Prémio Leaders & Achievers-Flecha Diamante 2016 PMR Africa
MoçambiqueJBra
s
i
l
JS.
T mo
AUE Jé
JPort
u
galJ
Pág. 3
Corrupção na compra dos embraers pela LAM
Outra vez Valentina Guebuza
Migração digital Pág. 12
TEMA DA SEMANA 2 Savana 04-11-2016
Oitocentos mil dólares em
subornos pagos a altos
quadros do Estado mo-
çambicano na venda de
duas aeronaves pela Embraer à
LAM saíram dos cofres do Estado
moçambicano, revelam os termos
do acordo a que a fabricante brasileira
chegou com o Departamento
de Justiça dos EUA para o encerramento
de um processo sobre
vários casos de alegada corrupção.
De acordo com o documento, que
narra esquemas de corrupção com
tentáculos em vários países e divulgado
em finais de Outubro, uma
vez que os gestores da companhia
brasileira comunicaram aos intermediários
dos subornos que não
tinham como inscrever os pagamentos
ilícitos nas contas da companhia,
os altos responsáveis do
Estado moçambicano que se digladiavam
pelas “luvas” sugeriram que
a Embraer subisse ficticiamente o
preço dos dois aparelhos, ambos E
190.
Dito e feito. De uma proposta inicial
de 32 milhões de dólares por
cada uma das aeronaves, a Embraer
acabou assinando um contrato de
venda de cerca de 32.690 mil dó-
lares por cada uma das aeronaves.
Uma entidade, apenas designada
no documento por Agente C, terá
recebido os subornos, canalizando-
-os depois para os moçambicanos.
Para a concretização da manobra,
o Agente C criou uma empresa
fantasma com sede em São Tomé
e Príncipe, aí domiciliando a conta
usada para a drenagem dos subornos.
Um reputado jurista moçambicano
em comentários ao SAVANA
enfatizou que é complexo provar o
crime de corrupção, dadas complexas
rotas que segue e que tal apenas
é possível quando há um desentendimento
entre os integrantes do
grupo.
“O Gabinete Central de Combate
à Corrupção (GCCC) devia pegar
este caso em concreto, seguir toda
esta rota de subornos, identificar o
tal Agente C e verificar para quem
foram feitas as transferências para
Moçambique. Mas isso é improvável
dado o compadrio e proteccionismo
que reinam cá em casa”,
lamentou. Porém, formalmente o
GCCC está a investigar a opera-
ção de compra, venda e aluguer dos
Q400, num processo que envolve a
LAM e uma empresa estrangeira,
que o organismo subordinado à
Procuradoria Geral da República
(PGR) não cita o nome.
“No decurso da instrução preparatória,
o GCCC tomou conhecimento
de alguns factos relacionados
com a compra, venda e aluguer
de duas aeronaves Q400, num
processo que envolve LAM e uma
empresa estrangeira, cuja análise
sumária levantou suspeitas quanto
à aplicação do valor proveniente
da venda das aeronaves. Face à
suspeita e para apurar os factos, no
dia 5 de Julho de 2016 foi autuado
o processo-crime registado sob
o número 52/GCCC/16 e junto
da Inspecção-Geral de Finanças
foi solicitada a realização de uma
auditoria ao processo de compra,
venda e aluguer”,
Contas nos EUA, São Tomé
e Portugal
“No dia 22 de Abril de 2009, sete
meses após a concretização do
contrato de venda, mas antes da
entrega da primeira aeronave, a
Embraer RL (subsidiária norte-
-americana) chegou a um acordo
de agenciamento com a empresa
que o Agente C tinha recentemente
criado na República Democrá-
tica de São Tomé e Príncipe. Dois
directores da Embraer assinaram
o acordo de agenciamento em
nome da empresa, que autorizava
o Agente C a promover as vendas
dos E 120 especificamente à
LAM”, lê-se no texto do acordo
entre o Departamento da Justiça
dos EUA e a companhia brasileira,
a que o SAVANA teve acesso.
No documento, enfatiza-se que o
acordo entre a Embraer e o Agente
C foi rubricado sete meses depois
de a venda das duas aeronaves
ter sido concluída. A empresa do
Agente C não tinha sido sequer
constituída quando o contrato de
compra e venda entre a Embraer e
a LAM foi assinado.
“A companha do Agente C não
realizou nenhuma actividade legítima
em relação ao acordo de
compra. O acordo com o Agente C
declarava falsamente que o esforço
de promoção de venda em causa
começou por volta de Março de
2008”, diz o documento.
No texto do acordo entre a Embraer
e o Departamento da Justiça
norte-americano, é referido que os
altos quadros do Estado moçambicano
que receberam os subornos
deixaram claro que com 400 mil
dólares por cada uma das duas aeronaves
vendidas à LAM o assunto
ficava arrumado, depois de terem
considerado um insulto uma proposta
da Embraer de pagar apenas
50 mil dólares de subornos, que
podiam ser aumentados para 80
mil, se fosse necessário, por cada
um dos dois aparelhos, e pagar entre
2% e 2.5% do preço de compra
das aeronaves.
“Os funcionários moçambicanos
indicaram que alguns quadros do
Estado consideraram a proposta
da Embraer um insulto e que teria
sido menos insultuoso não dar
nada, mesmo tendo em conta que
esta opção não era aceitável”, refere
o documento, que sustenta as suas
provas em alegados “emails” trocados
entre as partes supostamente
envolvidas nos esquemas de corrupção.
Na sequência da reacção negativa
da parte moçambicana, continua
o documento, o Director da Embraer
perguntou o que o Agente C
esperava da companhia brasileira,
ao que o mesmo retorquiu que um
milhão em subornos seriam um
bom acordo.
Contudo, prossegue o documento,
nem o Agente C nem a sua companhia
realizaram qualquer serviço
legítimo a favor da Embraer. A
fabricante entregou as duas aeronaves
à LAM a de 30 de Julho de
2009 e a 02 de Setembro de 2009.
Depois da entrega das duas aeronaves,
a empresa do Agente C passou
duas facturas no valor de 400
mil dólares, cada, à Embraer, uma
datada de 15 de Agosto de 2009 e
outra de 24 de Setembro de 2009.
Um director da Embraer assinou
e aprovou as facturas para pagamento.
A 31 de Agosto de 2009,
a Embraer RL transferiu 400 mil
dólares da sua conta nos EUA para
uma conta em São Tomé e Príncipe,
que depois foram transferidos
para uma conta da empresa do
Agente C em Portugal.
O nome do intermediário
dos subornos
A 02 de Outubro de 2009, a EmEm
meados de 2008, durante as
negociações entre a Embraer e
LAM, o Agente C, que até então
não tinha tido nenhum papel nas
negociações, contactou o Director
e disse que iria actuar como consultor
no negócio.
“O Agente C é um indivíduo cuja
identidade é conhecida dos EUA e
na verdade foi usado para a canalização
dos subornos para dirigentes
moçambicanos”, diz o documento.
Na nota do acordo entre a Embraer
e o Departamento da Justi-
ça norte-americano, a fabricante
brasileira compromete-se a pagar
mais de 200 milhões de dólares
aos EUA por práticas de corrup-
ção, assumindo que responsáveis
da companhia envolveram-se no
pagamento de subornos em opera-
ções de venda de aeronaves a companhias
de vários países, incluindo
em Moçambique.
Subornos terão saído dos cofres do Estado
A rota da corrupção na compra dos embraers pela LAM
braer RL transferiu mais 400 mil
dólares dos EUA para a conta da
empresa do Agente C em Portugal.
A Embraer registou estes
pagamentos como comissões de
venda e foram inscritos nos livros
de contabilidade da empresa como
custos operacionais líquidos, sendo
tratados como despesas de venda,
especificamente como “comissões
de venda”.
O documento indica que tudo começa
a 21 de Maio de 2008, quando
a Embraer entrega uma proposta
formal à LAM para a venda
de dois aviões comerciais por 32
milhões de dólares. A proposta
seguiu-se a quase três anos de
tentativas do Director da Embraer
de convencer a transportadora
moçambicana a aceitar a aquisição
de aparelhos da fabricante brasileira
em detrimento de aeronaves de
companhias concorrentes.
TEMA DA SEMANA Savana 04-11-2016 3
PUBLICIDADE PUBLICIDADE
TEMA DA SEMANA 4 Savana 04-11-2016
Pode ser que sim, como
também pode ser que não.
Tudo está dependente do
que Maputo fará doravante
no cumprimento de um roteiro
que compreende três pontos
decisivos colocados na mesa pelo
Fundo Monetário Internacional
(FMI) para a retomada do apoio
financeiro suspenso, em Abril último,
na sequência da descoberta
do escândalo das dívidas ocultas
estimadas em USD 1.4 mil milhões.
Decorria, na manhã de 2 de Novembro,
em Maputo, a Cimeira da
Financial Times, quando o novo
representante do FMI, em Mo-
çambique, fez conjecturas sobre o
sinuoso caminho que poderá levar
ao restabelecimento do programa
financeiro com Moçambique.
No evento desta quarta-feira, subordinado
ao lema “acelerando o
retorno ao crescimento e à estabilidade”,
Ari Aisen, que semana finda
havia reiterado que é preciso abrir
portas para a realização de uma auditoria
internacional e independente
às dívidas ocultas, disse que, neste
momento, é difícil ser assertivo sobre
quando, efectivamente, o FMI
retomará a ajuda a Moçambique.
Contudo, Aisen, um economista
sénior do FMI, garantiu que se
Maputo cumprir as três principais
etapas agora colocadas na mesa pela
instituição dirigida por Christine
Lagarde, pode ser que até ao final
do primeiro trimestre do próximo
ano, seja retomada a ajuda.
São etapas que, diferentemente da
longa lista inicialmente emitida,
por enquanto compreendem apenas
uma auditoria internacional e independente,
a reestruturação da dívida
oculta e o ajustamento da política
fiscal e monetária.
Sobre a auditoria, inicialmente
designada por forense, mas agora
tratada apenas como internacional
e independente, o representante do
FMI disse que só essa engenharia é
que pode esclarecer todas as zonas
cinzentas à volta das dívidas ocultas.
Ari Aisen vincou que a reestrutura-
ção da dívida, processo ora iniciado
pelo governo moçambicano, através
do ministro das Finanças que recentemente
esteve em Londres, é
um passo fundamental para a retomada
do programa.
Aisen, que saudou as recentes medidas
do Banco de Moçambique, que
agravou as taxas de juro de referência
em 600 pontos base, passando
de 17,25% para 23,25% as Facilidades
Permanentes de Cedência de
Liquidez (FPC) e de 10,25% para
16,25%, as Facilidades Permanentes
de Depósito (FPD), alertou que
este não é o momento para bonan-
ças. É hora, isso sim, de se reduzir
a despesa e concentrar as atenções
nas áreas mais críticas. Indicou que
cada metical deve ser posto ao serviço
dos cidadãos mais vulneráveis.
“Até Junho do próximo ano podemos
ter o programa. Espero não
estar errado”, previu o economista
FMI faz projecções na Cimeira do Financial Times
Talvez lá para Junho de 2017
e as esperanças das autoridades de
chegarem a acordo antes de Janeiro,
quando as negociações com o FMI
vão recomeçar, são demasiado optimistas”,
escreve a unidade de análise
económica da revista britânica The
Economist.
Numa nota aos investidores, os analistas
da Economist afirmam que
“convencer os credores a esperar
pelo gás é improvável; as decisões
finais de investimento ainda não
foram tomadas em nenhum dos
projectos planeados, os preços globais
do gás estão baixos e, mesmo
com os projectos em andamento, os
investidores teriam de suportar os
custos até à materialização das receitas
do Governo”.
Por isso, concluem, “ganhar 6, 2
mil milhões de dólares do gás em
2023 é altamente improvável”, o
que dificulta bastante a intenção
do Governo de adiar ao máximos
os pagamentos da dívida pública
para a próxima década, quando
os projectos de gás já devem estar
em funcionamento, permitindo um
considerável encaixe financeiro aos
cofres do Estado.
A estratégia defendida, antecipa a
EIU, “deverá passar por negociar
maturidades mais longas e por uma
moratória nos principais pagamentos
até que as receitas dos projectos
de gás se materializem”, dado que
o Executivo previu, na apresenta-
ção aos credores que fez na semana
passada em Londres, “um aumento
de 2 mil milhões de dólares por ano
entre 2021 e 2025, chegando a 6,2
mil milhões em 2023”.
Oprimeiro painelista do dia
foi o ministro moçambicano
da Economia e
Finanças que, tal como o
representante do FMI, esteve num
frente-a-frente com o editor da Financial
Times para Médio Oriente
e África, Andrew England.
Chamado a explicar “onde foi parar
o dinheiro”, Adriano Maleiane,
num terreno impróprio para discursos
de ocasião, respondeu que
ele também está à espera da auditoria
para ter esclarecimentos do
que, efectivamente, aconteceu com
o dinheiro.
Mas duma coisa o ministro tem
certeza: o dossier auditoria está
bem encaminhado.
“Os termos estão, praticamente,
fechados e agora segue-se a
contratação do auditor externo e
independente e isso está bem encaminhado”,
garantiu Maleiane,
que traçou um quadro cinzento da
situação económica do país.
“Esta auditoria é importante para
esclarecer se o dinheiro foi ou não
aplicado naqueles activos”, retorquiu
às insistências sobre os meandros
das dívidas contraídas à revelia
das instituições de soberania do
país e do FMI, durante o mandato
do presidente Armando Guebuza.
Maleiane explicou que o país, inclusivamente,
pode não alcançar o
crescimento de 3.7%, fixado no or-
çamento rectificativo, contra a projecção
inicial de 6.6%. Neste momento,
Moçambique está a usar a
tesouraria, baseada nos impostos,
para fazer face às despesas.
“Hoje vivemos daquilo que cobramos”,
admitiu o ministro, vincando
que, para inverter o cenário, o governo
está tudo a fazer para restaurar
a confiança dos parceiros. Maleiane
admitiu que o crescimento
pode ser ainda mais diminuto senão
“for resolvida a questão principal,
a paz”.
Por outro lado, o ministro, que ainda
este ano afirmou que as dívidas
escondidas não afectam o bolso do
cidadão, esta semana, reconheceu
que, efectivamente, a inflação tem
que ver com as suspensões em bloco
das ajudas ao país, exactamente,
devido às dívidas ocultas.
“A causa da inflação foi a queda
repentina de divisas”, concordou o
ministro que no passado já se esforçou
em afastar a “causa dívidas”
na subida do custo de vida.
Na sua alocução, Maleiane felicitou
aos moçambicanos para aquilo
que chamou de “capacidade de
compreensão” que têm mostrado
desde Abril, uma “felicitação” que
surge uma semana depois de a
Organização Nacional dos Trabalhadores
de Moçambique (OTM-
-Central Sindical) ter emitido um
alerta sobre o risco de convulsões
sociais devido ao agravamento do
custo de vida.
Porém, garantiu que, ao nível das
finanças, se está a imprimir disciplina,
reduzindo os níveis de despesa,
ao mesmo tempo que se está
a montar todo o esquema para a
cobrança de impostos.
A cerimónia da abertura da Cimeira
da Financial Times, sobre
“acelerando o retorno ao crescimento
e à estabilidade”, foi aberta
pelo presidente moçambicano, Filipe
Nyusi.
Depois de dar o quadro daquilo
que, de encontro em encontro o
presidente chama de factores externos
e internos, Nyusi centrou
o seu discurso em peditórios, em
nome de um governo que endividou
o país, alegadamente, para
reforçar a sua soberania que, entretanto,
está beliscada ao ponto de
se chegar a “pedidos de socorro” ao
sector privado não só internacional,
mas também o empresariado
nacional.
Com um governo fragilizado nas
praças internacionais, Nyusi pediu
investimentos na agricultura, argumentando
que é um sector estraté-
gico e com oportunidades.
“Queremos vos convidar a investir
no turismo” exortou aos investidores
ali presentes.
“Instamos na produção de energias
térmica e renovável” prosseguiu,
acrescentando: “queremos que se
juntem a nós na empreita econó-
mica”.
A Cimeira do Financial Times serviu
de estreia internacional à nova
ministra dos Recursos Minerais e
Energia, Letícia Klemens, e para a
exposição de duas das “estrelas” da
administração Nyusi: o ministro
do Desenvolvimento Rural, Celso
Correia que apareceu a falar sobre
agricultura e o ministro da Indústria
e Comércio, Max Tonela.
“Auditoria está bem encaminhada”
- ministro Adriano Maleiane
com mais de 15 anos em macroeconomia
em desenvolvimento e com
uma extensa experiência pela Amé-
rica Latina, Ásia e Médio Oriente.
Entretanto, uma eventual retomada
do programa de ajuda financeira do
FMI pode abrir caminhos para os
restantes parceiros de Moçambique,
incluindo o grupo dos 14, retomar
os financiamentos ao país, porquanto,
têm no FMI, uma espécie de
“termómetro” para disponibilizarem
ou não os seus fundos.
A semana passada em Washington,
Gerry Rice, do Departamento de
Comunicações do FMI, reiterou
que aquela instituição da Brettons
Woods não vai desembolsar qualquer
ajuda financeira para Moçambique,
enquanto a dívida pública do país
não voltar a um patamar considerado
sustentável.
“Em linha com as políticas do
fundo, não podemos desembolsar
fundos numa situação em que pensámos
que a dívida não é sustentá-
vel. Emitimos um comunicado em
relação a esta situação esta semana”,
disse, durante uma conferência de
imprensa. De acordo com as regras
do FMI, não pode ser dada ajuda fi-
nanceira a um país com debt distress,
ou seja, com dívida em esforço ou
problemática, e para avaliar esta dí-
vida o FMI recorre a cinco indicadores.
Actualmente, Moçambique
fura todos os cinco indicadores para
avaliar a sustentabilidade da dívida.
Tal como com para qualquer outro
país, repisou Rice, para desembolsar
auxílio financeiro, o FMI precisa de
ter a certeza de que a dívida do país
receptor é sustentável.
Para o FMI, continuou, a realização
de uma auditoria independente à
situação da dívida pública de Mo-
çambique é um passo importante
visando o reatamento de negocia-
ções para uma ajuda financeira.
Enquanto decorria a conferência da
Financial Times em Maputo, corria
célere a indicação de que os juros da
dívida pública moçambicana passaram
a ser os mais altos do mundo,
com 25,1% ao ano, ultrapassando a
Venezuela no lugar de país mais arriscado
para investir no mundo.
Segundo a evolução dos juros que
os investidores exigem para transaccionar
os títulos da dívida pública
emitida em dólares, desde segunda-
-feira que o valor dos eurobonds com
maturidade em 2023 ultrapassou a
média dos juros das emissões de dí-
vida da Venezuela.
Moçambique tornou-se, assim, o
país mais arriscado para os investidores
financeiros, de acordo com
a evolução dos juros da dívida, um
dos mais conhecidos indicadores da
percepção do mercado sobre a segurança
dos investimentos financeiros
feitos num país.
Nesta quarta-feira, a Economist
Intelligence Unit (EIU) considerou
que o plano de reestruturação
da dívida pública, apresentado por
Moçambique aos credores internacionais,
é irrealista pelos prazos que
apresenta e pela previsão de receitas
de gás que estima.
O plano do Governo é irrealista;
as negociações vão ser complexas,
com múltiplas partes envolvidas,
´)NOTIFICAÇÃO
ASuécia poderá apoiar
uma auditoria internacional
independente
aos empréstimos escondidos
por Moçambique no
valor de cerca de 1,4 mil milhões
de dólares, noticiou quarta-feira
a Bloomberg, citando uma fonte
próxima do processo.
De acordo com a notícia da agência
de informação financeira, os
termos de referência (TdR) para a
realização da auditoria, que é uma
das exigências do Fundo Monetá-
rio Internacional para retomar as
conversações sobre um novo programa
de ajuda financeira ao país,
deverão ser concluídos até meados
deste mês, lançando depois a Procuradoria
Geral da República um
concurso público internacional.
Anteriormente, a Grã-Bretanha
também sugeriu que poderia fi-
nanciar a auditoria internacional.
Segundo soube o SAVANA, uma
das questões pendentes nos TdR
está relacionada com as potenciais
acções judiciais a iniciar contra
funcionários governamentais mo-
çambicanos que potencialmente
possam estar envolvidos em ilícitos
criminais. Esta questão divide
profundamente a nomenklatura
do partido Frelimo que vê nessa
possibilidade uma ingerência nos
assuntos internos de Moçambique.
Um elemento pertencente ao
aparelho securitário moçambicano
afirmou que, se os elementos
forenses da auditoria forem em
frente, os dossiers mais “quentes”
serão depositados no Ministério
da Defesa Nacional sem qualquer
possibilidade de acesso por parte
de auditores internacionais.
