quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Retrospectiva 2016 - Junho


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Destaques - Nacional
Escrito por Redação  em 03 Janeiro 2017
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Em Junho, os moçambicanos foram surpreendidos com os acontecimentos relacionados com descobertas de corpos abandonados no Centro do país, aumento das taxas pelo Banco de Moçambique, tendo encarecido crédito bancário para a população, e os casos de morte de albinos com o envolvimento de médicos tradicionais.
Mais corpos encontrados ao abandono no centro de Moçambique
Após as autoridades moçambicanas terem mandado enterrar mais de uma dezena de corpos encontrados no distrito de Macossa, na província de Manica, sem realizar autópsia, nem apurar a identidade das vítimas e tão-pouco as causas da morte, mais cinco corpos foram achados “ao abandono na mesma região, por um grupo de jornalistas da France Presse (AFP) e Deutsche Welle (DW), aumentando para vinte o número de cadáveres ali descobertos”, e sobre os quais tem havido bastante ruído.
Informações postas a circular por vários órgãos de comunicação social nacional e estrangeira dão conta de que ao todo foram encontrados 15 corpos, em Maio último, e sepultados sem autópsia alegadamente porque estavam em avançado estado de decomposição. Contudo, mais tarde, o Governo veio a público afirmar que em Macossa foram encontrados 13, para na semana finda aparecer com uma nova versão de que eram 11.
Em relação aos últimos cadáveres, segundo a AFP, "a partir da berma da estrada”, um cheiro forte infestava as proximidades. Trata-se, por sinal, do “local onde há um mês já tinham sido identificados pela Lusa e DW quatro cadáveres abandonados no mato”, esclarece a agência portuguesa de informação, que o Ministério da Justiça Assuntos Constitucionais e Religiosos pondera incriminar por ter veiculado, em primeira mão, a notícia sobre uma presumida existência da vala comum no posto administrativo de Canda, distrito de Gorongosa, província de Sofala.
"Na Zona 76, o suposto local da vala comum, todos têm muito medo de falar sobre isso", prossegue o texto da AFP, recordando que as autoridades moçambicanas negaram a denúncia feita pelos camponeses, de acordo com a Lusa. Refira-se que Édson Macuacua, presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e Legalidade da Assembleia da República (AR), disse a jornalista em Sofala que das investigações feitas concluiu-se que de forma “forma categórica, inequívoca e definitiva que não há uma vala comum em Canda".
Por sua vez, o secretário-geral da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), Fernando Faustino, deixou transparecer que se dependesse de si o delegado da Lusa, Herinque Botiquilha, arrumaria "as suas malas e sair de Moçambique", por ter veiculado que existe uma vala comum com 120 corpos em Gorongosa.
Quem não quis ficar atrás é também a governadora de Sofala, Helena Taipo, ao considerar que aquele órgão de comunicação social denegriu a imagem de Sofala, tendo sugerido que indicasse as suas fontes, o que é contra o preceituado na Lei de Imprensa moçambicana e demais normas que impõem a preservação das fontes.
Aliás, as autoridades moçambicanas, sobretudo a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e Legalidade da Assembleia da AR parecem ter esquecido de que a cadeia de televisão internacional Al-Jazeera também difundiu o mesmo assunto e deslocou-se ao sítio onde foram localizados cadáveres abandonados e, três semanas após terem sido descobertos, ainda havia restos humanos à superfície, segundo indicou a Lusa.
As imagens da reportagem da Al-Jazeera mostraram vestígios dos cadáveres visíveis, incluindo uma caveira e larvas sobre restos humanos. “Apesar de as autoridades moçambicanas terem anunciado que os corpos foram enterrados, as imagens exibem uma sepultura colectiva feita com uma pequena camada de terra sobre cadáveres, sem os tapar por completo”.
Banco de Moçambique volta aumentar taxas encarecendo o crédito
O Banco de Moçambique decidiu, como forma de conter a inflação, que entre Janeiro e Maio subiu 8,47%, “continuar com a postura restritiva da política monetária, tendo deliberado aumentar as taxas de juro das Facilidades Permanentes de Cedência e de Depósito”. É a sexta vez, em nove meses, que a decisão repete-se em contramão do discurso do Governo, que apregoa que “o País precisa de produzir e crescer”. “Ao restringir o acesso a capital, a política monetária poderá agir contra a diversificação, a articulação e o alargamento da base produtiva”, explica o Instituto de Estudos Sociais e Económicos numas das suas publicações mais recentes, análise similar faz a Confederação das Associações Económicas que considera que estas decisões estão a contribuir para o encarecimento do crédito, para o aumento dos custos de produção, vão resultar no aumento dos preços para os consumidores e a inflação continuará a crescer.
