quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Este ano a situação está pior”, em relação a 2015

“Desde o ano passado, a vida não está fácil, mas este ano a situação está pior”, em relação a 2015 inflação dos alimentos foi de 40,04%
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Escrito por Redação  em 13 Outubro 2016
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Gráfico do Instituto Nacional de Estatística“Desde o ano passado, a vida não está fácil, mas este ano a situação está pior” desabafa ao @Verdade um chefe de família honesto e trabalhador que todos os dias tem de encontrar novas maneiras de fazer face ao custo de vida que não pára de aumentar. O Presidente Filipe Nyusi enfatiza que está a trabalhar para inverter o drama mas todas as medidas que tomou parecem não surtir efeito, como mostra o Instituto Nacional de Estatística(INE): em Setembro a inflação subiu 2,71%, principalmente no preço dos alimentos cuja inflação, comparativamente a igual período de 2015, chegou aos 40,04%.
O Governo de Nyusi garante ter criado incentivos para a agricultura aumentar a produção, afirma ter mexido na pauta aduaneira para minimizar os custos da importação de produtos alimentares frescos e de mercearia e, entre outras medidas, acredita que as decisões de política monetária vão conter a inflação e a desvalorização do metical. Todavia o Índice de Preços no Consumidor(IPC), elaborado pelo INE, espelha o drama que sentimos todos os dias, “Os dados recolhidos nas Cidades de Maputo, Beira e Nampula ao longo do mês de Setembro, indicam que o País registou, face ao mês anterior, uma subida do nível geral de preços na ordem de 2,71%”.
O custo dos alimentos considerados de primeira necessidade aumentaram oficialmente 2,90% no mês passado, o IPC destaca “o aumento dos preços do Arroz (3,8%), do Óleo alimentar (8,2%), do Amendoim (10,4%), do Detergente em pó (21,3%), do Sabão (13,1%), da Farinha de milho (2,3%) e da Galinha viva (8,0%)”.
“Eu e a minha família, particularmente, temos esquivado desta crise através do controlo dos gastos naquilo que consumo. Há muitas coisas como batata, carne e leite que para nós já não fazem parte da dieta alimentar porque, além de serem cada vez mais caros, o dinheiro já não cobre as outras necessidades. Comprar roupa para quem quer que seja na família está fora de planos”, relatou-nos Dinis Munguambe, um técnico de saúde residente no bairro da Liberdade, no município da Matola.
Chefe de uma família composta por sete pessoas, das quais cinco filhos, encontrámos-lo algures na Avenida 24 Julho, na cidade em Maputo, à espera de chapa, debaixo de um sol abrasador que na terça-feira (11) se fez sentir na metrópole. Munguambe receia que com a recém-subida do preço de combustível a tarifa deste meio de transporte, que depende para as suas deslocações diárias, possa também sofrer um agravamento.
“Tive de cortar mesada ao meu filho que está no centro internato”
Foto de Júlio PaulinoAleluia Cassimo, 28 anos de idade, professora primaria na cidade de Nampula, revelou-nos que teve de reduzir as quantidades dos produtos alimentares que consome. “Já não uso os cabeleireiros da cidade, senão aos do bairro que são baratos, e vou apenas para tratar do meu cabelo, das unhas trato pessoalmente”.
Uma outra cidadã, que se identificou apenas por Paulina, disse que é assistente administrativa numa empresa vocacionada para a venda de material de escritório na capital moçambicana, onde vive. Ela é a mais velha entre oito irmãos órfãos de pais e tornou-se chefe da sua família. Segundo contou à nossa Reportagem, desde a altura em que o metical começou a depreciar-se face às moedas estrangeiras tais como o dólar, o euro e o rand, a sua vida e dos seus dependentes tem estado a definhar.
“O nosso padrão de vida reduziu e vamos ficar desnutridos porque agora comemos só para sobreviver e não ficarmos saudáveis. A crise de alimentação na minha família começa no pão, que já não compramos a mesma quantidade como forma de pouparmos dinheiro para outras coisas”, começou por relatar a nossa interlocutora.
Num outro desenvolvimento, a cidadã acrescentou que há dias em que pão de 7,50 meticais chega a ser dividido em três fatias para igual número de pessoas. “O óleo alimentar que compramos é o mais barato e já não nos interessamos com a qualidade. A lista das coisas que já não compro é grande e inclui batata, cebola, lâmina de carapau, tomate e saco de carvão. Para comprar estes produtos é preciso associar com alguém e se não existe essa pessoa também não compro ou recorro ao que se vende a montões nos mercados”.