A Bloomberg tentou contactar o
porta-voz da PGR moçambicana
e a embaixada da Suécia em Maputo,
mas sem sucesso. A Suécia
faz parte do grupo de doadores
internacionais que suspendeu em
meados deste ano a ajuda financeira
a Moçambique, no seguimento
da divulgação de empréstimos internacionais
com garantia estatal,
mas que foram escondidos do FMI
e de todas as instituições oficiais.
A PGR de Moçambique, segundo
a fonte da Bloomberg, indicou
ainda que o processo de selecção
da empresa que fará a auditoria
demorará o máximo de 90 dias, o
que atira o início da auditoria para
meados de Fevereiro, já furando o
prazo apontado pelo Ministério
de Economia e Finanças (MEF)
numa apresentação da incapaciSuécia
poderá apoiar auditoria à dívida escondida
dade financeira do país, feita em
Londres no final de Outubro.
A realização de uma auditoria às
contas das empresas públicas que
contraíram empréstimos internacionais
garantidos pelo Estado, no
valor de 1,4 mil milhões de dólares,
e do processo que levou à conversão
das obrigações da Empresa
Moçambicana de Atum (Ematum)
em títulos de dívida pública,
é uma das exigências do FMI para
preparar um novo programa de
ajuda financeira.
A outra exigência técnica do FMI
passa pela avaliação das finanças
públicas do país, que actualmente
está em ‘debt distress’, ou seja, com
dívida em esforço ou problemática,
o que impossibilita a ajuda fi-
nanceira - para avaliar esta dívida
o FMI recorre a cinco indicadores.
“Actualmente, Moçambique fura
todos os cinco indicadores para
avaliar a sustentabilidade da dí-
vida”, assume o documento apresentado
aos investidores internacionais,
que propõe, por isso,
um conjunto de reuniões com os
credores das empresas públicas
Mozambique Assett Management
e Proindicus para delinear os pró-
ximos passos.
O principal objectivo, agora, é “retomar
as relações com o FMI para
estabilizar a economia e restaurar
a confiança da comunidade internacional”,
mas o Governo assume
que “as discussões só podem recomeçar
se Moçambique já não estiver
na categoria de país com ‘dí-
vida em esforço’ [debt distress, no
original em inglês], o que implica
que as finanças e a dívida pública
têm de estar numa trajectória sustentável”,
lê-se no documento.
Definir a trajectória sustentável,
renegociando os termos de pagamento
da dívida, é o que o Governo
se propõe fazer com os credores,
tendo contratado a consultoria
financeira e jurídica das britânicas
Lazard Frères e White & Case
LLP, respectivamente, que a partir
de agora serão a face do Governo
no contacto com os credores.
O prazo desejado por Moçambique
passava pelo início das reuni-
ões com credores ainda em Outubro,
para depois em Novembro
discutir o formato da reestrutura-
ção das dívidas, para chegar a um
acordo em Dezembro e começar
os pagamentos em Janeiro, a tempo
de, no princípio do próximo
ano, recomeçar as negociações
com o FMI sobre um pacote de
ajuda financeira.
Ao longo de 20 páginas, o MEF
evidenciam a incapacidade de pagamento
das dívidas das empresas
que realizaram empréstimos escondidos,
assumem que a dívida
pública vai chegar a 130% do PIB
este ano, e aproveitam para rever
em baixa a previsão de crescimento
económico para 3,7%, afirmando
também sem rodeios que as mé-
tricas da dívida são insustentáveis.
“A depreciação da moeda local
exacerbou o aumento do volume
de dívida e o custo de servir
a dívida; o nível de dívida pública
externa e garantida pelo Estado
excede os 100% do PIB em
2017; o custo de servir a dívida
pública e publicamente garantida,
incluindo atrasos nos pagamentos,
deve chegar aos 826 milhões
de dólares, em média, entre 2017
e 2021, ou seja, aproximadamente
6,9% do PIB por ano”, lê-se na
apresentação disponibilizada aos
credores. Várias fontes contactadas
quarta-feira durante a realização
da “Cimeira do Financial Times”
em Maputo consideram “completamente
irrealistas os prazos para
a realização da auditoria e o calendário
para a retomada dos apoios
financeiros do FMI. (redacção e
Bloomberg)
6 Savana 04-11-2016 SOCIEDADE
Depois de ter falhado a
semana passada o acesso
directo, por parte dos
mediadores, a Afonso
Dhlakama na Serra da Gorongosa,
um ponto crucial para o desfecho
positivo das presentes conversa-
ções, o diálogo na Comissão Mista
ficou interrompido e deverá retomar
na próxima quinta-feira. Porém,
os mediadores/facilitadores
internacionais deixaram para trás
uma proposta com vista ao acordo
sobre a governação das seis províncias
e a trégua militar.
Numa proposta de 14 pontos deixados
para a reflexão das partes até
ao dia 10 de Novembro, os mediadores
fazem notar que, uma vez
acordado e entregue o acordo de
princípios ao Parlamento, deverá
declarar-se uma trégua para possibilitar
“discutir e resolver o assunto
sobre a governação provisória da
Renamo nas províncias num ambiente
mais favorável”.
Na proposta, os mediadores avan-
çam que a questão da trégua militar
é uma “uma questão fulcral” de
todo o entendimento no diálogo
entre o governo e a Renamo. Estabeleceram
a estratégia em dois momentos:
após o alcance do acordo
sobre as províncias, bem como outros
pontos previstos na agenda do
diálogo, a trégua tornar-se-á defi-
nitiva, com vista ao cessar-fogo e ao
previsto encontro entre o Presidente
da República, Filipe Nyusi, e o
líder da Renamo, Afonso Dhlakama,
concluindo-se assim com o
processo de negociações em curso.
Em aplicação do acordo
estabelecido e
assinado aos 17 de
Agosto de 2016, as
Delegações do Presidente da
República e do Presidente
da Renamo concordam em
enviar à Assembleia da República
a seguinte lista de
princípios gerais atinentes ao
processo de descentralização
administrativa do País. Tais
princípios constituem orientações
para a acção legislativa
do Parlamento sobre revisão
da legislação vigente que deve
ser aprovada antes das próximas
eleições, (nomeadamente:
Revisão Pontual ou Substancial
da CRM, Revisão da
Lei dos Órgãos Locais do
Estado e seu Regulamento,
Revisão da Lei das Assembleias
Provinciais, Aprovação
da Lei dos Órgãos de Governação
Provincial, Aprovação
da Lei de Finanças Provinciais,
Revisão da Lei de Bases
da Organização e Funcionamento
da Administração Pú-
blica, Reexame do Modelo de
Autarcização de todos os distritos
conforme a Lei 3/94).
Para o efeito, os seguintes
princípios não deverão ser
contraditos pelas leis que seMediadores
apresentam propostas para
governação das províncias
rão aprovadas pelo Parlamento
relativamente a este assunto:
PREÂMBULO
Uma paz duradoura não depende
só do calar das armas e da solução
dos aspectos militares do conflito
(que representam a sua pré-condição),
mas também da constru-
ção de um Estado mais eficaz,
estável, inclusivo, do crescimento
económico, da justiça económica
e social (distribuição horizontal e
vertical de recursos públicos), do
enraizamento da paz na mente,
na prática, nas culturas das pessoas
e instituições.
1. A descentralização administrativa
representa um elemento
fundamental deste processo
amplo;
2 A República de Moçambique
é um Estado unitário, que respeita
na sua organização os
princípios da desconcentração
do poder, descentralização
territorial da administração
pública e da autonomia das
autarquias locais;
3. A autonomia das províncias
não afecta a unidade do Estado
e exerce-se no quadro da
Constituição e da lei. Cabe à
lei definir a relação entre os
diferentes níveis de administração
do Aparelho do Estado.
4. O Governo Provincial é o
órgão executivo colegial,
responsável pela execução
do programa de governação
aprovado pela respectiva Assembleia.
O Governo Provincial
é dirigido pelo Governador
da Província escolhido
localmente. O Governador
da Província é, ainda, responsável
em coordenação com o
Governo Central, pela implementação
das políticas nacionais
e do projecto do âmbito
central.
5. Os membros do Governo
Provincial são nomeados pelos
Governadores. Os Administradores
Distritais são
nomeados pelo Governador
das respectivas Províncias,
aprovados pelas respectivas
Assembleias Provinciais;
6. Às Assembleias Provinciais
compete aprovar o programa
do Governo Provincial, fiscalizar
e controlar o seu cumprimento.
Compete também
aprovar os orçamentos anuais,
assim como outras iniciativas
de investimentos. Compete
também à Assembleia Provincial
fiscalizar o cumprimento
das deliberações provinciais,
controlar a observância dos
princípios e normas estabelecidos
por lei;
7. Cada programa provincial
deve incluir um projecto de
Reconciliação entre as populações,
entidades políticas,
económicas e sociais, envolvendo
instituições da sociedade
civil existentes no território
e ao nível nacional;
8. Cada programa provincial deve
incluir medidas por uma luta
credível contra a corrupção;
9. As Assembleias Provinciais
podem ser dissolvidas caso
se rejeite por duas vezes e
após debate do programa do
Governo Provincial. Novas
eleições para as Assembleias
Provinciais serão convocadas
pelo Presidente da República;
10. Devem ser claramente estabelecidas
as matérias de competência
do Governo e das
Assembleias Provinciais, as
matérias de competência do
Governo Central e de maté-
rias concorrentes;
11. A cada província deve ser, por
lei, atribuído certo grau de autonomia
financeira a ser exercitado
no quadro da Constituição
e da lei respeitando
os princípios de estabilidade
orçamental, estabilidade das
relações financeiras, solidariedade
entre as províncias,
coordenação, transparência e
controlo;
12. Os Órgãos Centrais do Estado
asseguram a sua representação
nos diversos escalões
territoriais, sem interferência
nas atribuições e
competências dos Órgãos
Eleitos;
13. Cabe ao Parlamento estabelecer
claramente as
competências dos Órgãos
Eleitos e as representa-
ções dos Órgãos Centrais
do Estado.
14. As entidades e organizações
representadas na
mediação monitorarão a
implementação dos princípios
que nortearão a revisão
da Constituição da
República.
Uma vez acordados e entregues
os princípios que nortearão
a revisão da Constituição
da República ao Parlamento,
declarar-se-á uma trégua para
permitir discutir e resolver o
assunto sobre a governação
provisória da Renamo nas
Províncias num ambiente
mais favorável. Após o alcance
dum acordo sobre este
assunto, assim como os outros
pontos previstos na Agenda
do Diálogo, a trégua tomar-
-se-á definitiva, com vista ao
cessar-fogo e ao previsto encontro
do diálogo ao mais alto
nível, concluindo-se assim o
processo das negociações em
curso.
PROPOSTA DOS MEDIADORES/FACILITADORES INTERNACIONAIS
COM VISTA AO ACORDO SOBRE A GOVERNAÇÃO DAS PROVÍNCIAS
E A TRÉGUA
Na visão dos mediadores, a “oferta”
de governadores à Renamo deve ser
entendida como uma “importante
concessão do governo”, que deve
merecer da parte de Dhlakama a
aceitação de uma trégua militar.
Ao que o SAVANA apurou, é
praticamente ponto assente que o
governo está disposto a aceitar a
nomeação de governadores da Renamo,
mas o seu número e poderes,
bem como a extensão a outros
responsáveis provinciais, deverá ser
matéria a decidir no encontro cimeiro
entre Filipe Nyusi e Afonso
Dhlakama.
Na proposta, os mediadores propõem
que os membros do governo
provincial sejam nomeados pelos
governadores, assim como os administradores
distritais, aprovados
pelas respectivas assembleias provinciais.
É preciso lembrar que,
caso esta proposta tenha como base
os resultados eleitorais de 2014,
o Movimento Democrático de
Moçambique (MDM), a terceira
maior força política e que tem
reclamado fazer parte do diálogo,
poderá desempenhar um papel importante
na nomeação dos governadores
e respectivos membros do
governo.
Veja na íntegra a proposta dos mediadores:
Savana 04-11-2016
7
PUBLICIDADE
8 Savana 04-11-2016 SOCIEDADE
Oantigo Presidente da República,
Joaquim Chissano,
diz não fazer sentido
que, passados mais de 20
anos após a introdução da democracia
no país, ainda sejam tomadas
decisões estruturantes sobre os destinos
da nação sem que o povo seja
no mínimo ouvido.
Em declarações ao SAVANA, o
antigo estadista debruçou-se sobre
o assunto da governação das seis
províncias reivindicadas pela Renamo,
apontando que os políticos
deviam criar condições para uma
consulta popular.
Convidado pelo SAVANA a comentar
o rumo das negociações
entre o governo e a Renamo, que
semana finda conheceram um nova
interrupção, o antigo estadista mo-
çambicano começou por apelar à
paciência e confiança entre as partes
envolvidas para alcançarem resultados
positivos.
De seguida, fez um diagnóstico das
negociações e disse que seria importante
fazer participar o povo nas
discussões, como forma de ouvir o
que pensa sobre a proposta do partido
de Afonso Dhlakama.
Segundo Chissano, que falava na
passada quinta-feira, à margem da
conferência sobre a Paz e Seguran-
ça na África Austral, Moçambique
é um estado democrático e o povo
tem direito à palavra sobre todos os
assuntos candentes no país, pois, em
última instância, é sobre o mesmo
povo que vão recair todas as medidas.
Tomou como exemplo a passagem
do monopartidarismo para o multipartidarismo.
“Quando estávamos
para introduzir o multipartidarismo
no país, tivemos de auscultar o povo
para saber o que pensava, apesar
de que estávamos num sistema de
partido único. Primeiro, deixamos
essa missão de auscultação para as
assembleias do povo, mas elas não
foram abrangentes e tivemos de
entregar essa tarefa ao partido que
conseguiu chegar à aldeia mais recôndita
para discutir a Constituição
e explicar o que fosse necessário
dentro da compreensão que tinha a
população”, recordou.
Numa altura em que tardam os
resultados das negociações, prosseguiu,
seria de louvar que fossem
abertos os canais para fazer o povo
participar no processo negocial.
Para o ex-Presidente da República,
uma participação popular não implicaria
necessariamente a presença
na mesa das negociações, podendo
passar pela adopção de um mecanismo
similar ao da auscultação sobre
a introdução do multipartidarismo.
“Seria bonito e louvável que os cidadãos
dessas províncias, de forma
particular, e todos os moçambicanos,
no geral, pudessem dizer o
que pensam sobre o processo, para
depois se dar o cunho político das
conclusões. Penso que este modelo
de ouvir o povo deveria ser alastrado
para todos os problemas que tivermos
no país”, recomendou.
Nesse sentido, convidou académicos
e especialistas em matéria de
auscultação para proporem modelos
ajustados para tornar o processo credível.
“Porque se a missão for emanada
dos partidos políticos, cada um
deles vai procurar fazer de tudo para
influenciar as opiniões e os resultados
não seriam satisfatórios”.
Chissano contra referendo
Joaquim Chissano manifestou-se
contra a realização de um referendo
por considerá-lo credível, pois
limita-se ao “sim ou não”.
No entender do antigo estadista,
que defende que antes de se colocar
a carroça à frente dos bois, é preciso
que ela esteja no seu lugar, é preciso,
em primeiro lugar, promover um
amplo debate sobre este assunto,
para depois se tirarem as conclusões
com as respectivas denominações.
“Vamos analisar os modelos, depois
os conteúdos e, por fim, concluímos
se o que queremos são estados federados
ou federativos (como recomendava
Brazão Mazula, numa
entrevista ao SAVANA), províncias
autónomas ou autarquias provinciais
e como é que a Renamo pretende
governar as referidas províncias”,
referiu, tendo de seguida chamado
atenção para a necessidade de os
modelos de descentralização não
segregarem o país em etnias, tribos,
regiões ou religiões, justificando
que sempre se lutou por um Estado
Unitário.
Para a prossecução desta ideia, o
primeiro presidente de Moçambique
democrático diz que o líder da
Renamo tinha de refrear os ânimos
sobre a governação e dar tempo à
criação de instituições para o efeito,
uma vez que se trata de um processo
que requer tempo e seria um valioso
contributo no quadro da descentralização.
Chissano deixava transparecer, nas
entrelinhas, que uma vez que Afonso
Dhlakama apregoa que a governação
das seis províncias é uma exigência
das populações das referidas
províncias, esta seria a melhor maneira
de perceber quais os modelos
a adoptar e não impor soluções às
populações.
Poder não é para se servir
Já na conferência sobre segurança e
paz na África Austral, organizada
pela Fundação Friedrich Ebert juntamente
com a Rede de Gestão de
Segurança e Defesa da África Austral,
Gilbert Khadiagala da Universidade
de Witwatersrand da África
do Sul e André du Pisani da Universidade
de Namíbia, que foram os
principais intervenientes do diálogo
com o antigo presidente moçambicano,
Joaquim Chissano apontou a
ausência de uma visão conjunta e estratégica
dos líderes africanos para
combater as desigualdades e segurança,
factos que depois contribuem
para a falta de dignidade dos povos
e, em última instância, propiciam
conflitos, como sendo os principais
problemas das últimas décadas.
Convidado a comentar, Chissano
disse que é preciso que haja coragem
para dialogar e restaurar a confiança.
Tomando Moçambique como um
dos exemplos das diversas situações
que ocorrem em África, como a falta
de paz e do bem-estar, defendeu
a necessidade de uma mobilização
dos diferentes intervenientes dos
processos políticos para o trabalho
colectivo com intuito último de servir
a nação e não se servir.
“Somos parte desta nação e, para
servirmos, devemos parar de olhar
o progresso em nós próprios e procurar
uma visão colectiva que traga
soluções para os que estão além dos
nossos olhos”, disse.
Criticou a postura de alguns dirigentes
que, ao tomar medidas,
olham em primeiro lugar para benefícios
pessoais e, na frente política,
aos que exigem a saída dos actuais
dirigentes, alegando que já “comeram”
o suficiente e devem dar lugar
aos outros.
“Muitas vezes, falamos que aqueles
já comeram e têm de sair do poder.
Quando se fala assim, já é um grande
erro, porque está a pensar em ir
ao poder simplesmente para comer.
Pensa no poder dessa forma e não
para servir. O poder é para coordenar
esforços comuns do povo e realizar
esse objectivo nobre de trazer a
dignidade ao homem moçambicano
e da região”.
Como forma de trabalhar em prol
da nação, defendeu a primazia às
necessidades do povo, apelando à
busca de confiança e ao trabalho
conjunto envolvendo todas as partes
quer Frelimo, Renamo, MDM bem
como aos partidos sem assento no
parlamento.
“Temos de criar confiança, podemos
sentar conversar, divergir e continuar
a dialogar para ir agarrando aqueles
locais onde a cola funciona e nos
une e reforçar”, reafirmou.
O sucessor de Samora Machel diz
que África falha por falta de con-
fiança nas instituições, com a agravante
de depender de apoios externos
e expor-se a ordens de fora,
devido à falta de recursos financeiros.
Socorrendo-se do provérbio que
diz “quem tem a flauta dita o tom”,
disse ter ficado indignado, quando,
num pleito eleitoral, interpelou um
embaixador de uma grande potência,
advertindo-o para não interferir
muito nas eleições, ao que lhe respondeu
que o seu país havia investido
muito dinheiro para a realização
das mesmas pelo que tinha todo esse
direito.
Desafiou todos os países a investirem
no capital humano, de modo
a transformarem os recursos em
riqueza em prol do povo. Para Chissano,
os recursos podem deixar de
gerar focos de instabilidade, tornando-se
num factor de promoção da
dignidade e combate às desigualdades
entre os povos africanos.
Defende Joaquim Chissano
“O povo tem uma palavra a dizer sobre
as seis províncias”
Por Argunaldo Nhampossa
Chissano defende que democracia passa por dar palavra ao povo
Savana 04-11-2016
9
DIVULGAÇÃO SOCIEDADE
10 Savana 04-11-2016 SOCIEDADE SOCIEDADE SOCIEDADE
As declarações do ministro
de Economia e Finanças,
Adriano Maleiane, semana
finda, em Londres,
assumindo a incapacidade total e
completa do país em honrar com
os pagamentos das “dívidas ocultas”
foram consideradas pelos académicos
António Francisco e João Mosca
como sendo machadada final que
confirma que estamos perante um
Estado falido. No entanto, saúdam
esta postura governamental apontando
que “o reconhecimento da
doença é já princípio de cura.
Os académicos entendem que, depois
de inúmeras vezes terem advertido
o governo sobre a insustentabilidade
da dívida e aconselhado sobre
as medidas que devia tomar, as declarações
de Maleiane mostram que
não são desestabilizadores, como são
rotulados por alguns círculos de opinião.
