sábado, 19 de novembro de 2016

Produtos alimentares aumentaram 46,56% nos últimos onze meses em Moçambique, bebidas alcoólicas e tabaco somente 1,29%


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Tema de Fundo - Tema de Fundo
Escrito por Adérito Caldeira  em 18 Novembro 2016
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Grafico INE Foto @VerdadeOs remédios do Governo de Filipe Nyusi para estancar o aumento da inflação, principalmente dos produtos alimentares, assim como a desvalorização do metical não parecem estar a surtir efeito. Em Outubro a moeda moçambicana continuou a perder valor em relação ao dólar e o rand e a inflação voltou a subir, particularmente os preços da comida que, comparando a Dezembro passado, agravaram-se em 46,56% enquanto as bebidas alcoólicas e o tabaco subiram apenas 1,29%. O Presidente parece ter-se esquecido que prometeu que a alimentação condigna “é um direito humano básico que assiste a todos os moçambicanos”.
Os aumentos das taxas directoras de referência do Banco de Moçambique, como tinha sido prognosticado por alguns economistas menos alinhados, não estão a refrear a desvalorização do metical. Consequentemente, sendo o nosso País um importador de comida (e de quase tudo o resto), a inflação voltou a subir mais 2,58%.
Outra medida do Executivo de Nyusi que parece ter pouco efeito na contenção da inflação é a redução dos preços médios de referência para a importação de produtos frescos, hortícolas e alguns produtos de mercearia pois vários dos produtos que dela fazem parte continuam a registar agravamentos segundo o Índice de Preços no Consumidor(IPC) compilado pelo Instituto Nacional de Estatística(INE).
“Da análise da inflação mensal por produto, há a destacar o aumento dos preços do tomate (9,8%), do amendoim (12,6%), do coco (11,4%), do gasóleo (23,9%), do arroz (2,2%), da farinha de milho (2,4%) e do carapau (5,2%). A contribuição destes no total da inflação mensal foi na ordem de 1,14pp positivos”, indica o IPC acrescentando que de “Janeiro a Outubro do ano em curso, o País registou um aumento de preços em cerca de 17,67%. A divisão de Alimentação e bebidas não alcoólicas foi a que mais se destacou.”
Pelo quinto mês consecutivo o preço dos produtos alimentares, os considerados de primeira necessidade, aumentaram de acordo com o Índice de Preços no Consumidor. Agravaram-se 0,5% em Junho, mais 0,76% no mês seguinte, 0,83% em Agosto, 2,80% em Setembro e mais 3,38% no mês passado.
Graficos do INE
Bebidas alcoólicas e tabaco aumentaram 1,29% nos últimos dez meses
Enquanto alguns poucos que residem em Maputo, e em alguns outros centros urbanos, têm o privilégio do atendimento hospitalar que os recomenda até cortar nas carnes e nos mariscos por causa da diabetes, colesterol ou obesidade a maioria dos moçambicanos, que não tem sequer acesso a um médico, não só tem que ser criativo todos os dias para fazer as tradicionais três refeições diárias como também não tem a opção de equilibrar a sua dieta para evitar a desnutrição crónica.
É que segundo o Ministério da Saúde(MISAU) um cidadão deve consumir por mês 3 kg de arroz, 9.1 kg de farinha de milho, 2 kg de feijão seco, 0,5 kg de amendoim, 3,5 kg de peixe seco, 0,5 litros de óleo, 1,2 kg de açúcar, 1 kg de sal, 3,4 kg de folhas verdes e 3,6 kg de frutas da época.
A preços praticados nos mercados e supermercados mais baratos das cidade de Maputo e de Nampula este cabaz do MISAU custa cerca de 1.700 meticais por mês por indivíduo. Uma família moçambicana normal tem um agregado familiar de pelo menos cinco pessoas o que quer dizer que essa família tem de despender pelo menos 8.500 meticais para uma alimentação básica.
Ora os salários mínimos, reajustados em Abril, variam entre os 3.298 e os 8.750 meticais. Como é que é possível ter uma alimentação condigna com estes preços?
Ironicamente produtos que deveriam ser os mais taxados, devidos aos efeitos nefastos para a Saúde, mantiveram os seus preços relativamente estáveis. As bebidas alcoólicas só aumentaram 1,29%, entre Dezembro de 2015 à esta parte, e o tabaco ficou somente 0,17% mais caro em igual período.
Aliás há pelo menos cinco anos que os preços dos produtos das Cervejas de Moçambique não mudam: a 2M, Manica, Laurentina Preta e Laurentina Clara em garrafas que podem ser devolvidas de 330ml são vendidas a preço de 35 meticais enquanto em garrafas não retornáveis custam 45 meticais. As médias, de 550ml, das mesma marcas custam 50 meticais enquanto em latas de 330ml são vendidas a 40 meticais. Já a cerveja Impala custa 20 meticais a garrafa que pode ser devolvida de 330ml e 30 meticais em garrafa de 550ml, vulgo média.
Portanto uma cerveja em Moçambique está mais barata que o quilograma de arroz ou mesmo de açúcar castanho, sendo que o litro de óleo alimentar custa seis vezes mais do que o preço da cerveja Impalas pequena.
Quando é que os preços da comida vão parar de subir?
Paradoxal é o discurso dos governantes que apontam como outra solução para a saída da crise económica e financeira que estamos mergulhados, em vez de prender os responsáveis pelas dívidas de mais de 2 biliões de dólares, é os moçambicanos trabalharem mais e produzirem mais alimentos internamente.
Cada um deve ter a sua machamba em casa, tem dito o Chefe de Estado. Acontece que um dos poucos produtos alimentares que o nosso País é produtor, e até exportador, o açúcar, tem estado a aumentar de custo.
Quando é que os preços da comida vão parar de subir? Provavelmente só quando o metical parar de de desvalorizar.
Quando isso vai acontecer? A julgar pelas projecções do Governo de Filipe Nyusi o dólar poderá estabilizar no próximo ano, mas quando atingir a fasquia dos 88,5 meticais.
Dezembro está à porta e é um mês onde habitualmente a inflação dispara embora o Executivo prognostique que não ultrapassará os 18%. Quem sobreviver verá.

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