segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Até onde chega a mão de Vladimir Putin?


Até onde chega a mão de Vladimir Putin?

19 Dezembro 2016116
Nos EUA, a Rússia terá ajudado a eleger Trump. Em França, os dois principais candidatos presidenciais são pró-Moscovo. E há ainda a Bulgária e a Moldávia. E a Síria. Até onde vai o poder de Putin?
Foram vitórias atrás de vitórias. O ano de 2016 foi quase perfeito para Vladimir Putin. Com o resultado do referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, o bloco de até agora 28 nações ficou mais frágil e incerto. A ajudar a isso, está a consolidação do poder de Viktor Orban na Hungria; o referendo holandês que resultou num “não” à aproximação da União Europeia à Ucrânia; a vitória eleitoral dos candidatos pró-russos nas eleições presidenciais da Bulgária e da Moldávia; o facto de os dois principais candidatos às eleições de 2017 em França, Marine Le Pen da Frente Nacional e François Fillon d’Os Republicanos, serem pró-Rússia; e o domínio do exército do regime de Bashar Al-Assad numa guerra que lhe escapava por entre os dedos até Moscovo ter entrado na equação.
E, claro, a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA — um soco em cheio no statu quo da política norte-americana que foi sentido um pouco em todo o mundo.
“Este ano, as estrelas estiveram todas alinhadas a favor de Vladimir Putin”, diz ao Observador Alex Gorbatchev, jornalista que escreve sobre a política internacional do Kremlin para o jornal Nezavisimaya Gazeta.
Terão sido as estrelas que se alinharam por si só e Vladimir Putin tratou de aproveitar a sorte? Ou será que o braço do Presidente da Rússia é tão longo que, a partir do seu cadeirão no Kremlin, conseguiu arrumá-las a seu gosto e tirar partido disso?
"O senhor Putin quer enfraquecer os EUA e a Europa."
Barack Obama, Presidente dos EUA
Em Washington, entre aqueles que fazem parte do statu quo que agora está prestes a deixar os lugares vagos, são muitos os que acreditam na segunda hipótese. Por trás desta ideia está a divulgação seletiva de emails que pertenciam à presidente do Comité Democrata Nacional (a cúpula do Partido Democrata) e ao diretor de campanha de Hillary Clinton. Os emails — alguns deles comprometedores — foram tornados públicos pela WikiLeaks, mas o conjunto de 17 organizações norte-americanas de serviços secretos e intelligence afirmou que, “tendo em conta a amplitude e sensibilidade desses esforços, só os agentes mais graduados da Rússia é que poderiam ter autorizado estas atividades”.
Hillary Clinton já falou abertamente sobre a questão, acusando Putin de ter influenciado as eleições, motivado por “um problema pessoal” que o líder russo tem desde que acusou a democrata de estar por trás de uma série de manifestações anti-Putin que começaram no inverno de 2011 — altura em que Hillary Clinton era Secretária de Estado. “Isto não é apenas um ataque contra mim e a minha campanha, embora também tenha ajudado. Isto é um ataque contra o nosso país”, acrescentou.
No seu primeiro mandato, Barack Obama tentou fazer um "reset" da relação dos EUA com a Rússia. A guerra na Síria e a anexação russa da Crimeia travaram o processo (JEWEL SAMAD/AFP/GettyImages) 
No mesmo dia, poucas horas depois, falou Barack Obama. Apesar de ter dito que ainda está uma investigação em curso, o Presidente dos EUA disse estar “muito confiante” de que a Rússia esteve por trás daqueles dois ataques informáticos. E apontou o dedo diretamente a Vladimir Putin: “Não há muito que aconteça na Rússia sem Vladimir Putin. Há todo um sistema hierárquico e, tanto quanto sei, lá não há muito debate nem deliberação democrática, sobretudo quando se trata de políticas dirigidas aos EUA. Nós já dissemos e eu confirmei que isto aconteceu junto dos níveis mais altos do Governo russo”.