Os académicos falavam esta segunda-feira
numa mesa redonda sobre
monitoria da dívida pública: auditoria
à dívida pública como solução
“quick fix solution” ou oportunidade
para uma reforma estrutural na gestão
das finanças públicas em Mo-
çambique.
O argumento para o debate é que,
nos últimos cinco anos, a dívida pú-
blica moçambicana teve um crescimento
galopante, com uma previsão
de que, em finais de 2016, a dívida
pública bruta irá atingir 130,0% do
PIB, sendo que no total dessa dívida
80% representará o endividamento
externo.
O investigador do Instituto de Estudos
Sociais e Económicos (IESE),
António Francisco, diz que esta foi
a confirmação daquilo que já dizia
desde há muito que, com avultadas
dívidas e sem capacidade de pagar,
somos um Estado verdadeiramente
falido.
Recorrendo às classificações das
agências de notação financeira,
Francisco diz que Moçambique nasceu,
cresceu e continua no lixo, sendo
que ao longo do tempo pouco fez
em termos de políticas para se desembaraçar
dessa situação e acabou
se precipitando para a falência.
“Já estamos na falência e a minha
maior preocupação é que não sejamos
um Estado falhado, devido à
falta de pagamento da dívida aliada
à guerra e raptos que fazem com
que o Estado perca a capacidade de
controlo de gestão básica do país”,
atirou.
O académico recordou que esta é
terceira situação de crise financeira
em que o país se encontra. A primeira
crise, segundo António Francisco,
foi em 1984, quando o país era
dirigido por Samora Machel e não
se procurou culpados porque todos
estavam imbuídos na construção da
uma nova sociedade. Foi exactamente
neste período em que o país aderiu
às instituições da Bretton Woods
para debelar a crise. A segunda, diz
o pesquisador, verificou-se na década
90 e graças à conjuntura de combate
à pobreza, boas relações com os parceiros
e sociedade civil foi uma vez
mais ultrapassada.
Agora estamos na terceira falência,
que surge numa altura de quebra de
diálogo com a sociedade civil e falta
de confiança dos parceiros para com
o governo.
“O governo não consegue dialogar,
quebrou a confiança. O governo
pensa sozinho e a sociedade civil fala
sozinha. Há dois anos, o governo dizia
que que a dívida estava controlada
e rondava os 30% do PIB agora
estamos nos 130% e verifica-se incapacidade”,
disse.
No entender de Francisco, houve um
delírio financeiro do lado governamental
que pensava que havia ganho
um jackpot com os recursos naturais
e começou a endividar-se de forma
irresponsável.
Recorrendo ao adágio popular segundo
o qual “ o reconhecimento
da doença é o princípio da cura”, em
alusão à declaração de incapacidade
de pagamento da dívida feita por
Maleiane, o pesquisador do IESE
refere que aqui pode começar uma
nova fase de debate, pois entende
que o governo “vai iniciar novos debates”
para que a situação seja encarada
de uma forma realística.
Francisco diz não vislumbrar outra
saída que não passe pela ajuda da
instituição comandada por Christine
Lagarde, pois até ao momento
todos os doadores aguardam um
gesto seu para poderem agir. Deste
modo, isto vai implicar abertura por
parte do governo para uma auditoria
internacional.
Gerir o Estado com racionalidade
O pesquisador do Observatório do
APremier African Minerals
Ltd concluiu a aquisição de
uma participação de controlo
na TCT Indústrias
Florestais Lda., uma empresa de
Moçambique com interesses numa
mina de calcário e numa concessão
madeireira em Caia, de acordo com
um comunicado divulgado segunda-
-feira em Londres.
Ao abrigo do acordo assinado, a Premier
African Minerals Ltd adquirirá
uma participação de 52% na TCT
Indústrias Florestais Lda. pela soma
de 2,1 milhões de dólares, sendo 26%
da Transport Commodity Trading
Mozambique Ltd (TCTM) e os
outros 26% da GAPI Sociedade de
Investimentos.
A TCT Indústrias Florestais Lda. é
uma empresa privada que dispõe de
uma licença de exploração de um depósito
de calcário numa área com 27
quilómetros quadrados e uma concessão
florestal com 24 812 hectares
localizada no centro de Moçambique,
a que está associada uma serração e
uma fábrica para a produção de mobiliário
e de produtos semi-acabados
para exportação.
O depósito de calcário fica situado a
cerca de 20 quilómetros a sudoeste de
Caia no interior da concessão florestal,
servindo a linha de caminho-de-
-ferro do Sena, entre a província de
Tete e a cidade da Beira, como fronteira
norte. Aqui fica também situado
o Mphingwe Lodge, um “resort”
turístico no meio da floresta, que
tem merecido as maiores referências
internacionais na indústria da especialidade.
A concessão florestal é ainda válida
Meio Rural (OMR), João Mosca,
começou por lamentar a marginalização
das opiniões e advertências
que foram emitindo ao longo do
tempo pelas autoridades governamentais
sobre a insustentabilidade
da dívida. Hoje, de acordo com
Mosca, a máscara caiu e esperamos
que nos próximos tempos possam no
mínimo ouvir todas as advertências
porque o objectivo último é contribuir
para a promoção do bem-estar
no povo.
Para o economista João Mosca, a solução
passa por reformas profundas,
principalmente do modelo de crescimento
sob pena de se piorar o ponto
em que o país se encontra. Fez notar
que o Estado não é gerido com efi-
ciência muito menos com racionalidade
com o agravante de que todas
as políticas mostram que a economia
não conta em nada. Justifica-se
apontando que todas as medidas que
são tomadas neste país são sustentadas
por pressupostos políticos, facto
que se alastra para o sector econó-
mico o que acaba sendo prejudicial.
Segundo o pesquisador do Observatório
do Meio Rural (OMR), o
governo reconheceu a incapacidade
de efectuar pagamento e isso pressupõe
que a reestruturação da dívida
vai fazer prolongar o seu período
de pagamento, bem como os juros.
Assim, aponta que é preciso tomar
as coisas a sério, introduzir reformas
que possam trazer equilíbrio à economia
nacional, desde a revisão da
política monetária, fiscal incentivos
às Pequenas e Médias empresas e
apostar verdadeiramente na agricultura
com destaque para a de pequena
escala que concentra o maior sector
produtivo.
por dez anos, podendo ser renovada
por novo período de 50 anos, estando
o concessionário autorizado a cortar
3000 metros cúbicos de madeira por
ano. A accionista TCTM é originalmente
uma empresa ligada ao sector
securitário de Moçambique, nomeadamente
a um dos antigos ministros
da Segurança. Apesar da grande qualidade
dos produtos acabados e dum
plano de maneio da floresta considerado
por muitos como “exemplar”,
a TCT tem vindo a experimentar
graves dificuldades financeiras nos
últimos anos, agravadas pelo facto da
área de exploração se situar na actual
zona de conflito armado. A empresa
foi dirigida por Antony White, um
antigo elemento das forças especiais
rodesianas que atraiu atenção internacional
ao ser considerado suspeito
no assassinato do antigo Primeiro-
-Ministro sueco, Olof Palm.
O mediaFAX/SAVANA sabe que
a empresa, apesar das conecções com
o actual poder político, tem sido alvo
de represálias das Forças de Defesa e
Segurança governamentais, um facto
comum a quase todas as empresas a
operar na região. As empresas e os
seus trabalhadores são habitualmente
acusados de terem simpatias para
com a Renamo.
O mediaFAX/SAVANA apurou
que, num passado recente, o grupo
Entreposto, com serração e concessões
florestais na zona centro, esteve
em vias de adquirir a TCT.
A Premier African Minerals é uma
empresa centrada na exploração de
recursos naturais na África Ocidental
e Austral, estando cotada no Mercado
Alternativo de Investimentos da
Bolsa de Valores de Londres.
(redacção e agências)
Sedeada em Catapu (Caia)
TCT vende quota maioritária
João Mosca e António Francisco não têm dúvidas:
“Somos um Estado falido”
Por Argunaldo Nhampossa
João Mosca António Francisco
Savana 04-11-2016 11 PUBLICIDADE SOCIEDADE
www.odebrecht.com
A Engineering News-Record (ENR) distinguiu o Aeroporto Internacional de Nacala com o prémio de mérito de
engenharia no 2016 Global Best Projects, na categoria de Aeroportos, levando em consideração factores como
saúde e segurança, inovação, design, processo de construção e diversidade das equipas.
A Odebrecht tem orgulho de ter participado nesta história e de ter construído, em parceria com a Aeroportos de
Moçambique e com a força e empenho do Governo e do povo Moçambicano, mais uma página de destaque no
cenário internacional.
Continuamos a contribuir para o desenvolvimento do país, dia a dia, unidos numa só força e numa só vontade.
Parabéns Moçambique por mais esta Conquista!
Don_"m8
Aeroporto de Nacala é Destaque Internacional
12 Savana 04-11-2016 SOCIEDADE
O
Governo de Filipe Nyusi
anulou e voltou a adjudicar
o negócio de implementação
da Migração da Radiodifusão
Analógica para Digital à
StarTimes Software Technologies
Company, Lda., empresa de que
Valentina Guebuza é sócia. A invalidação
da anterior adjudicação,
feita de forma directa, resultou do
facto da mesma empresa não ter
conseguido honrar o compromisso
de implementar o projecto até
Dezembro de 2015. Devido ao incumprimento
do contrato, o executivo
lançou um concurso público e a
StarTimes voltou a ser eleita.
Em Abril de 2014, o então ministro
dos Transportes e Comunicações,
Gabriel Muthisse, anunciou a adjudicação
directa da empreitada de
implementação da Migração da Radiodifusão
Analógica para Digital, à
empresa StarTimes Software Technologies
Company, Lda. de Valentina
Guebuza, no valor de trezentos
milhões de dólares americanos.
O negócio foi selado por Gabriel
Muthisse (uma das faces mais visí-
veis do guebuzismo a par de Edson
Macuácua), e Pang Xinxing, Presidente
do Conselho de Administra-
ção da firma Chinesa.
Na altura, Gabriel Muthisse justificou
que a escolha da StarTimes a
dedo para gerir este negócio no país
deveu-se à opção de financiamento,
porque a migração digital é um processo
oneroso e o Governo teve de
recorrer à cooperação internacional
para mobilizar financiamento necessário
para o projecto.
Segundo Muthisse, houve negocia-
ções com o Japão e a China, mas
estava claro que qualquer das modalidades
implicava a opção por uma
empresa do referido país para gerir
a migração.
O vencedor do concurso para a Migração
digital é: StarTimes
Por Raul Senda
Donde, após avaliação do Governo,
optou-se pelo EXIM Bank da China
devido às modalidades acordadas
no financiamento, o que beneficiou
a StarTimes Software Technology.
Contudo, com a entrada de Filipe
Nyusi, em Janeiro de 2015, o negócio
ficou tremido. Fontes bem
colocadas chegaram a afiançar ao
SAVANA que o negócio estava em
risco de não se materializar.
Para tal, o Governo deu ultimato
à StarTimes Software Technology
para, até Dezembro de 2015, desbloquear
o processo de financiamento
que havia sido garantido pelo
EXIM Bank da China.
Caso o gigante tecnológico chinês
não assegurasse os 300 milhões
de dólares prometidos, o Governo
abortaria o acordo, o que iria prejudicar
os negócios do lobby Guebuza,
com interesses minoritários
na subsidiária nacional da empresa
chinesa: StarTimes Moçambique.
O ultimato surgiu em virtude de a
StarTimes não ter cumprido com os
compromissos assumidos aquando
da adjudicação da empreitada que
internacionalmente se tinha definido
que, até 15 de Junho de 2015,
deveria migrar-se do sistema analó-
gico de radiodifusão para o digital.
Moçambique não conseguiu cumprir
com os prazos e alargou o tempo
para Dezembro de 2015 que
também não foi cumprido.
Os incumprimentos da parte da
StarTimes obrigaram o executivo a
rescindir o contrato com a empresa
da filha de Guebuza e, no início deste
ano, lançou um concurso público
sobre a nova empreitada.
O referindo concurso estava sob
os auspícios da Unidade Gestora
e Executora das Aquisições do
INCM e estava estampado com o
número 09/UGEA/INCM/2016.
Nesta quarta-feira, o INCM anunciou
o resultado do supracitado
concurso público e
elegeu novamente a empresa
da Valentina Guebuza
como a vencedora.
No anúncio da adjudica-
ção publicado esta quarta-
-feira, o INCM refere: “De
acordo com o artigo 64 do
Regulamento de Contratação
de Empreitada de
Obras Públicas, Fornecimento
de Bens e Presta-
ção de Serviços ao Estado,
aprovado pelo Decreto
número 05/2016 de 8 de
Março, comunica-se que o
objecto do concurso acima
foi adjudicado à empresa
StarTimes Software Technologies
Company no valor
de 156.000.000, USD
(Cento e cinquenta e seis
milhões de dólares americanos)”.
A StarTimes Moçambique
é detida em 85% pela StarTimes
chinesa e em 15%
pela Focus 21, holding da
família Guebuza.
Constituída em Maputo,
a 17 de Junho de 2010,
mesmo dia em que na China o Governo
Moçambicano discutia a viabilização
da migração digital com o
Presidente global da StarTimes, a
StarTimes Moçambique tem como
objecto social:
“Serviço básico de televisão digital;
Serviço de televisão digital por
subscrição; Digitalização do sinal
de rádio e televisão; Transmissão do
sinal de rádio e televisão; Serviços
de multimédia móvel; Produção de
publicidade de televisão; Serviço
de internet de banda larga; Todo o
tipo de serviços de valor adicional
baseado nos sistemas acima mencionados;
Venda de terminais para
televisão digital e internet; Serviço
de informação do canal; Consultoria
técnica; e outras actividades
subsidiárias e afins à actividade, desde
que não contrariem a legislação
moçambicana, após deliberação da
assembleia-geral.”
Estas atribuições deixam claro que
a StarTimes foi deliberadamente
criada em Moçambique para facturar
em toda a cadeia de valor da
operação da migração digital. Enquanto
por um lado monta e opera
o seu negócio privado de televisão
digital terrestre, por outro, instala a
capacidade técnica para implementar
em nome da StarTimes chinesa
a digitalização da rede pública de
radiodifusão.
Savana 04-11-2016 13 PUBLICIDADE SOCIEDADE
14 Savana 04-11-2016 Savana 04-11-2016 15
NO CENTRO DO FURACÃO
“
São os que não utilizam geleira,
congelador, ferro de
engomar, fogão e apenas
usam um mínimo de quatro
lâmpadas para iluminação durante
certas horas da noite”
Depois da subida de preços
de produtos essenciais com
maior enfoque para o pão,
combustíveis, água e gás natural,
o Governo aumentou o preço de
energia eléctrica em cerca de 40% para
os consumidores da tarifa doméstica
que constituem mais de 80% do total
dos clientes da Electricidade de Mo-
çambique (EDM). Os consumidores
da chamada “tarifa social” são entre 10
a 12% do total dos clientes da EDM.
Desde esta terça-feira, 1 de Novembro,
os cerca de 1.600.000 (um milhão
e seiscentos mil) consumidores da rede
eléctrica passam a pagar mais caro por
cada quilowatt/hora (kWh).
Para um cliente da tarifa doméstica
que consome uma média mensal de
energia que vai até aos 300 kWh, a tarifa
passou de 2.97 meticais para 4.04.
ts (MW). Contudo, os custos são dos
mais caros da região. Em maratona
justificativa, os executivos da EDM
disseram que o aumento não irá afectar
a classe de “baixa renda”. Isto é, os
consumidores da classe social visto que
a tarifa continua nos anteriores 1.07
meticais.
Segundo dados da EDM, a classe social
representa 10% dos consumidores.
Isto é, cerca de 15 mil clientes. São
pessoas que no seu historial nunca
consumiram para além de 100kWh/
mês.
Para que isso aconteça, a pessoa ou família
não deve ter casa acima de dois
quartos, geleira, congelador, ferro de
engomar e outros electrodomésticos.
Esta quarta-feira, o SAVANA escalou
os bairros de Polana Caniço, Maxaquene,
Xipamanine e distrito de Marracuene
onde visitou famílias de classe
baixa e constatou que nenhuma dela é
beneficiada da tarifa social.
São famílias de baixa renda, sem meios
de sobrevivência e que garantem o sustento
do dia-a-dia fazendo pequenos
EDM aumenta preços de energia, mas “não afecta pobres”
Umas das principais causas
apontadas como aquela
que motiva casamentos
prematuros em Moçambique,
um dos 10 dos países do
mundo com mais casos deste fenó-
meno, tem que ver com a pobreza
das famílias que, como tal, optam
interromper os estudos dos seus
educandos que, no caso das raparigas,
as transformam como moeda
de troca em bens materiais e, no
caso de rapazes, em trabalhadores
para lavrar a terra ou pastorear gado
para sustentar as famílias.
Mas Rosário Muliwa, da Save the
Children, que partilhou com os
adolescentes e jovens a sua experi-
ência de trabalho no campo no âmbito
da redução e combate dos casamentos
prematuros, frisou que os
factores económicos não são os de
maior peso, mas, isso sim, as barreiras
socioculturais e antropológicas.
Deu exemplo de famílias nas zonas
rurais da província de Tete que,
mesmo em situação economicamente
estável, preferem forçar as
suas filhas a se casarem prematuramente
ou estas interrompem por
si os estudos, alegadamente, porque
hoje a escola não compensa.
Citou o caso de alunas que, depois
de ganhar bolsas de estudo oferecidas
pela Save the Children, mais
tarde abandonaram internato escolar,
alegadamente, porque durante a
noite tinham “maus sonhos”, mas
que mais tarde aquela organização
não governamental que trabalha
pelo bem-estar das crianças, descobriu
que era pretexto para abandonar
a escola para se casarem prematuramente.
Por isso, desafiou os activistas do
PJ a recorrerem a estratégias mais
ousadas para entender não na superficialidade,
mas na profundidade
os reais motivos dos casamentos
prematuros, o que passa, necessariamente,
por durante as suas actividades
de sensibilização entenderem
a cultura e as práticas das comunidades.
Factores económicos não são os de maior peso
ralmente, adquiro energia de 30 a 50
meticais que me permite iluminação
por três a cinco dias”, frisou.
Contou-nos que, depois de descontar
a taxa de lixo e de radiodifusão, com
50 meticais adquiria 16.9 kWh. Mas,
a partir da terça-feira, com o mesmo
valor sem taxas compra apenas 12.3
kWh.
O cenário vivido por Macaringue é
também testemunhado por Ivone Rafael,
doméstica, mãe de três filhos e residente
no bairro de Xipamanine.
Ivone Rafael vive numa casa do tipo
três, velha, com rachas em todos os lados
e dando sinais de cair a qualquer
momento. Frisou que em média gasta
500 meticais na aquisição de energia
que muitas vezes não chega ao final do
mês, altura em que tem acesso à pensão
sobrevivência.
Possui alguns electrodomésticos. Porém,
deu ordens aos filhos para não
usar a chaleira eléctrica e o ferro de
engomar é usado em casos extremos.
Mesmo assim, não consegue poupar a
luz que usa apenas para iluminar a casa
e fazer funcionar o congelador.
Nunca ouviu falar da tarifa social e as
cópias dos talões de compra de energia
mostram que paga a tarifa doméstica
normal.
Francina France, 23 anos, vendedeira
e residente no bairro de Xipamanine
é parte da esmagadora maioria dos
moçambicanos que vive no limite da
pobreza.
Vive numa casa feita de chapa cuja
área não vai para além de 16 metros
quadrados e o lençol divide o quarto
da sala.
O terreno em que está implantado a
casa é pantanoso, o que denuncia sé-
rios problemas de saneamento.
Diz que o custo de vida é bastante alto
e o anúncio do aumento de energia
eléctrica vem deteriorar a já precária
situação em que vivem.
Não se beneficia da tarifa social e nem
tem conhecimento da sua existência.
No bairro de Maxaquene conversámos
com Ana Vilanculos, vendedeira e um
dos rostos da pobreza urbana.
Vilanculos lamenta o facto de a população
ser sacrificada pelo bem-estar das
pessoas que levaram o país ao abismo.
Sublinha que os nossos dirigentes não
sentem a carestia da vida porque o
Estado lhes dá tudo, desviam bens pú-
blicos e o povo é que é chamado para
pagar as dívidas.
Convida dirigentes da EDM a visitar
Quem são consumidores da tarifa social?
elogio demográfico, é preciso que
esta juventude se erga e se levante
para estabelecer uma nova forma de
estar na sociedade, um novo modelo
comportamental na sociedade porque
aqui estamos a falar de um activismo
consciente e compreensivo para a
mudança de comportamento” anotou,
vincando que “estamos a lutar pelo
Moçambique que queremos”.
