segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Morreu o homem que estendeu a mão a Moçambique


Fidel Castro (1926-2016)
Fidel Castro, líder da Revolução Cubana falecido na madrugada do último sábado, é lembrado pela maioria dos cubanos como um herói, por outros como ditador. Para os moçambicanos, será lembrado pela ajuda que prestou ao país antes e logo a seguir à independência.
sob liderança de Fidel Castro, Cuba desempenhou um papel fundamental no apoio logístico e nos treinos militares às Forças Armadas de Moçambique, durante a luta de libertação nacional. Milhares de homens que combateram o regime colonial no país tiveram a sua instrução em Cuba, graças às boas relações entre Fidel Castro e o então Presidente moçambicano, Samora Machel.
Basta lembrar que Samora Machel, enquanto Chefe de Estado, fez inúmeras visitas a Cuba, uma das quais em Outubro de 1977, para inaugurar as escolas moçambicanas naquele país sul-americano. Numa outra visita, Samora Machel participou numa cimeira do movimento dos Países Não-alinhados, em 1979. A última visita foi na década de 80, num périplo do Presidente Samora pelos países da América Latina, na qual teve outros destinos, como Jamaica e Nicarágua.
A educação, uma das apostas do líder revolucionário cubano, foi uma das áreas em que, com mais destaque, aquele país sul-americano teve um contributo notável em Moçambique.
Desde a independência, mais de 20 mil moçambicanos foram formados nas mais diversas áreas, numa altura em que Moçambique vivia um momento de transição difícil, agravado pela fuga de quadros, quando vários técnicos portugueses tiveram que deixar Moçambique.
No sector da saúde, por exemplo, depois de 1975, Moçambique contava com pouco menos de 20 médicos e o país enfrentava sérios casos de malária.
Vários médicos cubanos, entre voluntários e enviados especiais do presidente Fidel Castro, escalaram o país para formar e ajudar a fazer face às pandemias da época, num esforço para fechar o vazio deixado pelos portugueses.
Na actualidade, vários médicos cubanos encontram-se no país, distribuídos pelos distritos, onde participam, por exemplo, na campanha de remoção de cataratas.
No dia da morte de Fidel Castro, a vice-ministra da Educação cubana, Cira Alonso, estava reunida, em Maputo, com a vice-ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Nyeleti Mondlane.
No final da reunião, ambas expressaram o desejo de manter a cooperação bilateral focada na educação, dado o histórico das relações entre os dois países.

Fidel Castro abraçou causa nacionalista dos países africanos na luta pela independência
Fidel Castro fez da solidariedade internacional um pilar essencial da política exterior de Cuba. com efeito, Havana ofereceu apoio a muitos movimentos revolucionários e independentistas em África e não só. Argélia foi o primeiro país a beneficiar da ajuda cubana, em 1961. Enquanto lutava contra o colonialismo francês, Fidel Castro respondeu à chamada da Frente de Libertação Nacional e fez chegar armas aos independentistas.
Do mesmo modo, Cuba desempenhou um papel-chave na luta contra o Apartheid; enviou cerca de 300 000 soldados a Angola, entre 1975 e 1988, para fazer frente à agressão do exército da África do Sul.
O elemento decisivo que pôs fim ao regime racista apoiado pelas potências ocidentais foi a estrondosa derrota do exército sul-africano em Cuito Cuanavale, no sudeste de Angola, contra as tropas cubanas, em janeiro de 1988.
África do Sul, sob liderança da minoria branca, moveu uma guerra similar também contra Moçambique, na qual o país contou igualmente com apoio cubano para enfrentar a guerra movida pela Renamo.
Durante décadas, Cuba foi o santuário dos revolucionários do mundo inteiro, os quais se formaram e se aprimoraram na ilha.
Fidel Castro também acolheu exilados políticos de todos os quadrantes perseguidos pelas ditaduras militares apoiadas por Washington. A Ilha do Caribe também se converteu em refúgio dos militantes políticos perseguidos em vários países sob jugo colonial.
Fidel Castro sempre fez da solidariedade humanitária internacional um pilar fundamental da política externa de Cuba.
 
“El comandante” terá sobrevivido a mais de 600 tentativas de assassinato
Depois de inúmeras alegadas tentativas de assassinato, Fidel Castro morreu aos 90 anos. Apesar de não ser consensual o número exacto, refere o Daily Mail que o líder da Revolução Cubana conseguiu escapar a 638 ataques da CIA que visavam matá-lo. Quem o diz é Fabian Escalante, o homem que protegia Fidel.
O certo é que Fidel Castro, que nasceu a 13 de Agosto de 1926, em Biran, teve uma morte natural, aos 90 anos de idade.
Ao longo dos 47 anos em que esteve no poder, Fidel Castro foi uma figura ímpar em Cuba e no mundo. “El Comandante”, como era conhecido, tinha apenas 32 anos quando derrubou o ditador cubano Fulgêncio Batista, em 1959, transformando a partir daí Cuba num ícone do comunismo e tornando-se ele próprio um mito.
Mas o líder histórico da revolução de 1959 viria a ceder o poder ao irmão, Raul Castro, em 2006, depois de sofrer uma hemorragia intestinal. Último protagonista da Guerra Fria, governou o país com mão de ferro durante os 47 anos, mas continuou a ser o principal líder e guia ideológica do regime praticamente até à morte.
Durante a última década, fez poucas aparições públicas, foi dado como morto várias vezes na internet e nas redes sociais. A sua última aparição pública foi durante as celebrações dos 90 anos, a 13 de Agosto.
A morte de Fidel Castro, uma das figuras mais icónicas do século XX, fecha um ciclo e surge numa altura em que as relações entre Cuba e Estados Unidos foram retomadas. Os dois países assinaram um acordo histórico, anunciado em Dezembro do ano passado por Barack Obama, e reabriram as respectivas embaixadas em Washington e Havana.

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