terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Subiu para oito o número de membros do Colégio Eleitoral que informaram que vão votar contra a decisão do voto popular dos seus respetivos estados nas eleições norte-americanas de 8 de novembro.

CASA BRANCA 2016

Republicano do Colégio Eleitoral recusa votar em Donald Trump

Num texto do The New York Times, Christopher Suprun recorre a textos escritos pelos pais fundadores dos EUA para sustentar a sua decisão, dizendo que Presidente não pode ser demagogo e influenciável.
Os resultados das eleições de 8 de novembro apontavam 306 votos do Colégio Eleitoral para Donald Trump
Brian Blanco/Getty Images
Subiu para oito o número de membros do Colégio Eleitoral que informaram que vão votar contra a decisão do voto popular dos seus respetivos estados nas eleições norte-americanas de 8 de novembro. Ao todo, o Colégio Eleitoral tem 538 membros.
O oitavo “eleitor infiel” (faithless elector, em inglês) chama-se Christopher Suprun, era bombeiro em Nova Iorque na altura dos atentados de 11 de setembro de 2001 e vive neste momento em Dallas, no Texas. Suprun faz parte do Colégio Eleitoral na qualidade de eleitor do Partido Republicano. Porém, desta vez recusa-se a votar no candidato republicano, Donald Trump. A votação final está agendada para 19 de dezembro, que é para quando está agendada a votação dos 538 eleitores do Colégio. Tradicionalmente, esta votação é apenas uma formalidade. Porém, Suprun está decidido a contrariar isso.
Num texto publicado no The New York Times, Suprun cita um dos textos incluídos nos Federalist Papers (escritos entre 1787 e 1788 por Thomas Madison, Alexander Hamilton e John Jay em 1787 e 1788 e que serviram para promover a aprovação Constituição dos EUA) para referir que não pode ajudar a eleger um candidato inexperiente, demagógico e influenciável por países estrangeiros.
Em 2004, um membro do Colégio Eleitoral no Minnesotta não votou em John Kerry, escolhido naquele estado, e escolheu antes John Edwards. Logo na altura, pensou-se que o eleitor tinha feito confusão — Edwards era o candidato a vice-Presidente de Kerry. (LUKE FRAZZA/AFP/Getty Images)
Em 2004, um membro do Colégio Eleitoral no Minnesotta não votou em John Kerry, escolhido naquele estado, e escolheu antes John Edwards. Logo na altura, pensou-se que o eleitor tinha feito confusão — Edwards era o candidato a vice-Presidente de Kerry. (LUKE FRAZZA/AFP/Getty Images)
“O [texto] Federalista 68 dizia que o Colégio Eleitoral devia determinar se os candidatos são qualificados, se não estão comprometidos com demagogia e se são independentes de influência estrangeira”, escreve Suprun. “O senhor Trump demonstra-nos ocasião atrás de ocasião que ele não preenche esses requisitos. Tendo em conta as suas declarações públicas, não é claro como é que o Colégio Eleitoral pode ignorar esses problemas, e por isso devia rejeitá-lo.”
Suprun é republicano e chega a citar o exemplo de George W. Bush, que refere como um homem “imperfeito” que ainda assim foi capaz de liderar os EUA “durante os dias trágicos que se seguiram aos ataques” do 11 de setembro. “Essa foi a última vez em que me lembro de ver a nação unida. Eu vejo que o senhor Trump falha em unir a América e cria uma divisão entre nós.”

Há leis para impedir os “eleitores infiéis”?

Ao todo, 29 estados norte-americanos têm leis que obrigam os seus eleitores no Colégio Eleitoral a votar de acordo com o voto popular desse estado. Quem desrespeitar essas regras pode ser sujeito a multas ou outro tipo de penalizações. No Texas, nenhuma destas leis existe e não há nenhum impedimento legal de os eleitores do Colégio Eleitoral irem contra o voto popular na altura de elegerem o Presidente dos EUA.
A última vez que alguém tomou uma posição semelhante foi em 2004, quando um eleitor do Minnesotta, onde tinha vencido candidato John Kerry, depositou o seu voto em John Edwards. Mais do que uma tomada de posição, pode ter sido um erro — John Edwards era o candidato a vice-Presidente de John Kerry, o que pode ter causado alguma confusão na altura do voto.
De acordo com o The Guardian, o número anunciado de “eleitores infiéis” nestas eleições presidenciais é de oito. Suprun é o primeiro republicano a tomar esta decisão. Até agora, os outros casos diziam respeito a eleitores ligados ao Partido Democrático que, numa tentativa de evitar uma eleição de Donald Trump, querem escrever no boletim de voto o nome de um candidato republicano alternativo.
Muito dificilmente esta tomada de posição terá algum efeito no resultado final das eleições. Os resultados provisórios das eleições de 8 de novembro dão 306 votos do Colégio Eleitoral a Donald Trump e apenas 232 a Hillary Clinton. Para ser eleito, um candidato precisa de chegar aos 270 votos.

“Mais de 99%” dos membros do Colégio Eleitoral seguem voto popular

“Hoje em dia, é raro os eleitores não terem em conta o voto popular ao votarem por alguém que não é o candidato do seu partido”, lê-se no sitedo National Archives and Records Administration, um órgão do Governo dos EUA. “Os eleitores do Colégio Eleitoral geralmente têm uma posição de liderança no seu partido ou foram escolhidos em reconhecimento de anos de serviço leal ao partio. Ao longo da história do país, mais de 99% dos eleitores votaram conforme o seu juramento.”
Suprun fez um juramento ao Partido Republicano, mas agora diz que não lhe deve nada. “Eu dei inúmeras horas da minha vida para servir o partido de Lincoln e para eleger os seus candidatos. E eu vou dar muitas mais para ser mais fiel ao meu partido do que alguns que estão na sua liderança. Mas eu não devo nada a nenhum partido. Eu tenho um dívida para com os meus filhos, a quem tenho de deixar uma nação em que eles podem confiar.”
No final do texto, Suprun adianta que vai votar em John Kasich, o governador do Ohio que, apesar da fraca prestação, foi o último a desistir das primárias do Partido Republicano frente ao sucesso de Donald Trump.

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