quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Pedro Dias entregou-se

Psicologia

Pedro Dias, o homicida simpático

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De pai de família respeitado pela vizinhança a autor de mortes à queima roupa. Três especialistas em psicologia criminal explicam o lado lunar da mente do homem mais procurado de Portugal.
O que torna Pedro Dias num homem perigoso é aquilo que ele não aparenta ser. Ele tem duas faces: uma comunicativa, alegre e sociável para quem o rodeia; a outra, que será a sua verdadeira essência, egocêntrica, cruel, com sensação de omnipotência e uma falta de empatia gritante que o torna completamente alheio aos sentimentos dos outros. É assim que três especialistas em psicologia criminal explicam o lado lunar da mente do homem mais procurado de Portugal.
O Pedro Dias que a Polícia Judiciária procura há mais de duas semanas não parece de facto ser o mesmo que os conhecidos descrevem como tendo um sorriso pronto para qualquer vizinho. O homem que os amigos dizem ter uma a mão estendida para toda a gente, sempre pronto a ajudar e afável, também não se enquadra no assassino a sangue frio que matou à queima-roupa um GNR e um civil, torturou e disparou a matar contra outro militar e uma mulher e ainda tentou sufocar uma idosa.
Será que na cabeça de um homem apaixonado por cavalos e pelo silêncio da floresta pode existir uma mente perversa? E o pai que ganha a custódia da filha de 14 anos e batiza uma criança de seis meses ao lado da nova namorada pode ser este assassino?
À luz da psicologia criminal, pode.

O perfil psicológico de um homicida

Íris Almeida, professora auxiliar do Instituto Superior de Ciências Sociais Egas Moniz e diretora do Gabinete de Psicologia Forense do Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas do mesmo instituto, traçou quatro perfis criminais num estudo que teve por objeto o comportamento criminal associado aos homicídios em Portugal. A investigação permitiu concluir que, na hora de matar outra pessoa, há dois tipos de motivação: a expressiva e a instrumental.
A motivação expressiva funciona como resposta a situações de raiva, tem como objetivo fazer sofrer o outro e é típico em homicídios em contexto familiar ou de relações íntimas. Foi o que aconteceu com Manuel “Palito”, cujo crime aconteceu por ciúme.
Em caso de motivação instrumental, o objetivo não é fazer sofrer o outro: a morte é apenas um meio para alcançar o fim e o sofrimento alheio é um dano colateral porque a vítima é um problema secundário. Ou seja, podia matar-se aquela pessoa ou qualquer outra que se tenha atravessado no caminho e dificultado uma determinada ação. É o que se observa em casos de crimes sexuais, de roubos ou de tráfico de droga, por exemplo. E pode ser o caso de Pedro Dias.

O que é um transtorno de personalidade antissocial?

De acordo com os critérios de diagnóstico do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (publicado pela Associação Americana de Psiquiatria), o transtorno de personalidade antissocial é caracterizado por um desrespeito generalizado pelos direitos dos outros. As pessoas com este transtorno não se conformam com as normas sociais, são impulsivas e agressivas, não compreendem a importância da segurança nem sentem remorsos pelos seus atos, mentem compulsivamente e não se sensibilizam com os sentimentos alheios. No entanto, podem conseguir com quem estes sintomas passem despercebidos.
Os comportamentos de extrema violência que Pedro Dias tem demonstrado indicam que as autoridades podem estar a enfrentar um homem com algum tipo de transtorno de personalidade antissocial, provavelmente uma psicopatia. Não sabemos o que passava pela cabeça do ‘Piloto’ no momento em que as coisas se descontrolaram na Quinta das Lameiras, onde o homem de 44 anos estava às 7h00 quando foi abordado por dois GNR que estranharam a sua presença àquela hora da madrugada junto a um hotel termal em obras. Os cenários são muitos, realça Íris Almeida, e é impossível descartar algum sem que o cérebro de Pedro seja estudado: podemos estar perante um cenário de distúrbio mental – como uma depressão, um caso de esquizofrenia ou um surto psicótico – em que o indivíduo olha para a realidade de forma distorcida, como se olhasse para a rua através de uma janela com um vidro embaciado.
Nesses casos, o discernimento fica de tal modo afetado que se torna impossível avaliar coerentemente se se está mesmo perante uma ameaça ou não. As pessoas agem e podem nem sequer conseguir justificar conscientemente os seus atos.
Mas podemos estar também perante um distúrbio de personalidade, onde há clara noção da realidade e em que o indivíduo sabe exatamente o que está a fazer: o crime é cometido com plena consciência e posse das faculdades.
Ou então, Pedro pode ter estado sob efeito de substâncias que alterem a configuração mental, como álcool ou drogas.
Se se comprovar que Pedro tem um distúrbio de personalidade, o homem que Arouca conhece não é o mesmo que vive na sua mente. Sim, ele tinha problemas com as autoridades e isso não era segredo para ninguém: há uns anos, as buscas feitas pela polícia na quinta que Pedro tinha na Várzea, sede da sua empresa de produção animal, resultou na apreensão de armas de vários calibres e no resgate de mais de cinquenta animais de espécies protegidas e autóctones.
Mas antes dos crimes daquela terça-feira, 11 de outubro, Pedro era apenas o homem que chorava ao olhar para a fotografia dos filhos do Chico, um amigo que morreu demasiado cedo. “Sabe, quando temos tudo na vida ficamos com vontade de passar para o outro lado do rio”, sugeriu ao Observador uma comerciante da vila. O que nem ela, nem muitos dos que conviviam com Pedro podiam imaginar é que o outro lado do rio pode estar num recanto negro da mente do filho da terra.

