente entre os que, invariavelmente, trocam entre si "likes" nos respectivos posts.
Os que forem capazes de ler em espanhol eis, de seguida, o espantoso e significativo poema:
ESPERANDO A LOS BÁRBAROS 
- Qué esperamos reunidos en el ágora?
Es que los bárbaros van a llegar hoy día. 
- Por qué en el Senado tal inactividad? 
Por qué los Senadores están sin legislar?
Porque los bárbaros llegarán hoy día. 
Qué leyes van a hacer ya los Senadores?
Los bárbaros quando lleguen legislarán. 
- Por qué nuestro emperador se levantó tan de mañana, y está 
sentado en la puerta mayor de la ciudad sobre el
trono, solemne, 
portando la corona? 
Porque los bárbaros llegarán hoy día. 
Y el emperador esperar a ricibir 
a sua jefe. Y más aún ha preparado
un pergamino para dárselo. Allí 
les escribió muchos títulos y nombres.
- Por qué nuestros cónsules y los pretores
salieron 
hoy con sus togas púrpuras, bordadas;
por qué se pusieron brazaletes con tantos
amatistas, 
y anillos con magníficas, brillantes esmeraldas;
por qué toman hoy valiosisimos bastones
en plata y oro esplendidamente labrados? 
Porque los bárbaros llegarán hoy día; 
y tales cosas deslumbran a los bárbaros. 
- Por qué tampoco los valiosos oradores no
acuden como siempre 
a pronunciar sus discursos, a decir sus cosas?
Porque los bárbaros llegarán hoy día; 
y los aburren las elocuencias y las arengas. 
-Por qué comenzó de improviso esta inquietud
y confusión? (Los rostros qué serios que se han puesto.)
Por qué rápidamente se vacian las calles y las
plazas 
y todos regresan a sus casas pensativos?
Porque anocheció y los bárbaros no llegaron. Y unos vinieron desde las fronteras 
y dijeron que bárbaros ya no existen. 
Y ahora qué será de nosotros sin bárbaros. 
Los hombres esos eran una cierta solución.
66 comentários
Comentários
Elisabete Azevedo
Elisabete Azevedo nao te esqueças de levar o livro com os poemas:) beijo
Elisabete Azevedo
Elisabete Azevedo
Traduzido do Espanhol
Pode ser em espanhol que entendo... mas aqueles que não entendem, rogo-te que traduza ;)Ver Original
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Podria hacerlo, mi guardaespaldas, pero entiendo que no es facil traducir un poema. Hay reglas propias que no las domino. 
Yo hice lo más facil, resumir el poema en prosa, para que los hablantes de portugues sepan lo que significa esa obra. 
Me gustan leer poemas. Todavia, desconozco como se componen. La composición y la dradución son un arte.
Ver Tradução
Elisabete Azevedo
Elisabete Azevedo ora bolas! oh Dr Gabriel!! pronto ja estás com desculpas!! me gustan me gusta...te gusta... eu sei lá a diferença. só tem que soar bem:) em terra de cego quem tem olho é rei! neste caso quem sabe espanhol é rei:)
Marcelo Mosse
Marcelo Mosse Nao sei se a alegoria funciona, mas todos temos os nossos Poseidons, quando navegamos a busca das nossas Itacas.
Marcelo Mosse
Marcelo Mosse Por falar em Itaca, um trecho dela: Quando , de volta , viajares para Ítaca
roga que tua rota seja longa, 
repleta de peripécias, repleta de conhecimentos.

Aos Lestrigões, aos Cíclopes,
ao colério Posêidon, não temas:
tais prodígios jamais encontrará em teu roteiro,
se mantiveres altivo o pensamento e seleta
a emoção que tocar teu alento e teu corpo.