Perante as acusações que formaram durante a semana, o porta-voz de Vladimir Putin, Dimitry Peskov, disse que elas eram “um disparate ridículo”. “É preciso que, ou parem de falar sobre isto, ou então apresentem finalmente algumas provas. Caso contrário, isto parece tudo muito indecente”, disse a jornalistas em Moscovo. E Donald Trump continuou a negar no Twitter que a Rússia esteve por trás do ataque informático — tudo isto dias antes de ter nomeado Rex Tillerson, CEO da Exxon e homem de negócios medalhado por Vladimir Putin, para dirigir a diplomacia dos EUA. “Se a Rússia, ou outra entidade, estava a fazer um ataque informático, porque é que a Casa Branca esperou tanto tempo para agir? Porque é que só se queixam depois de Hillary ter perdido?”, escreveu naquela rede social.
"Se a Rússia, ou outra entidade, estava a fazer um ataque informático, porque é que a Casa Branca esperou tanto tempo para agir? Porque é que só se queixam depois de a Hillary ter perdido?"
Donald Trump, Presidente eleito dos EUA
Na sexta-feira, o tom de Barack Obama contrastava com a negação do porta-voz russo e do Presidente eleito dos EUA. Usando um tom pesado, que muitos políticos utilizam apenas nos momentos mais delicados, o 44.º Presidente dos EUA disse: “O senhor Putin quer enfraquecer os EUA e a Europa”.
Ao telefone com o Observador, Pavel Podlesny, diretor do “Instituto EUA e Canadá” em Moscovo, que estuda as relações diplomáticas entre aqueles dois países e a Rússia, começa por comentar estas acusações com uma gargalhada. Aos 77 anos, este veterano da política externa russa é abertamente defensor de Vladimir Putin e da sua atuação. Mas ri-se quando lhe atribuem um alcance global. “A Rússia não consegue influenciar os resultados de eleições em lado nenhum”, diz. “A Rússia não tem culpa de as pessoas da Europa e dos EUA quererem mudar os seus líderes porque as políticas deles estão a falhar em toda a linha.”
“Isto é tudo um complexo do Ocidente contra a Rússia” sublinha Pavel Podlesny.
Desde que Vladimir Putin estendeu a mão a Bashar Al-Assad na guerra na Síria, o regime de Damasco passou a recuperar terreno de forma sistemática (ALEXEY DRUZHININ/AFP/Getty Images) 
Também a partir da capital russa, o jornalista Alex Gorbatchev aponta no sentido oposto. “Tenho a certeza de que a Rússia tentou interferir nas eleições dos EUA”, assegura. E a influência de Putin, garante, não se ficou só pelas eleições dos EUA. “Na Europa, mesmo que de uma forma indireta, ele influenciou a perceção de muitos cidadãos de muitos países”, começa por dizer. Como? Através da guerra na Síria, explica. “A invasão de Putin na Síria teve um impacto enorme e aumentou ainda mais o número de refugiados. Isto influenciou a maneira como as pessoas começaram a olhar para os refugiados”, diz, acrescentando que isso aproximou os cidadãos de políticos anti-refugiados, isolacionistas e eurocéticos. “O Brexit foi um caso claro em que isto aconteceu.”
Ao Observador, Michael Kofman, norte-americano especialista na política externa da Rússia e membro do Wilson Center, em Washington, diz que a Rússia viu nas eleições entre Hillary Clinton e Donald Trump uma oportunidade para testar a sua influência. “Eles viram que era um período de vulnerabilidade política nos EUA”, resume. “O objetivo da Rússia era prejudicar Clinton ao máximo e continuar a apostar nesses estragos depois das eleições, porque eles achavam que ela ia ganhar”, diz, no meio de um riso. Afinal, foi Donald Trump que ganhou. Terá sido uma hipotética intervenção russa crucial para este desfecho? “Não é tão óbvio quanto isso. É difícil dizer, mas é certo que eles trabalharam arduamente para prejudicar Clinton.”
No plano europeu, Vladimir Putin também pode ter interesse em desestabilizar a União Europeia, o bloco de 28 países que lhe aplica sanções económicas e comerciais desde a anexação da Crimeia em 2014. “Estrategicamente, a União Europeia anda a travar uma guerra por controlo de regiões contra a Rússia”, diz ao Observador o francês Michael Lambert, diretor de investigação do projeto Caucausus Initiative. “A União Europeia entrou nos países do Báltico, depois com a integração de 2007 passou a ter um maior controlo do Mar Negro. Neste momento, as entradas da Geórgia e da Ucrânia na União Europeia são possíveis. E, quem sabe, uma dia entra o Azerbaijão”, diz. “Estrategicamente, isto é um problema para a Rússia.”