O que difere um transtorno mental de um transtorno de personalidade

Quem sofre de um transtorno de personalidade antissocial tem clara noção da realidade e sabe a consequência dos seus atos porque eles são cometidos sob plena posse das suas faculdades. Num caso de transtorno mental, o indivíduo olha para a realidade de forma distorcida e a sua capacidade de avaliação do mundo fica comprometida. Dentro dos transtornos mentais há os surtos psicóticos, ou seja, episódios em que o discernimento fica comprometido e que o indivíduo pode agir sem se rever, depois, nos seus atos.
Mas isso é algo que as pessoas com esta condição, como os burlões, conseguem disfarçar. Por isso é que ninguém podia prever que o simpático Pedro Dias era capaz de matar um militar da GNR à queima-roupa, obrigar o outro a colocar o cadáver do colega na bagageira do carro patrulha e seguir com ele algemada à pega do carro ao longo de cinco quilómetros. O Pedro Dias que Arouca conhece nunca amarraria esse GNR a uma árvore e dispararia à cabeça do militar pronto a matá-lo sem piedade (ficaria apenas ferido, mas Pedro Dias não o soube na altura); nunca tiraria a vida a um homem e à sua mulher (que não morreu, mas que está em estado grave) sem sequer se dirigir a eles, apenas para lhes roubar um automóvel para a fuga; e nunca tentaria sufocar uma idosa com uma almofada quase até à morte.

Qual é o calcanhar de Aquiles de Pedro Dias?

Independentemente do que aconteceu nos momentos dos crimes, quanto mais o tempo passa, mais certezas há de que Pedro é um homem muito inteligente. Paulo Sargento, diretor da Escola Superior de Saúde Ribeiro Sanches e docente na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, diz que o homem mais procurado do país já demonstrou ser um indivíduo com facilidade de adaptação e com uma notável capacidade de resolver problemas. Do seu lado tem ainda a vantagem de conhecer bem a região por onde tem vagueado nas últimas duas semanas, ter um ótimo sentido de orientação – muito graças ao treino militar que recebeu enquanto esteve na África do Sul – ser organizado ao ponto de desenhar esquemas de atuação com facilidade e o facto de ser um homem robusto e saudável.

O que está a favor e contra Pedro Dias?

Pontos a favor. Pedro Dias…
  • … tem treino militar que o torna apto a sobreviver em ambientes agrestes com maior facilidade do que a maior parte das pessoas.
  • …. é resiliente, resistente, adaptável e capaz de engendrar planos de atuação com facilidade para resolver problemas com rapidez.
  • … conhece bem a região onde tem andado e é dotado de um ótimo sentido de atuação.
  • … pode ter acesso à informação da polícia através da comunicação social.
  • … é um homem robusto e saudável.
Pontos contra. Pedro Dias…
  • … acabará por se sentir em desespero, desconfortável e desgastado.
  • … sentir-se-á cansado e o sono vai trair a sua capacidade de tomar decisões.
  • … sabe que tem 25 anos de prisão garantidos (pena máxima) e pode ceder e entregar-se.
Pedro é um homem muito atento, mas para Carlos Poiares, psicólogo criminal, será por aí que, mais tarde ou mais cedo, revelará o seu ponto fraco. Até agora tem tido a capacidade de tomar decisões friamente, de um modo tão calculado e rápido que tem conseguido ultrapassar os obstáculos sem demonstrar afeto. Mas a capacidade de tomada de decisão só se mantém equilibrada quando a mente também estiver em equilíbrio. E o que retira equilíbrio ao cérebro é o cansaço. É uma questão de tempo até que Pedro comece a sentir sono e seja conduzido a um estado de depressão. “Ele vai entrar em desespero, vai sentir-se encurralado e desconfortável”, explica Carlos Poiares.
Basta olhar para a pirâmide de Maslow, uma hierarquia das necessidades humanas prevista pelo norte-americano Abraham Harold Maslow, para entender porquê: na base dessa pirâmide estão duas necessidades essenciais: a primeira é a necessidade fisiológica, que prevê a imprescindibilidade de respirar, comer e beber, da sexualidade e de dormir; e a segunda é a necessidade de segurança e de conforto. Um dos pressupostos da pirâmide de Maslow é que um indivíduo não consegue satisfazer as necessidades previstas nas camadas superiores se não vir as necessidades previstas nas camadas inferiores satisfeitas.
Ou seja, se Pedro deixar de dormir ou de comer normalmente e se começar a sentir-se desconfortável, só e em perigo, toda a resistência e resiliência que tem demonstrado vai desmoronar-se. E os erros que cometer a partir daí serão fulcrais para que a polícia o possa finalmente deter.