Nem Lestrigões nem Cíclopes,
nem o áspero Posêidon encontrarás,
se não os tiveres imbuído em teu espírito,
se teu espírito não os sucitar diante de si. ÍTACA 
Konstantinos Kaváfis
Elisabete Azevedo
Elisabete Azevedo bem assistir a conversas entre distintos moçambicanos (Gabriel e Marcelo)... é pior que tentar seguir um debate entre dois catedraticos...um declama mitologia grega o outro declama em espanhol poesia do grego-egipcio Kavafis! e ambos como se estivessem a falar sobre o tempo! vou ali tirar dois doutoramentos para vos poder ler:)
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Marcelo Mosse, se tiveres o poema dos bárbaros em português posta-o aqui. E também, como sei que és escritor, ajuda-me a explicar a minha guarda-costas (com cinturão negro para quem não sabe), a Elisabete Azevedo, que traduzir um poema não é para o meu bico.
Gostei da tua alegoria. De certo modo. Tudo depende de mantermos altivo o pensamento e também de como seleccionamos as emoções que tocam o nosso alento e o nosso corpo. 
Creio que isso que me disseste quando falávamos de Obama
Marcelo Mosse
Marcelo Mosse Kavafis (ou Kafavis) da nos panos para tecermos as mangas que quisermos...por isso, nao sei a alegoria funciona. Tudo bem. Agora o seu post tem materia factual que me toca directamente mas que esta totalmente subvertida. A forma como descreve a historia do "Filho do Galo" reproduz a mesma logica daqueles comentarios e insultos que o Gabriel Muthisse pretende denunciar.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Nada disso, Elisabete. Tive uma iniciação elementar na leitura de poemas quando estudante secundário em Cuba. E sempre gostei de ler.
Marcelo Mosse
Marcelo Mosse Longe disso, Elizabete. A culpa eh do movimento literario Xiphefo, de Inhambane, que me arregimentou para a poesia...
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Pode ser, Marcelo, do ponto onde me situava na altura, a história da kangara me pareceu manipulação. 
Se reparares, notaras que, passados uns anitos, Chissano se transformou de facínora (que nos era apresentado) a Santo. Só falta a canonização. Já não parece aquele bandido que alguma imprensa nos vendia.
Suponho que, daqui a alguns anos, o inimigo será Nyusi. E Guebuza percorrerá o caminho da santificação.
Marcelo Mosse
Marcelo Mosse Um dia contar-lhe-ei a historia da kangara e do que esteve por detras desse epiteto de o Filho do Galo, por inbox (acho que nao interessa a maioria), mas nao creio que Chissano tenha sido transformado num facinora...Chissano foi penalizada pelo comportamento do seu falecido filho Nyimpine e da antiga primeira dama. Creio que os que criticam Guebuza tem por base o seu estilo pessoal de exercicio de poder, a sua apetencia excessiva para negocios, etc
Elisabete Azevedo
Elisabete Azevedo portanto... agora os dois conseguiram tambem confundir a minha geografia!! portanto Inhambane é em Cuba? Cuba é em Inhambane? os dois gostam de poesia porque em Cuba e Inhambane gosta se de poesia!..:)tchiiiii mas pronto agora confusa em geografia, em poesia e em mitologia... deixo-vos Fernando Pessoa (alias umas frases do seu livro que mais gosto Desassossego..do Bernardo Soares)"A literatura, que é a arte casada com o pensamento, A literatura, que é a arte casada com o pensamento, e a realização sem a mácula da realidade, parece-me ser o fim para que deveria tender todo o esforço humano, se fosse verdadeiramente humano, e não uma superfluidade do animal. Creio que dizer uma coisa é conservar-lhe a virtude e tirar-lhe o terror. Os campos são mais verdes no dizer-se do que no seu verdor. As flores, se forem descritas com frases que as definam no ar da imaginação, terão cores de uma permanência que a vida celular não permite."...:) beijos aos dois
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse A poesia/literatura/arte canta o ideal da humanidade e/ou da natureza. Ela projecta uma realidade humana/natural que deveria ser a ambição de qualquer humano lutar por alcançar. Seríamos, sem dúvida, melhores a cada dia do que fomos no dia anterior. 
