domingo, 20 de novembro de 2016

Frente Nacional de Le Pen à frente nas sondagens presidenciais em França

União Europeia

Marine Le Pen não é Trump

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Há um aspecto central que separa Le Pen de Trump e dos partidários do Brexit: o Euro. Nada indica que haja em França uma maioria a favor da saída do Euro, como defende a Frente Nacional.
É espantoso como tanta gente olha para o mundo como se fosse um dominó. Depois do Brexit e de Trump, dizem os teóricos do dominó, será a vez da França com a chegada de Le Pen filha ao Eliseu. Esqueçam os dominós. Trump é diferente do Brexit e Marine é muito diferente de ambos. Será tentador explicar o referendo britânico, a eleição norte americana e a eleição francesa com o recurso a uma grande teoria, o crescimento do populismo no mundo ocidental, mas não é muito esclarecedor.
Vamos aceitar que o populismo aumentou no Reino Unido, o que se confirma com o crescimento do UKIP e com a conquista do partido trabalhista pelo socialismo populista. O populismo não explica, contudo, o Brexit. O cepticismo em relação à integração europeia marcou sempre a política britânica, sobretudo desde a década de 1990. Com populismo ou sem populismo, seria sempre difícil para o campo do Sim ganhar um referendo europeu em Inglaterra. Mas o que explica a vitória do Não foi a divisão do partido conservador em relação à Europa, uma das questões centrais da política britânica desde o consulado de John Major. Se os Tories estivessem unidos na questão europeia, o Sim à Europa teria ganho o referendo. Sozinho, o UKIP não seria suficiente para tirar os britânicos da UE.
A coligação anti-europeia no interior dos conservadores é composta por correntes com motivações diferentes, mas até ao dia das eleições americanas, a maioria do partido era crítica de Trump, ou no mínimo mantinha uma distância prudente. Uma das principais figuras conservadoras, Boris Johnson, chegou a afirmar que não iria a Nova Iorque para não correr o risco de encontrar Trump. Os Tories nunca se entusiasmaram com Trump e muitos atacaram o candidato republicano.
Se a distância entre os conservadores e Trump têm sido notórias (nisso os Tories têm sido muito europeus), a diferença entre Trump e Le Pen é igualmente clara. Até a dimensão anti-sistema dos dois é diferente. Trump combateu o sistema político para vencer as eleições, mas foi sempre próximo do establishment empresarial e financeiro. Marine Le Pen detesta os círculos financeiros e capitalistas, mas a Frente Nacional faz parte do sistema político francês há cerca de duas décadas. Trump pretende reforçar Wall Street. Le Pen quer combater o poder financeiro. Trump é acima de tudo um político pragmático. Le Pen lidera um projecto ideológico. Trump foi o candidato dos republicanos americanos. Marine quer derrotar e destruir os republicanos franceses.
Marine Le Pen pode acabar por ser eleita, mas não estou convencido pelo argumento de que a vitória de Trump a favorece politicamente. Tendo em conta a profunda antipatia da esmagadora dos franceses por Trump, parece-me estranho que a aproximação ao novo presidente americano seja uma estratégia eleitoral vitoriosa em França. Além disso, a possibilidade de uma vitória de Le Pen não surgiu com a chegada de Trump à política.
Por fim, há um aspecto central que separa Le Pen de Trump e dos partidários do Brexit: o Euro. Nada indica que haja em França uma maioria a favor da saída do Euro, como defende a Frente Nacional. Os que votaram em Trump, nos Estados Unidos, e na saída da UE, no Reino Unido, não receiam as consequências económicas das suas escolhas. A maioria dos franceses pode estar insatisfeita e zangada com os políticos, mas sabe fazer contas. Os franceses sabem que o regresso ao franco iria baixar os salários, as pensões e as poupanças. Estas questões não estavam em jogo no referendo britânico nem nas eleições americanas. As grandes teorias podem ser apelativas, e por vezes são úteis, mas as eleições decidem-se no interior de cada país e são influenciadas por questões nacionais. A política é mais complicada do que os jogos de dominó.

Sarkozy fora das eleições presidenciais francesas e diz adeus à política

Atualizado
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Regresso à política do ex-Presidente francês pode ser de muito curta duração. Com mais de metade dos votos contados, 'Sarko' nem sequer está em lugar para ir à segunda volta nas primárias.

AFP/Getty Images
Os franceses começaram a escolher este domingo o candidato de centro-direita a disputar as presidenciais do próximo ano. A principal surpresa da noite eleitoral francesa veio de onde menos se esperava: Nicolas Sarkozy: o ex-Presidente francês, não conseguiu sequer assegurar uma vaga para segunda volta. Com este resultado, “Sarko” reconheceu a derrota e despediu-se da vida política.
O vencedor desta primeira volta das primárias da coligação de direita e centro-direita acabou por ser François Fillon, precisamente o antigo primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy. Alain Juppé, o ex-primeiro-ministro que foi durante meses o favorito a vencer as primárias do centro-direita e que soma, aos 71 anos, uma reputação invejável entre os eleitores de centro-direita, ficou em segundo lugar e passa a próxima volta das primárias.
Com 9291 de assembleias de voto contadas, num total de 10229, François Fillon soma já 44,2% dos votos. A aposta numa campanha centrada em assuntos críticos para França, especialmente nos últimos dois anos, como a imigração e o terrorismo, parece estar a dar resultado. Alain Juppé, por sua vez, soma até ao momento 28,4% dos votos. Sarkozy ficou em terceiro, com apenas 20,7% dos votos.
O ex-Presidente Francês foi lesto em conceder a derrota e deu, desde logo, o seu apoio a François Fillon para a segunda volta das primárias.
De acordo com as mais recentes sondagens, será a direita a assumir novamente o poder nas próximas eleições, fruto da pouca popularidade dos socialistas depois da governação de François Hollande. A questão nesta altura é que tipo de direita assumirá o poder em França: o UMP de Fillon, Juppe e Sarkozy ou a Frente Nacional de Marine Le Pen? As mais recentes sondagens nacionais dão a vitória a Marine Le Pen.