Os becos sem saída na mente de Pedro Dias

Certo é que a mente humana é um labirinto com mais pontos de interrogação do que certezas. E o comportamento que Pedro Dias tem revelado prova isso mesmo. Se for verdade que tem um transtorno psicopata, então é normal que os apelos dos amigos e a memória da sua família não o demovam da fuga: este homem não se sensibiliza. A frieza afetiva é tanta que não consegue prever o sofrimento alheio: embora saiba que as pessoas estão a sofrer (aquelas que ele atacou, mas também as pessoas que o amam), não consegue descodificar essa dor e torna-se indiferente a ela, explica-nos Paulo Sargento.
Mas também é difícil descobrir o que o leva a continuar a fugir: é que “medo não pode ser porque ele sabe que tem 25 anos de prisão garantidos“, acrescenta Carlos Poiares.
Outro mistério sobre Pedro Dias é porque é que ele parou entretanto de matar: a sua indiferença à vida alheia parece ter mudado a partir do momento em que se cruzou com os dois idosos em Moldes, perto da terra onde vivia. Nesse episódio, Pedro tentou matar a mulher, sufocando-a com uma almofada, mas algo fê-lo controlar os seus impulsos. Pode ter sido a idade das vítimas (pode ter pensado que, pela idade avançada, eles não seriam uma verdadeira ameaça), uma quebra na força de vontade ou o facto de serem pessoas da terra, sugere o psicólogo criminal.
Ou então pode ter sido uma questão mais instrumental, sugere Paulo Sargento: pode ter-se sentido saciado (pelo menos por enquanto), ter ficado com poucas munições ou ter mudado o seu modus operandi para se tornar mais discreto e conseguir assim fugir.
Pedro Jorge Dias está em fuga há dezasseis dias. Em casa, os amigos preferem manter a imagem do “Pedro simpático” e da sua presunção de inocência como escudo: repetem na comunicação social que o amigo não cometeu estes crimes e que “ele não fez nada porque não o vejo a fazer estas coisas”, como disse Sara Devesas, sua vizinha e ex-aluna da mãe. Mas, para a polícia é o “Pedro homicida”, um homem considerado “altamente perigoso” que está “fortemente armado” e tem de ser encontrado e detido.
Crime

O fugitivo Pedro Dias entregou-se à polícia. Diz que “não matou nem sequestrou” ninguém e que foi “perseguido como um animal”

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O suspeito dos crimes de Aguiar da Beira diz que "não matou nem sequestrou" ninguém. PJ não acredita. A detenção em Arouca foi filmada pela RTP e precedida de negociação com o diretor nacional da PJ.

