segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Conselheiro da ONU adverte sobre risco de genocídio no Sudão do Sul

Em visita ao país, assessor das Nações Unidas diz que polarização entre grupos tribais e aumento de violência étnica pode culminar em mortes em massa. Governo do país nega e diz que acusação é "infeliz".




O conselheiro especial das Nações Unidas para a prevenção do genocídio, Adama Dieng, advertiu que a "polarização extrema" entre grupos tribais e a propagação de ódio podem resultar em mortes em massa no Sudão do Sul. Em conferência na capital Juba esta sexta-feira (11.11), o assessor da ONU afirmou temer que o aumento da violência, por razões étnicas, culmine em genocídio.

"Os estereótipos e os insultos têm sido acompanhados por assassinatos selectivos, estupros de membros de grupos particulares, ataques violentos contra indivíduos e comunidades com base em sua afiliação política", disse Dieng ao final de uma semana visita ao país.

Em Yei, no sudeste do Sudão do Sul, "as denúncias de violência incluem mortes planejadas, assaltos, mutilação e estupro por homens armados, alguns deles uniformizados", declarou. "Há casos bárbaros de uso de machetes, que nos lembram Ruanda", acrescentou referindo-se ao genocídio ocorrido neste país em 1994.


Reforço da missão das Nações Unidas no Sudão do Sul.

Para o conselheiro, o Sudão do Sul tem hoje todos os elementos para um desastre, incluindo a paralisação do acordo de paz, a atual crise humanitária, a estagação económica e a proliferação de armas.

Já o Ministro da Informação do Sudão do Sul, Michael Makuei, discordou, dizendo que a acusação de risco de genocídio no país é "muito infeliz". "Eu não concordo com ele, pois esse relatório negativo não ajudará. O que acontece no Sudão do Sul não tem a ver com genocídio", disse à agência de notícias Associated Press.

Esta sexta-feira, uma rádio fundada pela Agência Internacional de Desenvolvimento do EUA foi fechada pelo Serviço de Segurança Nacional do Sudão do Sul. A Eye Radio, uma das maiores estações de rádio do país, é conhecida pelas suas mensagens de unidade e paz.

O conflito na capital do país africano cresce desde julho, quando novos confrontos eclodiram na capital do país. De um lado estão as forças do Presidente Salva Kiir, composta maioritariamente por soldados da etnia dinka. Do outro, o seu rival Riek Machar, apoiado por rebeldes da etnia nuer.

Desde dezembro de 2013, o país está mergulhado em uma guerra civil que já deixou milhares de mortos e mais de 2.5 milhões de refugiados. Um acordo de paz entre Kiir e Machar, em agosto de 2015, havia assinalado esperanças pela paz, mas falhou quase um ano depois.


Organização das Nações Unidas. Foto ilustrativa.

Refugiados

Em Yumbe, cidade próxima à Uganda, o comissário para ajuda humanitária da União Europeia (EU), Christos Stylianides, apelou aos doadores para que intensifiquem a ajuda financeira ao Sudão do Sul.

Stylianides prometeu continuar a assistência aos refugiados sudaneses do assentamento de Bidibidi e agradeceu ao governo ugandês por dar auxílio às pessoas que fogem do conflito.

O assentamento de Bidibidi tornou-se o terceiro maior campo de refugiados do mundo em agosto devido à escalada de violência no Sudão do Sul. Actualmente, vivem ali mais de 215.000 pessoas. Cerca de 2.400 novos refugiados chegam diarimente ao local.







Sudão do Sul: caos no país mais jovem do mundo
Cidade destruída

Por mais de um mês, o ex-vice-presidente Riek Machar luta com seu exército rebelde contra o Governo do Presidente Salva Kiir. Uma guerra que tem tomado contornos étnicos e já custou cerca de 10 mil vidas, segundo a ONU. Muitos lugares foram completamente queimados. Tudo o que os habitantes da cidade de Bentiu ainda têm cabe num saco plástico.


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