O líder daquele que é o mais ruidoso
movimento em prol de causas juvenis
em Moçambique, defende que,
sem abraçar causas sociais, o futuro
só pode ser tenebroso e totalmente
inútil.
“Trata-se de os adolescentes e jovens
construírem a sua postura para um
Moçambique de progresso, um Mo-
çambique de justiça social porque é
preciso encaminhar positivamente a
energia que se tem neste grosso populacional
e o contrário também é
válido: teremos uma sociedade moribunda”,
respondeu o número um do
PJ, para quem é preciso efectivamente
que se transite de habitantes para cidadãos.
“Quando dizemos que Moçambique
precisa de cidadãos, estamos a dizer
que os jovens moçambicanos têm de
ser cidadãos e, ao entrarmos no interior
do país e criarmos este diálogo
social e cultural para a prática de valores
positivos na sociedade, estamos a
dizer, efectivamente, que basta de prá-
ticas retrógradas porque as barreiras
conjunturais e culturais retrocedem o
desenvolvimento harmonioso da personalidade
da juventude e sobretudo
da rapariga e da mulher jovem”, destacou
a fonte que considerou o encontro
de Angónia como tendo sido uma
escola de cidadania.
Mas 48 horas antes de falar ao SAVANA,
Muchanga já tinha sido
contundente na hora de abertura
do evento. Dissera, na ocasião, que
o futuro de Moçambique depende
dos adolescentes e jovens e que, se se
conseguir que esta faixa etária ganhe
habilidades de vida para fazer face aos
inúmeros desafios que a sociedade lhe
impõe, estar-se-á a fazer o que as outras
gerações não conseguiram.
Para ele, é um imperativo emponderar
adolescentes e jovens para que saibam
tomar melhores decisões, no que chamou
de cidadania activa, argumentando
que, os casamentos prematuros,
por exemplo, transformaram-se numa
vergonha nacional cujas causas é preciso
romper porque limitam o desenvolvimento
do país.
Ainda na abertura, o edil de Ulónguè,
Armando Constantino, deixou claro
que, se não se atacar com bravura os
casamentos prematuros, a violência de
género, o HIV/SIDA e outros males
que entravam o crescimento de adolescentes
e jovens, teremos um crescimento
atrofiado e uma sociedade
doente.
“Temos de preparar um bom futuro
para a nossa juventude”, disse Constantino,
que assumiu a causa do PJ
como prioridade pela frente, ao mesmo
tempo que desafiava os participantes
para que, regressados às suas
zonas de origem, disseminem a “mensagem
de salvação” aos demais adolescentes
e jovens e a sociedade em geral.
Entretanto, dirigindo-se aos participantes,
na hora de encerramento do
evento que contou com a parceria da
Unicef, a Diakonia, o programa Agir
da Suécia e Países Baixos, o presidente
do PJ voltou à carga, indicando que
tudo quanto aquela organização de
cariz revolucionário persegue, é fazer
emergir um movimento nacional de
adolescentes e jovens no país.
“Estamos a preparar líderes”, disse,
acrescentando que é isso que difere os
jovens do PJ, que os desafiou a pensarem
criativamente, a cada momento,
dos restantes.
Para chegarem a Angónia, as delega-
ções de Nampula e Zambézia tiveram
de enfrentar escoltas militares, no
centro do país, devido à tensão polí-
tico-militar. A delegação de Nampula,
por exemplo, só chegou à vila de
Ulónguè na noite de sexta-feira, tendo
perdido por completo o primeiro
dia da Sessão.
Para Muchanga, “quando adolescentes
e jovens atravessam locais de guerra
para chegar aqui (Ulónguè), estão
a transmitir uma mensagem muito
forte: que esta causa é justa; são poucos
jovens capazes de dizer que vamos
passar de Muxúnguè para uma causa”.
Enquanto decorria a reunião, no sá-
bado, do lado de fora uma adolescente
contraía matrimónio, e Muchanga
tomou no exemplo como aquele que
deve inspirar os activistas.
“Ninguém virá da lua para lutar por
nós”, disse instando os participantes a
dizerem basta aos casamentos prematuros,
a violência de género e ao HIV/
SIDA.
Na hora do encerramento, os participantes
eram adolescentes e jovens
encorajados a redobrarem esforços
contra esses males, comprometendo-
-se ainda a disseminarem, nas suas
zonas de origem, as lições apreendidas
durante os dois dias.
Chamuro Macome, 18 anos de idade,
da delegação anfitriã, disse que,
da mesma forma que se marcha
pela paz, está na hora de se ir à
rua e exigir o respeito pelos seus
direitos.
“Venha o que vier”, diz um outro
adolescente presente na sala. Por
sua vez, o coordenador do PJ em
Nampula, Lindolfo António, disse
ao nosso jornal que, da mesma
forma que enfrentaram escoltas
militares, ao regressar para casa
vão enfrentar o que chamou de
“escoltas” contra casamentos prematuros,
naquela que é umas das
províncias com mais altos índices
de casamentos prematuros.
De resto, a Sessão de Ulónguè foi
seguida por um festival desportivo
e cultural que, além de intervenções
de grupos culturais locais
que exibiram expressões como
Nyau, dança originária precisamente
de Ulónguè e declarada
pela Unesco como Património
Mundial da Humanidade, compreendeu
partidas de futebol, na
tarde de sábado, no campo local,
onde o Instituto de Formação
de Professores venceu por 3-0 a
Escola Secundária também local,
em masculinos, enquanto em femininos,
a equipa Velha Guarda
venceu a Escola Primária 25 de
Maio de por 1-0.
Para além de Salomão Muchanga,
o festival contou com a presença
do edil local, Armando
Constantino e do edil de Dondo,
Sofala, Castigo Chiutar, além das
delegações do PJ e das comunidades
locais que não quiseram perder
o evento que terminou com
entrega de brindes e actuação de
um músico local.
Mas antes do festival, a delegação
dirigida por Muchanga visitou
a rainha de Angónia, nome que
nasceu do plural de Ngoni/nguni,
um povo migrante da África do
Sul, depois da desintegração do
império zulo. A visita à casa da
Rainha, onde centenas de pessoas
aguardavam pela comitiva do PJ,
foi marcada por chuvas que, na
tradição local, significa bênção
aos visitantes.
Quem o diz é Salomão
Muchanga, o Parlamento
Juvenil (PJ), que
falava ao SAVANA, na
vila de Ulónguè, sede do distrito
de Angónia, na província de Tete,
onde de 28 a 29 de Outubro último,
teve lugar a Sessão Nacional
de Emponderamento de Jovens e
Adolescentes.
Trata-se de um evento que juntou
mais de 50 participantes, maioritariamente,
adolescentes e jovens
provenientes dos distritos de
Macanga e Angónia, em Tete, do
distrito municipal Ka Maxaqueni,
da cidade de Maputo, Mocuba e
Gúruè, na Zambézia e Ribáuè e
Angoche, em Nampula.
O tema “Casamentos Prematuros,
Violência de Género e HIV” para
um Parlamento Juvenil que se notabiliza
em causas políticas, chama
atenção à nossa reportagem que,
na hora, trata de pedir esclarecimentos
aos organizadores que, em
resposta, explicam que a temática
se enquadra no pilar da cidadania,
educação e assistência democrá-
tica que, afinal, é um dos quatro
programas que perfazem a missão
do PJ, a par do programa de acesso
à informação e monitoria de polí-
ticas públicas, de capacitação e desenvolvimento
institucional e do
programa de diálogo e influência
política.
Aliás, segundo Salomão Muchanga,
as causas políticas sobre
as quais o PJ se notabiliza são,
exactamente, para favorecer causas
sociais.
“Ao abraçar estas causas sociais,
estamos a dizer que o presente e
o futuro de Moçambique depende
da integridade e personalidade que
os adolescentes e jovens tiverem.
Assim, questões como casamentos
prematuros, violência de género e
HIV, fundam o comportamento
social de uma nação, de tal forma
que este engajamento consciente
representa uma vanguarda, igualmente,
consciente da participação
social deste que é o grosso populacional
da sociedade” explicou.
Entende Muchanga que “se conseguirmos
educar a rapariga, os
jovens, os adolescentes sobre os
grandes valores morais e sociais,
estaremos a fecundar a constru-
ção de uma sociedade cada vez
mais próspera; é assim que todo
este movimento nacional que o
Parlamento Juvenil visa, essencialmente,
a construção de uma harmonia
na sociedade, dos valores de
integridade e sobretudo a coesão
social”.
Diz que as temáticas que estiveram
em debate em Angónia ultrapassam
a saúde, representando um
problema do próprio desenvolvimento
sustentável do país, pelo
que precisam de uma juventude
educada e orgulhosa do seu papel
na sociedade.
“Ser maioria na sociedade não se
pode constituir apenas como um
Meta é transformar habitantes em cidadãos
Parlamento Juvenil em causas sociais
Por Armando Nhantumbo
Por Raul Senda/Fotos Júlia Manhiça
os bairros e explicar o que é isso de tarifa
social, porque, caso contrário, tudo
não passará de manipulação da opinião
pública.
Ana Vilanculos acrescenta que a
EDM nunca actuou em benefício ao
consumidor pobre. Ademais, aumenta
preços, mas os cortes são constantes e
a qualidade é baixa.
Visões externas
Marcelo Mosse, jornalista e pesquisador,
diz, no seu post publicado nas redes
sociais, que o grande problema de
Moçambique em matéria de políticas
públicas é que o processo decisório não
é cabalmente explicado.
Sublinha que, no caso vertente, a
EDM não conseguiu explicar claramente
o racional desta medida. Mas
é óbvio que a crise orçamental está a
apertar o cerco e que isto só pode ter
uma mão do Fundo Monetário Internacional,
que decorre de uma coisa: a
gestão da EDM teve cunho político
marcadamente forte.
Mosse acrescenta que seus fornecedores
são empresas da chamada nomenklatura,
quão ineficiente quanto
gulosa. “Todos sabemos que a empresa
não anda lá muito bem. Mas a corre-
ção destes problemas não deve ser imputada
aos consumidores”, sublinha.
Para Mosse, a decisão de retirar os
“subsídios” aos moçambicanos é um
golpe tremendo “na nossa dignidade”.
Sobretudo, quando se sabe que a HCB
anda a subsidiar a electricidade aos
sul-africanos, cobrando por kW/hora
1 quarto do preço internacionalmente
recomendável.
Para o cliente doméstico cuja média de
consumo vai até aos 500 kWh, sobe
de 4.17 para 5.72, enquanto que quem
gasta acima de 500 kWh passou de
4.38 para seis meticais.
Este é o segundo aumento que a EDM
faz em menos de um ano.
A Electricidade de Moçambique
(EDM) justifica o aumento com o facto
de a empresa estar no “sufoco”.
A EDM argumenta que a decisão visa
reduzir a deterioração da situação da
tesouraria da empresa, criando bases
para a melhoria gradual da qualidade
de fornecimento de energia eléctrica.
A empresa afirma que o ajustamento
ainda não é o ideal, tendo em consideração
os custos reais de fornecimento
de energia eléctrica, as necessidades
futuras de investimento e as recomendações
dos estudos tarifários realizados.
Agrava a situação o facto de a EDM
estar exposta à depreciação do Metical
face ao dólar americano e o rand sul-
-africano.
Sublinhe-se que Moçambique é um
dos maiores produtores da energia
eléctrica da região da África Austral,
posicionando-se em segundo lugar,
depois da África do Sul, com geração
média de energia de 2.279 megawatnegócios.
É o caso de Alberto Macaringue, desempregado
e pai de cinco filhos, residente
no bairro Polana Caniço.
Ganha a vida vendendo cigarros e
créditos na rua. Diz que os seus rendimentos
são parcos e só respondem
necessidades básicas.
Conta Macaringue que não tem a
dimensão do valor que gasta mensalmente
na aquisição de energia eléctrica
porque compra em fracções.
“Quando nesse dia consigo colectar
200 meticais, retiro o valor do lucro
para repartir pela alimentação e, geJ
osé Amado, director de distribuição
e porta-voz da EDM,
lembrou em contacto com o
SAVANA que a sua empresa
não produz energia. Argumentou
que, para ter o produto, tem de recorrer
às empresas produtoras que
têm seu preço devido aos custos de
produção.
Ademais, o preço de energia é defi-
nido em dólar americano e a EDM
vende ao consumidor à moeda nacional.
Logo, cada vez que o metical deprecia,
os custos da empresa aumentam.
José Amado referiu que a EDM
compra a energia aos produtores a
uma média de 10 cêntimos de dólar e
vendia a 5.4 cêntimos, o que signifi-
cava um défice de 4.6 cêntimos.
Com estas perdas, a empresa já não
podia mais subsidiar porque as despesas
não se limitam apenas à compra
de energia. Há outros pacotes
relacionados com salários, investimentos
e manutenção das redes.
Sublinha que, mesmo com o aumento,
o problema não será resolvido
porque o défice continua, já que a
empresa vende a energia a 7.5 cêntimos
do dólar.
José Amado refere que para continuar
a investir no melhoramento
da rede, bem como na qualidade de
energia, a EDM tem a obrigação de
equilibrar a balança e conciliar os
preços de compra e de venda, o que
significa que a energia eléctrica poderá
subir ainda mais nos próximos
tempos.
Quanto à tarifa social, o nosso entrevistado
referiu que a mesma abrange
entre 10 a 12% do total dos clientes
da empresa e a maioria é constituída
por comunidades rurais.
“A tarifa social é destinada aos clientes
que no seu historial nunca consumiram
acima de 100 kWh/mês.
Se alguém já ultrapassou esta faixa,
mesmo que seja por uma vez, o sistema
bloqueia-o e passa para o grupo
de consumidores domésticos”, disse.
Os custos são insuportáveis
A energia está cada vez mais cara para a esmagadora maioria da população moçambicana
“Há necessidade de balançar os
preços da compra e da venda de
energia para garantirmos qualidade e
investimentos”, José Amado
Ivone Rafael
Francina France
Ana Vilanculos
Salomão Muchanga e Armando Constantino entre alguns dos mais de 50 delegados à Sessão de Ulónguè
16 Savana 04-11-2016 SOCIEDADE SOCIEDADE
OJuiz João Guilherme, que
se notabilizou por ter julgado
o célebre caso “Castel-
-Branco”, considera que os
crimes de difamação, calúnia, injú-
ria ou ainda contra a honra e o bom
nome que, grosso modo, são cometidos
pela imprensa não podem servir
de pretexto para censurar os órgãos
de comunicação social e a consequente
limitação do seu trabalho.
Recomenda aos seus colegas magistrados
para darem um tratamento especial
a este tipo de crimes sob pena
de coarctar o debate de ideias na sociedade.
Convidado a dissertar sobre o “papel
do judiciário na promoção da liberdade
de imprensa e de expressão”, João
Guilherme iniciou o seu discurso de
uma forma irónica, questionando
como é possível uma classe procurar o
seu algoz para dar conselhos, em alusão
ao facto de ser juiz e ter a missão
de julgar.
Mas avançou e socorreu-se do artigo
222 da Constituição da República,
que estabelece como uma das missões
do judiciário “assegurar os direitos e
liberdades dos cidadãos”.
Tendo a liberdade de imprensa e de
expressão, como parte desses direitos,
o magistrado considera que a sua
missão é de trabalhar no sentido de
promover e garantir o usufruto destes
direitos constitucionais.
Entendendo que a prática do jornalismo
contribui para a diversidade de
opiniões e o pleno exercício da democracia,
refere Guilherme que o poder
judicial não pode incentivar a cultura
de silenciamento dos órgãos de comunicação.
“Os crimes de calúnia, difamação,
contra honra e contra o bom nome
merecem um tratamento especial dos
tribunais para que não sirvam de pretexto
para censurar os órgãos de comunicação”,
recomendou.
João Guilherme falava esta quarta-
-feira, numa mesa redonda alusiva às
celebrações do “dia internacional pelo
o fim da impunidade dos crimes contra
jornalistas”, um evento promovido
pelo Misa-Moçambique e que juntou
jornalistas, pesquisadores da área da
comunicação social, estudantes de jornalismo
e magistrados.
Como receita para evitar este tipo de
situações, recomendou aos colegas do
poder judicial para cultivarem o interesse
pelo direito constitucional. Isto
porque, de acordo com o juiz, quando
está perante um caso, a maioria dos
magistrados corre de imediato para as
leis ordinárias e não para a constitui-
ção que é o comando principal.
“O primeiro ponto de apoio que um
juiz deve tomar quando está diante de
um processo e tem de decidir se um
jornalista extravasou ou não os limites
da liberdade de imprensa e de expressão
é a Constituição. Este é o instrumento
onde deverá verificar a amplitude
que a lei mãe dá a este direito e
só depois o Código Penal para ver o
que diz a lei sobre as penalizações”,
elucidou.
Prossegue dizendo que, quando nos
esquecemos da Constituição e buscamos
primeiro a lei ordinária para
analisar a conduta do jornalista, estamos
a ler a lei ordinária em função da
Constituição, ou seja, estamos numa
situação em que logo a priori uma lei
penaliza uma conduta, mas é preciso
ver se a amplitude da Constituição
não permite que ele exagere.
Guilherme, que assegurou não ter
recebido nenhuma pressão política
para ilibar os réus Fernando Mbanze
e Castel-Branco, diz notar um défice
da magistratura em relação à importância
que se dá à Constituição para
a tomada de decisões. Destacou a necessidade
dos magistrados investirem
tempo para estudar o direito constitucional
de modo a trazerem melhores
resultados nos seus trabalhos.
9HUGDGHVDFULÀFDGD
A mesa redonda tinha como principal
objectivo consciencializar o judiciário,
o legislativo, o executivo e os Jornalistas
sobre a necessidade de promoverem
a liberdade de imprensa e de
expressão como um dos pilares da democracia,
e lutar para que se termine
com as intimidações contra os Jornalistas
no exercício das suas actividades.
O evento serviu de mote para as celebrações
do dia internacional de luta
pelo “Fim da Impunidade dos Crimes
contra Jornalistas” (2 de Novembro),
mas os debates acabaram se centrando
nos problemas éticos do exercício
da profissão, com destaque para as
reportagens de cobertura de assuntos
policiais, casos de violação sexual, sensacionalismo
entre outros.
O presidente da Associação Moçambicana
de Juízes, Carlos Mondlane,
foi um dos que levantou a voz, apontando
que numa altura de crises como
estas que o país atravessa, a verdade
é várias vezes sacrificada pelos órgãos
de comunicação social, facto que deixa
a sociedade perplexa ou torna-a
perversa. Questionou a qualidade de
informação e apelou ao respeito pelos
direitos fundamentais, afirmando
que estes não podem ser exercidos de
forma absoluta, sobretudo quando colidem
com outros direitos.
Jornalistas não podem ser
atacados
Sobre a efeméride, o presidente do
Misa-Moçambique, Fernando Gon-
çalves, esclareceu que crimes contra
jornalistas, especialmente quando estes
se encontrem no exercício das suas
actividades profissionais, configuram-
-se como crimes contra a liberdade de
expressão e de imprensa.
Precisou que foi em reconhecimento
da importância do trabalho dos jornalistas
e da necessidade destes terem de
realizar as suas tarefas num ambiente
de liberdade, que a Assembleia geral
das Nações Unidas, reunida na sua
68ª sessão, realizada em 2013, proclamou
o dia 2 de Novembro, como
dia internacional da luta pelo fim da
impunidade dos crimes contra jornalistas.
O dia 2 de Novembro surge em homenagem
a dois jornalistas franceses
mortos no Mali, em 2013, quando se
encontravam em trabalho de reportagem
sobre atrocidades cometidas por
um grupo extremista.
Fernando Gonçalves apelou às autoridades
governamentais, à sociedade
civil e a todos que se preocupam com
o bem-estar comum e com o Estado
de Direito para que se envolvam, com
determinação, nos esforços globais
pelo fim dos crimes contra jornalistas
e outros profissionais da comunicação
social.
No caso de Moçambique, recordou
que em Agosto passado, uma caravana
de jornalistas que fazia a cobertura da
visita presidencial à província de Manica,
foi alvo de um ataque perpetrado
por homens armados.
Disse que o que torna repugnante o
ataque é o facto de, na altura dos acontecimentos
os jornalistas se fazerem
transportar em viaturas identificadas
como pertencentes a órgãos de comunicação
social.
“Este acto constitui uma flagrante
violação do direito humanitário internacional,
que não coloca civis, incluindo
jornalistas, mesmo em situações de
conflito, como alvos militares legítimos”,
declarou.