Eu disse uma verdade de la Palisse
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse A minha guardaespaldas está a ironizar, Marcelo. Ela conhece Moçambique tanto ou melhor que nós os dois
Elisabete Azevedo
Elisabete Azevedo Caros elefantes Gabriel Muthisse e Marcelo Mosse....como se diz por aí: quando dois elefantes lutam, o que se estraga é o capim! ;) deixo-vos assina a 'capim' Marcelo Mosse eu passo mais tempo em sofala conto por isso os kms a descer e não a subir de Maputo ( rssss) . Mas gosto sempre do detalhe nos textos do Marcelo!
Ray Fernandes Zakas
Ray Fernandes Zakas Me encantó bastnte.
Lástima que algunos no puedan leer en el idioma d Cervantes.
Ver Tradução
Julião João Cumbane
Julião João Cumbane Muito profundo este poema! O que faremos quando já não tivermos inimigos?! Não vai ocorrer que não tenhamos inimigos, Gabriel Muthisse. O que vai ocorrer é, ou pode ser, que os são inimigos de hoje sejam amigos amanhã. Esta nova "família" de amigos que eram inimigos entre si passa a identificar um novo inimigo comum. Inimigos temos que ter sempre. A nossa história de luta é que nos ajudou a construir esta ideia de que "quem não está connosco é nosso inimigo". Na minha rubrica "Pondo os pontos nos ís", pretensamente didáctica, trago uma reflexão sobre o tema "inimigo vs adversário". Incomoda, de facto, ver como estamos divididos. As forças políticas não estão a observar na íntegra as disposições da Lei dos Partidos Políticos (Lei 7/91, de 23 de Janeiro), nomeadamente as alíneas e), f), g) e h) do artigo 3 desta lei. E a sociedade civil não usa devidamente o seu espaço para concorrer para a formação da opinião pública que promova a cidadania. Está é uma situação que urge corrigir através da educação a partir de casa.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Julião João Cumbane, como ganharia o nosso país, se aprendessemos a discordar sem agredir a dignidade do oponente. 
Mesmo que a nossa cegueira de fanáticos não nos permita ver, é possível construir pontes a partir da ideia "mais absurda" do nosso adversário de debate ou político.
Julião João Cumbane
Julião João Cumbane Gabriel, esta tua intervenção nesta 'postagem' faz-me lembrar o debate sobre "associação dos empregados domésticos", no mural de Elisio Macamo (não participaei, segui com vivo interesse!) e está também alinhado com do debate corrente no mural de Calado Calachinicov. O teu ponto naquela discussão é que a sociedade tem que estar preparada para aceitar o usufruto de certos direitos. O Elisio acha que o usufruto de direitos não tem que estar indexado à essa preparação. O Carlos Nuno Castel-Branco é desta mesma opinião, a avaliar por aquilo que ele acaba de considerar as minhas ideias no mural do Calado Calachinicov, porque não concordo com Cistac (...). Para mim é interessante e incomoda que gente que não tolera outra gente se sente muito mal quando também não é tolerada. Não tenho dúvida que ganharíamos muito se aprendessemos a debater ideias e não pessoas. A questão é: como aprendermos isso?
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Caro Julião João Cumbane, há debates em que me recuso a participar. Aqueles em que os respectivos termos não estão claros. E, por iro, acaba-se promovendo o ódio étnico ou racial.
Ray Fernandes Zakas
Ray Fernandes Zakas So queria esclarecer a Elisabete Azevedo q há muitas semelhanças entre Inhambane e Cuba: ambas são terras d boa gente q fascinaram à dois navegadores ibéricos: Vasco da Gama e Cristovao Colombo.
Ambas são terras muito hospitalárias.
Manhembanas e cubanos são muito orgulhosos com suas origens, por isso é tao facil identifica-los qdo xtão fora d casa.

Não é porq eu seja simultaneamente cubano e manhembane.