Um comunicado do Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique (BM) informa que após reunir na sua sexta sessão ordinária de 2016, onde “avaliou o comportamento recente dos principais indicadores macroeconómicos do país, as projecções de inflação de curto e médio prazos, bem como os desenvolvimentos recentes da conjuntura económica doméstica e internacional(...) considera importante continuar com a postura restritiva da política monetária, tendo deliberado(...) Reforçar a intervenção nos mercados interbancários de modo a garantir que o saldo da Base Monetária para Junho de 2016 esteja em linha com a previsão de 68.000 milhões; Aumentar a taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência de liquidez em 150 pb para 14,25%; Aumentar a taxa de juro da Facilidade Permanente de Depósitos em 150 pb para 7,25%; e Manter o Coeficiente de Reservas Obrigatórias em 10,5%, para os passivos em moeda nacional, e em 15%, para os passivos em moeda estrangeira”.
Estas taxas de referência que estiveram estáveis nos últimos cinco anos começaram a ser agravadas pelo Banco Central em Outubro de 2015, aumentando sucessivamente nos dois meses seguintes. Antes do aumento anunciado nesta segunda-feira o BM aumentou as também chamadas taxas directoras em Fevereiro e em Abril de 2016.
“(... ) A leitura da conjuntura pode levar a pensar que o aumentos das taxas de referência pode resolver a situação mas com uma análise aprofundada percebe-se claramente que esta situação não vamos resolver nem com uma taxa de referência a 40%. Se não encontrarmos outras medidas a nível da política fiscal, a nível das políticas agrárias nós não vamos conseguir ultrapassar isto”, disse ao @Verdade Eduardo Sengo, porta-voz da Confederação das Associações Económicas de Moçambique.
Médicos tradicionais moçambicanos negam envolvimento no terror contra albinos
A Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique (AMETRAMO) e Medicina Alternativa vieram a público negar o seu envolvimento no rapto e assassinato de albinos, supostamente para fins de obscurantismo, e alegou que o problema estar relacionado com "muitas medicinas emergentes" e proliferarão de "praticantes estrangeiros" em Moçambique, facto que "não conseguimos controlar".
As práticas e métodos dos médicos tradicionais estrangeiros são desconhecidos, o que não permite perceber como actuam, disse Azevedo Baptista, porta-voz daquelas agremiações, ajuntando que "o que está claro é que a medicina tradicional moçambicana" não recorre a nenhum órgão humano para curar, enriquecer, nem para qualquer outra finalidade.
Desde que a onda de sequestro a assassinato de pessoas com problemas de pigmentação da pele ganhou contornos alarmantes no país, o trabalho dos médicos tradicionais passou a não ter credibilidade, na óptica da fonte.
De acordo com Azevedo Baptista, o descrédito do trabalho da AMETRAMO acentuou-se quando os médicos estrangeiros recorreram à distribuição de panfletos e a outras formas de publicidade dos serviços como estratégia para angariar a clientela.
A agremiação disse ainda, em conferência de imprensa, que o desejável era que qualquer médico forasteiro que chegassem a Moçambique a contasse ou o Instituto da Medicina Tradicional para se informar, porém tal não acontece. Azevedo queixou-se ainda do facto de os médicos em questão apresentarem documentos emitidos pelas nossas autoridades municipais e distritais sem o parecer da AMETRAMO.
Como forma de ultrapassar a situação, a classe é pela aprovação urgente da proposta de criação do Conselho Nacional de Medicina Tradicional, cujo documento encontra-se nas mãos do Governo.
Em alguns países africanos, há crenças bastante fortes em torno dos "milagres" proporcionados pelos órgãos dos albinos para uma suposta cura de determinadas enfermidades ou enriquecimento. No Malawi, por exemplo, o tribunal supremo local proibiu, desde o início do ano em curso, qualquer prática de bruxaria no país para tentar pôr fim à onda de ataques contra as pessoas problemas de pigmentação da pele. Naquele país, os albinos são assassinados e mutilados para se utilizar partes do seu corpo em certos rituais tradicionais relacionados ao obscunratismo.
Em Moçambique, os tribunais judiciais do Niassa, Cabo Delgado, Nampula e Tete condenaram alguns cidadãos a penas que variam de 21 a 40 anos de cadeia efectiva por tentativa rapto, sequestro, assassinato e esquartejamento de albinos.
Contudo, estas medidas parecem não dissuadir os malfeitores, pois a 05 de Junho corrente, uma criança do sexo masculino, de seis anos de idade, que em vida respondia pelo nome de Faztudo Filipe, foi raptada, morta e esquartejada na cidade de Chimoio, província de Manica.
O que as autoridades ainda não conseguiram em relação a este problema, é prender os mandantes que, certamente, continuam ao fresco e aptos para fazer mais vítimas.

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