De seguida, elucidou que ao abrigo
das normas do direito internacional,
mesmo que os jornalistas estejam envolvidos
em acções de propaganda, são
acolhidos como pessoas cuja integridade
física deve ser protegida.
Um jornal e uma rádio
em Moatize, província
de Tete, centro de
Moçambique, foram
vandalizados e perderam todo o
equipamento e uma outra emissora
sofreu uma tentativa de assalto
no mesmo distrito.
No sábado, o semanário “Malacha”
ficou sem todo o material
informático, dois gravadores digitais,
uma câmara fotográfica
e o arquivo digital do jornal que
remonta a 2011, na sequência de
uma vandalização e roubo das
instalações, no distrito de Moatize,
província de Tete.
“Neste momento o jornal está
a envidar esforços para, por vias
alternativas, publicar a edição
número 254, ainda dentro desta
semana, apesar de estarmos sem
meios”, disse à Lusa Aparício
José, editor do “Malacha”, adiantando
que foi apresentada uma
queixa na polícia contra desconhecidos.
A edição semanal que devia sair
para a rua na segunda-feira falhou,
tendo a equipa editorial voltado
a escrever os conteúdos, na tentativa
de publicar a próxima edição na
quarta-feira, embora com um “design”
antigo.
Na madrugada da quarta-feira, um
grupo de desconhecidos roubou igualmente
material informático, microfones,
um receptor profissional, consolas,
uma câmara digital e uma motorizada
na redacção da Rádio Comunitária de
Cateme, também no distrito de Moatize.
“O locutor que ia abrir a emissão da
quinta-feira encontrou o portão de
vedação aberto e o da entrada do edifício
fechado, com o guarda lá dentro,
amarrado e a chorar”, descreveu Daniel
Bernardo, jornalista da rádio comunitária.
Na madrugada de segunda-feira, um
grupo de cinco homens entrou, por
sua vez, no recinto da missão paroquial
São João Baptista, onde fica instalada
a Rádio Dom Bosco, também
em Moatize, contudo sem sucesso.
“Cinco homens começaram a rondar o
corredor lateral da igreja católica, que
dá acesso à área onde se localizam os
estúdios da Rádio Dom Bosco durante
a madrugada, mas colocaram-se
em fuga quando se aperceberam
que alguém os estava observando”,
disse à Lusa Micheque Dinga,
jornalista da estação.
Pelos moldes de acção, Dinga
suspeita que o grupo seja o mesmo
que vandalizou os outros dois
órgãos de comunicação social,
com o objectivo de “limpeza de
material de informação e um suposto
plano de silenciar as vozes
do povo”.
Os três órgãos de comunicação
social são conhecidos pela sua
imparcialidade na cobertura e
abordagem de casos de corrupção
e da actual crise político-militar e
divulgaram o caso dos refugiados
moçambicanos no Malawi, no
início do ano, quando as autoridades
locais negavam.
“Eu penso que é uma caça aos
órgãos de comunicação social, por
ser notável haver três assaltos em
menos de uma semana”, declarou
Aparício José, do jornal “Malacha”.
A polícia disse que está a investigar
os casos, sem mais detalhes.
Ataque a jornais em Tete
Morreu, vítima de cancro,
na última quarta-
-feira na África do
Sul a activista pela
liberdade de expressão e de imprensa,
Jeanette Minnie, anunciou
o escritório regional do Instituto
de Comunicação Social da África
Austral (MISA).
Minnie tinha 61 anos de idade. Ela
notabilizou-se pela sua perspicá-
cia e conhecimento profundo do
ambiente da comunicação social
na região da África Austral, onde
colaborou para a criação e fortalecimento
de organizações ligadas a
esta área.
Ela era reconhecida internacionalmente
como uma autoridade na
área das políticas sobre a comunicação
social, incluindo a regulação
independente, e desenvolvimento
institucional.
Ela era também conhecida Zambezi
FoX, que é a aglutinação do
“Crimes contra a honra não podem servir
de pretexto para censura”
- Juiz João Guilherme
Por Argunaldo Nhampossa
Morreu jornalista Jeanette Minnie
nome do maior rio que atravessa
uma grande parte dos países da
África Austral e as iniciais das palavras
Liberdade de Expressão na
língua inglesa.
Muito recentemente, ela foi co-
-editora da publicação electrónica
e em suporte de papel do MISA
regional, denominado African Free
Press, que versa sobre questões da
diversidade e pluralismo do sector
da comunicação social na região.
Savana 04-11-2016 17 PUBLICIDADE SOCIEDADE
18 Savana 04-11-2016 OPINIÃO
Registado sob número 007/RRA/DNI/93
NUIT: 400109001
Propriedade da
Maputo-República de Moçambique
KOk NAM
Director Emérito
Conselho de Administração:
Fernando B. de Lima (presidente)
e Naita Ussene
Direcção, Redacção e Administração:
AV. Amílcar Cabral nr.1049 cp 73
Telefones:
(+258)21301737,823171100,
843171100
Editor:
Fernando Gonçalves
editorsav@mediacoop.co.mz
Editor Executivo:
Franscisco Carmona
(francisco.carmona@mediacoop.co.mz)
Redacção:
Raúl Senda, Abdul Sulemane, Argunaldo
Nhampossa, Armando Nhantumbo e
Abílio Maolela
)RWRJUDÀD
Naita Ussene (editor)
e Ilec Vilanculos
Colaboradores Permanentes:
Fernando Manuel, Fernando Lima,
António Cabrita, Carlos Serra,
Ivone Soares, Luis Guevane, João
Mosca, Paulo Mubalo (Desporto).
Colaboradores:
André Catueira (Manica)
Aunício Silva (Nampula)
Eugénio Arão (Inhambane)
António Munaíta (Zambézia)
Maquetização:
Auscêncio Machavane e
Hermenegildo Timana.
Revisão
Gervásio Nhalicale
Publicidade
Benvinda Tamele (823282870)
(benvinda.tamele@mediacoop.co.mz)
Distribuição:
Miguel Bila
(824576190 / 840135281)
(miguel.bila@mediacoop.co.mz)
(incluindo via e-mail e PDF)
Fax: +258 21302402 (Redacção)
82 3051790 (Publicidade/Directo)
Delegação da Beira
Prédio Aruanga, nº 32 – 1º andar, A
Telefone: (+258) 825 847050821
savana@mediacoop.co.mz
Redacção
admc@mediacoop.co.mz
Administração
www.savana.co.mz
EDITORIAL Cartoon
D
eslegitimização das instituições
e descredibilização
da presidência são duas
consequências funestas da
campanha eleitoral nos Estados
Unidos que se saldará pela investidura
mais impopular de sempre.
Clinton poderá obter uma maioria
no Colégio Eleitoral, mas dificilmente
alcançará uma vitória esmagadora
na votação nacional, estando
em risco de se confrontar com a
hostilidade de um Congresso dominado
por republicanos.
As polémicas sobre a utilização por
Hillary de um servidor privado para
correspondência electrónica enquanto
secretária de Estado atingiram
o paroxismo com as acusações
ao director do FBI de ingerência
inaceitável e ilegal na campanha.
James Comey é condenado por
parcialidade ao prosseguir investigações
a Clinton abarcando e-
-mails detectados em dispositivos
informáticos de Huma Abedin,
sua assessora de confiança, e do ex-
-marido, o antigo representante democrata
de Nova Iorque Anthony
Weiner, caído em desgraça por envio
de imagens sexuais explícitas e
abusivas a mulheres e a uma menor.
Atacado por Trump por alegadamente
encobrir “comportamento
criminoso” de Hillary, pressionado
pelo Departamento de Justiça para
evitar declarações sobre o assunto
durante a campanha, Comey acabou
mal com democratas e republicanos
que o vinham criticando por
complacência ante os Clinton.
Nomeado por Obama em 2013,
com um mandato de 10 anos, Comey,
caso venha a ter de conviver
com Clinton, poderá contar com
um ambiente de cortar à faca reminescente
dos anos em que Edgar
Hoover enfrentou os irmãos Kennedy.
Hillary é, contudo e notoriamente,
política de porte duvidoso.
A demonstrá-lo contam-se a incapacidade
para sequer entender a
gravidade ou tentar esclarecer múltiplos
conflitos de interesses provocados
pela angariação de fundos da
Fundação Clinton, em especial nos
anos em que chefiou o Departamento
de Estado (2009-2013), e as
denúncias de favorecimento e manipulação
por parte da liderança do
Partido Democrático na compita
pela nomeação presidencial contra
Bernie Sanders.
A péssima imagem pública de
Hillary em matéria de “confian-
ça” e “honestidade” pede meças a
Trump e faz mossa em segmentos
do eleitorado feminino jovem e de
maior escolaridade renitente a votar
na antiga primeira-dama, apesar do
comportamento inaceitável do candidato
republicano.
A consternação no partido é, portanto,
tanto maior quanto a reentrada
em força na campanha dos
e-mails da secretária de Estado, que
acentuou a quebra nas intenções de
voto por Clinton, desmotivando,
eventualmente, eleitores indecisos
na opção pela candidata ou por candidatos
democratas ao Congresso.
Os líderes republicanos que tentaram
distanciar-se de Trump podem
dar agora por segura a maioria na
Câmara de Representantes (247 vs.
188, presentemente), mas no Senado
a vantagem de quatro mandatos
continua em risco dependendo de
votações em Indiana, Missouri, Carolina
do Norte, Nevada, Pensilvâ-
nia e New Hampshire.
Se os democratas não conquistarem
maioria no Senado, a presidência de
Hillary será à partida um fracasso.
De Donald Trump, caso falhe a
vitória por margem escassa, é de
esperar contestação ao processo
eleitoral, incluindo votação e escrutínio,
num clamor potencialmente
mais danoso do que as polémicas
provocadas pela viciação dos resultados
no Illinois pelo presidente da
Câmara de Chicago, Richard Daley,
a favor de John Kennedy contra Richard
Nixon, em 1960.
Hillary é uma mulher assolada por
escândalos, condenada justa e injustamente
por actos, omissões e mentiras,
criticada por gente decente
que não se perde em delírios polí-
ticos ou nos desvarios de Donald
Trump, e se chegar à Casa Branca
terá tudo menos credibilidade e
voto de confiança que é o pior que
pode acontecer a um Presidente.
Haja o que houver, estas eleições
têm ainda, de resto e desde já, um
imenso derrotado e dá pelo nome
de Barack Obama.
*Jornalista e colunista do jornaldenegocios.pt
Por João Carlos Barradas*
É
uma questão de imaginação, o grau de satisfação que terá tomado
conta dos gestores da Electricidade de Moçambique
(EDM), ao tomarem conta da autorização do governo para
aumentar as tarifas de venda de energia.
O sector energético é de uma importância estratégica, e as tarifas praticadas
pela empresa pública são directamente controladas pelo governo.
Durante muitos anos, entendia o executivo que aumentar as tarifas
poderia provocar um generalizado descontentamento popular, para
além de contrariar a sua própria política de massificação da electrifi-
cação, para abranger também populações de baixa renda, que ficariam
privadas deste bem essencial se fossem praticados preços comerciais.
Na óptica do governo, a energia eléctrica não só ilumina, como também
desencadeia todo um processo de desenvolvimento, resultante da
electrificação de infra-estruturas sociais tais como escolas, unidades
sanitárias e centros de produção.
O resultado desta política foi que ao longo dos anos a EDM foi acumulando
enormes prejuízos, produzindo ou comprando energia a um
custo que se situava acima do preço de venda ao consumidor, ao mesmo
tempo que o comando político exigia que a empresa embarcasse
num ambicioso programa de expansão. Era uma equação económica
desastrosa para a empresa, que se reflecte na fraca qualidade da energia
que é consumida pela maioria dos moçambicanos.
Com estas alterações, os consumidores esperam que elas venham a ser
correspondidas por uma significativa melhoria na qualidade dos servi-
ços prestados. A má qualidade da energia distribuída pela EDM tem
sido causa para a desgraça de muitas famílias moçambicanas, devido
aos danos que causa aos seus electrodomésticos e outros equipamentos
adquiridos com muito sacrifício.
Acontecia também que, com esta política de subsídios generalizados,
a EDM estava também efectivamente a subsidiar consumidores mais
poderosos, tranquilamente capazes de dispensar esta generosidade.
Mas será que as recentes medidas devem ser motivo de alívio para a
EDM? É que muito cedo esse entusiasmo dos gestores da empresa
será confrontado com a realidade do ambiente inflacionário em que
vive actualmente a economia moçambicana. A EDM é fornecedora
de um bem essencial, mas a empresa também recorre a este mesmo
mercado para se abastecer de tudo quanto não seja energia eléctrica.
E os custos de tudo, incluindo o combustível que necessita para movimentar
as suas viaturas em operações de manutenção, reparação ou
outras necessidades, estão também a subir.
Esta é a realidade do crescimento zero em que se encontra imersa a
economia moçambicana, fruto de uma gestão desastrosa nos últimos
anos. Uma economia sufocada por uma dívida pública que muito cedo
irá ultrapassar o valor do Produto Interno Bruto (PIB), onde a inflação
sobe de forma vertiginosa e engole os rendimentos dos cidadãos, onde
a previsibilidade orçamental, a todos os níveis, é coisa do passado.
Não ajuda a resolver o problema, mas o ponto a que chegamos nos
obriga a levantar algumas questões que julgamos pertinentes. O país
gasta rios de dinheiro a pagar funcionários públicos cuja função primária
é manter a economia dentro dos parâmetros que lhe permitam
alguma sanidade, protegendo dessa forma os rendimentos dos cidadãos.
Onde é que estavam, e o que é que estavam a fazer todos estes
funcionários quando foram cometidas todas as barbaridades que se
abateram sobre a economia do país?
Estamos a falar de funcionários a quem se pagam salários comensuráveis
com as altas responsabilidades que os seus cargos impõem, com
todo o tipo de mordomias que lhes são inerentes, precisamente pelo
reconhecimento que se tem sobre a complexidade do seu trabalho.
Será que tudo isso se justifica?
O que importa salientar, face à actual situação em que o país se encontra,
é que se por um lado há indícios de terem sido praticados actos que
se configuram no exercício irresponsável do poder, por outro, há aqueles
que tinham a responsabilidade de não permitir que tal acontecesse,
mas que optaram por se acomodar politicamente em prejuízo do bem
estar económico do país. A responsabilidade destes não pode estar em
menor grau que a dos primeiros. E até parece mais grave permitir que
se faça o que se sabe que não se deve fazer.
Sobe o preço da
electricidade, mas o
problema continua
Clinton: a escandalosa
Savana 04-11-2016 19 OPINIÃO
501
Email: carlosserra_maputo@yahoo.com
Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com
Moçambique independente
conheceu dois grandes
momentos de consenso
nacional: em 1992 a
transformação do célebre Acordo de
Paz de Roma em Lei, por votação
unânime da Assembleia da República
(Lei 13/92 de 14 de Outubro de
1992); e ainda no dia 16 de Novembro
de 2004 a votação unânime na
Assembleia da República em favor
da primeira Constituição nascente
do multipartidarismo, que é a Constituição
vigente. Esta Constituição
de 2004 tem como componente essencial
o objectivo da transformação
gradual de Moçambique num Estado
cada vez menos centralizado e
“gradualmente” descentralizado (ver
os artigos 117(1)(e), 250 (1), 263(1),
271, 272 (2), 273, 274, e 292 (1) (j).
A lentidão do gradualismo é óbvia.
Em 12 anos só nasceram 53 autarquias
locais num total de 405 órgãos
do poder local, quer dizer que nem
sequer 15% dos Órgãos Locais do
Estado (OLE) foram transformados.
Assim, o governo central também
continua a governar todas as Províncias
e todos os distritos. E a oposição
só tem representação ao nível nacional,
mantendo se excluída em todo
o país, salvo nas 53 autarquias locais
que conseguiram a sua libertação do
centralismo, instituído em Moçambique
pelo poder colonial.
Não é assim tão difícil identificar o
que se pode e deveria fazer para avan-
çar com a descentralização.
Mas em contramão, com data de
28 de Outubro de 2016 e depois de
três meses de consultas e trabalho,
“os mediadores” no processo de facilitação
dum entendimento entre o
governo e a oposição sobre a descentralização,
publicaram uma primeira
proposta espantosa e desvinculada da
realidade.
A “Proposta … com Vista ao Acordo
sobre o a Governação das Províncias
e a Trégua” apresenta uma lista de 14
princípios que os mediadores exigem
que o governo e a oposição aceitem.
No princípio no
4, referem os mediadores
à “autonomia das províncias”
como que se isso fosse uma regra
existente no sistema constitucional
de Moçambique. Pelo no
. 11 proclamam
que “a cada província deve ser
atribuído um certo grau de autonomia
financeira”. Evidentemente, esta
noção é atributo do federalismo e o
país vizinho, a África do Sul, fez as
piores experiências com a autonomia
financeira das suas províncias onde
rivalizam a incompetência e a falha
na manutenção, mesmo dos mais bá-
sicos serviços aos cidadãos.
O no
. 8 exige que cada província deve
tomar medidas “por uma luta credí-
vel contra a corrupção”. É uma ilusão
contrária a todas as experiências modernas
e pelo mundo fora, de querer
fragmentar pela descentralização o
combate contra a corrupção.
O no
7 pretende que cada província
deve adoptar “um projecto de reconciliação
entre as populações, entidades
políticas, económicas e sociais,
envolvendo instituições da sociedade
civil”. É uma visão desprovida de
qualquer compreensão da realidade
económica e financeira de Moçambique.
Para as Assembleias Provinciais prevêem
os mediadores que devem ficar
sujeitas ao poder do governador de as
dissolver proclamando novas eleições
para a assembleia assim dissolvida
(no
. 9).
Não se entende a necessidade desse
poder de disciplinar as assembleias
provinciais visto que segundo os mediadores
(nos princípios no
. 4 e 5), os
governadores devem ser “escolhidos
localmente” (quer dizer que não serão
nomeados pelas Assembleias Provinciais)
e deverão nomear “os membros
do Governo Provincial” sem intervenção
da Assembleia Provincial.
Igualmente, pelo mesmo no
5 os governadores
deverão nomear os administradores
distritais, mas estes sim,
necessitariam de “aprovação das “respectivas
Assembleias Provinciais”.
A única outra tarefa de relevo que
restaria para as assembleias provinciais
seria de “aprovar os orçamentos
e outras iniciativas de investimento”
(no
. 6). A consideração da matéria de
orçamentos junto com a questão de
“investimentos” é uma triste reflexão
da incompreensão dos princípios bá-
sicos da economia por parte do autor
dos “princípios.
O que se apresenta na sua integridade
é uma visão caricata dum presidencialismo
extremo a nível de
províncias, em substituição da administração
centralista vigente.
Talvez o princípio no
. 14 contenha a
chave para o entendimento da proposta
dos mediadores. Reza: “As entidades
e organizações representadas na
mediação monitorarão a implementação
dos princípios que nortearão a revisão
da Constituição da República.”
Cá temos então o verdadeiro motivo
da União Europeia, da nebulosa Fundação
“Global Leadership” (GLF),
fundada pelo último presidente do
regime do apartheid, De Klerk, bem
como da sempre vaidosa Santo Egí-
dio, e ainda da Fundação do sabichão
Tony Blair, a “Tony Blair Faith Foundation”.
Nenhum deles percebe algo
de constitucionalismo ou do funcionamento
da descentralização pelo
mundo fora.
Mas todos eles partilham um consenso
importante. Querem garantir que
muitos mais anos de voos em classe
executiva, semanas inteiras de luxo no
hotel Polana, passeios de excursão ao
encontro da “África Profunda” na serra
da Gorongosa, continuem, na base
da usurpação dum poder de tutela
política em Moçambique.
Será que a oposição nas províncias
que poderão vir a governar quererá
mesmo aguentar esses mediadores
durante anos futuros em que querem
ser os juízes da “revisão da constituição”,
da “luta credível contra a
corrupção”, ou dos “projectos de reconciliação”,
entre outros? Será que
Moçambique quer mesmo reverter-
-se à situação de um menor, de um
estado falhado que necessita duma
gestão de tutela, tal como no Kosovo,
na Líbia ou no Iraque?
Que vergonha para a União Europeia
e seus aliados neste processo. Em vez
de aceitarem a responsabilidade pela
actuação criminosa dos bancos que
deveriam fiscalizar na concessão dos
empréstimos corruptos que arruinaram
a economia de Moçambique,
esta União Europeia vem agora propor
princípios de descentralização
que só poderão provocar a anarquia
administrativa e financeira debaixo
de uma tutela indefinida por estrangeiros
e finalmente o esvaziamento
de qualquer forma de soberania
nacional. Faz lembrar o famoso livro
“Economic Hitman” do autor
Perkins.