Nito Ivo
Nito Ivo prontos! Começou a tentativa de "misturar" Guebuza e Chissano que obviamente não encontrará porto seguro. A forma diferenciada que o povo tratou Chissano no Estadio da Machada deixou tudo claro. Guebuza jamais terá igual tratamento. Duvido que, de boa vontade alguem o pagasse um copo de cerveja. Por outro lado duvido que alguem não pagasse uma rodada ao Chissas (quer dizer, so Guebas não pagaria a Chissano)
Brazao Catopola
Brazao Catopola infelizmente a nossa hisória-politica e cidadania confina-se a nós e eles e isso faz com que não se debata ideias e sim pessoas. faz com que os outros não pensam e são sempre errados, faz com que a gente não trate do nosso mal, mas o mal trazido por eles. Se puder ajudar para semana poderei postar dois poemas dele traduzidos em terceira via do ingles para portugues, sei que isso cria alguns vicios mas são muito bons e sempre na mesma rota. quando nós não somos eles...
Geraldo Obra
Geraldo Obra Bem aventurados os que conhecem o espanhol porque...
Jose Alexandre Faia
Jose Alexandre Faia Nao existe a possibilidade de ficarmos sem inimigos , ha de aparecer sempre um sacaninha a contrariar as expectativas e estragar o jogo..
Yussuf Adam
Yussuf Adam Gosto de ler Kawafis .... Belo texto Gabriel Muthisse. O problema e re educarmo nos para nao ver a politica como guerra.....
Marcelo Mosse
Marcelo Mosse “À Espera dos Bárbaros”, por Konstantínos Kaváfis O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.


Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloquências.
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.
Alfredo Chambule
Alfredo Chambule Será que poderemos existir neste mundo sem os nossos "bárbaros"? Em aspas porque não eram assim tão bárbaros. Lembremo-nos dos vândalos, visigodos, etc. Cada um de nós tem os seus "bárbaros" e à sua medida. Reza a história que há um imperador que foi apunhalado pelas costas. Entre este grupo estava o filho
Alfredo Chambule
Alfredo Chambule Estoicamente, o apunhalado ainda conseguiu visualisar o filho e exclamou...tu quoque, Brute!
Alfredo Chambule
Alfredo Chambule Neste sentido, meu amigo Gabriel Muthisse, prefereria terminar da seguinte maneira: "tout passe, tout casse, tout lasse et tout se replance. ", isto é, tudo passa, tudo acaba, tudo se esquece e tudo se modifica.
Marcelo Mosse
Marcelo Mosse Julião João Cumbane o post do Gabriel Muthissee nao esta nada alinhado com a verborreia do tal de debate em Calado Calashinicov...estah no seu antipodas. Eh justamente aquele tipo de posts que Muthisse quer denunciar, aquele falso debate porque tem raiz na manipulacao barata e parte de pressupostos inventados, incluindo uma patetica racializacao das coisas. Felizmente, o Carlos Nuno Castel-Branco bateu-se fortemente contra isso, se bem que eu ache que as vezes eh mesmo melhor ficar calado. E, por ultimo, convido o Gabriel Muthisse a ir ver esse post e esse "debate" aqui enaltecido por Julião João Cumbane e, por favor e se nao eh pedir muito, explique se aquilo nao se encaixa na categoria de discursos que suscitou Kavafis em si.
Julião João Cumbane
Julião João Cumbane Bom trabalho, Marcelo Mosse. Obrigado pela tradução. E obrigado Gabriel Muthisse, por esta reflexão. Este poema admite várias interpretações. A que é mais apelativa para mim é seguinte: ter "bárbaros" ( = inimigos ) é bom e é uma condição imprescendível da vida. Os "bárbaros" sempre foram uma solução. A nossa consciência sobre direitos humanos, democracia, cidadania, humanismo, solidariedade, ... evoluiu com as barbaridades dos "bárbaros". Os "bárbaros" são ,pois, uma solução! Temos é que aprender a viver esperando por eles, mas não da mesma forma como os gregos da antiguidade o fizeram, só esperando. Vamos esperar pelos nossos "bárbaros" tralhando!