Sarkozy reconhece derrota e promete apoio a Fillon

O ex-Presidente francês, o grande derrotado da noite eleitoral francesa, reconheceu a derrota, admitindo que votará em François Fillon na segunda volta das primárias, e aproveitou o momento para se despedir da vida política.
“Gostaria de felicitar Fraçois Fillon e Alain Juppé. São duas personalidades de grande qualidade, que honram a direita francesa. Apesar de algumas divergências (…), as minhas escolhas políticas estão mais próximas das de de François Fillon. Votarei em Fillon na segunda volta das primárias”, assegurou o Sarkozy.
“Não tenho qualquer sentimento amargo, nem de tristeza. Desejo melhor para o meu país e para aquele que terá de liderar este país. A direita deu uma boa imagem, estou feliz por ter participado nesta luta. Adeus a todos”, despediu-se o ex-Presidente francês.

Alain Juppé promete lutar na segunda volta

O segundo candidato mais votado nesta primeira volta das primárias da coligação de direita e centro-direita, Alain Juppé, garantiu que vai “continuar a lutar” por “todos aqueles” que acreditaram na sua campanha.
“Acredito que, mais do que nunca, os franceses precisam de se unir para virar a página desastrosa dos últimos cinco anos e para bloquear a Frente Nacional. Quero unir os franceses à volta de reformas credíveis. Quero implementar reformas justas de que todos os franceses vão beneficiar”, reiterou Juppé.
Apesar da intenção de Juppé, o grande favorito para ocupar a vaga de candidato da coligação desenhada entre Os Republicanos e o Partido Cristão-Democrático parece ser mesmo François Fillon. O ex-primeiro-ministro de Sarkozy já reagiu à vitória nesta primeira volta das primárias e prometeu representar uma “nova esperança” para os franceses.
“Sou o escolhido por aqueles que querem fortalecer França. Essa esperança vem de um povo, livre de pensamento. É preciso romper com este período de cinco anos de falhanços. O meu projeto trará uma nova esperança. Trago comigo os eleitores da direita e do centro que querem a vitória dos seus valores”, afirmou Fillon.
*Artigo atualizado às 23h50 com os últimos resultados eleitorais
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Meses após o "Brexit", pouco depois da eleição de Trump, desta feita a França: Marine Le Pen é (com alguma margem) a favorita à primeira volta das eleições presidenciais de maio.

SEBASTIEN BOZON/AFP/Getty Images
Ainda é cedo. As eleições presidenciais em França são apenas em maio do próximo ano. E continuam ainda por conhecer todos os candidatos, da esquerda à direita. Mas à direita, na extrema direita, a candidata será Marine Le Pen. E Marine é, por agora, a favorita a vencer a primeira volta. E com alguma margem.
A sondagem divulgada pela Ipsos (e que analisa cinco hipotéticos cenários eleitorais com candidatos diferentes) é clara: a Frente Nacional pode mesmo chegar ao poder. Marine Le Pen surge com 29% das intenções de voto, seguida pelo partido Les Républicains de Nicolas Sarkozy (21%) e por Jean-Luc Mélenchon (14%) do Parti de Gauche.
É verdade que o ex-presidente Sarkozy surge como principal adversário de Marine. Mas nem ele sabe se será realmente o adversário. É que a sondagem surge na mesma semana em que se disputa a primeira volta (será este domingo) das eleições primárias à direita. Neste altura são sete os candidatos a votação. Na próxima semana, os dois que melhor resultado conseguirem vão disputar a segunda e derradeira volta. E a votação está renhida entre três deles: Sarkozy, o ex-primeiro ministro Francois Fillon e Alain Juppé.
Mas a França prepara-se para uma vitória (ou, pelo menos, o favoritismo eleitoral) da Frente Nacional. Esta semana, quando questionado sobre a ascensão de Marine Le Pen e da extrema direita ao Palácio do Eliseu, o atual primeiro ministro Manuel Valls confirmou que esta é “uma possibilidade”, alertando depois para “riscos” de tal eleição.
Marine lidera desde 2011 o partido que o pai, Jean-Marie Le Pen, fundou em 1972. Um partido populista, anti-emigração e anti-europeísta. É assim que se assume sem peias — e quando não se “assume”, di-lo nas entrelinhas — a Frente Nacional no seu programa político.
Nas presidenciais de 2012, eleição à qual Marine concorreu — como, aliás, o pai Jean-Marie sempre fizera –, a Frente Nacional acabaria por ficar em terceiro lugar da primeira volta com 17.9% dos votos. Sakozy obteve 27.18% e François Hollande, eleito depois, 28.63%.

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