quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Correntes do preconceito


Dia Mundial de Combate ao HIV-Sida
Numa altura em que se acredita serem bem conhecidas as formas de contágio e de prevenção do vírus de HIV-Sida, a discriminação contra pessoas com esta doença ainda é uma realidade. No dia em que o mundo pára para reflectir em torno das formas de combate à pandemia do HIV-Sida, trazemos histórias de pessoas que conseguiram quebrar as correntes do preconceito colocadas pela família, de quem mais esperam apoio.
Maria Celina Alfredo, 30 anos, lembra com lágrimas nos olhos e voz trémula: “Eu fui discriminada pela família que vivia comigo. Diziam que eu não podia fazer nada, porque sou seropositiva. Descobri a doença em 2011”, conta.
Nas recordações mais amargas de Maria Celina está o episódio em que a sogra e o ex-esposo proibiram-na de tocar no filho. “Foi graças ao apoio de uma activista que comecei com o tratamento. Entrei na associação, recuperei e hoje estou feliz, tenho um novo marido e o meu filho agora está comigo”, disse Maria Celina.
Tal como Maria Celina, existem centenas de homens e mulheres que provaram o estigma e encontraram conforto nas associações criadas para apoiar pessoas seropositivas. Uma delas é Simião Mandlate, de 44 anos, seropositivo há oito anos. Lembra que a primeira pessoa de quem sofreu o estigma foi a sua falecida mãe.
“Ela murmurava, quando estava com as amigas, que o filho voltou da África do Sul com aquela doença. Foi a primeira pessoa que eu senti que estava a afastar-me da família”, conta.
Actualmente, Maria Celina e Simião são activistas, na associação Hixikanwe, onde usam a sua experiência para aconselhar as pessoas a saberem do seu estado e aderirem ao tratamento anti-retroviral, mostrando que existe vida mesmo com HIV-Sida.
“É muito triste ser discriminada pelas pessoas que mais amamos. Eu não tinha contado a mais ninguém a minha situação, só a uma vizinha. Ela é que espalhou a informação por toda a zona. Até quando eu ia ao mercado comprar tomate, ouvia outras vizinhas, e até crianças, dizer é aquela tia seropositiva. A minha sorte é que apareceram pessoas para me apoiar e consegui superar e seguir em frente. O importante é não desistir do tratamento e manter-se firme. Quem toma comprimidos consegue viver bem”, conta Maria Cecília.
“Eu não acreditei, quando disseram que tinha HIV-Sida. Trabalhava na África do Sul e a minha doença começou como tuberculose. Só muito tempo depois é que fiz exames e acusou HIV. No princípio, não cumpri com o tratamento e tive uma recaída. Então, uma activista aconselhou-me e decidi começar a seguir as indicações médicas. Hoje, estou bem e casado, há dois anos, com uma mulher que conheci aqui na associação. Sou activista e quero ajudar pessoas que passam pelo que passei a vencer e conseguir ter uma vida longa”, disse Simião.
Discriminação afasta doentes do tratamento
O ministério da Saúde aponta o estigma como a principal barreira que leva algumas pessoas com HIV-Sida a não aderirem ao tratamento anti-retroviral. “Quando as pessoas têm medo de ser discriminadas, podem não aderir à testagem, e alguns que sabem do seu estado nem procuram pelo tratamento, com receio de serem discriminados. Esta é uma grande barreira”, explicou o director nacional de Saúde Pública, Francisco Mbofana.
Mbofana recorda que, recentemente, o sector da saúde realizou uma formação nacional com os seus quadros de forma a mostrar que não se pode discriminar as pessoas com HIV-Sida.

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