quinta-feira, 13 de outubro de 2016

“Não podemos pensar diferente sob pena de nos custar a vida”


JEREMIASPONDECA
Filhos de Jeremias Pondeca na hora do adeus ao pai

Vão a enterrar, às 10h00 de hoje, quinta-feira, no povoado de Ndolene, (posto administrativo de Chidenguele, na provincia de Gaza) os restos mortais de Jeremias Pondeca Munguambe, membro do Conselho de Estado, dirigente da Renamo e membro da Comissão Mista, que foi assassinado no passado sábado, 8 de Outubro, na cidade de Maputo.
Ontem, quarta-feira, realizou-se nos Paços do Conselho Municipal da cidade de Maputo, o velório, em que estiveram presentes a família, amigos, o Presidente
 República, Filipe Nyusi, membros do Conselho de Estado, membros da Comissão Mista, mediadores da União Europeia, membros do Conselho Constitucional, deputados da Assembleia da República, a governadora da cidade de Maputo, o presidente do Conselho Municipal da cidade de Maputo e o ex-Presidente da República Armando Guebuza.
Na hora da despedida, o filho Jeremias Munguambe, Marcílio Chitunda Jeremias Munguambe, disse, numa mensagem em nome da família, que o cobarde assassinato do pai não vai intimidá-los.
“Dói perceber a sua morte injusta pai. Continuaremos defensores dos seus ideais. Não podemos pensar diferente, sob pena de nos custar a vida”, disse o filho de Jeremias Pondeca, acrescentando: “Pai, os que te assassinaram se vingarão entre eles, e disto podes ter a certeza”.
A família de Jeremias Pondeca diz que nenhum ser humano merece uma morte tão bárbara como aquela.
“Famba a hombe [vai bem], Muangualaze”
Belmira Pedro, da Associação dos Vendedores de Peixe no Mercado do Peixe de Maputo, de que Jeremias Pondeca era presidente da Mesa da Assembleia-Geral, disse que este foi assassinado às 7h20 horas da manhã de sábado na zona da praia da Costa do Sol.
Belmira Pedro disse que Jeremias Pondeca como amigo, irmão, colega e um dos fundadores do antigo Mercado “A Luta Continua”, em 1985, e da Associação dos Vendedores de Peixe, deixa um grande vazio nos corações, numa viagem sem volta.
“Foste um pai. Ensinaste-nos a conviver um com o outro, mesmo com as nossas diferenças e foste um grande conselheiro nos momentos mais difíceis das nossas actividades, mesmo na batalha da nossa transferência do antigo Mercado do Peixe para o actual”, disse Belmira Pedro na mensagem.
“Apesar de teres passado várias sevícias, foste sempre coerente contigo mesmo” – Renamo
A Renamo, através de uma mensagem lida por Manuel Pereira, dirgente deste partido, afirma que foi com profunda dor e consternação que o presidente Afonso Dhlakama, o partido Renamo, a Comissão Política Nacional, o Secretariado-Geral, membros e simpatizantes em geral tomaram conhecimento da triste notícia do assassinato de Jeremias Pondeca.
A Renamo lembrou que o “chefe Pondeca” nasceu a 23 de Dezembro de 1961, tendo ingressado na Renamo em 1977, sendo militante na clandestinidade, e tornou-se militante activo a partir de 1991.
“Apesar de teres passado várias sevícias, foste coerente contigo próprio, sonhando com o teu partido no poder. Podes crer, irmão, nós seguiremos em frente com todos os ideais do partido” afirmou Manuel Pereira, acrescentado: “Não desistiremos dos ideais”.
“Nenhuma morte violenta deve ser insensível para nós moçambicanos” – Amade Miquidade
O Conselho de Estado, através do seu secretário-geral, Amade Miquidade declarou: “Estamos aqui para falar a vida de Jeremias Muguambe, cientes de que aqueles com quem o conselheiro Jeremias Pondeca comungou a vida comungarão com as nossas palavras, que não são mais do que uma tentativa de elogio ao percurso deste homem que se tornou conselheiro de Estado”.
“Muito tinha ainda a dar como contributo no aconselhamento ao chefe de Estado, quanto às matérias de natureza política, como estabelece a nossa Constituição e foi em respeito a essa mesma Constituição que o Conselho reuniu e emanou a necessidade urgente de paz, do calar das armas”, disse Amade Miquidade.
O Conselho de Estado afirma que Jeremias Pondeca era um moçambicano que procurava, com o seu saber, ser útil à pátria.
“Nenhuma morte violenta deve ser insensível para nós moçambicanos e muito menos quando acontece em solo pátrio, pois o respeito à vida é um desígnio de todos. Por isso, contra a violência, devemos todos nós erguer as nossas vozes e dizer que basta”, afirmou Amade Miquidade, acrescentando: “Queremos viver numa pátria onde todos nós queremos andar livremente por cada palmo desta nossa terra que nos viu nascer e aos nossos antepassados, sem qualquer temor”.
Apelou para que o Estado, através das suas instituições, continue a trabalhar para que nenhum crime continue impune. (Bernardo Álvaro)
CANALMOZ – 13.10.2016