"Eles viram que era um período de vulnerabilidade política nos EUA. O objetivo da Rússia era prejudicar Clinton ao máximo e continuar a apostar nesses estragos depois das eleições, porque eles achavam que ela ia ganhar"
Michael Kofman, do Wilson Center (EUA)
Por isso, explica o especialista francês, o objetivo da Rússia na Europa é “dividir para reinar”. “Eles não querem ter uma União Europeia e um espaço Schengen forte mesmo ao lado”, diz. Assim, tomam a iniciativa de, através de vários meios, apoiar partidos nacionalistas um pouco por toda a Europa. “Isto é algo que a União Europeia sempre fez na esfera de influência russa”, recorda. Agora, veio a vingança.
O exemplo mais gritante passa-se em França, onde os dois principais candidatos às eleições presidenciais de abril de 2017 já expressaram a sua simpatia com Vladimir Putin e com o Kremlin. Trata-se de François Fillon, o improvável vencedor das primárias à direita e candidato d’Os Republicanos; e de Marine Le Pen, a líder do partido de extrema-direita Frente Nacional. Para já, à medida que nove candidatos se preparam para disputar as primárias à esquerda em janeiro, as sondagens não deixam margem de dúvida para uma segunda volta disputada entre aqueles dois políticos.
Marine Le Pen descreve Vladimir Putin como um "patriota" e que defendem "valores em comum" (KIRILL KUDRYAVTSEV/AFP/Getty Images) 
A vitória de François Fillon foi vista em Moscovo como um “acontecimento sensacional”, de acordo com o Le Monde, que faz notar que, nos tempos em que foi primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy, o candidato d’Os Republicanos era visita assídua em Moscovo e é ainda hoje um habitué do Club Valdai, um importante grupo de discussão russófilo e pró-Kremlin. François Fillon chegou a ser convidado de Vladimir Putin na sua dacha em Sochi — e, quando a mãe do francês morreu, o Presidente russo enviou-lhe pessoalmente uma garrafa de vinho de 1931, o ano em que ela nasceu. Durante a campanha para as primárias da direita, Fillon falou abertamente a favor do levantamento das sanções da União Europeia contra a Rússia e disse que se devia “felicitar” a intervenção russa na guerra da Síria.
E, depois, há Marine Le Pen, que não guarda para si nenhum dos elogios que tem a fazer a Vladimir Putin. “O senhor Putin é um patriota. Ele está empenhado em defender a soberania do seu povo e tem a consciência de que defendemos valores em comum, que são os da civilização europeia”, disse. Em 2015, foi recebida na Duma, a câmara baixa do parlamento russo. Porém, a sua ligação à Rússia não poderia ser descrita sem ser referida a ajuda financeira que parte de Moscovo para os cofres do seu partido. Em 2014, a Frente Nacional recebeu um empréstimo de 9 milhões de euros de um banco russo — e, este ano, o tesoureiro do partido já disse que “não está excluído” fazer “um novo apelo aos bancos russos” para conseguir os “20 a 25 milhões de euros que os bancos franceses nos recusam a emprestar”. Tudo isto é feito por cima da mesa.
Mas, segundo uma investigação do jornal francês Mediapart, que teve acesso a um conjunto de SMS trocadas entre dois altos funcionários do Kremlin, havia um sistema de troca de favores políticos entre Moscovo e a Frente Nacional. Em abril de 2014, poucos dias depois de Marine Le Pen ter feito uma visita pessoal à Rússia, uma associação presidida pelo seu pai recebeu quase dois milhões de euros de uma sociedade cipriota financiada por fundos russos.

Um Putin em cada esquina?

Entre os especialistas contactados pelo Observador, parece ser unânime a análise de que a figura de um político como Vladimir Putin é hoje uma figura apetecível em várias coordenadas. A começar pelos EUA e Donald Trump, explica Michael Kofman a partir de Washington. “Trump simplesmente gosta da imagem de Putin”, diz. “É um líder forte na arena internacional, que não se deixa intimidar pelas armadilhas do discurso moderno da política progressista. Donald Trump quer ser um líder como Putin. É tão simples quanto isso. Putin é um exemplo.”