Pedro Dias está agora detido no Estabelecimento Prisional da Guarda onde vai ficar até ser levado para interrogatório
Pedro Dias, o suspeito dos crimes de Aguiar da Beira, entregou-se voluntariamente à Polícia Judiciária (PJ) depois de ter estado quatro semanas em fuga. A detenção foi filmada pela RTP e aconteceu em Arouca. Em entrevista à estação pública, o homem de 44 anos, que era perseguido pela morte de um militar da GNR e de um civil, garante estar inocente e disse que “não matou nem sequestrou ninguém” e fugiu porque se sentiu “perseguido de morte”.
Ao que o Observador apurou, a entrega voluntária de Pedro Dias à Judiciária foi precedida de um contacto telefónico da sua advogada. Mónica Quintela terá entrado em contacto telefónico com Almeida Rodrigues, diretor nacional da PJ, por volta das 21h para dar-lhe conta das intenções de Dias. Tal como afirmou posteriormente à RTP, o então fugitivo tinha receio de ser abatido por vingança pela GNR — daí ter optado por entregar-se.
De referir que Mónica Quintela não é novata em casos polémicos. A advogada em questão defendeu a inspetora da PJ Ana Saltão, acusada de assassinar a avó do marido. Quintela conseguiu-lhe a absolvição. Juntamente com mais duas advogadas, estudam agora a defesa do alegado duplo homicida de Aguiar da Beira.
A advogada de Pedro Dias só terá dado a informação sobre a localização exata da seu cliente depois de saber a identidade dos elementos da equipa da PJ que iriam recolhe-lo na zona de Arouca.
A deslocação da equipa da Judiciária para o local foi rápida, visto que existiam diversas equipas no terreno precisamente naquela zona. Além disso, a família de Pedro Dias estava sujeita a uma vigilância apertada desde o início da fuga.
Mas ao que o Observador apurou, a advogada de Pedro Dias não informou antecipadamente sobre a presença de equipa da RTP no local. Só quando chegaram ao local combinado é que os inspetores da Judiciária perceberam que o fugitivo tinha decidido falar com jornalistas da estação pública antes de entregar-se.
Pedro Dias vai ser ouvido esta quinta-feira por um juiz de instrução criminal, sendo certo que o Ministério Público (MP) irá pedir a sua prisão preventiva. Dias é suspeito dos seguintes crimes:
  • 2 crimes de homicídio qualificado: 1 GNR (Carlos Caetano, 29 anos)e 1 civil;
  • 2 crimes de homicídio na forma tentada: 1 GNR (António Ferreira, 41 anos) e 1 civil;
  • 1 crime de furto qualificado
Contudo, é provável que o MP impute mais crimes a Pedro Dias em virtude da sua fuga.

“Fui perseguido como um animal”

Num avanço da entrevista que vai ser exibida na RTP, no programa “Sexta às 9”, conduzido pela jornalista Sandra Felgueiras, na próxima sexta-feira, dia 11, Pedro Dias relatou que foi “perseguido como um animal” e que se sentiu ameaçado de “morte”. O suspeito disse que se entregou porque temia pela sua segurança e acusou os agentes da GNR de que estariam a dar “tiros ao ar” e a “qualquer moita” onde imaginassem que ele estivesse. “Chegaram a atirar a um metro de onde estava”, assegurou.
Dias afirmou que também chegou a ouvir comentários de civis de que “era naquele dia que o iriam caçar”.
Questionado se assume os homicídios dos quais é acusado, respondeu que “de maneira nenhuma”. “O senhor agente da GNR terá certamente mais a dizer sobre o que me fizeram do que eu terei a dizer sobre eles”. O Correio da Manhã sublinhou que o militar da GNR que sobreviveu está sob forte vigilância por parte da PJ, em casa de um familiar em Penalva do Castelo, por ser considerado uma peça-chave para a resolução deste caso.
Pedro Dias relatou ainda que “desde o primeiro dia tentou entregar-se às autoridades, mas nunca lhe permitiram” e assegura que está a “cumprir as suas obrigações de cidadão, que é esclarecer tudo o que se passou”.