Marcelo Mosse
Marcelo Mosse Nao traduzi nada...encontrei o texto sobre os Barbaros na net. Nao eh qualquer sapateiro que traduz poesia...tanto mais que nem sei falar grego.
Julião João Cumbane
Julião João Cumbane De qualquer forma, obrigado Marcelo Mosse! O Gabriel Muthisse já o dissera. Mas, podia ser que fosses capaz. De sapateiro não te reconhecemos nada, Marcelo; não eu, pelo menos!
Imtiaz Vala
Imtiaz Vala Um dos melhores Auditórios do Mundo,onde debate-se ideias sobre a Humanidade chama-se Auditório Armando Guebuza,na Biblioteca da Universidade Lusófona, Av. do Campo Grande 380-B, Lisboa,Portugal.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Fui ver o tal debate, Marcelo Mosse. Eu não participaria nele. Em primeiro lugar, eu não anatemizaria embaixadores, apenas na base de alegadas declarações de António Muhlanga. Ainda por cima não consubstanciadas. E depois, não me lembro se é o texto ou se são os comentários; racializam os problemas do país. Vi também a luta inglória do meu amigo Carlos Nuno Castel-Branco. Compreendi a sua indignação, embora eu no seu lugar nem comentasse. Julgo que aquele tipo de debates não faz bem a Moçambique
Carlos Nuno Castel-Branco
Carlos Nuno Castel-Branco Aquela gente, debate, estrutura ideológica e frustrações existem e têm de ser confrontados consigo próprios e com a sociedade. Aqui na Inglaterra, ou na França, desprezaram os neo-nazis e agora existem esses partidos da extrema direita em ascenção e mais próximos do poder do que nunca. O medo da esquerda democrática que desafia as oligarquias financeiras superou a a realidade das frustrações e da ascenção da direita populista. A cegueira é tanta que estes governos capturados pelo capital financeiro preferem a ameaça do fascismo à esperança da que a esquerda democrática abre. Em Moçambique não podemos desprezar esse lumpen ideológico que existe em todos os partidos e na sociedade. Como dizia Samora, e Mao antes dele, e algum outro génio militar antes de Mao, podemos desprezar o "inimigo" estrategicamente, mas nunca tacticamente - note-se que pus inimigo entre aspas. A citação inclui "inimigo e mantive a palavra para manter a sua autenticidade.
Carlos Nuno Castel-Branco
Carlos Nuno Castel-Branco A propósito da citação que fiz no post acima, e só como pedaço de história, lembro-me que, em 1981, numa grande reunião da defesa (eu ainda estava nas FPLM), o velho, saudoso, meu amigo Sigauque, homem de grande integridade, coragem e inteligência, apontou o dedo à direcção do MDN e ao próprio comandante em chefe e disse que eles haviam violado a lei número 1 da guerra, desprezando tacticamente o inimigo, e por isso a guerra continuava a desenvolver-se.
Julião João Cumbane
Julião João Cumbane Pela primeira vez, discordo completamente contigo, Gabriel Muthisse! Não há debates inúteis. Mesmo que o tema em debate não tenha mérito, pelo menos aprendemos isso. Só o facto de teres passado por lá para ver o que está a acontecer, ensinou-te alguma coisa. Tens a opinião que tens formada sobre aquele 'post' graças a esse ensinamento. Logo, de alguma forma foi útil passares por lá. Também não concordo com a imposição implícita de parâmetros de análise a quem decidiu participar. Não creio que a participação do Carlos Nuno Castel-Branco naquele "debate" tenha sido uma "luta inglória". Esta opinião pode ser interpretada como minimização de todos os que decidiram participar naquele debate, e dai virar um ataque a pessoas e, pior, por alguém que decidiu livremente não participar no debate. Definitivamente, não é correcto! Deliberada ou inadvertidamente, cometemos várias vezes este tipo de erro de emissão de opinião: impomos, minizamos, coarctamos, enquanto dizemos que não estamos a fazer isso. Eu próprio que a dizer isto já me surpreendi a ser a cometer o mesmo erro. Não podemos estar atentos a tudo, até que os outros nos digam que estamos a faltar atenção a alguma coisa. Como disse ao Marcelo Mosse noutro lugar, esta é apenas uma observação minha, reconhecendo, porém, que não sou o dono da verdade.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Julião João Cumbane, tenho direito de escolher os debates em que participo. Decidi não participar em debates que, claramente, e sem esforço de consubstanciacão atacam embaixadores. Repito, sem exibir provas. E, ainda por cima, levam a que se ataquem oponentes em função de raça, de credo, de orientação sexual ou de etnia.