Esta é uma tendência que vai para lá de Donald Trump — também o seu eleitorado simpatiza com Vladimir Putin. Isso mesmo, o eleitorado republicano norte-americano, que, num grau ainda superior ao resto da população dos EUA, é tradicionalmente um setor aguerridamente “russófobo”. De acordo com uma sondagem publicada pela Economist e o YouGov esta sexta-feira, já são 37% os republicanos que têm uma opinião favorável do Presidente russo. Em julho de 2014, antes de Donald Trump, eram apenas 10% dos que respondiam desta maneira.
"Trump simplesmente gosta da imagem de Putin. É um líder forte na arena internacional, que não se deixa intimidar pelas armadilhas do discurso moderno da política progressista. Donald Trump quer ser um líder como Putin. É tão simples quanto isso. Putin é um exemplo."
Michael Kofman, do Wilson Center (EUA)
“Ronald Reagan deve estar a dar voltas no túmulo”, disse Barack Obama esta sexta-feira, em alusão ao Presidente norte-americano que mais se destacou no confronto contra a União Soviética durante a Guerra Fria.
Em França, sublinha Michael Lambert, também há quem procure sinais de Vladimir Putin nos políticos daquele país. “Em França ainda há uma nostalgia imperialista e uma vontade de voltar a ser um grande império. Isto é igual à Rússia, mesmo que as realidades dos dois países sejam distintas”, diz. “Mas tudo isto é posto em causa, porque há a União Europeia, a NATO, o mundo já não fala francês, as pessoas de todo o mundo olham para nós e veem um país mais fraco do que nunca e não sabem sequer o nome do nosso Presidente.”
Isto, explica o diretor de pesquisa do Caucusus Initiative, leva a que cada vez mais pessoas sejam atraídas para a mensagem de François Fillon e de Marine Le Pen. “Eles agarram-se a realidades como o cristianismo e o nacionalismo para reagirem ao mundo que os rodeia. E quando olham para lá das nossas fronteiras, veem um Presidente forte como Putin, que é uma projeção do que eles querem.”
A partir de Moscovo, Pavel Podlesny regozija-se com a aparente subida de popularidade de Vladimir Putin no mundo. “Putin é um líder muito carismático do nosso país e é muito respeitado, mesmo que seja demonizado nos EUA”, diz. “Mas muitos políticos e cidadãos de todo o mundo reconhecem a sua defesa persistente e enérgica dos interesses da Rússia na esfera internacional.”

Soft power russo. “Mas vocês têm medo do quê?”

Para já, ainda não é certo que Moscovo esteja por trás dos ataques informáticos às contas de email do Comité Democrata Nacional e do diretor de campanha de Hillary Clinton. Ainda assim, é seguro dizer que qualquer estratégia de influência no estrangeiro por parte da Rússia passa por outros meios. Nas eleições que levaram à discussão do clima de pós-verdade e da proliferação de notícias falsas, a Rússia e a sua visão do mundo ganharam mais destaque do que nunca através de duas marcas de media diretamente patrocinadas pelo Kremlin: a cadeia televisiva Russia Today e a agência de notícias Sputnik.
Estas são as duas pontas mais aguçadas da máquina de soft power(técnica de alargamento da esfera de influência de um país através de iniciativas económicas, culturais ou mediáticas) montada por Vladimir Putin. Primeiro, em 2005, surgiu a Russia Today, um canal de televisão multilíngue que pretende emular o modelo da BBC e da CNN, mas dentro do enquadramento ideológico e estratégico de Moscovo. Mais recentemente, dirigido a um público mais jovem e frequentador das redes sociais, o Kremlin lançou a agência de notícias Sputnik, disponível em mais de 30 línguas.
Ao longo da campanha presidencial nos EUA, tanto a Sputnik como a Russia Today publicaram de forma sistemática notícias negativas para Hillary Clinton e outras positivas sobre Donald Trump — todas escritas em inglês. “Havia um objetivo claro de ajudar a campanha dele”, diz Alex Gorbatchev.