Quem é o próximo da lista?

SILHUETAS
O assassinato de Jeremias Pondeca, em plena luz do dia, em Maputo, durante a sua caminhada matinal na zona marginal da Costa do Sol, veio levantar o véu e deixar claro que os algo­zes de sempre continuam a agir impunemente. Pondeca integrava a delegação da Renamo no diálogo políti­co com o Governo da Freli­mo, igualmente membro do Conselho de Estado e antigo deputado da Assembleia da República.

Em Julho último, foi rapta­do em plena luz do dia, na sua residência na cidade de Chimoio, Manuel Fran­cisco Lole, quadro sénior da Renamo, e membro da Comissão Política do par­tido, antigo deputado da Assembleia da República e ex-membro do Conse­lho de Estado. Desde o seu desaparecimento não se conhece o seu paradeiro e há fortes suspeitas de que a vítima tenha sido poste­riormente assassinada.
Em Abril deste ano, foi assas­sinado, juntamente com dois acompanhantes, o quadro sénior da Renamo e membro do Conselho de Segurança do Estado José Manuel, à sa­ída do Aeroporto Internacio­nal da Beira.
Ainda este ano, no mês de Janeiro, em plena luz do dia, na cidade da Beira, o se­cretário-geral da Renamo e deputado da Assembleia da República, Manuel Bissopo, foi alvejado a tiro tendo es­capado à morte, mas nessa ocasião o seu guarda-costas, que foi igualmente atingido na mesma viatura, acabou perdendo a vida no local.
O próprio líder da oposição moçambicana, Afonso Dhlakama, escapou, no ano passado, num intervalo de nove dias, a duas flagrantes tentativas de assassinato e nenhum dos seus autores já foi identificado.No ano passado foram assassinados o académico e constitucionalista Gilles Cistac e o jornalista Paulo Machava, em plena luz do dia, em Maputo.
O que é estranho em todos esses casos é que as vítimas representam relativamente a mesma ideologia e visão política, e a maior coincidência tem a ver com o facto de em todos os crimes os autores não são encontrados e a alegação das autoridades tem sido a mesma: “estamos a investigar”.
Quando as vítimas de assassinatos são membros da Frelimo, partido no poder, as autoridades atribuem a responsabilidade aos homens armados da Renamo, como aconteceu, recentemente, em Nhampoca, distrito de Nhamatanda, província de Sofala, com o rapto e assassinato do chefe do posto de Tica.Importa recordar que, recentemente,
dois quadros seniores da Renamo, nomeadamente Jerómico Malagueta e António Muchanga, foram detidos por motivos, aparentemente, políticos, em Maputo,
devido a pronunciamentos públicos.Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: quem é o próximo da lista?
luís nhachote
CORREIO DA MANHÃ – 13.10.2016

Quem quer instalar “license to kill”?

Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Uma crise que já personifica falhanço de um Estado por mais formalismo e protocolo que se queiram apresentar e exibir.
Que dizer de um Governo que deixa as coisas acontecerem e não traz respostas convincentes quando as leis os direitos cidadãos são violados?
É aterrador o que alguns procuram apresentar como explicações e respostas à crise que se vive no país.
Um passado repleto de sangue de vítimas da intolerância política e da exclusão não pode ser explicado com aquelas conhecidas teses do passado em que tudo era explicado como resultados da luta entre uma linha correcta revolucionária e uma outra contra-revolucionária.
O país real é uma manta de retalhos de clientelismo e enriquecimento ilícito alicerçados ou suportados por proximidade aos centros do poder.
Enterrados são os dias em que uma suposta ideologia purista comandava as acções do Governo e os moçambicanos aceitavam consentir sacrifícios sempre que solicitados.
Admite-se e aceita-se que as sociedades são dinâmicas e que crenças são adquiridas e abandonadas.
Mas a degradação moral e política em Moçambique são fenómenos que exigem reflexão e, olhando ao que se faz e como vive na economia e nas finanças públicas e privadas, já há razões para que oficialmente se trabalhe no sentido de alguém vir a público pedir desculpas pelos assassinatos políticos do passado e do presente.
A nobreza e hombridade, humildade e humanidade das pessoas avaliam-se pela sua capacidade de aceitar erros.
Os nossos libertadores, assim como foram capazes de instituir uma comissão para decidir sobre a heroicidade deste ou daquele, devem dar o impulso inicial para que se institua de maneira oficial uma comissão que elabore os termos de um perdão em relação aos compatriotas que foram fisicamente eliminados por razões políticas.
A reconciliação e o perdão, sua outra face, fazem-se com actos corajosos.
Não estaríamos assistindo a assassinatos políticos nos dias de hoje se tivéssemos tomado a via da reconciliação efectiva e não verbal.
Há uma recusa inexplicável de compartilhar Moçambique que só pode ser explicada porque alguns compatriotas se supõem donos em exclusivo do país, o que obviamente não é aceitável e jamais foi aceitável para a maioria dos moçambicanos. Se se procurar pelas causas de crises, conflitos e violência, encontrar-se-á uma veia de ou filão de ressentimentos com génese no poder e no que o poder pode oferecer.
Tudo se complicou entre nós quando uns se julgaram “cavaleiros” que podiam “cavalgar” todo um povo por força de prerrogativas auto-conferidas.
Agora que as coisas estão a correr mal, os antigos conselheiros viram-se contra camaradas numa jogada de acusações que não resistem a análise.
Querem ficar para a história como os “meninos bonitos” de sempre.
Gordos e endinheirados por obra das privatizações ao “estilo moscovita”, espalham o seu perfume através de microfones para plateias “organizadas e disciplinadas”, como se fossem imaculados.
Cultores refinados do verbo, não arredam pé de se pronunciarem sempre que a oportunidade surge, e parece que não hesitam em “comprar” tais oportunidades para “aparecerem”.
As suas “doutas” declarações são um tanto ou quanto tardias e irrelevantes, pois estiveram, desde o primeiro dia, na génese do actual estado de coisas.
Se houve irregularidades eleitorais graves e repetidas, eles estavam lá e pouco ou nada fizeram ou disseram.
A coragem de alguns é apreciada e de louvar, ao virem a público reconhecer que se cometeram erros como o de não se conseguir reconciliar os cidadãos após o AGP.
O destino dos moçambicanos pertence-lhes e não se pode exigir que só uns cedam e aceitem o que os outros sempre estiveram a impor.
Se da nossa alta academia e elite política “só nos saem duques”, têm de ser os cidadãos em geral a contrariar os apetites inescrupulosos dos vampiros e defender a democracia política e económica neste país que lhes pertence.
Aqui, deve ficar claro que a impunidade com que se utilizam as armas para resolver problemas meramente políticos tem origens próprias, que não se esconderão para sempre.
Na América Latina, durou décadas para que os “estudantes” da Escola das Américas fossem chamados à responsabilidade pelos excessos e abusos aos direitos dos seus concidadãos.
Não queremos um julgamento como o de Nuremberga para ninguém, mas também nos recusamos a continuarmos a engolir a sopa indigesta que a comunicação social servil espalha pelo país todos os dias. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 13.10.2016

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