Não condene quem participou desse debate. Disse simplesmente que eu não participaria. E eu não pretendo ser a medida de todas as coisas. 
De resto, Carlos Nuno deu as razões, válidas, de porque participou.
Crisólogo Marqueza
Crisólogo Marqueza Concordo com o ilustre Gabriel Muthisse, pela liberdade de expressão e escolha que temos, podemos decidir em participar ou não de certos debates, também temos que considerar que debate e confusão são coisas diferentes. O chato é quando deixamos de debater ideias e passamos a debate pessoas, o que certamente gera confusão. 
Seria muito bom, se tivessemos que discordar com uma ideia do nosso opositor sem arrogancia, sem uso de palavras pejorativas, lhe fazendo perceber a outra face dos factos de boas maneiras!
Julião João Cumbane
Julião João Cumbane Não se resolvem os problemas por ignorarmos aqueles que fazem/dizem o que não gostamos. A opção de entrar num debate deve ser pessoal e soberana. Feita no silêncio até é mais elegante. Mas quando a decisão de não entrar num debate subalterniza o quem entra—mesmo implicitamente, por exemplo, com expressões como 1. «o post do Gabriel Muthissee nao esta nada alinhado com a verborreia do tal de debate em Calado Calashinicov...estah no seu antipodas.» (sic); 2. «falso debate» (sic); 3. «manipulacao barata» (sic); 4. «pressupostos inventados» (sic); 5. «patetica racializacao» (sic); 6. «se bem que eu ache que as vezes eh mesmo melhor ficar calado» (sic); 7. «esse "debate" aqui enaltecido por Julião João Cumbane» (sic); 8. «Fui ver o tal debate, Marcelo Mosse. Eu não participaria nele.» (sic); 9. «Vi também a luta inglória do meu amigo Carlos Nuno Castel-Branco. Compreendi a sua indignação, embora eu no seu lugar nem comentasse. Julgo que aquele tipo de debates não faz bem a Moçambique» (sic)—o assunto toma outra figura. Quem decide não se meter num assunto, que o faça sem depreciar quem decide se meter. As expressões de citei acima (as primeiras sete da autoria de Marcelo Mosse e as últimas duas de Gabriel Muthisse), encerram depreciação profunda a quem decidiu participar no chamado "falso debate" no 'mural' de Calado Calachinicov. Eu protesto contra isto! Na primeira citação neste comentário, o Marcelo Mosse expressa-se como se fosse o DONO DA VERDADE, esquecendo-se de que um texto literário, como é um poema, admite várias interpretações. Até pede ao Gabriel Muthisse para «explicar se aquilo nao se encaixa na categoria de discursos que suscitou Kavafis em si» como se a interpretação do solicitado para explicar fosses a única possível. No texto principal desta 'postagem' talvez o seja, mas há lugar, no decurso do debate, para se exporem outras leituras. Enfim, os comentários de Marcelo Mosse, Gabriel Muthissel e, sobretudo, de Carlos Nuno Catel-Branco, estão viciados dos mesmos erros que eles denunciam na 'postagem' de Calado Calachinicov, designadamente ATAQUE A PESSOAS. A única diferença é que, desta vez, as pessoas visadas já não são embaixadores, mores académicos, eruditos, brancos. Eu protesto contra isto, também! Como se pode ver, todo o esforço que se para se ser imparcial acaba fazendo quem o exercita a resvalar inevitavelmente na parcialidade. Ninguém é dono da verdade; ninguém é perfeito; ninguém é melhor que todo o mundo. Se alguém decide não participar num debate, não há-de ser porque o debate é falso, patético, irracional, manipulação barata, xenófobo (racita, tribalista), ou algo assim negativo; ha-de ser por o tema não do seu interesse. Ou seja, não chamemos nomes—nem de forma implicita—aos que não pensam como nós; não é elegante! E isto aprendi convosco, caros amigos!