Mais uma vez, Pavel Podlesny ri-se da possibilidade de a Rússia ter influenciado as eleições dos EUA — e não está certo de que tenha sido o Kremlin a “hackar” as contas de emails do Partido Democrata. Mas, caso tenha sido assim, garante: “Isso não é mau! Os EUA também se devem sentir vulneráveis à influência estrangeira”. Segundo o veterano da política externa russa, Moscovo está só a fazer aquilo que os EUA sempre fizeram: “Eles estão há quase um século a intervir nas questões internas dos outros países, por isso qual é o mal de os outros países demonstrarem que conseguem interferir na política deles?”.
Em 2005, Moscovo financiou a abertura da cadeia noticiosa Russia Today, que usa para passar a sua mensagem (YURI KOCHETKOV/AFP/Getty Images) 
Quando tem perguntas pela frente, Podlesny responde com outras tantas. “Mas vocês têm medo de quê?”, atira, presumivelmente ao Ocidente como um todo. “Mas quem é o resto do mundo para dizer que a Rússia não tem o direito de usar as ferramentas que tem ao seu dispor?”, pergunta mais à frente, dizendo que também outros países o fazem. Como exemplo, cita os casos da Rádio Voz da América e da Radio Free Europe, ambas iniciativas financiadas pelos EUA destinadas a uma audiência russófona.
“Nos anos 1990 ninguém queria saber da Rússia, mas agora que já somos poderosos ficou tudo assustado connosco. Finalmente, depois de termos tido um Presidente bêbedo como o [Boris] Ieltsin, temos um homem que compreende as nossas necessidades e sabe qual deve ser a nossa posição no mundo!”, exclama. “Precisamos de mais poder militar e sobretudo de mais soft power. Mais, mais e mais!”
soft power, ainda assim, tem limites. É Pavel Podlesny que o reconhece. “Não temos uma sociedade atrativa, não temos uma economia moderna, só começámos a fazer isto agora”, reconhece. É uma ideia sublinhada por Michael Lambert: “Nem os franceses, nem o resto do mundo, vão tornar-se ortodoxos. Também não vão comprar um carro russo nem adotar os valores deles. E ninguém vai dar dinheiro para ver um filme russo”.
Mas não é por aí que quaisquer intenções do Kremlin em matérias de soft power morrem. “A ideia da Rússia não é fazer com que a França se pareça mais com a Rússia, a ideia é fazer com que a França se pareça mal”, diz Michael Lambert. “O que os russos estão a fazer com sucesso, servindo-se de todas as ferramentas que desenvolveram, é dar destaque aos nossos problemas, sobretudo aqueles dos quais os nossos media não estão a falar na maioria dos casos.”
"Nos anos 1990 ninguém queria saber da Rússia, mas agora que já somos poderosos ficou tudo assustado connosco. Finalmente, depois de termos tido um Presidente bêbedo como o [Boris] Ieltsin, temos um homem que compreende as nossas necessidades e sabe qual deve ser a nossa posição no mundo!"
Pavel Podlesny, do "Instituto EUA e Canada" em Moscovo
A 24 de novembro, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução para combater a propaganda que chega de fora. Se é verdade que o Estado Islâmico é uma fonte de informação que os parlamentares europeus quiseram secar, também é um facto que a “propaganda hostil” da Rússia também foi destacada na moção.
Segundo a relatora da resolução, a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros da Polónia e atual eurodeputada Anna Fotyga, o “governo russo está a usar uma ampla gama de ferramentas” para “desafiar os valores democráticos, dividir a Europa, conseguir apoio doméstico e criar a perceção de Estados falhados nos vizinhos de leste da União Europeia”.
Para Michael Lambert, esta abordagem é “errada”. “O que a Europa deve fazer é perceber que os problemas que nós temos são reais e que eles têm de ser resolvidos antes de ser dada qualquer resposta à Rússia”, sublinha.
A partir de Washington, Michael Kofman sublinha uma característica dos ataques informáticos dirigidos contra a campanha democrática e que acredita terem tido origem no Kremlin. “A campanha deles não foi de desinformação, foi uma operação de intelligence e tudo o que eles revelaram tem a particularidade de ser verdadeiro”, diz. “Ninguém do Partido Democrata negou uma única vírgula do que foi publicado. Eles foram muito espertos”, admite o investigador norte-americano.
Faz lembrar um provérbio russo: “Se a tua cara parece torta, não ponhas a culpa no espelho”.

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