terça-feira, 29 de novembro de 2016

Será que é guerra de todos contra todos?

 — Jacinto Castiano

guerra-e-pazJá há bastante tempo que o país está mergulhado numa situação política menos desejável e que esta a colocar em causa a economia e de lá para cá as pessoas vão invocando a paz como sendo o meio eficaz para o desenvolvimento e disso ninguém duvida até os mais duvidosos.
Entre tantos entretantos, aparentemente sabe-se quem é responsável em trazer a paz para Nação mas também parece não se saber quem realmente deve trazer a mesma paz, portanto, ou todos ou ninguém. Os gritos dos mais letrados aos menos letrados tem a mesma direcção “queremos a paz”.
Quem deve trazer a paz?
Os chefes dos partidos A, B e C, dizem incessantemente que paz é indispensável, atí aí muito bem, mas como traze-la? Sabe-se que é dialogando e depois…? O chefe de estado já falou vezes sem conta que o país precisa de paz para desenvolver, sabia ideia, ministros já o disseram, governadores, administradores, secretários permanentes, chefes das localidades, régulos, secretários dos bairros, cidadãos “pé descalço” também já o disseram.
Partidos políticos das altas às mais baixas estruturam já invocaram a paz, na Assembleia da República, nas Assembleias Provinciais e Municipais todas bancadas já apontaram a necessidade da paz, sociedade civil muitas vezes já manifestou, académicos já o disseram, analistas também já sublinharam…então pode se usar um quantificador universal, “todos” já pediram paz quem deve dar? Porque logicamente, num pedido, há quem pede e há quem concede…!
Jacinto Castiano

Estão a matar o Presidente Nyusi

Nunca um Presidente da República moçambicano andou tão só ou vulnerável ao nível político como o Presidente Nyusi. Comparável a ele está o Presidente Samora Machel, nos seus últimos dias. Não quero com isso insinuar nada grave. Se calhar, quero insinuar algo tão grave e que põe em causa a própria sustentabilidade do Partido Frelimo: trata-se de uma verificável divisão e falta de consenso em torno do actual dirigente do governo e do estado; das suas políticas e da sua visão.
Ou o presidente anda só ou ele anda isolado. De uma ou de outra maneira, o resultado é este: o que ele diz, determina ou deseja apenas alguns acatam. No momento mais difícil que o país atravessa, alguns membros do partido que deveriam estar ao seu redor, “foram pescar”; outros se ocupam do “fumo” e ainda outros dedicam-se em lançar maldizeres, fofocas, insinuações divisionistas etc., etc.
Nos últimos meses tenho acompanhado debates em diversos órgãos de informação e a tónica é a mesma, salvo os serviçais de sempre. O Presidente da República, apesar da sua aparente vontade de ver as coisas a andar, não está a conseguir convencer a ninguém. Ditas por outras palavras, ele enfrenta verdadeiros desafios em impor a sua visão. No princípio diziam que era necessário ter a presidência do partido. Teve. Depois falou-se que tinha que reorganizar o partido. Ele fez algumas mudanças cosméticas e não de fundo.
Duas reuniões do Comité Central aconteceram e o povo esperava ver finalmente o Presidente a mandar e a comandar. Esperava ver um partido disciplinado e com alguma orientação clara. Mas nada. O Presidente fala na TV ou rádio sobre a Paz e no dia seguinte sua comissão política vai pelas províncias pregar guerra. O governo fala de negociações com a Renamo mas é a sua bancada que clama desesperadamente pela ilegalização da Renamo. O presidente diz que a dívida da EMATUM e outras foram mal feitas e é no parlamento que ouvimos que não; elas serão pagas e em nome da soberania, a dívida foi a melhor coisa que o antigo governo podia fazer. Claros sinais de uma palpável indisciplina partidária ou verificável desobediência ou afronta ao chefe. No mínimo, falta ali alguma coisa chamada solidariedade política.
Afinal, qual era o plano quando elegeram Nyusi para candidato à presidência? De lhe fazerem de bobo da corte? De lhe vulgarizarem? E acham que assim ajudam o vosso partido a ganhar as próximas eleições?
Alguma coisa está errada camaradas. Tenho ouvido que a medida que se aproxima o congresso, a opção de evitar o segundo mandato de Nyusi não está posta de lado. E vão-se por ali ventilando nomes, aventando grupos de trabalho. E ainda diz-se que alguns putativos candidatos a candidato não param de “gymar” para estarem em forma na hora. Pois bem, se Nyusi fracassar, o fracasso é vosso todo. Se Nyusi perder o “segundo ticket” considerem-se todos fracassados. E os resultados eleitorais poderão ser piores que os actuais.
Perdem-se muitas forças com ataques e fomento a fofoca e acusações infundadas em vez de acrescentar cada inteligência à solução dos problemas do país.
Eu não sou da Frelimo nem de qualquer outro partido. Mas como humano, doí-me ver a forma como estão se mordendo e como estão usando as energias para projectar um Nyusi fraco, desorientado e sem noção do que faz. O preço a pagar por esta tendência será partilhado por todos: desde o ambicioso da sombra até aquele inocente que difunde mensagens caluniosas pelo whatsapp e outras redes sociais.
Estão a matar o Presidente. E sem se aperceberem, estão a se matarem a vocês próprios e a cada um, individualmente.
Temos os problemas. Se cada um acrescentasse um esforço para a solução chegariam ao próximo congresso e quiçá às próximas eleições fortes. Mas se cada um continuar a ocupar-se em posicionar-se para o deboche, chegarão ainda mais fracos. A única razão que vos escrevo é que a vossa desorganização e gula exacerbadas também estão a prejudicar-me a mim tal como a qualquer cidadão deste Pais. A Paz está atrasar. Os problemas, até os mais pequenos, tardam em conhecer a solução. Isto porque alguém, que conhece a chave para solução, prefere guarda-la para “melhor ocasião”, ou seja, para os seus interesses individuais, deixando o Presidente e o povo ao alvoroço.
Não existe nenhuma possibilidade de deixarem cair o Nyusi sem que vocês também caiam. Sabotar Nyusi é a chave para o vosso insucesso colectivo. Já são tão fracos que precisam de eleições cheias de irregularidades para ganhar.
Abraços de Egídio Vaz. *
Titulo do artigo é da responsabilidade do Semanário Txopela

Egidio VazEgídio Vaz é historiador e consultor de comunicação e pesquisador de mídia e jornalismo há mais de 10 anos. É um respeitado analista político-social em Moçambique com artigos de opinião  publicados em órgãos de informação nacionais e internacionais.

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