Moçambique ainda tem a escolha.
Pode fazer lembrar aos mediadores
que foram convidados na base de
termos de referência que especificamente
impedem os mediadores de
fazer propostas inconstitucionais e
vinculadas unicamente em favor de
uma das partes que se submeteram
à mediação. Pode também alertar a
Vice-presidente da União Europeia
Mogherini que o seu enviado e compatriota
e antigo camarada de filia-
ção política, bem como consultor da
empresa petrolífera italiana ENI, o
Senhor Raffaelli, acabou por propor
um mobutismo primário para a futura
administração das províncias em
Moçambique.
*Advogado, Professor Catedrático em
Direito Internacional e Comparado na
University of South Africa (Unisa)
Mediadores sem rumo
Por André Thomashausen
Há palavras que, para mim, carecem
de sentido. São muitas,
mas aqui quero falar de duas:
uma é PENA e a outra é ARREPENDIMENTO.
A pena, porque
designa um sentimento passivo, oco,
que não resolve nada; o arrependimento,
porque perfeitamente evitável.
O que quero dizer é o seguinte: aprendi
a ser muito cruel comigo mesma e isso
talvez tenha sido um dos ramos que
me ajudou a subir na carreira militar.
Agora sou uma coronel na reserva e
não me acho assim tão mal situada.
Em 1976 – tinha 19 anos e estava a
frequentar a 5.ª classe – interrompi
os estudos porque fui incorporada à
força no Destacamento Feminino. Fiz
parte de um grupo de um regimento
de jovens de que as pessoas da minha
idade devem lembrar-se. Fizemos
muitas escandaleiras aí nos distritos
de Moamba e Boane, quando, ao
fim do dia, íamos em revoada tomar
banho no rio. E ai do macho que
se atravessasse no nosso caminho.
Mas depois fomos desintegradas,
os regimentos foram distribuídos
por várias áreas e eu tive sorte: fui
incorporada na contrainteligência
militar e assim fui parar no quartelgeneral,
na avenida 24 de Julho, mesmo
nas barbas da Escola Secundária
Francisco Manyanga. Progredi muito
rapidamente por várias razões, uma
das quais é que eu tenho um corpo
muito atraente e os homens não são
indiferentes a isso.
Mas o que eu queria mesmo era
estudar. Fui-me matricular na Escola
Secundária da Polana, no curso
nocturno, e aí cometi mais uma
asneira: apaixonei-me pelo meu
professor de Português. Nem sei se era
bem paixão, mas andei por aí, porque
– estávamos nos anos 80, eu tinha 20
anos e estava na contrainteligência
militar – ele me levava a lugares como
o Minigolfe, o Restaurante Costa do
Sol, às vezes Mafalala, onde podia
facilmente localizar as possíveis
vítimas ou objectos do meu trabalho.
Esta foi a minha primeira paixão.
Depois apaixonei-me loucamente pelo
meu professor de História. No meio
dessa história toda eu fiquei grávida
e fiquei sem saber a quem atribuí-
la: se ao meu professor de Português
ou de História.O de Português era
muito simpático, levava-me a bares,
apresentava-me sempre como “a
minha aluna” e eu dizia, simplesmente:
“Lailate”. O meu nome completo
é Laila Bacar Ussene. Então decidi
que entregaria a encomenda ao meu
professor de História, que, embora
não me levasse a sítios desses, era
muito mais inteligente e simpático
comigo. Fui dizer-lhe e ele saltou fora:
– Lailate, eu disse que sou um homem
casado e com filhos, não posso
assumir essa responsabilidade. Vamos
desmanchar a gravidez.
– Não, desmanchar eu não faço. Na
minha terra não se faz isso, eu sou da
Ilha de Moçambique. Uma da Ilha de
Moçambique, macua, nunca desfaz
gravidez.
– Mas de que que vale ter um filho a
quem não poderemos dar educação,
nem saúde, nem vestuário, nem
calçado?
– Vou tratar dele. Se você não quer
assumir a responsabilidade, assumo
eu.
Fui meter queixa no Comissariado
Político do Ministério da Defesa. Ele
foi chamado para lá, não negou que a
gravidez fosse dele, mas disse que não
poderia assumir a paternidade porque
não tinha possibilidades financeiras de
criar o filho. Então o meu comandante
disse:
– O senhor vai para a reeducação,
daqui mesmo deste prédio (que ficava
na esquina entre a Mao Tse Tung e a
Amílcar Cabral, se bem me lembro).
Estávamos aí, à porta do elevador,
eu e ele, para descermos, ele dali
directamente para o aeroporto e eu
para testemunhar a partida dele para
Niassa, para a reeducação. Cruzámonos
então, porque estava a subir pelas
escadas, com o comissário político,
que disse:
– Lailate, onde é que vais com o stôr?
– Ele engravidou-me e agora diz que
não quer aceitar a paternidade.
– E depois?
– Ele vai à reeducação.
– Porquê?
– O comandante disse que sim.
– Vamos lá voltar ao gabinete.
Voltámos ao gabinete e o comissário
disse:
– Anulem essa ordem, eu não vou
perder um professor de História
desta qualidade por causa de uma
brincadeira de crianças. Laila, tu não
és criança, sai daqui! Stôr, apanha lá o
meu carro lá em baixo e vai para o teu
escritório trabalhar. À noite quero verte
na escola.
Estou a contar esta estória agora
porque tenho um sentimento duplo
ou ambíguo: de compaixão para
comigo própria, mas também de
arrependimento e severidade. Isso não
me resolve nada. Estou arrependida,
estou com pena de mim própria, o
meu filho já tem 20 anos, é instrutor
na Academia Militar Samora Machel,
em Nampula. Sou coronel na reserva e
chamo-me Laila Bacar Ussene.
Devemos comportar-nos sempre de
modo a não termos piedade de nós
próprios, a não termos nunca de pedir
desculpas, a não termos nunca de
arrepender-nos daquilo que fazemos.
Sinto-me bem, se é possível uma
pessoa com a minha idade sentir-se
bem sozinha nesta praia da Ilha de
Moçambique, onde estou a apanhar
sol de pernas ao léu, a ver se me
aparece um submarino alemão com
um comandante loiro de olhos azuis
que me leve a conhecer o Pacífico Sul.
É esse o meu sonho.
Sangria e Arroz de Cabidela
T
irando partido da inquieta-
ção e como que da componente
subliminar das pessoas,
irrompem descrições de
fenómenos objectivamente fabricadas
para causar inquietação e pâ-
nico, saladas informativas ruidosas
juntando dados prepositadamente
fora do contexto, proliferação de
arautos da tragédia sem fim multiplicando
sem pausa, por mil caminhos,
textos castrenses, etc.
Fragilizados, impotentes perante
tanta coisa fora do razoável e do
equilíbrio, tornamo-nos crédulos,
porosos ao diz-que-diz ad populum,
às verdades de oitiva, às
petições de princípio, ao non sequitur,
às falácias com argumentos
capciosos, ao estabelecimento de
imputações e de generalizações
erradas.
Vivemos uma época política propícia
aos boatos. Os boatos ganham
terreno quando duas condições
estão reunidas: incerteza e
medo. Há dois tipos de boatos: os
espontâneos e os intencionalmente
provocados. Neste último caso,
regra geral de natureza política,
podem assumir o papel de mísseis
ideológicos devastadores.
Fragilidade, impotência e boatos
20 Savana 04-11-2016 OPINIÃO
SACO AZUL Por Luís Guevane
O
povo pede os supostos culpados
pelas “dívidas escondidas” mas,
em simultâneo, sente o rosnar do
poder coercitivo. Sente-se coagido
a não marchar, a fingir que nada de
grave está a acontecer, a “concordar” que
a grande crise interna faz sentido porque
gerada internacionalmente, que o país
sempre viveu de “crise em crise” e que esta
não é a primeira e não será a última, que
aumentando a produção elevamos o PIB
e, consequentemente, a dívida tornar-se-á
sustentável. Lembremo-nos que as crises
começaram a (re)desenhar-se no “tempo
das arrogâncias”, quando se decidiu pôr
termo à paz de Chissano e Dhlakama.
A partir daí foram-se tornando cada vez
mais vigorosas; foram ganhando e exibindo
sua robustez alimentadas pelo poder
coercitivo.
Crises em pico alto
Se, por um lado, os cidadãos percebem que
diariamente os preços vão enlouquecendo
os seus bolsos, por outro, paralelamente, os
níveis de respeito, admiração e obediência
ao poder instituído vão caindo. O fingimento
até pode (ou continua a) mascarar essa
queda. Enquanto isto vai paulatinamente
acontecendo, o FMI não abandona a ideia da
auditoria internacional independente. Neste
sentido, quanto mais molengões formos “na
auditoria”, mais asfixiados ficaremos tanto
economicamente como politicamente. As
constantes matanças dos membros das partes
em conflito agravam a já precária situação de
falta de confiança por parte da comunidade
internacional bem como dos moçambicanos.
Criam a sensação de estarmos num jogo em
que uma equipa marca e a outra empata, volta
a marcar e a outra volta a empatar, sucessivamente,
e o jogo parece não ter fim. Não nos
esqueçamos que, a este conjunto de situações,
é preciso não descurar, no horizonte, o “factor
eleições”. A sua realização esteve sempre
muito dependente de fundos externos. A
acontecerem, dentro das datas previstas, é de
contar com um resultado que tenderá a expressar
o presente momento de crises.
Hoje estamos todos, ou quase todos, aborrecidos
com as dívidas escondidas ou designadas
ocultas ou ilícitas ou odiosas. Mas,
sabemos que esta “dívida escondida” foi gerada
na prossecução daquilo que é ou era a
prática monopartidária. Mudaram-se as leis,
mas não foi alterada a essência do “ambiente
monopartidário”. A Assembleia da Repú-
blica foi supostamente colocada de lado não
propriamente por desrespeito, mas por força
do hábito de olhá-la como algo supostamente
conveniente em razão do poder julgado
meramente simbólico; exemplo que traduziu
o evitável perigo de partidarização do Estado.
Hoje, o nosso ambiente de pobreza é produzido
e reforçado não só pelas dívidas
escondidas, mas também pelo impacto
nefasto do conflito político-militar. E
aqui não estamos a colocar na balança a
nossa fraca capacidade de resiliência aos
eventos da natureza que tendem a incidir
sobre o já frágil tecido social e económico
moçambicano, não estamos a colocar o
contexto económico internacional e nem
a forte absorção financeira feita pelas geométricas
mordomias (in)questionáveis, e
nem estamos a equacionar a avaliação, feita
diariamente pelo cidadão, à qualidade
de governação. Estamos a solicitar maior
flexibilidade na resolução das crises. Teremos,
ainda dentro deste ano, resolvido
já uma das crises? Como ponto de partida,
urge resolvermos, no mínimo, a crise
político-militar.
Meu nome é António Prista e sou
Professor Catedrático da Universidade
Pedagógica. Surpreenderam-me
os ofícios emitidos pelo
Excelentíssimo Senhor Ministro da Ciência
e Tecnologia, Ensino Superior e Profissional
relativos à criação de novas Universidades a
partir da divisão da Universidade Pedagógica
(UP). Acredito que, na minha qualidade de
Catedrático, docente e investigador da UP há
mais de duas décadas, posso ter o direito (e o
dever) a uma opinião. Permitam-me que emita
algumas considerações e sugestões sobre este
assunto.
Nos referidos ofícios é anunciada a extinção
da UP e a sua fragmentação em Universidades
Regionais. Esta medida tem como objectivo
“... reduzir os níveis de duplicação de cursos
e Unidades Orgânicas, racionalizar o uso de
recursos humanos, patrimoniais e financeiros,
bem como conferir o ensino superior uma nova
dinâmica e eficiência de funcionamento”. No
mesmo ofício são criadas comissões instaladoras
de quatro novas Universidades que serão
criadas a partir da já existente. Constituindo
parte do quadro docente da Universidade Pedagógica
e considerando as responsabilidades
educativas, sociais e políticas de uma Universidade
solicito a atenção de Vossas Excelências
para as seguintes preocupações:
1. A reestruturação de uma Universidade é
normalmente acompanhada de um processo
de avaliação institucional. Apenas
uma avaliação técnica, de carácter objectivo
e com reconhecida isenção, pode fundamentar
medidas de ajustamento e, em
particular, uma medida tão radical como
aquela que foi agora adoptada. De outro
modo, não se pode entender como a solução
sugerida “reduzir” os níveis de duplicação
de cursos e Unidades Orgânicas,
“racionalizar”, o uso de recursos humanos,
patrimoniais e financeiros e tornar a Universidade
eficaz e produtiva” surge de um
diagnóstico da actual situação. Não existindo
essa avaliação crítica não se percebe
como a simples divisão da UP em quatro
universidades resultará automaticamente
na racionalização dos recursos, redução de
despesas e melhoria a sua eficiência.
2. Não tendo existido um processo de avaliação
e não conhecendo a existência de
estudos que conduziram à conclusão mencionada,
o que se afigure mais lógico é
pressupor que a criação de várias universidades
multipliquem as despesas em vários
itens, incluindo com a necessária multiplicação
de órgãos e cargos.
3. O despacho determina ainda que as Comissões
devem “Avaliar e elaborar os currí-
culos dos cursos da Instituição a criar”. No
caso da UP os currículos vigentes resultaram
de um processo sistematizado e longo
de revisão curricular que envolveu toda a
comunidade académica. Aliás, foram elaborados
depois de um longo estudo sobre
o papel da UP no país no quadro do seu
plano estratégico amplamente discutido e,
o mais importante, elaborados por órgãos
académicos competentes (Faculdades) e
aprovados por órgãos com competência
para tal (Conselho Académico e Conselho
Universitário). Não parece ser aconselhável
uma nova reforma sem deixar terminar o
actual ciclo e ignorando o trabalho sério
e responsável realizado pelos profissionais
da UP. As alterações fora de um processo
sistematizado não permitem um alinhamento
e construção de modelos consolidados.
Sabendo que o processo de avaliação
curricular é complexo e longo, não parece
ser viável a avaliação e alteração de 76 currículos
no período de seis meses conforme
determina o despacho.
4. A recomendação para cada comissão apresentar
o nome tendo em vista a Missão e
Visão da nova instituição criada” subentende
que a Missão das novas instituições
pode não ser a formação de professores.
Num país onde o constrangimento mais
saliente da Educação é a falta de qualidade,
parece ser um contra senso eliminar a
missão que norteia a actual Universidade.
Pelo contrário, sendo a Educação a condi-
ção essencial do desenvolvimento, espera-
-se o reforço do investimento em meios
financeiros e Humanos para que garanta o
sucesso dessa missão.
5. As comissões criadas são compostas, com
uma única excepção, por elementos alheios
à Universidade Pedagógica. O despacho
passa por cima de uma experiência acumulada
dos mais de 3 mil profissionais da
UP (entre docentes e CTA), atribuindo
aos mesmos um atestado de incompetência.
Ao entregar a reflexão e reformulação
dos destinos da UP nas mãos de profissionais
de outras instituições dever-se-ia,
no mínimo, ter realizado um processo de
avaliação dos docentes da UP para que
lhes pudesse ser atribuída nota tão negativa.
Por outro lado, colocando de lado os
actuais docentes e funcionários, é pouco
provável que o processo tenha um resultado
positivo. Relembro que estatutariamente
os cursos, planos de estudo e programas
são aprovados pelos órgãos académicos da
própria Universidade.
Caros colegas,
O actual estágio da UP resulta de muitos anos
de trabalho e esforço de milhares de acadé-
micos e outros profissionais. Ao longo desse
processo cometeram-se obviamente os mais
diversificados erros pelo que a avaliação e reformulação
constante constitui uma condição
indispensável. Contudo, é com enorme preocupação
que vejo a formação de uma comissão
de académicos que vem questionar uma Universidade
que pouco conhecem, não para realizar
uma avaliação Universitária (que seria
muito útil) mas executar uma decisão que
nega à partida todas as enormes conquistas
da UP. Esta abordagem, mesmo que involuntariamente,
é entendida como uma ofensa à
dignidade profissional e académica de muitos
de nós. Todo um legado de muitos anos e de
muito esforço e abnegação corre o risco de ser
ignorado e desrespeitado.
Tendo em atenção os motivos acima expostos,
e, num espírito de contribuir para o processo
de forma construtiva, venho pois sugerir que
façam as seguintes sugestões ao Exmo Senhor
Ministro da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior
e Profissional:
1. A reformulação dos termos do despacho;
2. A realização de uma avaliação da UP nos
moldes academicamente aceites;
3. A integração nas comissões de avalia-
ção institucional elementos da UP, outros
académicos nacionais como Vossas Excelências
mas também Internacionais;
4. A alteração do calendários em função dos
resultados do processo de avaliação institucional;
5. A inclusão na avaliação de um estudo que
conduza de facto a uma ou mais institui-
ções mais eficazes e parcimónias conforme
designa o despacho como objectivo.
Todas estas sugestões nasceram do fundo desejo
de contribuir positivamente na certeza
que Vossas Excelências valorizam o meu propósito
de partilhar toda a carga de experiência
acumulada e na vontade patriótica de ver melhorada
a qualidade do ensino e investigação
nacional.
Agradecendo a Vossa a atenção ao assunto, endereço
as mais cordiais saudações académicas.
Maputo 31 de Outubro de 2016
*Carta dirigida às Comissões de instalação
criadas pelo MCTES (Ministério da Ciência
e Tecnologia, Ensino Superior e Profissional)
para restruturar a Universidade Pedagógica. O
título da carta é da inteira responsabilidade do
SAVANA.
“Não parece ser aconselhável uma nova
reforma sem deixar terminar o actual ciclo”*
Por António Prista (Professor Catedrático da Universidade Pedagógica)
Savana 04-11-2016 21 PUBLICIDADE
22 Savana 04-11-2016 DESPORTO
A
pesar de o Presidente da
Federação Moçambicana
de Futebol, Alberto Simango
Júnior, ter recuado,
semana finda, da ideia de banir os
clubes não licenciados do Moçambola-2017,
Ananias Couane garantiu
que esta medida irá continuar,
pois, é a única forma de garantir
uma prova com clubes sustentáveis.
A garantia foi dada, esta semana,
pelo gestor da prova, em entrevista
ao SAVANA, na qual revelou que
ainda não foram definidas as modalidades
de distribuição do valor
das transmissões televisivas, fruto
da parceria com a companhia angolana,
ZAP.
Acompanhe!
Que balanço faz ao Moçambola-2016,
o primeiro sob sua liderança
e o primeiro com 16 equipas?
-Estamos satisfeitos com os níveis
alcançados, em termos de organização.
Quando preparamos o plano
de actividades e o orçamento para a
prova não contávamos com a actual
situação económica. Mas, sentimo-
-nos satisfeitos porque terminamos
bem o nosso primeiro Moçambola
e com 16 equipas. Em termos
competitivos, sentimos que houve
competitividade, pelo que assistimos
ao surgimento de novos atletas
que deram vigor ao campeonato.
Tivemos a situação de crise nos
clubes, mas fizeram de tudo para
que se mantivessem até ao fim do
campeonato.
Qual foi o verdadeiro impacto desta
crise, ao nível da LMF?
-Afectou na medida em que tivemos
de adiar o pagamento de
alguns serviços. Há outros que
tivemos de negociar com os fornecedores
porque nem todos os
patrocinadores desembolsaram os
valores. Também não foi possível
aumentarmos os subsídios dos árbitros,
melhorar as suas condições
de acomodação e transporte terrestre
(seria a LMF a pagar o transporte
terrestre e não os próprios
árbitros). A tensão político-militar
também nos afectou porque não foi
possível as equipas da zona centro
deslocarem-se via terrestre, o que
reduziria a factura de transporte.
“Não há relação entre a
crise e os 16 clubes”
Uma falta de comparência e paralisação
de treinos, devido a questões
salariais, marcaram este campeonato.
Olhando para a situação que
os clubes atravessam, é possível
considerarmos a passagem de 14
para 16 clubes, uma decisão acertada?
-Penso que não há nenhuma rela-
ção. Temos de olhar as duas situações
de forma distinta. Quando
aumentamos o número de equipas,
havia um objectivo por atingir
(aumentar a competitividade)
Apesar de Alberto Simango Júnior ter recuado, publicamente, da ideia avançada pela sua instituição, em Julho
“Moçambola-2017 só com clubes licenciados”
das transmissões televisivas
Por Abílio Maolela
e conseguimos. Por outro lado,
constatamos que as equipas repescadas
(Desportivo de Nacala e 1º
de Maio de Quelimane) souberam
estar na prova, diferentemente do
Desportivo do Niassa, que estaria
mesmo sem o seu alargamento.
Portanto, não há nenhuma ligação.
