Michel Cahen, um dos principais historiadores e politólogos sobre
Moçambique, não vê solução para a crise política moçambicana até às
próximas eleições legislativas, em 2019. Em entrevista ao Africamonitor.net em Lisboa, afirma que "mais dinheiro dado a regimes que não são democráticos vai encorajar esses regimes a ficar hegemónicos.
Para Cahen, a comunidade internacional “em geral ainda prefere a
manutenção do poder da Frelimo”, ignorando sinais de degradação dentro
do movimento, por considerar o partido "habituado" a gerir a relação com
as grandes multinacionais, o que é "melhor para o capitalismo
internacional". Apesar dos esforços de democratização da sociedade civil
moçambicana “hoje em dia, na partilha internacional do poder, as
condições não estão reunidas” para uma maior democratização, mesmo
perante a Frelimo “completamente apodrecida, com alguns ligados ao
tráfico de droga, com corrupção enorme.
“Para a próxima geração
(em África), não sou muito otimista. As novas descobertas de petróleo e
metais preciosos, em Moçambique e muitos outros países (...) só
trouxeram mais corrupção, mais enriquecimento da elite, mais guerra
civil, e isto não é nada bom para a democracia", afirmou Cahen.
O
caso dos empréstimos de 2.000 milhões de dólares ocultados da
comunidade internacional, canalizados a partir de 2012 para a EMATUM,
Proindicus e MAM, todas empresas de segurança, demonstra, segundo Cahen,
intenções políticas. “Significa que desde 2012, quando a 2ª Guerra
estava só a começar, o Poder já tinha escolhido a via militar”. "O
esforço de rearmamento começou naquele momento, não é de hoje em dia",
afirmou ao Africamonitor.net.
Para Cahen, o PR Filipe Nyusi, à altura Ministro da Defesa no Governo
de Armando Guebuza Guebuza, "obviamente sabia desses empréstimos”.
Relativamente à crise económica e financeira no país, o investigador
não tem dúvidas de que foi provocada e fomentada principalmente com a
maior centralização do poder no 2º mandato de Armando Guebuza, quando
Ministros e o próprio PR excederam as suas competências". "Pensaram que o
preço das matérias-primas se manteria elevado e fizeram empréstimos a
empresas de segurança, mesmo sem fazer conhecer esses empréstimos à
Assembleia Nacional como é constitucional.” Como o preço das
matérias-primas baixou ficaram "completamente afogados”, resultando no
corte de relações com o FMINa luta política, Cahen prevê que "a longo
prazo, o MDM pode ser um perigo muito forte para a Frelimo".
O
MDM, de Davis Simango, surgiu após as eleições autárquicas de 2009, de
uma cisão de dirigentes da RENAMO, mas que captou uma pequena parte do
eleitorado e base social da FRELIMO. “Sendo um partido pacífico, pode
enraizar-se nos bairros da cidade, nomeadamente nos bairros da classe
média e da elite, a chamada cidade de cimento, em que há um eleitorado
que muito dificilmente vai votar na RENAMO por razões históricas da
guerra civil de 16 anos, mas que pode votar no MDM”, afirma.
Michel Cahen é Diretor de Investigação do Centro Nacional de Pesquisa
Científica de França, Investigador associado na Escola de Altos Estudos
Hispânicos e Ibéricos da Casa de Velasquez, em Madrid e Investigador
convidado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
O investigador inaugurou na quarta-feira um ciclo anual de Conferências
sobre assuntos Africanos, organizadas pela Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, com uma intervenção denominada “As guerras civis
moçambicanas (1976-92, 2013-2014, 2015-?) numa perspectiva histórica. A
morte de Jeremias Pondeca, principal mediador da RENAMO nas
conversações com o Governo, ou a ideia de que “há um sector de oposição
ao Governo moçambicano que tem esquadrões da morte”, foram alguns dos
temas abordados, sobre o conflito atual, aquele que para Michel Cahen é o
da 3ª Guerra de Moçambique
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