Dias diz que tinha receio de “ser morto” pela GNR

Segundo a RTP, o homem nunca assume ter estado em fuga — diz, sim, ter estado a ser “perseguido” pelas autoridades. Terá dito também que não cometeu qualquer crime e que tudo não passou de um “mal entendido”, pois apenas terá “tentado sobreviver”.
Sem nunca explicar em concreto o que se passou a 11 de outubro em Aguiar da Beira, Pedro Dias apenas terá afirmado que, quando se dirigia para casa dos pais em Arouca, onde ontem se entregou, terá “recebido uma chamada” de “uma militar da GNR” que o avisou que “ia ser morto”. Terá sido na sequência dessa chamada que iniciou a fuga de um mês, onde conta ter “sobrevivido com 60 euros”, “atravessado o rio Douro a nado”, “vivido em casas abandonadas”, “tomado banhos em rios” e “dormido na floresta”. Pedro Dias, segundo a reportagem da RTP, terá contado ainda que “se quisesse podia ter continuado em fuga o resto da vida”.
Quanto à detenção, e ainda segundo a estação pública, Pedro Dias terá revelado que pensou entregar-se por várias vezes, mas só na semana passada avançou com essa intenção. Terá entregue um bilhete a um familiar para ser levado às autoridades, dizendo que se entregaria esta terça-feira, dia 8, às 19h. Algo que acabou por se concretizar. Antes, Pedro Dias terá falado ao telefone com a atual companheira, com quem tem um filho de dez meses (sujeito a uma cardiopatia em agosto) e com a filha de dez anos.
Pedro Dias terá dito que “fugiu por um mal entendido”, e que se sente “perplexo” com tudo o que entretanto aconteceu, pois “não matou, nem sequestrou” ninguém. Daí que afirme que “Portugal assistiu à prova viva de que não vivemos num Estado de direito”, por imediatamente o ter condenado, sem sequer admitir a sua inocência. A fuga, terá contado, aconteceu apenas por se “sentir perseguido de morte”.
No relato dos acontecimentos da noite de 11 de outubro, Pedro Dias terá revelado que estava a dormir no carro, em Aguiar da Beira, quando foi abordado por dois militares da GNR que lhe pediram os documentos. Não diz o que se passou depois, mas garante que não “matou” ninguém. Fica assim por saber quem disparou contra os dois GNR (um morreu no local, o outro ficou ferido) e contra os dois civis num carjacking (um morreu no local, a mulher continua internada em estado grave).
A jornalista da RTP explicou que foi contactada pelos advogados de Pedro Dias para a realização da entrevista e que a detenção aconteceu apenas depois.
Segundo a versão até agora conhecida, Pedro Dias, ao ser abordado pelos dois GNR, teria primeiro falado com eles e depois disparado à queima-roupa. Depois, teria obrigado o GNR ferido a colocar o colega morto no porta-bagagens do próprio carro da polícia, tê-lo-ia algemado à pega da porta do pendura e conduzido por estradas secundárias até ficar atolado. Teria então amarrado o militar a uma árvore e disparado sobre ele, pensando que o tinha assassinado. Logo a seguir, terá tentado roubar um carro para continuar a fuga e, perante a recusa do casal que seguia para uma consulta de fertilidade em Coimbra, disparou sobre ambos matando o homem e deixando a mulher gravemente ferida.
A fuga continuou ao longo de vários dias (e muitos avistamentos) até que Pedro Dias terá voltado a cometer outro crime, já em Arouca, a terra onde vivia. Aí, terá sido surpreendido, numa casa não habitada, pela filha da dona e por um vizinho. Terá sequestrado ambos, amarrando-os, e voltado depois a roubar um carro para fugir. O seu rasto seria depois descoberto já na zona de Vila Real e até na Galiza, apesar do fugitivo ter afirmado à RTP que nunca saiu do país. Mas até esta noite de terça-feira nada mais se soubera.

PJ não acredita em Pedro Dias

Ao que o Observador apurou, as declarações do suspeito à RTP não aparentam ter credibilidade para a PJ.
Para já, uma coisa é certa para a Judiciária: Pedro Dias é o único suspeito dos crimes que estão na origem da investigação criminal. Ao contrário do que foi noticiado inicialmente, não existem mais suspeitos. Dias terá agido sozinho durante o assalto inicial que está na origem deste caso.
Nestas quatro semanas que durou a fuga, a Judiciária não teve a investigação parada. Além de várias equipas no encalço de Pedro Dias, houve outra equipa que foi trabalhando nos bastidores, consolidando a prova pericial e recolhendo, por exemplo, o testemunho do GNR (António Ferreira) que sobreviveu ao ataque à sua integridade física. Há ainda uma segunda testemunha (uma mulher) que está internada em estado grave e que terá sido alvo de um assalto por parte do então fugitivo que terminou com a morte do marido.
Não só a prova testemunhal do guarda António Ferreira identificará Pedro Dias como o alegado autor dos crimes, como a prova pericial corroborará os testemunhos.

O que já se sabe depois da detenção

Depois de ser detido, o alegado homicida esteve três horas no interior das instalações, para cumprir questões relacionadas com a sua condição de arguido, e saiu, no mesmo veículo da PJ, para o Estabelecimento Prisional da Guarda, onde aguardará até ser presente a tribunal para primeiro interrogatório judicial, o que deverá acontecer na quinta-feira.
Pedro Dias entregou-se na quarta-feira à noite às autoridades, sendo visível a sua detenção, algemado, a entrar num carro da polícia, filmado em direto pela RTP.
A PJ da Guarda remeteu informações à comunicação social para uma conferência de imprensa a ser convocada pelo diretor do departamento, sem precisar data ou hora.
Sandra Felgueiras referiu também que Pedro Dias se entregou às 19h00, a escassos metros da Câmara Municipal de Arouca e perto da casa dos pais.
A acusação está a trabalhar para concluir a investigação a curto prazo.

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