Julião João Cumbane
Julião João Cumbane «Seria muito bom, se tivessemos que discordar com uma ideia do nosso opositor sem arrogancia, sem uso de palavras pejorativas, lhe fazendo perceber a outra face dos factos de boas maneiras!» (sic). Crisólogo Marqueza, o facto é que o teu opositor vai atirando com tudo o que estiver a seu alcance contra ti. Se só te defendes e não o obrigas a para de atirar contra ti, ele não vai para até te derrubar. A solução para sobreviveres, meu caro, é contra-atacares. Quem ignorar esta regra primária da guerra é irresponsável com a sua vida e está a condenado a perecer prematuramente.
Geraldo Mandlate
Geraldo Mandlate Muito interessante. Sao ensinamentos da vida e da nossa vida. Obigado Dr. Gabriel. Gostei tambem de alguns comentarios do Julião João Cumbane e de outros que deixaram suas opinioes. A nossa historia e educacao patiotica nao nos deixa ver o mundo de outra maneira. Tipo, 'se näo estás connosco, estás contra nós' e pronto , näo ha mais nada a dizer ou fazer. É só punicao, condenacao do inimigo que está contra nós. Infelizmente, individuos, organizacoes e instituicoes ( publicas ou privadas) agem assim. Este é o 'NOSSO LEGADO" . É por isso todo mundo , nao interessa o nivel de escolarizacao, comete este 'gafe" de personalizar o problema e ver o problema como coisa do individuo tal que é inimigo de tudo e dectodos. Por exemplo, os criticos podia ser visto como actos, intecoes, factos a discutir que sejam de PRESIDENCIA , e nao necessariamente o o PR que é o problema. Assim , nao teriamos nenhum PR mau e quando passa a ex-PR ser santo. o PR tambem chamou aos SEUS CRITICOS de APOSTOLOS DE DESGRAÇA (inimigos da patria). Certo. SOMOS TODOS PRODUTO DA MESMA ESCOLA, indepefndentemente da geracao a que pertence. E agora, sera que o ex- PR, vai continuuar a ter 'APOSTOLOS DE DESGRAÇA) ? Acreditto que nao. Até é possivel ser aliado deles para criticar o inimigo de hoje que era o amigo de ontem.
Gabriel Muthisse
Gabriel Muthisse Eu já expliquei, amigo Cumbane, em que debates não participo. O facto de eu não participar não significa que Cumbane não o possa fazer. Atacar embaixadores com base em alegadas (não provadas) declarações de Antonio António Muhlanga não me parece (a mim!!!!) responsável. Mas pode ser que para alguns isso não seja problema. Sugerir que "as más" opiniões de nossos adversários o sao sao por eles serem brancos, ou pretos, ou mestiços, me parece não fazer bem ao país. Pode ser que para alguns isso também não seja problema. Sugerir que determinadas pessoas quando enriquecem, em função da sua raça, unicamente por isso, só podem ser ladrões ou corruptos não me parece boa base para debate. Posso até me indignar. Mas debater, não! Mas Cumbane, querendo, pode debater e entreter esse tipo de textos. Que, a prazo, até prejudicam o teu Partido. Aliena possíveis apoiantes, que se podem sentir repelidos pela sua raça, pela sua orientação sexual, pela sua etnia e, até, pela sua nacionalidade.
Julião João Cumbane
Julião João Cumbane "Message taken", Gabriel Muthisse. Só que infelizmente para nós que destestamos a discriminação, ela (a discriminação) existe e se manifesta entre nós. Somo todos vítimas da discriminação todos os dias. Temos é que aprender a viver lutando constantemente contra este mal social. Não sejemos como eles, sejamos nós! De facto, quanto mais diverso o partido for, mais forte e dinâmico será.