A crise teria nos afectado da mesma
forma com 14 clubes.
Embora os custos da organização
da prova recaiam sobre a LMF,
não sente que ter um maior número
de clubes “deficientes” afecta a
competição e a LMF, como organizadora?
-Se os clubes tivessem tido crise,
faltando um mês para o fim do
campeonato, apontava o aumento
de número de clubes como responsável.
Mas, a crise verificou-se antes
do final da primeira volta. Portanto,
o aumento de clubes não tem nada
a ver com a crise financeira. O nosso
desafio não é reduzir o número
de clubes, mas ter clubes organizados
(em termos financeiros e noutros
aspectos ligados ao marketing
desportivo).
Podemos concluir que para 2017
estão confirmados os 16 clubes...
-É nosso objectivo, mas é verdade
que a situação financeira ainda vai
nos abalar em 2017, pois, as previsões
indicam a melhoria para 2018.
Porém, qualquer alteração será feita
na Assembleia-Geral, onde se
aprovou o alargamento.
“Em 2017 só clubes
licenciados”
Disse, ao nosso jornal, que “só o
licenciamento ditaria quem deve
estar no Moçambola”. Neste momento,
apenas duas equipas estão
licenciadas (Liga Desportiva de
Maputo e Ferroviário da Beira) e
oito estão à espera, sendo que cinco
(incluindo as duas equipas que ascenderam
a primeira divisão) ainda
não moveram palha. Com este facto,
há condições para estas colectividades
fazerem parte da prova?
-Estamos preocupados porque o
tempo já não existe e os clubes não
estão a cumprir com os prazos. Mas,
o licenciamento é a chave para estar
no Moçambola. Se não estiverem
devidamente licenciados não vão
participar no Moçambola de 2017.
Mas, acredito que os clubes vão resolver
a situação porque é na base
do licenciamento que vamos poder
ver a sua mínima organização.
Ou seja, é possível não termos 16
equipas, caso não se licenciem...
-Sim. Tem de se cumprir com os
requisitos.
Que informações têm sobre os clubes
que ascenderam ao Moçambola.
Não está a caminho um novo
“Desportivo do Niassa”?
-A questão dos novos clubes ainda
não está concluída. Estamos à espera
de uma comunicação oficial,
como também ainda não comunicamos
quem são os despromovidos.
A verdade desportiva é um dos seus
“cavalos de batalha”. Na penúltima
jornada, o treinador da UDS
apontou nomes dos que “arquitectam”
campeões. Até que ponto,
esta declaração belisca esta prova
e a própria LMF, tendo em conta,
também, a situação dos “nove minutos”
da época passada?
-Estamos preocupados em ver esse
assunto resolvido, mas em termos
de resultados desportivos estamos
claros de que o Ferroviário da Beira
é justo vencedor. Ninguém deve
questionar isso. Terminou com
maior número de pontos e golos
marcados. Mas, os pronunciamentos
merecerão o seu devido tratamento
porque levantam dúvidas
sobre a organização do campeonato.
Se houver matérias que não sejam
desportivas, mas que atentam
a nossa verdade desportiva iremos
encaminhá-las para as entidades
competentes.
Será que teremos, de facto, resultados
deste trabalho? Aquando das
palavras de Augusto Matine não
tivemos desfecho...
-Faremos de tudo para que possamos
esclarecer este caso. Vamos
analisar as questões desportivas e
traremos resultados.
O que falhou para que o blackout
declarado aos treinadores não tivesse
efeito... será o melhor caminho
para preservar a imagem da
competição?
-O árbitro não é o elemento mais
importante do jogo, mas fundamental.
Quando falamos de não
comentar sobre o trabalhos do árbitro,
referíamo-nos à necessidade
de se usar uma linguagem cuidada,
por um lado, e, por outro, fazer
leitura do jogo porque o habitual é
não fazer análise do desempenho
da equipa ou o mérito e demérito
do adversário. Foca-se, simplesmente,
no trabalho do árbitro.
O calendário voltou a ser colocado
em causa, na medida em que houve
período em que as equipas faziam
jogos num espaço de três dias, enquanto
as condições de transporte
são as que conhecemos...
-De facto, precisamos melhorar a
nossa calendarização e no trabalho
que faremos com a FMF procuraremos
não ter jogos ao meio da semana
e nem jogos da Taça da Liga,
em datas-FIFA. Porém, a Taça da
Liga veio para melhorar a utiliza-
ção dos recursos humanos dos clubes
porque os planteis são constitu-
ídos por 25 a 26 jogadores. Por isso
marcávamos jogos nas datas-FIFA.
Com este argumento, a LMF não
estará a ditar que atletas devem ser
utilizados nesta competição, competência
exclusiva aos treinadores
e numa prova já declarada oficial e,
ao mesmo tempo, milionária?
-O nosso objectivo era trazer a
competitividade e despertar talentos.
Mas, com esta crise, os clubes
preferiram apostar na equipa principal,
pelo que nos leva a pensar e
reorganizar o calendário desta prova.
Já não queremos que os jogos
coincidam com os da selecção nacional.
Se as condições financeiras
e climatéricas permitirem iremos
começar a prova, em Fevereiro, para
permitir que o Moçambola seja jogado
apenas aos fins-de-semana,
assim como a própria Taça da Liga.
“A partilha do bolo da ZAP
DLQGDQmRHVWiGHÀQLGDµ
Uma das maiores batalhas travadas
por esta direcção é das transmissões
televisivas do Moçambola.
Que avaliação faz da implementa-
ção do acordo com a ZAP?
-Embora se tenha transmitido
poucos jogos, a avaliação é positiva
porque veio trazer mais-valia ao
nosso campeonato, pois, passa a ser
visto fora do país e com imagem
de qualidade. Estão surpreendidos
com a qualidade do nosso campeonato
e pela forma como está a decorrer,
podemos renovar.
Nesta fase, só tivemos a transmissão
de jogos disputados, em Maputo.
O que prevê o contrato sobre
este aspecto e o que está sendo
feito para que na próxima época, o
cenário seja diferente...
-Neste ano, a empresa estava numa
fase experimental. Estando satisfeita
vai aumentar o investimento
para que possa transmitir jogos
a partir de outras cidades. Mas, o
jogo de Songo e o da consagração
não foram transmitidos, devido à
tensão político-militar, pois, era difícil
se deslocarem por via terrestre.
Qual é a vantagem financeira deste
contrato para os clubes. Há relatos
de que vão render 300 mil MT por
ano, valor considerado irrisório.
Pode explicar-nos como é feita a
partilha deste bolo?
-Os ganhos financeiros deste contrato
serão definidos em AG Extraordinário,
entre Novembro e
Dezembro.
A violência voltou a manchar o
nosso campeonato. Além de jogos
à porta fechada, que outras medidas
concretas a LMF está a tomar
para acabar com esta situação?
-Estamos a elaborar um regulamento
específico sobre a seguran-
ça nos campos de futebol. Vamos
buscar também outras experiências,
como a inglesa em que também
não era fácil ver o futebol. Mas, não
são só as leis e nem penalizações
que vão mudar o comportamento.
É preciso que haja um trabalho de
educação cívica para que as pessoas
saibam que o futebol é um sítio de
lazer e não um campo de batalha.
É um trabalho a ser feito pela sociedade
e não apenas pela LMF ou
FMF.
As condições dos nossos campos
(falta de bancadas em alguns) não
propiciam estes actos?
-Propicia. A violência tem várias
origens e é uma delas. É um desafio
que se coloca aos clubes para melhorarem
os seus campos. A UDS
tem um projecto para ampliar as
bancadas. Em Nacala não temos
informações, mas deviam ter um
projecto similar.
Mas, não havendo projecto, o que a
LMF irá fazer?
-O regulamento que estamos a preparar
já prevê a capacidade mínima
dos campos que devem acolher o
Moçambola e a partir daí faremos
o controlo das presenças, se ultrapassou-se
ou não o limite.
“Os clubes que não estiverem, devidamente, licenciados não vão participar no
Moçambola de 2017”, Ananias Couane
Savana 04-11-2016 23 PUBLICIDADE
24 Savana 04-11-2016 CULTURA
A
Associação IVERCA –
Turismo, Cultura e Meio
Ambiente realiza, de 03 a
27 Novembro, a 9ª Edição
do Festival Mafalala. Trata-se de
um evento anual cuja dimensão e
mérito conquistaram, nos últimos
tempos, um espaço merecido na
programação cultural da cidade de
Maputo e arredores.
O Festival Mafalala representa uma
viragem na maneira como são concebidos
os festivais em Moçambique,
inspirando-se na identidade,
tradição, história e importantes personalidades
artísticas, desportivas e
políticas do bairro da Mafalala”.
Para além de conhecer a história do
bairro, as figuras, o turismo, os “festivaleiros”
terão a oportunidade de
convergir com as outras culturas e
um manancial de hábitos e costumes
de todo o país.
O lema da presente edição do Festival
Mafalala é “Mafalala: Memórias
e Espaços de um Lugar”, inspirado
na primeira obra moçambicana que
se foca no património existente na
periferia e explica toda uma componente
urbana, social e cultural.
Nesta 9ª edição, a IVERCA leva ao
público a fascinante componente de
artes visuais, a destacar uma exposi-
ção de artes plásticas intitulada “País
com Amor” e a pintura de um mural
no bairro da Mafalala resultante de
Festival Mafalala celebra património e identidade
uma residência artística entre diferentes
artistas moçambicanos.
O Festival Mafalalala apresenta,
igualmente, um rico espaço de mú-
sica feita localmente por músicos
bastante talentosos, como Afroband,
Unsi Mafalala, Banda Khale. O teatro
e a música juntam-se para um
espectáculo que também se abre para
a dança. Intitulado “MAFALALA –
Encontro de Identidades”, a performance
resulta da parceria artística
entre Elliot Alex e Gigliola Zacara.
O Festival Mafalala pretende este
ano celebrar a diversidade cultural
e projectar debates à volta do património,
memória e cidadania. É justamente
por isso que o alinhamento
deste ano vai, por outro lado, lançar
o DVD Tufo da Mafalala: Orukuneya
wa Mafalala, como resultado de
uma rica colaboração entre o grupo
Tufo da Mafalala e os músicos: Simba
Sitoi, Tiago Correia Paulo, Iveth
entre outros.
Este ano o Festival Mafalala abre-se,
uma vez mais, ao mundo. “Temos o
grande prazer de apresentar nos nossos
palcos a sensacional cantora sul-
-africana, Nkoto Malebye. Uma das
actuais sensações no circuito da mú-
sica urbana ao nível da África do Sul.
Mas em termos áudiovisual e cinema
não param por aqui. Apresentarão
o documentário “Satchmo: Louis
Armstrong Documentary” e será
marcado também pela realização de
um Master class”, explica Ivan Laranjeira,
Presidente do IVERCA.
É nesta perspectiva histórica e patrimonial
que o Festival Mafalala se
preocupa em influenciar consciências
e cimentar a sua popularidade
não só ao nível do país, mas também
em toda a região austral de África.
“Queremos acima de tudo levar ao
mundo a imagem, a história, a cultura
e as gentes da Mafalala, porque
sem sombra de dúvidas este torrão
continua a influenciar toda uma forma
de ser e estar das sociedades.
Neste sentido, a Escola Primária
Unidade 23 é o palco escolhido para
uma actividade virada para as crian-
ças no âmbito do projecto “Festa
dos Livros”. E para apimentar ainda
mais a festa, terá lugar uma feira de
gastronomia”, finaliza Ivan Larangeira.
A.S
O
recente concerto da cantora
Mingas intitulado
“Quem sou eu?”, realizado
no Centro Cultural
Franco-Moçambicano, serviu para
demonstrar que foi um evento dos
grandes. Um dos convidados para
este concerto foi o músico Chico
António. Depois da interpretação
de uma faixa, voltaram a interpretar
o tema “Baila Maria”, considerado
um tema clássico da música popular
moçambicana.
A performance de ambos transmitia
a sua cumplicidade de anos
de convivência e de memórias dos
tempos áureos em que foram colegas
no Grupo RM.
No início do concerto foram interpretando
temas calmos, cuja primeira
foi “Rwadna”. Exibindo a sua
abertura para as novas sugestões que
a música oferece, as “páginas” introdutórias,
encerraram com a entrada
da “rapper” Iveth, para interpretar
Encontro dos grandes artistas
“Vuka África” (faixa que dá título
ao seu primeiro álbum “2009”), recebida
com aplausos por um público
receptivo.
Aos primeiros acordes da guitarra
de Jimmy Dludlu que se ouvia desde
os bastidores do palco a plateia já
ovacionava.
A entrada de Jimmy Dludlu levou o
público a aglomerar-se à frente com
os seus telemóveis para fazer fotos
e vídeos.
“Seja bem-vindo meu irmão mais
novo”, saudou Mingas ao guitarrista.
Com o seu instrumento de eleição,
efectuou algumas sonoridades, o que
deixou o público com as mãos no ar,
vibrando em divinização. Desceu do
palco e foi tocar no seio do público,
deixando o mesmo em euforia.
Depois de Jimmy, o concerto não
foi o mesmo. A animação já estava
distribuída ao público que nada
mais fez para além de responder
dançando e cantando aos coros com
Mingas. A.S
Músico Chico António e cantora Mingas
O grupo de Tufo da Mafalala terá um DVD
Naita Ussene
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1191 DE NOVEMBRO DE 2016
2 Savana 04-11-2016 SUPLEMENTO Savana 04-11-2016 3
Vendo bem essa coisa da famigerada letra P em falta na placa inaugurativa
do Hospital de Quelimane, e que tanta polémica gerou, bem que resolveria os
problemas da sociedade Moçambicana.
Viveríamos todos tão mais felizes sem o P.
Ora vejamos:
Acabavam-se os obres,os agamentos da dívida, os roblemas salariais, os re-
ços a subir, o ovo a gemer, os governadores rovinciais,o arlamento a dormitar
e teríamos então hositais a funcionar, o etróleo a jorrar, as fábricas e as
machambas a roduzir , escadores a escar, as raias com turistas e muitos,até,
na risão......
Savana 04-11-2016 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Naita Ussene (Fotos) A
música tem um poder muito forte nos seres humanos, por isso a considero a
primeira arte do mundo. Recentemente, decorreu em Maputo a sexta edição
do More Jazz Series. No leque de artistas que participaram esteve presente
o pianista cubano, Omar Sosa, considerado um dos melhores pianistas do
mundo por alguns. Quando foi da sua actuação interpretou um tema com suporte rítmico
de rumba que fez Pinto de Abreu, quadro do Banco de Moçambique, emprestado
à LAM, saltar da cadeira e exibir uns passos de dança que despertaram a atenção
do público ao seu redor. Sabemos que Pinto de Abreu estudou em Cuba. Podemos
dizer que teve uma crise musical durante o evento. Acreditamos que as influências
da música cubana estão enraizadas na sua pessoa. Isso demonstra a força da música.
Neste caso a música cubana na pessoa do Pinto de Abreu.
Como sabemos, este ano passam já 30 anos após a morte do primeiro Presidente de
Moçambique independente, Samora Machel. Nesta segunda imagem, foi aquando do
lançamento do livro de Victor Marrão, sobre Samora Machel. Por isso está Victor
Marrão, numa conversa afável com uma das filhas do malogrado Presidente, Ornília
Machel. Um dos fotojornalistas que também registou várias imagens de Samora Machel
foi o também malogrado fotojornalista, Kok Nam. Na imagem de fundo, aparece
com o dedo em riste, gesto conotado com a figura de Samora Machel. Kok Nam foi
uma das figuras que se dignificou com o seu trabalho no jornalismo moçambicano.
Actualmente, os órgãos de comunicação social do Estado têm sido vistos como se
estivessem numa conexão ilimitada com o governo do dia. Sabemos que alguns pronunciamentos
feitos por membros dos partidos da oposição em eventos públicos são
cortados para não serem vistos e ouvidos pela sociedade.
Percebemos estas e mais coisas perpetradas pelos órgãos de comunicação com liga-
ção umbilical com o governo. Essa situação deixa de alguma forma preocupados os
quadros superiores dessas empresas de comunicação social públicas. Reparem como o
PCA da TVM, Jaime Cuambe, demonstra sinais de preocupação, face ao cenário descrito.
E o olhar de concordância de um dos Administradores da RM, António Barros,
é bem visível. Como se estivessem a concordar que um dia isto vai terminar para eles,
de alguma forma. Serem mal vistos pela sociedade. A crise de personalidade começa
a fazer-se sentir nos órgãos públicos de comunicação social do país, principalmente
aqueles conotados com o governo do dia.
Normalmente a situação da crise no país é vista como se estivesse a afectar apenas a
maioria da população. Mas este cenário que o fotojornalista Naita Ussene captou com
a sua ferramenta de trabalho, a máquina fotográfica, mostra que aqueles que consideravam
que a situação da crise não lhes podia afectar, já nem conseguem esconder a
conjuntura. Referimo-nos a esta imagem onde o Secretário-geral do Partido Frelimo,
Eliseu Machava, aparece a comprar algo no passeio. A crise já afecta os grandes. Deduzimos
que o semblante e o apalpar do bolso é sinal de que não possui o valor certo
para pagar e está a pedir descontos. Quem disse que nos momentos de crise não se
pede descontos?
Neste momento de crise no país para os outros que já vivem há bastante tempo em
momentos conturbados nos seus países sentem outra liberdade. Quem podia imaginar
que o Rafael Marques, uma das figuras conhecidas como da oposição ao governo
angolano, podia andar livremente pelas ruas de Angola. Nesta imagem, aparece a
caminhar pela marginal da capital moçambicana. Acreditamos que o seu caminhar
é nostálgico. Como se estivesse a caminhar pela marginal de Luanda. Todos somos
afectados por alguma crise nas nossas vidas.
Afectados pela crise
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz j55)0',)55hfgl5R55 5R5o
1191 Diz-se... Diz-se
Naíta Ussene
OPresidente sul-africano,
Jacob Zuma, sofreu mais
um revés na sua reputa-
ção, com a publicação, na
última quarta-feira, de um relatório
produzido pela antiga Provedora de
Justiça, Thuli Madonsela, sobre as
suas relações pessoais com a família
Gupta, acusada de interferir nos assuntos
da administração do Estado,
incluindo no exercício dos poderes
do Presidente de nomear funcioná-
rios superiores do governo.
Zuma havia interposto uma providência
cautelar junto do Tribunal de
Pretória, solicitando o adiamento da
divulgação do relatório.
Contudo, o juiz que adjudicou sobre
o caso decidiu, na terça-feira, considerar
improcedente o pedido de
Zuma, dando ordens que o relatório
deveria ser tornado público até às 17
horas desta quarta-feira.
5-)5 )#5-*)&.)5(5-+/ð(#5
de uma decisão tomada por Zuma,
no ano passado, de exonerar o então
ministro das finanças, Nlhanlha
Nene, substituindo-o por uma figura
muito pouco conhecida nos meandros
financeiros sul-africanos.
5()'éã)5/,)/5*(-5)#-5#-65
depois de figuras proeminentes do
5 .,'5 ,#.#)5 5 #-ã)5 )5
presidente. Foi na sequência disso
que o presidente viu-se obrigado a
nomear para o cargo Pravin Gordhan,
que já havia ocupado o cargo
durante o primeiro mandato de
Relatório da antiga Provedora
de Justiça embaraça Zuma
Zuma, em 2009.
Logo de seguida, uma antiga chefe
5(5)55()5*,&'(.)65
Vytjie Mentor, surgiu com alegações
de que um membro da família Gupta
a havia prometido um cargo ministerial
em troca de favores para o seu
império empresarial.
Estas alegações foram seguidas por
outras do actual vice-ministro das
finanças, Mcebisi Jonas, que revelou
também que a família lhe havia
prometido promoção para chefiar a
pasta.
-5 /*.-5 .#("'5 .ï5 '/#.)5 ,-
centemente vastos interesses empresariais
na África do Sul, em parceria
com um dos filhos do presidente, havendo
alegações de que as empresas
do grupo violavam constantemente
as normas de concursos públicos para
o fornecimento de bens a empresas
públicas.
Cita-se particularmente uma empresa
envolvida na mineração de carvão,
e que fornecia este produto à empresa
pública de produção e distribuição
5(,!#655
65-'55)-,-
vância das regras de procurement legalmente
estabelecidas, muitas vezes
prejudicando potenciais concorrentes.
No início deste ano, e sem qualquer
tipo de explicações, os bancos comerciais
sul-africanos cancelaram as
contas de todas as empresas ligadas
ao grupo da família Gupta. Veio-se a
saber, mais tarde, a decisão tinha sido
tomada devido a suspeitas de opera-
ções de lavagem de dinheiro.
