quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Analistas do The Economist consideram irrealista plano sobre dívida de Moçambique



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A Economist Intelligence Unit (EIU), da revista The Economist, considerou hoje que o plano de reestruturação da dívida pública, apresentado por Moçambique aos credores internacionais, é irrealista pelos prazos que apresenta e pela previsão de receitas de gás que estima.
"O plano do Governo é irrealista; as negociações vão ser complexas, com múltiplas partes envolvidas, e as esperanças das autoridades de chegarem a acordo antes de Janeiro, quando as negociações com o Fundo Monetário Internacional vão recomeçar, são demasiado optimistas", escreve a unidade de análise económica da revista britânica The Economist.
Numa nota aos investidores, a que a Lusa teve acesso, os analistas da EIU afirmam que "convencer os credores a esperar pelo gás é improvável; as decisões finais de investimento ainda não foram tomadas em nenhum dos projectos planeados, os preços globais do gás estão baixos e, mesmo com os projectos em andamento, os investidores teriam de suportar os custos até à materialização das receitas do Governo".
Por isso, concluem, "ganhar 6,2 mil milhões de dólares do gás em 2023 é altamente improvável", o que dificulta bastante a intenção do Governo de adiar ao máximo os pagamentos da dívida pública para a próxima década, quando os projectos de gás já devem estar em funcionamento, permitindo um considerável encaixe financeiro aos cofres do Estado.
Para os analistas do The Economist, "tem sido claro que o perfil da dívida do país é insustentável desde Abril, quando o último exercício de reestruturação da dívida revelou mais de 3,1 mil milhões de dólares em dívidas previamente escondidas".
Na nota, os peritos da revista britânica lembram que o Governo admite uma dívida pública a rondar os 130% do PIB este ano e, no contexto de uma rápida depreciação da moeda, que o PIB abrande e que as receitas das exportações diminuam, o que significa que "o país não consegue fazer os pagamentos da dívida em 2017 e já está atrasado nas prestações deste ano".
Como Moçambique não consegue acesso ao financiamento do FMI por estar em 'debt distress', uma categoria de análise da dívida usada pelo FMI para aferir da possibilidade de realizar empréstimos, "encetou um pedido de processo colaborativo' com os credores privados para recuperar a sustentabilidade da dívida".
A estratégia defendida, antecipa a EIU, "deverá passar por negociar maturidades mais longas e por uma moratória nos principais pagamentos até que as receitas dos projectos de gás se materializem", dado que o Executivo previu, na apresentação aos credores que fez na semana passada em Londres, "um aumento de 2 mil milhões de dólares por ano entre 2021 e 2025, chegando a 6,2 mil milhões em 2023".
SAPO – 02.11.2016

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