Manuel Gregório, professor primário, de 42 anos de idade, disse ao @Verdade que “com o meu salário, só compro 25 kg de arroz, 25 kg de farinha de milho, uma caixa de frango e de carapau de terceira, saco de carvão e algumas despesas caseiras, como energia. Já não vou aos convívios com os amigos onde bebia algumas cervejas, visitas constantes a minha mãe em Mecuburi, e tive que cortar mesada ao meu filho que está no centro internato”.
“Fazemos apenas duas refeições por dia, para os miúdos ainda conseguimos dar o mata-bicho”
Mas se a inflação oficial em Setembro parece ter aumentado pouco o Instituto Nacional de Estatística mostra que “De Janeiro a Setembro do ano em curso, o País registou um aumento de preços em cerca de 14,70%. A divisão de Alimentação e bebidas não alcoólicas foi a que mais se destacou (…) merece destaque o aumento de preços do Arroz, da Farinha de milho, do Óleo alimentar, do Amendoim, da Cebola, do Açúcar amarelo e do Carapau”.
Foto de Júlio Paulino“A cada dia a vida ensina-nos a sobreviver com o que temos ou conseguimos para matar a fome nesse momento. Na minha casa não se prepara mais o almoço, lutamos para o pequeno-almoço e o jantar. As coisas aumentam de preço quase todos os dias. No fim-de-semana passado desisti de comprar carapau porque subiu para 920 meticais a lâmina de 10 quilogramas. Tive de escolher entre este produto e o arroz, que um saco de 25 quilogramas custa entre 1.180 e 1.200 meticais. Produtos como sumo, leite, café, refrescos, carne de cava, azeite já são um luxo para a minha família, deixamos de consumir porque o dinheiro não chega” relatou-nos Herculano Matsinhe que não revelou a sua profissão, mas disse que reside na cidade de Maputo e chefe de uma família composta por seis membros.
Mário Rapieque, de 68 anos de idade, construtor na chamada capital Norte, declarou nunca ter vivido uma situação económica como a actual. “Tive que cortar as despesas de comparticipação para as casas da sua sogra e mãe que, ambas são viúvas e camponeses, e passou a gerir as chaves do congelador. Na minha casa os lanches deixaram de ser habituais, fazemos apenas duas refeições por dia: almoço e jantar. Para os miúdos ainda conseguimos dar o mata-bicho”.
Rogério Macamo vive no município de Boane, província de Maputo, e é criador de frangos, negócio do qual pretende desistir porque, segundo ele, já não rende o suficiente para garantir a sobrevivência da sua família.
De acordo com ele, os preços de todos os produtos alimentares, por exemplo, “são proibitivos e insustentáveis para as famílias mais pobres. “Não há dúvidas de que muitas famílias refizeram as contas das suas despesas, principalmente porque a nossa moeda vale muito pouco agora. Quase tudo o que consumimos é importado e essa importação depende do dólar e do rand, que são algumas moedas estrangeiras de peso actualmente”.
Tradicionalmente nos últimos três meses de cada ano a inflação sobe sempre
“Não vou estar a enumerar os produtos de primeira necessidade que já não compramos porque já são conhecidos. E isso acontece porque a subida de preços não está a ser controlada no país e há muita especulação fomentada por certos comerciantes. E aquelas pessoas que tinham planos de construir ou que já tinham iniciado, deixaram tudo para o ano em que as coisas melhorarem. E eu faço parte dessas pessoas”, disse o nosso entrevistado.
Na óptica de Rogério, as pessoas que auferiam um salário mínimo sobreviviam apertando demasiado o cinto. “Agora está a ser realmente impossível comprar um cabaz para as suas famílias. E mesmo nós que temos um vencimento acima do salário mínimo não estamos a aguentar este tipo de vida, basicamente de restrições”.
Boston Rafael, enfermeiro de profissão, explicou-nos que entre outras despesas teve de cortar mata-bicho, “fazemos duas refeições, mesmo dividindo as despesas a minha esposa que é professora numa escolas da cidade de Nampula”.
Mas nem os pouquíssimos moçambicanos bafejados pelos parcos aumentos salariais de Abril passado, 4 a 12% foi o aumento decidido por Filipe Nyusi, conseguem enfrentar este aumento de preços que todos sabemos que não derivam apenas da seca e da guerra mas antes das políticas que os sucessivos Governos do partido Frelimo tem implementado aliada, a corrupção e a dívida pública oculta.
“Relativamente a igual período de 2015, o País registou um aumento de preços na ordem de 24,92%. A divisão de Alimentação e bebidas não alcoólicas foi a de maior agravamento de preços com 40,04%” refere ainda o IPC divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística. Ninguém consegue prognosticar quando os preços vão parar de aumentar, tradicionalmente nos últimos três meses de cada ano a inflação sobe sempre.
* Entrevistas de Emildo Sambo e Júlio Paulino

ESTE ARTIGO FOI ESCRITO NO ÂMBITO DO PROJECTO DE MEDIA PARA O DESENVOLVIMENTO DE ÁFRICA DA VITA/Afronline( de Itália) E O JORNAL @VERDADE.

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