Sancho Alfredo
Sancho Alfredo Está aqui a tradução. O que esperamos na ágora reunidos? É que os bárbaros chegam hoje. Por que tanta apatia no senado? Os senadortets não legislam mais? É que os bárbaros chegam hoje. Que leis hão de fazer os senadores? Os bárbaros que chegam as farão. Por que o imperador se ergueu tão cedo e de coroa solene se assentou em seu trono, à porta magna da cidade? É que os bárbaros chegam hoje. O nosso imperador conta saudar o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe um pergaminho no qual estão escritos muitos nomes e títulos. Por que hoje os dois cônsules e os pretores usam togas de púrpura, bordadas, e pulseiras com grandes ametistas e anéis com tais brilhantes e esmeraldas? Por que hoje empunham bastões tão preciosos de ouro e prata finamente cravejados? É que os bárbaros chegam hoje, tais coisas ose deslumbram. Por que não vêm os dignos oradores derramar o seu verbo como sempre? É que os bárbaros chegam hoje e aborrecem arengas, eloqüências. Por que subitamente esta inquietude? (Que seriedade nas fisionomias!) Por que tão rápido as ruas se esvaziam e todos voltam para casa preocupados? Porque é já noite, os bárbaros não vêm e gente recém-chegada das fronteiras diz que não há mais bárbaros. Sem bárbaros o que será de nós? Ah! eles eram uma solução. Por Reinaldo Azevedo
Sancho Alfredo
Sancho Alfredo Concordo com Carlos Nuno quando diz que podemos desprezar o inimigo estrategicamente mas nunca tacticamente. Maa enquanto o inimigo nao estar organizado será desprezado.
Fernando Costa
Fernando Costa Vive-se história. Mesmo com os debates extremadaos, emerge uma nova ordem. A da tolerância consubstanciada nestes comentários, onde a inteligência se sobrepõe à barbárie. 
Parabéns. O bem terá forçosamente de vencer o mal. 
Eu acredito!
Manuel Dionisio
Manuel Dionisio Esta forma de pensar justifica-se na teoria d jean bodin 2o a qual, o inimigo externo fortifica a uniao interna dentro do Estado. Temos que encontrar um inimigo externo pra preservarms a paz e unidade nacional em Moz, se nao vamos nos comer vivos...
Frelimo Aveiro Portugal
Frelimo Aveiro Portugal Só assim a FRELIMO torna-se cada vez mais forte. Obrigado camarada Gabriel Muthisse, siga em frente com os seus brilhantes pontos de vista e não rebaixe so para agradar aqueles que as suas agendas desconhecemos. Recordar que os mesmos já tentaram separar o Presidente Guebuza da sua governação e do Partido e hoje tentam fazer o mesmo com o Presidente Nyusi e com a FRELIMO
Sergio Baloi Sergio
Sergio Baloi Sergio dr meu carro amigo, uma das pessoa mais respetado de mocabique ,eo pesso q as pessoas q mandarao msg te faltarao a verdade, o tomais nao foucou dr muthsse como , dr esta pensado nao deseu tao baxo como dr podes referir, apenas eli disse q a pessoas tem trado chefi de estado como si fosse uma pessoa qualquer nao dando o devido respeito como deve ser nao foucou dr como se dr muthsse tabem estivessi neste gropo de pessoas.
Sergio Baloi Sergio
Sergio Baloi Sergio issto vai animar o debate esta aberto
Arnaldo Tembe
Arnaldo Tembe O Alfredo Chambule recordou me uma de de um general alemao em plena preleccao aos seus subalternos, ao apresentar o seu capacete com incontaveis marcas de balas, perguntou: Quem sabe me dizer qual eh a percentagem de balas no meu capacete vindas do inimigo? Uma vesz que ninguem acertou, a resposta premptoria foi: 90% veio da ala amiga!!! Problemas de estrategia de comunicacao interna podem dar nisso ai.

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