5'#(#-.ï,#)5-5#((é-5,5,/#&5
para os Guptas, pois se acreditava que
o seu titular pode exercer o seu poder
de influência sobre os bancos. Esta
posição, porém, foi desmentida em
/./,)5*),5),"(65+/5&,)/5
que o seu cargo não lhe permite dar
ordens sobre como os bancos devem
gerir as suas relações com clientes.
Na elaboração do seu relatório, Madonsela
teve uma sessão de pedido de
esclarecimentos junto do presidente,
que parece não ter sido muito produtivo,
devido ou a respostas evasivas de
Zuma ou a outras que ele pedia para
não responder sem antes consultar os
seus assessores jurídicos.
5 ,&.ĉ,#)5 5 ikk5 *á!#(-5 .,'#(5
com algumas recomendações de carácter
obrigatório, e que podem colocar
ainda mais em causa a actual
situação do Presidente Zuma.
Uma das recomendações é que seja
)(-.#./ù65 (.,)5 5 if5 #-65 /'5
comissão judicial de inquérito para
seguir as constatações do relatório.
5, ,#5)'#--ã)505-,5#,#!#5
por um juiz nomeado exclusivamente
pelo presidente do Tribunal Supremo.
5 )/.,5 ,)'(éã)5 ï5 +/5 +/--
tões constatadas no relatório como
sendo de fórum criminal deverão ser
submetidas ao Ministério Público
para a iniciação dos respectivos procedimentos
legais.
R5555#'#,5)5#((#&5#'-5,5-.5-'(65'5
*/.)65(ã)5
serviu apenas para perguntar ao ministro lança perfume se sabia onde
*á,5)5 #("#,)5 )-5 '*,ï-.#')-5 -)(#)-855 -/&.ã)5"'5#(5
Sulayem que preside à DP World, o maior grupo portuário do mundo
sedeado no Dubai, anunciou que ainda este ano anunciará o investimento
numa base logística em Nacala e um outro investimento na
4)(55#,85)-5().ù#-5*,5)5*ù-65'á-5().ù#-5*,5)-5&)#-.-5
da nomenklatura frel que se desunham pelas bases logísticas de apoio
ao gás do Rovuma.
R5555()(.,)5)5$),(&5)(ĉ'#)5'5**&5 -&'ã)5 .,)/255
*/.)5
alguns executivos de top mundial e também muito na moda, como
&)(5#.-65)5#,.),7!,&55(.,&55.á2#-5,5*,55 ,#5/-
7",#(85-5.á2#-65+/5-ã)5)5Ě&.#')5!,#.)5'5'.ï,#55)( ),.)55
chamada por “smartphone”, já estão na Nigéria e na África do Sul e
seria óptimo que descessem a Maputo para introduzir alguma competição
num dos mais parasitários e mafiosos negócios das cidades
moçambicanas.
R5555655*,5)5&&5.,.5
)/,(&65 )#5)5$),(&5+/5,0&)/5)-5')-
çambicanos alguns dos contornos dos empréstimos para as empresas
,)#(#/-55
85'5,#&65/'5*/.5 ,&55à5'Ě-#65--
contava as notícias como “coisas de jornais”. Hoje, o assunto está na
65(/'5 65-.,á5(/'5/#.),5#(.,(#)(&55ï5,-*)(-á0&5
por parte do descalabro da economia moçambicana, nomeadamente,
)5*)#)52.,()55)),-55#(-.#./#éċ-5#(.,(#)(#-855.&5$),(&5
levou ao Polana, o Presidente da República, uma parte do Conselho
de Ministros e a nata empresarial local que pagou, por uma cadeira,
ghff5().-50,#("-855.&5*/.65'#-5)5*/.)5'5)(ł#.)55
#(.,---5(5 5(ã)5(,'5*),5&á5V5
R5555)5)&(65
5-!/#/5*,5)5#--5*,5^#(/!/,,_5)5,'&5 ,,)-
viário Cuamba-Lichinga, uma memória popular como a automotora
entre Quelimane e Mocuba. À cortesia de “responsabilidade social” da
Vale em patrocinar financeiramente a linha, acresce a questão incómoda
se não será mais um projecto que de rentabilidade económica tem
muito pouco. Mas como os economistas às vezes são incómodos com
)-5-/-5(Ě',)-5V
R555#47-5+/5)5)-*#.&5(.,&55/&#'(65*.,)#()5*&)-5),-
()-5)5-/&65/-.)/5kf5'#&"ċ-55ĉ&,-85)'*,)-5)-5(Ě',)-5
com a ponte para a Catembe, esta poderia render 14 hospitais iguais
aos de Quelimane. Uma ponte feita a montante da baía, na foz do
'&Ě4#65/-.,#5'()-55kf5'#&"ċ-55ĉ&,-55-,0#,#5)-5'--
')-5ŀ(-85Ě',)-5V
R555&045-$'5)-5(Ě',)-5+/5&0,'5)5!)0,()55�,,7-55 *2-65
-554-55)((.,á7&)-5(/'5-ĉ5!ð(#85á5-50ã)5&'/,#,5
uns tantos quadros frel de carrinhos topo de gama e as habituais mordomias.
Se se tivessem aplicado mais para que o país não caísse, uma
045'#-65()5,(%#(!5)5^)#(!5/-#(--_V
R555/.,)-5#,,#.)-65)-5#)(#-.-55*,.5')45)5()5+/5)5()0)5
2,# 55hk55.',)5'()/5()-.,5à-5)2-65*-,55,#-65
passaram um voto de confiança às suas estruturas de direcção e prometem
continuar na luta. Mas é preciso arranjar mola para recapita-
,5)5()5V
R5555)-5-.#),-65-5)*,éċ-5-),5)5#(#.)-)5()5)(.#(/'5(0)&-
vidas em controvérsia e conflitos de interesse. Pelo meio há lobistas
tugas, com grande saudade e domínio do passado que gostariam de
0,5)52,# 5-,0#,5)5()55/'50(./,#,)5)'5()'55#'(.855
+/-.ã)5ï5-,5-5)52,# 5(ã)5.)*)/5$á55$)!.(5V
R5555/'5-.á5'5#25(-5$)!.(-5ï5)50,-á.#&5'#),5.,(-&*#()5
que não consegue dar o nó nem ao pai da democracia, nem aos retró-
grados frel que não querem ouvir falar de descentralização, nem de
governadores com símbolos perdiz. E como quando as coisas correm
mal começa a haver falatório, entre os ocidentais mediadores vai-se
fazendo um grande burburinho.
Em voz baixa
R5555$)0'5.#!,65+/5ï5"#./&'(.5)5ĉ#)55-.#'éã)5)-5'-')-5
retrógrados, parece ter cada vez mais protagonismo nos misteres da
!,#/&./,855+/5&05à5*,!/(.5'5-5-,65)5+/5-5*--5)'5)5
camarada da rua 10, ao Macurungo ?
Savana 04-11-2016
EVENTOS
1
0DSXWRGH1RYHPEURGH$12;;,,,1o 1191
EVENTOS
O
Millennium bim anunciou,
esta semana, em Maputo,
o lançamento de um
conjunto de produtos que
visam promover a poupança. Os
produtos assim lançados oferecem
rentabilidades e modalidades de
pagamento de juros ajustados aos
diversos perfis de clientes.
Neste contexto, as soluções de
poupança e investimento, desenhadas
para os clientes particulares,
têm como objectivo impulsionar
e promover a poupança,
oferecendo taxas de rentabilidade
muito atractivas.
Estes depósitos a prazo oferecem
duas possibilidades de gestão do
rendimento. Através da opção
Prestige Rendimento Mensal, o
cliente recebe mensalmente os juros
na sua conta à ordem, complementando
assim o seu rendimento
mensal, ao passo que, com a opção
Prestige Valorização, o cliente capitaliza
mensalmente os juros no
seu depósito promovendo a criaMillennium
bim lança produtos de poupança
ção de um património financeiro a
médio ou a longo prazo.
Para as Empresas, o Millennium
bim desenvolveu uma nova solu-
ção, denominada Conta Rentabilidade
Mais POS que permite
rentabilizar a tesouraria através da
transferência dos valores captados
pelos POS para uma conta a prazo
com taxas atractivas. Para beneficiar
da Conta Rentabilidade Mais
POS, as empresas apenas têm de
possuir uma conta de depósito à
ordem em moeda nacional e um
POS activo.
O Millennium bim, enquanto
agente activo do sector financeiro,
tem desenvolvido um conjunto de
produtos, adaptados às diferentes
necessidades dos vários segmentos
de Clientes, que visam promover a
captação de poupanças e oferecer
remunerações ajustadas e competitivas.
Ao longo dos anos, este
posicionamento tem permitido ao
Banco ganhar a confiança e a preferência
de um número crescente
de Clientes.
D
o gosto pelos diferentes
paladares gastronómico
e do bem servir, nasce
em Maputo o primeiro
restaurante Pop Up, denominado
The Kitchen. Este que é um
conceito novo na área de hotelaria
moçambicana, tem ganho
força nas grandes metrópoles
internacionais, e visa juntar a
criatividade e inovação na exploração
de diferentes espaços,
menús e sensações.
Foi assim que três amigos, jovens
moçambicanos, empreendedores,
decidiram unir as
suas paixões pela criatividade e
juntaram-se para a realização do
primeiro Restaurante Pop-Up
The Kicthen – O primeiro Restaurante
Pop Up moçambicano
em Moçambique, no último dia 28
de Outubro.
A primeira edição do The Kitchen,
que teve lugar numa sala, onde outrora
funcionou uma livraria em
Maputo, foi a realização de um
projecto idealizado à base do gosto
pela gastronomia. No espaço, criou-
-se vida, luz e bastante surpresas. O
seu ponto mais alto foi sem dúvidas
o saborear dos diferentes paladares
gastronómicos desde o Misto de
Ameijoas e Mexilhões, o Atum Teriyaiki
com salada tropical, e o Rabo
de Boi com Mucapata.
Por fim, para dar um toque mais
adocicado ao grande dia, a boleira
Elle deliciou os convidados com um
bolo de chocolate com sorvete e molho
de frutos vermelhos.
O The Kitchen, segundo os seus
criadores, tem como objectivo
levar os seus clientes a participar
de uma jornada gastronómica,
criativa, sem igual, com sabores
e paladares frescos e locais. Para
Chef Dgedge, um dos criadores
do projecto, e responsável do
menú, este é o primeiro de muitos
outros que irão acontecer
dentro de alguns meses. “Foi um
momento emocionante para todos
nós, por ser o primeiro, mas
também porque estimula-nos
a criar cada vez mais, tentando
trazer sempre o melhor aos nossos
clientes, que desde já agradecemos
o apoio e confiança”,
disse o Chef Dgedge.
E. Bernardo
Savana 0
N
o âmbito das celebrações do
Dia Mundial da Poupança,
efeméride que se assinala
no último dia útil do mês de
Outubro, o Standard Bank promoveu
palestras na Escola Secundária
Josina Machel (ESJM) e no Instituto
Comercial de Maputo (ICM),
com o objectivo de explicar aos alunos
a importância e as vantagens de
poupar.
As palestras serviram, igualmente,
para aferir o grau de conhecimento
em matéria de poupança na massa
estudantil, através da realização de
concursos.
Conforme contextualizou Victor
Jardim, director da Banca de Particulares
e Negócios do Standard
Bank, a celebração do 31 de Outubro
tem sido uma tradição no País,
sendo que o Standard Bank, geralmente,
tem promovido a educação
financeira relativa à poupança nas
escolas.
“Estas duas instituições de ensino
com as quais temos vindo a trabalhar,
anualmente, têm sido desafiadas
a fazer estes exercícios de
transmissão de conhecimentos no
contexto da educação financeira
para os seus estudantes, de modo a
que possam aprender e pôr em prá-
tica a cultura da poupança”, explicou
Victor Jardim.
As principais lições transmitidas
aos estudantes, segundo referiu o
representante do banco, foram as de
que “a nossa sociedade precisa de ser
educada para fazer melhor uso da
sua disponibilidade financeira e que
para poupar não é preciso ter muito
dinheiro, bastando que a pessoa
tenha disciplina e cumpra com um
plano previamente elaborado”.
Por sua vez, o docente do Instituto
Comercial de Maputo, Paulo Rassul,
disse que as palestras promovidas
pelo Standard Bank têm sido
fundamentais na medida em que os
estudantes e o público no geral precisam
de educação financeira.
“As pessoas têm várias maneiras
de poupar. Mas a melhor forma de
fazê-lo é através do depósito bancário”,
explicou o docente, acrescentando
que, como instituição de
ensino, “estabelecemos uma parceria
estratégica com o Standard Bank,
por forma a introduzir a educação
financeira no nosso plano temático,
pois precisamos leccionar esta matéria
no nosso dia-a-dia”.
Depois de participar na palestra e
nos eventos culturais promovidos
pelo banco, Shelcya Lordes, estudante
do 1º ano de Gestão no ICM,
disse ter aprendido que “poupar não
é somente guardar avultadas somas
de dinheiro para despesas enormes,
sendo também possível poupar,
através de moedas para pequenas
despesas”.
“O segredo da poupança é guardar
dinheiro para poder suprir necessidades
do futuro”, destacou Shelcya.
Standard Bank promove
palestra sobre poupanças
Savana 04-11-2016
EVENTOS
3
O
Banco Terra Moçambique
(BTM) inaugurou,
na quinta-feira passada,
na cidade de Maputo,
mais uma agência da sua marca,
que vem responder aos desafios do
mercado, com vista à promoção da
inclusão financeira.
O evento inaugural contou com a
presença do Presidente do Município
de Maputo, David Simango,
representante do Banco de Mo-
çambique, Henrique Matsinhe, e o
corpo diplomático de Portugal e da
Noruega.
De acordo com o Presidente do
Conselho de Administração do
BTM, Aranda da Silva, a abertura
BTM inaugura agência bancária
desta agência, que totaliza dez em
todo o país, algumas das quais nas
zonas rurais, demonstra o reconhecimento
do banco na necessidade
de crescimento, de estar presente
em Maputo para complementar a
acção que tem noutras zonas do
país.
Segundo o representante do Banco
de Moçambique, Henrique Matsinhe,
a inauguração deste balcão,
para além de concorrer para
a elevação dos níveis de inclusão
financeira no país, vem reforçar as
perspectivas de maior bancarização
da economia, que passa necessariamente
pelo aumento dos serviços
de intermediação financeira.
Por seu turno, o edil de MapuO
Nosso Banco e a Seguradora
Internacional de
Moçambique (Seguradora
SIM) firmaram, na
última sexta-feira, na cidade de
Maputo, um acordo no qual o
primeiro torna-se parceiro da seguradora.
Neste sentido, o acordo
com duração de um ano permite
que os cidadãos com ligação
bancária e potenciais clientes do
Nosso Banco passam a beneficiar
de um processo de contratação de
seguros imediatos.
O contrato foi rubricado pelo Administrador
Delegado do Nosso
Banco, Mussa Tembe, e o Administrador
Executivo da SIM, Rui
Nosso Banco e Seguradora SIM firmam parceria
Oliveira.
Ao longo da vigência da parceria,
o Nosso Banco vai vender, através
dos seus canais vários produtos
desde seguros de vida, de viagem,
automóvel, imóvel, entre outros.
Na sua intervenção, Oliveira disse
que a relação constitui uma oportunidade
de crescimento e expansão
dos serviços da SIM. “Agora,
os clientes do Nosso Banco passam
a beneficiar de serviços de
seguros em condições favoráveis”,
acrescentou.
Mussa Tembe explicou que uma
operação de seguros durava cerca
de uma semana, mas com o protocolo
assinado os clientes terão o
serviço imediatamente.
“O cliente passará a ter um canal
mais próximo e menos burocrático.
Vamos prestar apoio técnico
ao cliente em todos os âmbitos
do seguro: desde a instrução no
momento da cotação e contrata-
ção do seguro, até o suporte no
acompanhamento de emissões,
pagamentos e eventuais sinistros”,
referiu.
A cerimónia foi testemunhada
pelos respectivos presidentes do
Conselho de Administração, nomeadamente
João Dias Loureiro,
do Nosso Banco, e Emanuel
Gamito, da SIM, para além de
quadros e colaboradores das duas
instituições.
F
oi lançado nesta quinta-
-feira, na cidade de Maputo,
o projecto de combate
aos casamentos prematuros
na província de Zambézia,
denominado “Elo+forte”. O
programa vai decorrer precisamente
em sete distritos da
Zambézia, nomeadamente, Mugeba,
Muakiwa, Mocuba sede,
Namanjavira, Alto Benfica, Munhiba
e Nhaluanda.
Esta iniciativa, promovida pela
World Vision-Moçambique,
está orçada em 2,7 milhões de
dólares americanos e pretende
abranger cerca de 70,000 pessoas
em quatro anos.
Falando na ocasião, a Presidente
da Assembleia da República
e Patrona do Projecto, Verónica
Macamo, referiu que o lançamento
do projecto constitui um
complemento à estratégia nacional
de prevenção aos casamentos
prematuros aprovada em 2015
pelo governo.
“O projecto vai contribuir para
consciencialização das famílias,
comunidades e outros actores
sobre as consequências maléficas
dos casamentos prematuros,
e sobre os benefícios familiares e
sociais de manter a rapariga na
escola para que seja amanhã muWord
Vision lança
projecto Elo+forte
lhere capacitada para contribuir
para desenvolvimento do país”,
disse.
De acordo com Macamo, a
problemática dos casamentos
prematuros é complexa e multidisciplinar,
daí a necessidade
de se apostar na educação da
rapariga.
Por sua vez, a Gestora de Advocacia
e Protecção a Criança da
World Vision, Persília Muianga,
disse que o projecto vai privilegiar
o uso de uma abordagem
multissectorial com vista à
protecção da criança.
“Vamos trabalhar para o fortalecimento
de mecanismos e sistemas
de protecção da criança.
Como tal, as nossas interven-
ções irão priorizar a capacitação
de servidores públicos e das comunidades
em matérias como
conhecimento e aplicação dos
dispositivos legais existentes e
a provisão de apoio psicossocial
às crianças vítimas de violência”.
Muianga explicou ainda que
haverá actividades de sensibilização
junto às matronas
e líderes comunitários para a
reformulação dos ritos de iniciação
bem como a criação de
oportunidades económicas para
adolescentes, através da participação
de grupos de poupanças.
to felicitou o banco por mais esta
iniciativa e disse: “a abertura das
agências nas cidades é limitada,
tendo em conta as exigências do
Banco de Moçambique no sentido
de expansão em todo o território
nacional, e quando vemos o sector
bancário a expandir as suas agências
e num ano difícil eles estão a
dar sinal de confiança no futuro do
nosso País, no futuro dos moçambicanos
e no futuro da nossa economia”,
disse.
Refira-se que o BTM é um banco
comercial com actividades em todos
os sectores da economia, mas
com enfoque nas áreas de PME,
Retalho, Agronegócio e Terceiro
Sector.
A
Ministra da Saúde, Nazira
Abdula, visitou nesta
segunda-feira, em Maputo,
a Fábrica da Água da
Namaacha, pertencente à Sociedade
de Águas de Moçambique
(SAM), com o intuito de verificar
os níveis de excelência da higiene
Ministra da Saúde Visita Fábrica da Água da Namaacha
e qualidade, observados por esta
empresa.
No decurso da visita, a Ministra
da Saúde teve a oportunidade de
acompanhar minuciosamente todo
o processo de produção da Água
da Namaacha, inclusive a produ-
ção das embalagens e cápsulas,
tendo mantido contacto também
com a área de apoio social aos funcionários.
No final da visita, Abdula foi questionada
sobre as suas impressões
acerca da unidade de produção
da Sociedade de Águas de Mo-
çambique, que resumiu os seus
sentimentos da seguinte forma:
“Impressionante! Um exemplo de
qualidade!”.
Já a Directora Nacional Adjunta
de Saúde Pública, Maria Benigna
Matsinhe, referiu ser um privilé-
gio conhecer in loco uma unidade
fabril que, para além de cumprir
todos os requisitos em termos de
higiene e saúde pública, também
demonstra estar num patamar
muito elevado em termos de qualidade
de produto e excelência de
processo produtivo.
Por sua vez, o responsável pelo departamento
de produção da Água
da Namaacha, Zacarias Neves,
agradeceu, em nome da SAM, a
visita da Ministra da Saúde e da
sua equipa, considerando uma
grande honra para todos os funcionários
da empresa receberem
visitas desta dimensão que, por si
só, são demonstrativas da relevância
que a SAM adquiriu no panorama
empresarial nacional.
Savana 04-11-2016 EVENTOS
4
PUBLICIDADE
Sem comentários:
Enviar um comentário