O Dom Dinis Sengulane tinha razão. Ao contrário da má língua, suas orações até podiam ter efeito. Agora que entramos aceleradamente em Fevereiro, cada vez mais pensamos no pior que pode acontecer. E o pior é não chover lá na Suazilândia para alimentar o Umbeluzi. A solução Corumana só no final do próximo ano. Há dias conversei com nosso guru das águas, o catedrático Carmo Vaz. O cenário é horripilante. Então eu vejo que uma das soluções é metermos uma cunha lá em cima.
Minha fé diz que sim. Rezar e orar para o milagre distante é pão de cada dia. Nós oramos e fazemos preces para tudo. Para subir na vida, para casar, para ter de volta o amor perdido. Então porquê que não orar para que chova? A laicidade do Estado não elimina nossa religiosidade. Dom Sengulane tentou uma cunha divina e foi vilipendiado.
Outra via seria phatlhar. O presidente Nyusi orientar um muphatlho. Rogarmos aos nossos antepassados para que chova já. O Estado é useiro e vezeiro dessa praxis quando se inaugura uma obra pública e não seria herético se ela fosse usada para nos safar dum dilema colectivo.
Mas certo, certo é mesmo uma prece urgindo intervenção celestial. Uma procissão pode servir. Dom Dinis Sengulane tinha razão. Pois não seria a primeira vez. No Brasil, depois de uma seca profunda que atingiu o lugar de Ilhéus no interior da Bahia, a cidade toda andou em procissão e resultou. Foi nos idos anos de 1925. Não chovia há anos e estavam em causa as plantações de cacau, das quais dependia a sobrevivência dos locais, dos donos das roças “nas terras adubadas com cadáveres e sangue”. Se não chovesse, seria o caos. E todo o mundo saiu à rua.
E resultou. As preces salvaram a safra. Mas o problema é que as chuvas se prolongaram por dias e dias e dias... A oferenda divina foi demasiada.
Querem saber o que aconteceu para as chuvas pararem? Leiam Gabriela Cravo e Canela, a obra seminal de Jorge Amado. A estória de Ilhéus enreda sua monumental ficção. Não sei o que aconteceria se a prece de Dom Sengulane, turbinada por uma procissão de maputenses e matolenses, desse certo. E se chuvesse imparavelmente?
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